Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Não há risco de ‘efeito Orloff’ da Argentina sobre o Brasil, mas algum impacto parece inevitável


Cenário eleitoral incerto intensifica as turbulências e a inflação na Argentina e pode ter algum efeito na economia brasileira, mas sem grandes riscos para o País

Por Celso Ming
Atualização:

Por enquanto, as forças políticas da Argentina limitaram-se a disseminar perplexidade com a vitória do autointitulado “anarcocapitalista” e “libertário” Javier Milei nas primárias eleitorais do país realizadas dia 13.

Mas já ensaiam em predizer o apocalipse se a eleição de Milei se confirmar. Sebastián Galmarini, cunhado do atual candidato peronista, Sergio Massa, já se antecipou em advertir que não sobrará pedra sobre pedra caso Milei chegue à Casa Rosada: “Muchos argentinos eligieron el dólar a 10.000 pesos.”

Nesta quinta-feira, o blue, como é apelidado o dólar no mercado paralelo, fechou a 760 pesos, uma alta de 25% apenas na semana que se seguiu à vitória de Milei nas primárias com 30% dos votos. A inflação, que chegou aos 113,4% ao ano em julho, tende a saltar nos próximos meses.

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O governo Fernández parece impotente, vai cortando água com faca. Neste momento, praticamente nenhuma política pública consegue sustentação. Como tentativa de reduzir a turbulência, o Banco Central da Argentina desvalorizou o peso em 22% para 350 por dólar por 90 dias, e tascou uma alta dos juros de 21 pontos, para 118% ao ano. O risco Argentina saltou para acima de 2 mil pontos. Mesmo assim, ninguém garante que haja interessados por um título de dívida soberana da Argentina.

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Ainda paira o trauma do “corralito”, proibição de sacar mais do que 250 pesos diários de conta corrente bancária no período Meném, e os argentinos não confiam em bancos. Guardam seus dólares no forro de algum colchão. Esta é a principal razão pela qual nenhum governo posterior conseguiu que provavelmente mais de US$ 200 bilhões de propriedade de argentinos voltassem a circular no sistema financeiro e acabassem com a megacrise cambial.

O controle imediato desse avião parece restrito ao campo político. Seria por inviabilizar a candidatura Milei por um acordo eleitoral – que hoje ninguém sabe se sairá porque o desencanto dos eleitores com os políticos do establishment é enorme. O risco é o de que mais turbulências e a hiperinflação derretam o que sobra de pé. Ainda assim, é preciso ver como estabilizar a economia argentina no longo prazo.

Todas as vezes que uma desgraça acontece aqui ou lá, os especialistas relembram o sucesso publicitário de TV dos anos 90 que ficou conhecido como “Efeito Orloff”. Propalava as qualidades de uma vodca nacional à prova de ressaca: “Eu sou você amanhã”.

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Embora alguns indicadores econômicos da Argentina se assemelhem aos do Brasil, como os déficits público e os da dívida bruta, não há risco de um “efeito Orloff”, o de que o Brasil seja a Argentina de amanhã. Mas certo impacto sobre a economia brasileira parece inevitável.

Por enquanto, as forças políticas da Argentina limitaram-se a disseminar perplexidade com a vitória do autointitulado “anarcocapitalista” e “libertário” Javier Milei nas primárias eleitorais do país realizadas dia 13.

Mas já ensaiam em predizer o apocalipse se a eleição de Milei se confirmar. Sebastián Galmarini, cunhado do atual candidato peronista, Sergio Massa, já se antecipou em advertir que não sobrará pedra sobre pedra caso Milei chegue à Casa Rosada: “Muchos argentinos eligieron el dólar a 10.000 pesos.”

Nesta quinta-feira, o blue, como é apelidado o dólar no mercado paralelo, fechou a 760 pesos, uma alta de 25% apenas na semana que se seguiu à vitória de Milei nas primárias com 30% dos votos. A inflação, que chegou aos 113,4% ao ano em julho, tende a saltar nos próximos meses.

O governo Fernández parece impotente, vai cortando água com faca. Neste momento, praticamente nenhuma política pública consegue sustentação. Como tentativa de reduzir a turbulência, o Banco Central da Argentina desvalorizou o peso em 22% para 350 por dólar por 90 dias, e tascou uma alta dos juros de 21 pontos, para 118% ao ano. O risco Argentina saltou para acima de 2 mil pontos. Mesmo assim, ninguém garante que haja interessados por um título de dívida soberana da Argentina.

Ainda paira o trauma do “corralito”, proibição de sacar mais do que 250 pesos diários de conta corrente bancária no período Meném, e os argentinos não confiam em bancos. Guardam seus dólares no forro de algum colchão. Esta é a principal razão pela qual nenhum governo posterior conseguiu que provavelmente mais de US$ 200 bilhões de propriedade de argentinos voltassem a circular no sistema financeiro e acabassem com a megacrise cambial.

O controle imediato desse avião parece restrito ao campo político. Seria por inviabilizar a candidatura Milei por um acordo eleitoral – que hoje ninguém sabe se sairá porque o desencanto dos eleitores com os políticos do establishment é enorme. O risco é o de que mais turbulências e a hiperinflação derretam o que sobra de pé. Ainda assim, é preciso ver como estabilizar a economia argentina no longo prazo.

Todas as vezes que uma desgraça acontece aqui ou lá, os especialistas relembram o sucesso publicitário de TV dos anos 90 que ficou conhecido como “Efeito Orloff”. Propalava as qualidades de uma vodca nacional à prova de ressaca: “Eu sou você amanhã”.

Embora alguns indicadores econômicos da Argentina se assemelhem aos do Brasil, como os déficits público e os da dívida bruta, não há risco de um “efeito Orloff”, o de que o Brasil seja a Argentina de amanhã. Mas certo impacto sobre a economia brasileira parece inevitável.

Por enquanto, as forças políticas da Argentina limitaram-se a disseminar perplexidade com a vitória do autointitulado “anarcocapitalista” e “libertário” Javier Milei nas primárias eleitorais do país realizadas dia 13.

Mas já ensaiam em predizer o apocalipse se a eleição de Milei se confirmar. Sebastián Galmarini, cunhado do atual candidato peronista, Sergio Massa, já se antecipou em advertir que não sobrará pedra sobre pedra caso Milei chegue à Casa Rosada: “Muchos argentinos eligieron el dólar a 10.000 pesos.”

Nesta quinta-feira, o blue, como é apelidado o dólar no mercado paralelo, fechou a 760 pesos, uma alta de 25% apenas na semana que se seguiu à vitória de Milei nas primárias com 30% dos votos. A inflação, que chegou aos 113,4% ao ano em julho, tende a saltar nos próximos meses.

O governo Fernández parece impotente, vai cortando água com faca. Neste momento, praticamente nenhuma política pública consegue sustentação. Como tentativa de reduzir a turbulência, o Banco Central da Argentina desvalorizou o peso em 22% para 350 por dólar por 90 dias, e tascou uma alta dos juros de 21 pontos, para 118% ao ano. O risco Argentina saltou para acima de 2 mil pontos. Mesmo assim, ninguém garante que haja interessados por um título de dívida soberana da Argentina.

Ainda paira o trauma do “corralito”, proibição de sacar mais do que 250 pesos diários de conta corrente bancária no período Meném, e os argentinos não confiam em bancos. Guardam seus dólares no forro de algum colchão. Esta é a principal razão pela qual nenhum governo posterior conseguiu que provavelmente mais de US$ 200 bilhões de propriedade de argentinos voltassem a circular no sistema financeiro e acabassem com a megacrise cambial.

O controle imediato desse avião parece restrito ao campo político. Seria por inviabilizar a candidatura Milei por um acordo eleitoral – que hoje ninguém sabe se sairá porque o desencanto dos eleitores com os políticos do establishment é enorme. O risco é o de que mais turbulências e a hiperinflação derretam o que sobra de pé. Ainda assim, é preciso ver como estabilizar a economia argentina no longo prazo.

Todas as vezes que uma desgraça acontece aqui ou lá, os especialistas relembram o sucesso publicitário de TV dos anos 90 que ficou conhecido como “Efeito Orloff”. Propalava as qualidades de uma vodca nacional à prova de ressaca: “Eu sou você amanhã”.

Embora alguns indicadores econômicos da Argentina se assemelhem aos do Brasil, como os déficits público e os da dívida bruta, não há risco de um “efeito Orloff”, o de que o Brasil seja a Argentina de amanhã. Mas certo impacto sobre a economia brasileira parece inevitável.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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