Ainda que traumatizados pela vitória acachapante de Donald Trump nos Estados Unidos, os de sempre já começaram a protestar contra mais esta alta de meio ponto porcentual nos juros básicos (Selic), para 11,25% ao ano, como decidido nesta quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Mais uma vez, a decisão foi tomada por unanimidade, o que inclui o voto dos diretores nomeados para o Banco Central (BC) pelo presidente Lula, que não para de criticar o tamanho dos juros no País, a condução da política monetária (política de juros) e até a autonomia do BC .
As razões técnicas para essa nova alta são conhecidas: a falta de compromisso do governo Lula com a saúde das contas públicas – ainda que haja uma promessa de que, finalmente, certas despesas serão cortadas; avanço da cotação da moeda estrangeira que empurra para o alto os preços em reais dos importados e dos produzidos internamente cotados em dólares; e o aquecimento relativamente excessivo em alguns segmentos do mercado de trabalho, que fortalece a inflação sobre os serviços.
Esses fatores são inflacionários e criam a percepção de forte aumento de risco de um estouro na dívida pública e no descumprimento da meta de inflação.
O mais importante desses fatores continua sendo o rombo fiscal, que opera na contramão da política de juros: enquanto o BC retira moeda da economia pela política de juros, o governo injeta moeda por meio de despesas cada vez mais altas. Essa falta de sintonia cria uma política econômica esquizofrênica e a insegurança que vem junto.
O galope do dólar no câmbio interno também tem como principal causa o rombo fiscal, que aponta para aumento da dívida pública e corrói a confiança na condução da economia. Desse ponto de vista, são fatores interligados. A vitória de Trump tende a acirrar essa alta, porque põe no radar o desenvolvimento de políticas protecionistas que deverão prejudicar economias emergentes, como a do Brasil.
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Alguns segmentos no País, entre eles a construção civil, acusam falta de mão de obra porque a economia está aquecida. Cada vez mais contingentes do mercado vêm optando pelo trabalho por conta própria ou, simplesmente, pela informalidade. Daí a alta do custo da mão de obra, que se desdobra em aumento da renda e, portanto, de aumento da procura por bens e serviços que, por sua vez, vem pressionando os preços.
A economia está agora fortemente dependente de decisões, ou da falta delas, que podem produzir impacto sobre a inflação, a começar pela da até agora sempre adiada emissão do pacote de corte das despesas. Esta é a principal razão pela qual o Copom se absteve, também desta vez, de adiantar os próximos passos da política de juros.