Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Chicote neles


No século 5.º antes de Cristo, Xerxes, rei da Pérsia, ordenou que fosse construída uma ponte no Helesponto (atual Estreito de Dardanelos) para que seus exércitos pudessem passar da Ásia para a Europa. Ondas violentas demais atrapalharam os trabalhos. Furioso, Xerxes mandou açoitar o mar com 300 chicotadas. É o que nos conta Heródoto, em sua História.

Por Celso Ming

É mais ou menos o que estão fazendo as autoridades da Europa e do Brasil. Na semana passada, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, irritado com ataques às cotações do banco francês Société Générale, proibiu vendas de ações a descoberto (sem posse prévia). E nisso foi acompanhado por Espanha, Itália e Bélgica. Nesta terça-feira, em encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy pretende institucionalizar a proibição em toda a área do euro.

Duas semanas antes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, instituiu um IOF de até 25% sobre operações líquidas vendidas em moeda estrangeira no mercado de derivativos, por acreditar que os especuladores são os grandes responsáveis pelo mergulho do dólar no câmbio interno.

continua após a publicidade

Na última semana, as bolsas reagiram e Sarkozy mostrou satisfação pela eficácia da decisão tomada "contra os especuladores". Na verdade, as bolsas reagiram porque o Banco Central Europeu (BCE) fez o que não queria: recomprou cerca de 30 bilhões de euros em títulos da Itália e da Espanha e avisou que, na hipótese de rejeição dos títulos, o BCE voltaria a ser comprador de última instância.

Mantega, por sua vez, pareceu convencido de que suas 300 chicotadas no mercado de derivativos de câmbio inverteram a tendência do câmbio. E, no entanto, nos dias seguintes, a cotação do dólar subiu no câmbio interno em consequência do agravamento da crise global, não por ter coibido as ações dos especuladores. A valorização do real (de 1,43%), acontecida num mercado financeiro bem mais calmo como o desta segunda-feira, mostra que as causas são outras. Mas tanto Sarkozy como Mantega e Xerxes ficaram convencidos de que castigar o culpado aparente funciona.

A especulação existe e conta nos mercados. E é também capaz de radicalizar uma tendência. No entanto, a especulação apenas tira proveito de um desequilíbrio preexistente. As causas da atual instabilidade estão no forte endividamento dos países ricos, não na especulação com seus títulos de dívida. Combatê-la é agir contra o inimigo errado.

continua após a publicidade

Os grandes bancos centrais são hoje a única fonte de liquidez. Mas vêm agindo à beira da irresponsabilidade, por terem passado a recomprar, com emissão de moeda, títulos de dívida sob forte descrédito, como se fossem tão bons como títulos emitidos pelo tesouro da Alemanha.

Isso foi feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) com dois programas, de US$ 900 bilhões, e começou a ser feito pelo BCE, que já emitiu perto de 100 bilhões de euros para recomprar bônus da Grécia, de Portugal, da Irlanda e, de uns dias para cá, também da Itália e da Espanha.

Enquanto a inflação não mostrar a cara, esse jogo dos bancos centrais pode continuar impunemente - embora não colabore para reduzir o endividamento público dos seus países. Mas, tão logo reapareça, terão de voltar à sua função primordial e, então, se o problema principal (grande endividamento dos tesouros) não estiver sanado, não haverá tomador de títulos públicos em última instância - e de nada adiantará açoitar os especuladores.

continua após a publicidade

CONFIRA

"Não esperem nada". Steffen Seibert, porta-voz da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu nesta segunda que não sairá nada de espetacular no encontro a ser realizado nesta terça, em Paris, entre a alemã e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Talvez por ter sido previamente esvaziado e ninguém esperar demais, alguma novidade pode sair.

Não sai. O mercado financeiro gostaria de saber que a Alemanha finalmente concordou com a instituição de um título emitido pela área do euro. Mas esse assunto está fora da agenda, avisou Seibert. Uma emissão dessas exigiria uma espécie de tesouro comum que, por sua vez, obrigaria certa coordenação de orçamentos. E, para haver coordenação unificada, seria preciso um mínimo de unidade política, ou seja, capacidade de exigir que os sócios da área do euro cumpram o combinado.

continua após a publicidade

Retificação. Em 2010, o Brasil importou 505,1 milhões de litros de etanol - e não 505,1 bilhões de litros, como saiu na penúltima Coluna.

É mais ou menos o que estão fazendo as autoridades da Europa e do Brasil. Na semana passada, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, irritado com ataques às cotações do banco francês Société Générale, proibiu vendas de ações a descoberto (sem posse prévia). E nisso foi acompanhado por Espanha, Itália e Bélgica. Nesta terça-feira, em encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy pretende institucionalizar a proibição em toda a área do euro.

Duas semanas antes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, instituiu um IOF de até 25% sobre operações líquidas vendidas em moeda estrangeira no mercado de derivativos, por acreditar que os especuladores são os grandes responsáveis pelo mergulho do dólar no câmbio interno.

Na última semana, as bolsas reagiram e Sarkozy mostrou satisfação pela eficácia da decisão tomada "contra os especuladores". Na verdade, as bolsas reagiram porque o Banco Central Europeu (BCE) fez o que não queria: recomprou cerca de 30 bilhões de euros em títulos da Itália e da Espanha e avisou que, na hipótese de rejeição dos títulos, o BCE voltaria a ser comprador de última instância.

Mantega, por sua vez, pareceu convencido de que suas 300 chicotadas no mercado de derivativos de câmbio inverteram a tendência do câmbio. E, no entanto, nos dias seguintes, a cotação do dólar subiu no câmbio interno em consequência do agravamento da crise global, não por ter coibido as ações dos especuladores. A valorização do real (de 1,43%), acontecida num mercado financeiro bem mais calmo como o desta segunda-feira, mostra que as causas são outras. Mas tanto Sarkozy como Mantega e Xerxes ficaram convencidos de que castigar o culpado aparente funciona.

A especulação existe e conta nos mercados. E é também capaz de radicalizar uma tendência. No entanto, a especulação apenas tira proveito de um desequilíbrio preexistente. As causas da atual instabilidade estão no forte endividamento dos países ricos, não na especulação com seus títulos de dívida. Combatê-la é agir contra o inimigo errado.

Os grandes bancos centrais são hoje a única fonte de liquidez. Mas vêm agindo à beira da irresponsabilidade, por terem passado a recomprar, com emissão de moeda, títulos de dívida sob forte descrédito, como se fossem tão bons como títulos emitidos pelo tesouro da Alemanha.

Isso foi feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) com dois programas, de US$ 900 bilhões, e começou a ser feito pelo BCE, que já emitiu perto de 100 bilhões de euros para recomprar bônus da Grécia, de Portugal, da Irlanda e, de uns dias para cá, também da Itália e da Espanha.

Enquanto a inflação não mostrar a cara, esse jogo dos bancos centrais pode continuar impunemente - embora não colabore para reduzir o endividamento público dos seus países. Mas, tão logo reapareça, terão de voltar à sua função primordial e, então, se o problema principal (grande endividamento dos tesouros) não estiver sanado, não haverá tomador de títulos públicos em última instância - e de nada adiantará açoitar os especuladores.

CONFIRA

"Não esperem nada". Steffen Seibert, porta-voz da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu nesta segunda que não sairá nada de espetacular no encontro a ser realizado nesta terça, em Paris, entre a alemã e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Talvez por ter sido previamente esvaziado e ninguém esperar demais, alguma novidade pode sair.

Não sai. O mercado financeiro gostaria de saber que a Alemanha finalmente concordou com a instituição de um título emitido pela área do euro. Mas esse assunto está fora da agenda, avisou Seibert. Uma emissão dessas exigiria uma espécie de tesouro comum que, por sua vez, obrigaria certa coordenação de orçamentos. E, para haver coordenação unificada, seria preciso um mínimo de unidade política, ou seja, capacidade de exigir que os sócios da área do euro cumpram o combinado.

Retificação. Em 2010, o Brasil importou 505,1 milhões de litros de etanol - e não 505,1 bilhões de litros, como saiu na penúltima Coluna.

É mais ou menos o que estão fazendo as autoridades da Europa e do Brasil. Na semana passada, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, irritado com ataques às cotações do banco francês Société Générale, proibiu vendas de ações a descoberto (sem posse prévia). E nisso foi acompanhado por Espanha, Itália e Bélgica. Nesta terça-feira, em encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy pretende institucionalizar a proibição em toda a área do euro.

Duas semanas antes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, instituiu um IOF de até 25% sobre operações líquidas vendidas em moeda estrangeira no mercado de derivativos, por acreditar que os especuladores são os grandes responsáveis pelo mergulho do dólar no câmbio interno.

Na última semana, as bolsas reagiram e Sarkozy mostrou satisfação pela eficácia da decisão tomada "contra os especuladores". Na verdade, as bolsas reagiram porque o Banco Central Europeu (BCE) fez o que não queria: recomprou cerca de 30 bilhões de euros em títulos da Itália e da Espanha e avisou que, na hipótese de rejeição dos títulos, o BCE voltaria a ser comprador de última instância.

Mantega, por sua vez, pareceu convencido de que suas 300 chicotadas no mercado de derivativos de câmbio inverteram a tendência do câmbio. E, no entanto, nos dias seguintes, a cotação do dólar subiu no câmbio interno em consequência do agravamento da crise global, não por ter coibido as ações dos especuladores. A valorização do real (de 1,43%), acontecida num mercado financeiro bem mais calmo como o desta segunda-feira, mostra que as causas são outras. Mas tanto Sarkozy como Mantega e Xerxes ficaram convencidos de que castigar o culpado aparente funciona.

A especulação existe e conta nos mercados. E é também capaz de radicalizar uma tendência. No entanto, a especulação apenas tira proveito de um desequilíbrio preexistente. As causas da atual instabilidade estão no forte endividamento dos países ricos, não na especulação com seus títulos de dívida. Combatê-la é agir contra o inimigo errado.

Os grandes bancos centrais são hoje a única fonte de liquidez. Mas vêm agindo à beira da irresponsabilidade, por terem passado a recomprar, com emissão de moeda, títulos de dívida sob forte descrédito, como se fossem tão bons como títulos emitidos pelo tesouro da Alemanha.

Isso foi feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) com dois programas, de US$ 900 bilhões, e começou a ser feito pelo BCE, que já emitiu perto de 100 bilhões de euros para recomprar bônus da Grécia, de Portugal, da Irlanda e, de uns dias para cá, também da Itália e da Espanha.

Enquanto a inflação não mostrar a cara, esse jogo dos bancos centrais pode continuar impunemente - embora não colabore para reduzir o endividamento público dos seus países. Mas, tão logo reapareça, terão de voltar à sua função primordial e, então, se o problema principal (grande endividamento dos tesouros) não estiver sanado, não haverá tomador de títulos públicos em última instância - e de nada adiantará açoitar os especuladores.

CONFIRA

"Não esperem nada". Steffen Seibert, porta-voz da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu nesta segunda que não sairá nada de espetacular no encontro a ser realizado nesta terça, em Paris, entre a alemã e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Talvez por ter sido previamente esvaziado e ninguém esperar demais, alguma novidade pode sair.

Não sai. O mercado financeiro gostaria de saber que a Alemanha finalmente concordou com a instituição de um título emitido pela área do euro. Mas esse assunto está fora da agenda, avisou Seibert. Uma emissão dessas exigiria uma espécie de tesouro comum que, por sua vez, obrigaria certa coordenação de orçamentos. E, para haver coordenação unificada, seria preciso um mínimo de unidade política, ou seja, capacidade de exigir que os sócios da área do euro cumpram o combinado.

Retificação. Em 2010, o Brasil importou 505,1 milhões de litros de etanol - e não 505,1 bilhões de litros, como saiu na penúltima Coluna.

É mais ou menos o que estão fazendo as autoridades da Europa e do Brasil. Na semana passada, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, irritado com ataques às cotações do banco francês Société Générale, proibiu vendas de ações a descoberto (sem posse prévia). E nisso foi acompanhado por Espanha, Itália e Bélgica. Nesta terça-feira, em encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy pretende institucionalizar a proibição em toda a área do euro.

Duas semanas antes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, instituiu um IOF de até 25% sobre operações líquidas vendidas em moeda estrangeira no mercado de derivativos, por acreditar que os especuladores são os grandes responsáveis pelo mergulho do dólar no câmbio interno.

Na última semana, as bolsas reagiram e Sarkozy mostrou satisfação pela eficácia da decisão tomada "contra os especuladores". Na verdade, as bolsas reagiram porque o Banco Central Europeu (BCE) fez o que não queria: recomprou cerca de 30 bilhões de euros em títulos da Itália e da Espanha e avisou que, na hipótese de rejeição dos títulos, o BCE voltaria a ser comprador de última instância.

Mantega, por sua vez, pareceu convencido de que suas 300 chicotadas no mercado de derivativos de câmbio inverteram a tendência do câmbio. E, no entanto, nos dias seguintes, a cotação do dólar subiu no câmbio interno em consequência do agravamento da crise global, não por ter coibido as ações dos especuladores. A valorização do real (de 1,43%), acontecida num mercado financeiro bem mais calmo como o desta segunda-feira, mostra que as causas são outras. Mas tanto Sarkozy como Mantega e Xerxes ficaram convencidos de que castigar o culpado aparente funciona.

A especulação existe e conta nos mercados. E é também capaz de radicalizar uma tendência. No entanto, a especulação apenas tira proveito de um desequilíbrio preexistente. As causas da atual instabilidade estão no forte endividamento dos países ricos, não na especulação com seus títulos de dívida. Combatê-la é agir contra o inimigo errado.

Os grandes bancos centrais são hoje a única fonte de liquidez. Mas vêm agindo à beira da irresponsabilidade, por terem passado a recomprar, com emissão de moeda, títulos de dívida sob forte descrédito, como se fossem tão bons como títulos emitidos pelo tesouro da Alemanha.

Isso foi feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) com dois programas, de US$ 900 bilhões, e começou a ser feito pelo BCE, que já emitiu perto de 100 bilhões de euros para recomprar bônus da Grécia, de Portugal, da Irlanda e, de uns dias para cá, também da Itália e da Espanha.

Enquanto a inflação não mostrar a cara, esse jogo dos bancos centrais pode continuar impunemente - embora não colabore para reduzir o endividamento público dos seus países. Mas, tão logo reapareça, terão de voltar à sua função primordial e, então, se o problema principal (grande endividamento dos tesouros) não estiver sanado, não haverá tomador de títulos públicos em última instância - e de nada adiantará açoitar os especuladores.

CONFIRA

"Não esperem nada". Steffen Seibert, porta-voz da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu nesta segunda que não sairá nada de espetacular no encontro a ser realizado nesta terça, em Paris, entre a alemã e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Talvez por ter sido previamente esvaziado e ninguém esperar demais, alguma novidade pode sair.

Não sai. O mercado financeiro gostaria de saber que a Alemanha finalmente concordou com a instituição de um título emitido pela área do euro. Mas esse assunto está fora da agenda, avisou Seibert. Uma emissão dessas exigiria uma espécie de tesouro comum que, por sua vez, obrigaria certa coordenação de orçamentos. E, para haver coordenação unificada, seria preciso um mínimo de unidade política, ou seja, capacidade de exigir que os sócios da área do euro cumpram o combinado.

Retificação. Em 2010, o Brasil importou 505,1 milhões de litros de etanol - e não 505,1 bilhões de litros, como saiu na penúltima Coluna.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.