As economias avançadas dão sinais de que estão para enfrentar período de forte recessão. E esta é uma fatura que será cobrada também do Brasil.
Nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu deverá puxar os juros para cima, provavelmente a níveis inéditos de 0,75 ponto porcentual ao ano. É decisão que procura não só derrubar a inflação da área do euro, que envereda para acima de 9% em 12 meses, mas, também, reduzir a demanda por energia via queda da atividade econômica, para tentar evitar um apagão geral.
Além desses trancos, a Europa enfrenta, também, uma onda sem precedentes de calor, que produziu incêndios e securas em rios e lagos. Nem bem esse impacto está sendo absorvido e já surge a expectativa dos rigores do inverno no Hemisfério Norte, que terá de ser enfrentado com cortes no aquecimento das casas e das empresas.
Nos Estados Unidos, as autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), a começar pelo seu presidente, Jerome Powell, vêm orquestradamente advertindo para nova esticada nos juros, também de 0,75 ponto porcentual.
E tem a China, outra potência que já não vai tão bem das pernas. Ainda enfrenta extensos lockdowns para defender a população contra o alastramento da pandemia. Sua rede bancária está vulnerável a uma forte crise imobiliária, que paralisou inúmeras obras de construção civil, criou desemprego e deixou milhões de compradores inadimplentes.
Outro forte indicador de recessão é o que vem acontecendo com os preços do petróleo. Em plena crise energética, e a despeito da redução da oferta determinada nesta semana pelo cartel da Opep, a demanda por petróleo vai caindo. No início de junho, os preços do barril do tipo Brent (do Mar do Norte) atingiram os US$ 117. Nesta quarta-feira, fecharam em US$ 88, o que aponta uma queda de 22,8% em apenas três meses. Este é indicador de que os fornecedores esperam forte queda das vendas em consequência da recessão, fator que está pesando mais do que os cortes de suprimento de gás natural pela Rússia.
Se uma recessão mais forte se confirmar, será inevitável o impacto sobre o mercado de mão de obra dos países industrializados. Não dá para pré-avaliar até que ponto a queda do emprego e da renda trará consequências políticas.
Outro efeito global será certa queda da busca por outras matérias-primas, como minérios, metais e grãos. É por aí que a economia brasileira pode vir a ser obrigada a pagar parte da conta da crise mundial. A única compensação para isso será uma queda maior da inflação, a partir da redução dos preços dos combustíveis e dos alimentos.