Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Crédito rotativo e distorções rotativas


Soluções postas pelo governo e mercado não eliminam as distorções e nem acabam com a principal ‘jabuticaba’, que é o parcelamento sem juros

Por Celso Ming

Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou a extinção do crédito rotativo do cartão de crédito. Não há data para isso, mas a decisão está tomada.

Trata-se do esquema automático de refinanciamento do saldo não pago do cartão de crédito. São duas as razões alegadas: a de que os juros cobrados pelos bancos nesta modalidade de crédito são extorsivos, na medida em que já chegaram aos 450% ao ano; e a inadimplência é enorme, já ultrapassa os 49% ao ano.

continua após a publicidade

É uma “jabuticaba financeira” – só dá no Brasil. Implica enormes distorções, algumas delas menos admitidas, porque mostram o comportamento irracional não apenas dos consumidores, mas, também, dos bancos, do comércio e das autoridades que até agora admitiram essas aberrações.

Tudo começa com a anomalia do parcelamento sem juros, que se iniciou muito antes da difusão dos cartões de crédito, mas se acentuou com eles, dado que o risco de crédito deixou de ser do comerciante e passou a ser do administrador do cartão, que procura compensar com mais juros.

continua após a publicidade

O sistema é produtor de inflação. Como o comércio não aceita dar desconto no lugar do parcelamento das parcelas, fica claro que os juros estão embutidos no preço à vista. Por aí se vê que o comerciante passou a ter uma receita que nada tem a ver com sua atividade operacional.

Os bancos aceitaram esse jogo porque ganham com a administração dos cartões e ganham com os juros explosivos. Não trabalhariam para que os comerciantes reduzissem ou acabassem com a mandracaria do parcelamento sem juros, porque entenderam que a situação alavanca as vendas no varejo e, portanto, suas próprias receitas.

O consumidor, por sua vez, está mal acostumado a não rejeitar essa aberração, porque se limita a conferir se “a prestação cabe no seu salário”. As instituições financeiras foram tão lenientes na administração dos seus cartões que passaram a emiti-los muitas vezes sem critério.

continua após a publicidade
Dados do BC apontam que 20 milhões de pessoas passaram a ter acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022. Juros do rotativo ultrapassam os 400% ao ano.  Foto: Thiago Teixeira/Estadão

Ficou muito comum o titular de um cartão pagar o saldo com outro cartão. Assim vai rolando seu débito, que dispara e deixa a inadimplência inevitável.

Até agora, as autoridades assistiram passivamente a esse jogo perverso. A anunciada extinção do crédito rotativo não elimina as distorções. A ideia é impor juros fixos ao saldo devedor de 9% ao mês, limitar o número de prestações sem juros no varejo ou alterar as tarifas de intercâmbio cobradas pelas emissoras de cartões aos lojistas pelo uso do meio de pagamento.

continua após a publicidade

Seria uma solução precária, que reduz, mas não elimina os vícios. E não acaba com a principal “jabuticaba”, que é o parcelamento sem juros, porque o Banco Central teme que as vendas no varejo despenquem

Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou a extinção do crédito rotativo do cartão de crédito. Não há data para isso, mas a decisão está tomada.

Trata-se do esquema automático de refinanciamento do saldo não pago do cartão de crédito. São duas as razões alegadas: a de que os juros cobrados pelos bancos nesta modalidade de crédito são extorsivos, na medida em que já chegaram aos 450% ao ano; e a inadimplência é enorme, já ultrapassa os 49% ao ano.

É uma “jabuticaba financeira” – só dá no Brasil. Implica enormes distorções, algumas delas menos admitidas, porque mostram o comportamento irracional não apenas dos consumidores, mas, também, dos bancos, do comércio e das autoridades que até agora admitiram essas aberrações.

Tudo começa com a anomalia do parcelamento sem juros, que se iniciou muito antes da difusão dos cartões de crédito, mas se acentuou com eles, dado que o risco de crédito deixou de ser do comerciante e passou a ser do administrador do cartão, que procura compensar com mais juros.

O sistema é produtor de inflação. Como o comércio não aceita dar desconto no lugar do parcelamento das parcelas, fica claro que os juros estão embutidos no preço à vista. Por aí se vê que o comerciante passou a ter uma receita que nada tem a ver com sua atividade operacional.

Os bancos aceitaram esse jogo porque ganham com a administração dos cartões e ganham com os juros explosivos. Não trabalhariam para que os comerciantes reduzissem ou acabassem com a mandracaria do parcelamento sem juros, porque entenderam que a situação alavanca as vendas no varejo e, portanto, suas próprias receitas.

O consumidor, por sua vez, está mal acostumado a não rejeitar essa aberração, porque se limita a conferir se “a prestação cabe no seu salário”. As instituições financeiras foram tão lenientes na administração dos seus cartões que passaram a emiti-los muitas vezes sem critério.

Dados do BC apontam que 20 milhões de pessoas passaram a ter acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022. Juros do rotativo ultrapassam os 400% ao ano.  Foto: Thiago Teixeira/Estadão

Ficou muito comum o titular de um cartão pagar o saldo com outro cartão. Assim vai rolando seu débito, que dispara e deixa a inadimplência inevitável.

Até agora, as autoridades assistiram passivamente a esse jogo perverso. A anunciada extinção do crédito rotativo não elimina as distorções. A ideia é impor juros fixos ao saldo devedor de 9% ao mês, limitar o número de prestações sem juros no varejo ou alterar as tarifas de intercâmbio cobradas pelas emissoras de cartões aos lojistas pelo uso do meio de pagamento.

Seria uma solução precária, que reduz, mas não elimina os vícios. E não acaba com a principal “jabuticaba”, que é o parcelamento sem juros, porque o Banco Central teme que as vendas no varejo despenquem

Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou a extinção do crédito rotativo do cartão de crédito. Não há data para isso, mas a decisão está tomada.

Trata-se do esquema automático de refinanciamento do saldo não pago do cartão de crédito. São duas as razões alegadas: a de que os juros cobrados pelos bancos nesta modalidade de crédito são extorsivos, na medida em que já chegaram aos 450% ao ano; e a inadimplência é enorme, já ultrapassa os 49% ao ano.

É uma “jabuticaba financeira” – só dá no Brasil. Implica enormes distorções, algumas delas menos admitidas, porque mostram o comportamento irracional não apenas dos consumidores, mas, também, dos bancos, do comércio e das autoridades que até agora admitiram essas aberrações.

Tudo começa com a anomalia do parcelamento sem juros, que se iniciou muito antes da difusão dos cartões de crédito, mas se acentuou com eles, dado que o risco de crédito deixou de ser do comerciante e passou a ser do administrador do cartão, que procura compensar com mais juros.

O sistema é produtor de inflação. Como o comércio não aceita dar desconto no lugar do parcelamento das parcelas, fica claro que os juros estão embutidos no preço à vista. Por aí se vê que o comerciante passou a ter uma receita que nada tem a ver com sua atividade operacional.

Os bancos aceitaram esse jogo porque ganham com a administração dos cartões e ganham com os juros explosivos. Não trabalhariam para que os comerciantes reduzissem ou acabassem com a mandracaria do parcelamento sem juros, porque entenderam que a situação alavanca as vendas no varejo e, portanto, suas próprias receitas.

O consumidor, por sua vez, está mal acostumado a não rejeitar essa aberração, porque se limita a conferir se “a prestação cabe no seu salário”. As instituições financeiras foram tão lenientes na administração dos seus cartões que passaram a emiti-los muitas vezes sem critério.

Dados do BC apontam que 20 milhões de pessoas passaram a ter acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022. Juros do rotativo ultrapassam os 400% ao ano.  Foto: Thiago Teixeira/Estadão

Ficou muito comum o titular de um cartão pagar o saldo com outro cartão. Assim vai rolando seu débito, que dispara e deixa a inadimplência inevitável.

Até agora, as autoridades assistiram passivamente a esse jogo perverso. A anunciada extinção do crédito rotativo não elimina as distorções. A ideia é impor juros fixos ao saldo devedor de 9% ao mês, limitar o número de prestações sem juros no varejo ou alterar as tarifas de intercâmbio cobradas pelas emissoras de cartões aos lojistas pelo uso do meio de pagamento.

Seria uma solução precária, que reduz, mas não elimina os vícios. E não acaba com a principal “jabuticaba”, que é o parcelamento sem juros, porque o Banco Central teme que as vendas no varejo despenquem

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.