Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Cavalo de Troia


A deterioração das finanças públicas da Grécia é tão profunda que fica difícil acreditar numa saída normal, digamos assim. É um cavalo de Troia dentro da União Monetária Europeia (a área do euro).

Por Celso Ming

Um desastre nesse país teria impacto de vastas repercussões na economia global e, especialmente, no mercado financeiro.

O problema central é conhecido. O governo da Grécia manipulou enquanto pôde as estatísticas oficiais até que o rombo anual de 12,7% do PIB e uma dívida de 86,1% do PIB ficassem escancaradas. Quando saírem os números definitivos do PIB de 2009, que deverão apontar uma queda entre 2,5% e 3,0%, se verá que a encrenca fiscal pode ser ainda maior. Nenhum membro da União Monetária Europeia pode ter dívida superior a 30% do PIB nem um déficit público maior que 3,0% do PIB.

O primeiro-ministro George Papandreou garantiu que vai colocar em prática um plano de austeridade que, em apenas três anos (até 2012), derrubará o déficit fiscal para 3,0% do PIB, como pedem o Tratado de Maastricht e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). É uma tarefa mais complicada do que reconstruir a acrópole de Atenas.

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Exigirá uma contração da atividade econômica tão grande que parece politicamente insustentável. Em todo o caso, é, por enquanto, o único projeto apresentado pelo governo de Atenas para sair da encalacrada.

Uma ideia considerada pelos analistas é a retirada da Grécia do bloco do euro para que possa reemitir sua própria moeda (a dracma). Isso iria desvalorizá-la diante do euro e demais moedas fortes, e puxaria corajosamente pelos juros.

O problema é que a probabilidade de salvação fora do navio do euro é baixa. A desvalorização cambial provocaria disparada da inflação e tudo poderia piorar quando a credibilidade do governo grego derretesse.

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Também não sai da cabeça dos analistas a possibilidade do calote da dívida. Se isso acontecesse, a Grécia perderia o crédito, não conseguiria mais rolar sua dívida pública e o ajuste fiscal teria de ser bem mais selvagem.

E por que os outros primos ricos da área do euro, especialmente Alemanha e França, não poderiam vir em socorro da Grécia? O PEC proíbe as transferências de recursos fiscais entre os sócios do bloco. E não se trata apenas de uma disposição formal. A proibição reflete a impossibilidade de interferência na administração interna de um país por outro.

Hoje, não há unidade política dentro do bloco, cada país tem seu governo, seu sistema tributário e decide como alocar os recursos públicos. Todas as tentativas de constituição de uma unidade política fracassaram.

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Transferências de recursos dentro do grupo implicariam imposição de condicionalidades (exigências) que garantissem o retorno desses recursos. Além do que, estabelecido o precedente, os outros membros do grupo dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), que também vão mal das pernas, teriam direito a beber do mesmo poço.

A opção a ser adotada, seja ela qual for, será de alto risco. E, no entanto, enquanto os Piigs não resolverem suas encrencas, o Banco Central Europeu continuará restringido na execução de sua política monetária (política de juros).

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Ou a inflação correrá mais solta na área do euro, ou os Piigs enfrentarão problemas ainda maiores na administração dos seus rombos.

Confira

E os estoques? O presidente Lula abriu fogo contra os usineiros pela escassez e pela disparada dos preços do álcool hidratado no mercado. E reclamou da "falta de seriedade" deles.

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O setor tem uma longa história de falta de compromisso com o abastecimento interno, especialmente na entressafra. Mas os usineiros não podem ser responsabilizados sozinhos pelas falhas nessa área.

O governo federal sabe que deveria cuidar da formação de estoques reguladores, mas vai deixando pra lá. E chega o tempo em que a falta de estoques prejudica o abastecimento. Falta de seriedade de quem?

(Coluna publicada em 24/01/2010)

Um desastre nesse país teria impacto de vastas repercussões na economia global e, especialmente, no mercado financeiro.

O problema central é conhecido. O governo da Grécia manipulou enquanto pôde as estatísticas oficiais até que o rombo anual de 12,7% do PIB e uma dívida de 86,1% do PIB ficassem escancaradas. Quando saírem os números definitivos do PIB de 2009, que deverão apontar uma queda entre 2,5% e 3,0%, se verá que a encrenca fiscal pode ser ainda maior. Nenhum membro da União Monetária Europeia pode ter dívida superior a 30% do PIB nem um déficit público maior que 3,0% do PIB.

O primeiro-ministro George Papandreou garantiu que vai colocar em prática um plano de austeridade que, em apenas três anos (até 2012), derrubará o déficit fiscal para 3,0% do PIB, como pedem o Tratado de Maastricht e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). É uma tarefa mais complicada do que reconstruir a acrópole de Atenas.

Exigirá uma contração da atividade econômica tão grande que parece politicamente insustentável. Em todo o caso, é, por enquanto, o único projeto apresentado pelo governo de Atenas para sair da encalacrada.

Uma ideia considerada pelos analistas é a retirada da Grécia do bloco do euro para que possa reemitir sua própria moeda (a dracma). Isso iria desvalorizá-la diante do euro e demais moedas fortes, e puxaria corajosamente pelos juros.

O problema é que a probabilidade de salvação fora do navio do euro é baixa. A desvalorização cambial provocaria disparada da inflação e tudo poderia piorar quando a credibilidade do governo grego derretesse.

Também não sai da cabeça dos analistas a possibilidade do calote da dívida. Se isso acontecesse, a Grécia perderia o crédito, não conseguiria mais rolar sua dívida pública e o ajuste fiscal teria de ser bem mais selvagem.

E por que os outros primos ricos da área do euro, especialmente Alemanha e França, não poderiam vir em socorro da Grécia? O PEC proíbe as transferências de recursos fiscais entre os sócios do bloco. E não se trata apenas de uma disposição formal. A proibição reflete a impossibilidade de interferência na administração interna de um país por outro.

Hoje, não há unidade política dentro do bloco, cada país tem seu governo, seu sistema tributário e decide como alocar os recursos públicos. Todas as tentativas de constituição de uma unidade política fracassaram.

Transferências de recursos dentro do grupo implicariam imposição de condicionalidades (exigências) que garantissem o retorno desses recursos. Além do que, estabelecido o precedente, os outros membros do grupo dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), que também vão mal das pernas, teriam direito a beber do mesmo poço.

A opção a ser adotada, seja ela qual for, será de alto risco. E, no entanto, enquanto os Piigs não resolverem suas encrencas, o Banco Central Europeu continuará restringido na execução de sua política monetária (política de juros).

Ou a inflação correrá mais solta na área do euro, ou os Piigs enfrentarão problemas ainda maiores na administração dos seus rombos.

Confira

E os estoques? O presidente Lula abriu fogo contra os usineiros pela escassez e pela disparada dos preços do álcool hidratado no mercado. E reclamou da "falta de seriedade" deles.

O setor tem uma longa história de falta de compromisso com o abastecimento interno, especialmente na entressafra. Mas os usineiros não podem ser responsabilizados sozinhos pelas falhas nessa área.

O governo federal sabe que deveria cuidar da formação de estoques reguladores, mas vai deixando pra lá. E chega o tempo em que a falta de estoques prejudica o abastecimento. Falta de seriedade de quem?

(Coluna publicada em 24/01/2010)

Um desastre nesse país teria impacto de vastas repercussões na economia global e, especialmente, no mercado financeiro.

O problema central é conhecido. O governo da Grécia manipulou enquanto pôde as estatísticas oficiais até que o rombo anual de 12,7% do PIB e uma dívida de 86,1% do PIB ficassem escancaradas. Quando saírem os números definitivos do PIB de 2009, que deverão apontar uma queda entre 2,5% e 3,0%, se verá que a encrenca fiscal pode ser ainda maior. Nenhum membro da União Monetária Europeia pode ter dívida superior a 30% do PIB nem um déficit público maior que 3,0% do PIB.

O primeiro-ministro George Papandreou garantiu que vai colocar em prática um plano de austeridade que, em apenas três anos (até 2012), derrubará o déficit fiscal para 3,0% do PIB, como pedem o Tratado de Maastricht e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). É uma tarefa mais complicada do que reconstruir a acrópole de Atenas.

Exigirá uma contração da atividade econômica tão grande que parece politicamente insustentável. Em todo o caso, é, por enquanto, o único projeto apresentado pelo governo de Atenas para sair da encalacrada.

Uma ideia considerada pelos analistas é a retirada da Grécia do bloco do euro para que possa reemitir sua própria moeda (a dracma). Isso iria desvalorizá-la diante do euro e demais moedas fortes, e puxaria corajosamente pelos juros.

O problema é que a probabilidade de salvação fora do navio do euro é baixa. A desvalorização cambial provocaria disparada da inflação e tudo poderia piorar quando a credibilidade do governo grego derretesse.

Também não sai da cabeça dos analistas a possibilidade do calote da dívida. Se isso acontecesse, a Grécia perderia o crédito, não conseguiria mais rolar sua dívida pública e o ajuste fiscal teria de ser bem mais selvagem.

E por que os outros primos ricos da área do euro, especialmente Alemanha e França, não poderiam vir em socorro da Grécia? O PEC proíbe as transferências de recursos fiscais entre os sócios do bloco. E não se trata apenas de uma disposição formal. A proibição reflete a impossibilidade de interferência na administração interna de um país por outro.

Hoje, não há unidade política dentro do bloco, cada país tem seu governo, seu sistema tributário e decide como alocar os recursos públicos. Todas as tentativas de constituição de uma unidade política fracassaram.

Transferências de recursos dentro do grupo implicariam imposição de condicionalidades (exigências) que garantissem o retorno desses recursos. Além do que, estabelecido o precedente, os outros membros do grupo dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), que também vão mal das pernas, teriam direito a beber do mesmo poço.

A opção a ser adotada, seja ela qual for, será de alto risco. E, no entanto, enquanto os Piigs não resolverem suas encrencas, o Banco Central Europeu continuará restringido na execução de sua política monetária (política de juros).

Ou a inflação correrá mais solta na área do euro, ou os Piigs enfrentarão problemas ainda maiores na administração dos seus rombos.

Confira

E os estoques? O presidente Lula abriu fogo contra os usineiros pela escassez e pela disparada dos preços do álcool hidratado no mercado. E reclamou da "falta de seriedade" deles.

O setor tem uma longa história de falta de compromisso com o abastecimento interno, especialmente na entressafra. Mas os usineiros não podem ser responsabilizados sozinhos pelas falhas nessa área.

O governo federal sabe que deveria cuidar da formação de estoques reguladores, mas vai deixando pra lá. E chega o tempo em que a falta de estoques prejudica o abastecimento. Falta de seriedade de quem?

(Coluna publicada em 24/01/2010)

Um desastre nesse país teria impacto de vastas repercussões na economia global e, especialmente, no mercado financeiro.

O problema central é conhecido. O governo da Grécia manipulou enquanto pôde as estatísticas oficiais até que o rombo anual de 12,7% do PIB e uma dívida de 86,1% do PIB ficassem escancaradas. Quando saírem os números definitivos do PIB de 2009, que deverão apontar uma queda entre 2,5% e 3,0%, se verá que a encrenca fiscal pode ser ainda maior. Nenhum membro da União Monetária Europeia pode ter dívida superior a 30% do PIB nem um déficit público maior que 3,0% do PIB.

O primeiro-ministro George Papandreou garantiu que vai colocar em prática um plano de austeridade que, em apenas três anos (até 2012), derrubará o déficit fiscal para 3,0% do PIB, como pedem o Tratado de Maastricht e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). É uma tarefa mais complicada do que reconstruir a acrópole de Atenas.

Exigirá uma contração da atividade econômica tão grande que parece politicamente insustentável. Em todo o caso, é, por enquanto, o único projeto apresentado pelo governo de Atenas para sair da encalacrada.

Uma ideia considerada pelos analistas é a retirada da Grécia do bloco do euro para que possa reemitir sua própria moeda (a dracma). Isso iria desvalorizá-la diante do euro e demais moedas fortes, e puxaria corajosamente pelos juros.

O problema é que a probabilidade de salvação fora do navio do euro é baixa. A desvalorização cambial provocaria disparada da inflação e tudo poderia piorar quando a credibilidade do governo grego derretesse.

Também não sai da cabeça dos analistas a possibilidade do calote da dívida. Se isso acontecesse, a Grécia perderia o crédito, não conseguiria mais rolar sua dívida pública e o ajuste fiscal teria de ser bem mais selvagem.

E por que os outros primos ricos da área do euro, especialmente Alemanha e França, não poderiam vir em socorro da Grécia? O PEC proíbe as transferências de recursos fiscais entre os sócios do bloco. E não se trata apenas de uma disposição formal. A proibição reflete a impossibilidade de interferência na administração interna de um país por outro.

Hoje, não há unidade política dentro do bloco, cada país tem seu governo, seu sistema tributário e decide como alocar os recursos públicos. Todas as tentativas de constituição de uma unidade política fracassaram.

Transferências de recursos dentro do grupo implicariam imposição de condicionalidades (exigências) que garantissem o retorno desses recursos. Além do que, estabelecido o precedente, os outros membros do grupo dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), que também vão mal das pernas, teriam direito a beber do mesmo poço.

A opção a ser adotada, seja ela qual for, será de alto risco. E, no entanto, enquanto os Piigs não resolverem suas encrencas, o Banco Central Europeu continuará restringido na execução de sua política monetária (política de juros).

Ou a inflação correrá mais solta na área do euro, ou os Piigs enfrentarão problemas ainda maiores na administração dos seus rombos.

Confira

E os estoques? O presidente Lula abriu fogo contra os usineiros pela escassez e pela disparada dos preços do álcool hidratado no mercado. E reclamou da "falta de seriedade" deles.

O setor tem uma longa história de falta de compromisso com o abastecimento interno, especialmente na entressafra. Mas os usineiros não podem ser responsabilizados sozinhos pelas falhas nessa área.

O governo federal sabe que deveria cuidar da formação de estoques reguladores, mas vai deixando pra lá. E chega o tempo em que a falta de estoques prejudica o abastecimento. Falta de seriedade de quem?

(Coluna publicada em 24/01/2010)

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