Foi em ambiente fechado, do BTG, que o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, expôs sua impressão de que “o governo Lula está dilmando”. Mas, prontamente, essa fala se espraiou, porque muita gente já havia começado a pensar a mesma coisa, a partir de dois fatos: o dos nomes que passaram a integrar a equipe econômica de transição; e as declarações do presidente eleito, Lula, na última quinta-feira.
A partir do momento em que o ex-ministro Guido Mantega, importante agente da heterodoxia ainda no governo Lula e também no governo Dilma, passou a compor a equipe que cuidará das informações na área do Planejamento e do Orçamento da União, ficou reforçada a impressão de que os heterodoxos predominam no futuro comando da Economia.
Está lá o economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real, mas com novas posições criativas - digamos assim - em política monetária, com desdobramentos sobre a política fiscal.
Também com viés mais intervencionista estão na equipe o ex-ministro da Fazenda do governo Dilma, Nelson Barbosa, na ocasião ardente defensor das pedaladas, e o economista da Unicamp, Guilherme Mello, que ajudou a elaborar as “diretrizes” para o futuro governo Lula.
E, no outro prato da balança, está o outro pai do Plano Real, e ex-presidente do Banco Central, o economista Persio Arida, com posições firmes quando o tema é equilíbrio das contas públicas.
O primeiro ensaio de grande parte dos analistas econômicos nestes primeiros dias de noviciado do governo eleito foi encarar a equipe econômica de transição como mais voltada para o centro do que para os pontos de vista tradicionais das esquerdas. Mas a confirmação de Mantega mudou essa impressão.
No entanto, o que mais pesou para o aumento das apostas em que o novo governo está armando uma bomba na economia foram o pleito de verbas permanentes mais generosas para cobertura das despesas sociais e as declarações impactantes do futuro presidente.
Na quinta-feira, Lula criticou “a tal da estabilidade fiscal” que estaria prejudicando a política social e sugeriu que, além da meta de inflação, o País tenha meta de crescimento. Depois que, por conta dessas declarações, as cotações do dólar empinaram e o Índice Bovespa mergulhou, Lula disparou: “nunca vi mercado tão sensível como o nosso”.
Ao expor esses pontos de vista, Lula não está falando sozinho. Reflete o que pensa a maioria dos economistas do PT. Eles ainda acham que existe uma antinomia entre equilíbrio fiscal e política social e outra, entre austeridade e crescimento econômico, o que parece herança do pensamento de Celso Furtado, para o qual era praticamente impossível desenvolvimento econômico sem inflação.
No entanto, não há política social que pare em pé sem equilíbrio fiscal. E as primeiras vítimas da inflação são sempre os mais pobres.
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É um tanto prematuro garantir que Lula tenha “dilmado” ou que tenha queimado a largada. Está tudo no começo, as políticas não foram definidas e não se conhecem os nomes dos que comandarão a economia. Por enquanto, Lula insiste no “confiem em mim, que tudo dará certo”. Mas esse pedido de voto de confiança é pouco para o “mercado sensível”, agente importante para um presidente que prometeu governar não apenas para o PT.