Esta foi a primeira vez que o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi recebido em confronto direto com feroz ataque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e aos “juros altos demais”.
Tão importante quanto a decisão desta quarta-feira, de manter os juros básicos (Selic) nos 10,5% ao ano, foi a unanimidade da decisão, o que inclui os quatro diretores conduzidos ao BC pelo presidente Lula, que lá estariam supostamente para quebrar a ortodoxia com que vem sendo executada a política de juros.
O recado implícito do Copom é o de que a decisão foi técnica, que dá mais importância à necessidade de garantir a credibilidade no BC e nas suas principais funções do que a aceitação das pressões de cunho populista do governo e dos políticos.
A confiança no BC na tarefa de ancorar as expectativas havia sido questionada a partir do racha manifestado na reunião de maio, quando os mesmos quatro dirigentes que agora acompanharam os votos dos outros cinco diretores votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual e não pelo de 0,25 ponto, como ficara decidido. O placar de 5 a 4 levantara a suspeita de que o governo Lula começava a solapar a autonomia do BC.
De lá para cá, as expectativas dos que impõem preços nas mercadorias e serviços – e não apenas as do mercado financeiro – se deterioram principalmente porque o governo Lula vem permitindo o alargamento do rombo das contas públicas.
O maior foco das incertezas que recaem sobre a política econômica não está nas condições externas, mas nas internas. O governo Lula parece não dar importância ao exercício da responsabilidade fiscal. Esses problemas foram, como de hábito, tratados no comunicado divulgado após a reunião do Copom.
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O déficit das contas públicas é relevante para a definição dos juros porque o governo trabalha contra o BC. Quando aumenta o preço do dinheiro (eleva os juros) para combater a inflação, o BC retira moeda da economia. Se aumenta a gastança, o governo faz o contrário: injeta moeda e contribui para aumentar a inflação e a dívida.
Essa é a principal razão pela qual aumentou a incerteza. Os agentes econômicos passaram a procurar refúgio em moedas estrangeiras. Essa é a razão da cavalgada do dólar em reais. Havia fechado nos R$ 5,09 por dólar na reunião do Copom do dia 8 de maio e avançou para R$ 5,44 nesta quarta-feira. Essa alta do câmbio, de 6,9%, se tornou foco de inflação na medida em que encarece os preços dos produtos importados e dos produtos internos cotados em moeda estrangeira, como os combustíveis e grande parte dos alimentos.