Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Entenda a meta de inflação a prazos longos


Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo dos negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo

Por Celso Ming

Na quinta-feira 27, o Conselho Monetário Nacional reúne-se para definir a meta de inflação para 2022. Este assunto pode parecer árido, e é, mas traz importantes consequências para a vida econômica de qualquer brasileiro.

No atual sistema, é o governo que define a meta de inflação a vigorar em determinado ano, e resta ao Banco Central calibrar a política monetária (os juros), ou seja, deve ajustar o volume de moeda na economia para que a meta seja cumprida.

Quem toma a decisão pelo governo é o Conselho Monetário Nacional, também conhecido pelo apelido com carga nordestina de Cenemê. Até o ano passado, faziam parte deste Conselho o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Com a fusão dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, ocupou a vaga o secretário especial da Fazenda, hoje o economista Waldery Rodrigues.

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Muita gente pode pensar que 2022 é horizonte distante demais para que se preste muita atenção para a meta de inflação a ser fixada na quinta-feira. Mas não é assim. O mundo dos negócios tem de lidar com prazos esticados. O prazo de pagamento de uma máquina ou de contratos de fornecimento pode ser de muitos anos. Mesmo o contrato de financiamento de uma casa pode ter prazo de amortização de 20 anos. Por isso, é preciso trabalhar tendo por referência a inflação de anos à frente, para demarcar compromissos e pagamentos.

Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo de negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo Foto: Marcos Müller/Estadão

Para executar sua política monetária, o Banco Central também tem de olhar bem para a frente, mirar o tal “horizonte relevante” que está nos documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom), para definir a ração de moeda (e de juros) com que alimentar a economia.

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Neste ano, a meta de inflação é de 4,25%. Para 2020, será de 4,0% e para 2021, de 3,75%. A expectativa é que, para 2022, o Conselho Monetário Nacional bata o martelo nos 3,5%, um número inimaginável nos anos 80, quando a inflação chegou a encostar nos 100% ao mês (e não ao ano). 

Como o Banco Central vem conduzindo as expectativas do mercado; como a inflação deste ano está apontando para algo abaixo dos 4,0%; e como, para 2020, as projeções do mercado são de que fique nos 3,95%, a meta de 3,5% parece relativamente folgada.

A principal consequência da definição de uma meta e de seu cumprimento por um banco central de credibilidade é produzir a convergência dos fazedores de preços de modo a que operem nos seus negócios com uma inflação dessa ordem. Em contrapartida, quem trabalha no mercado financeiro, num ano de inflação de 3,5%, terá de olhar para juros não superiores a 5% ao ano.

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Com esses números, não faz sentido manter o encaixotamento da política monetária dentro de margens de escape como as que vigoram hoje. Margens de escape são os níveis de tolerância, isto é, são os espaços dimensionados acima e abaixo da inflação em que a meta se considera cumprida mesmo se a inflação do ano ficar fora do centro dessa meta, desde que o intervalo de escape seja observado. Para deixar mais claro: se a meta de inflação de 2016 foi de 4,5% e as margens eram de 2,0 pontos porcentuais, a inflação poderia ter ficado entre 2,5% e 6,5%.

Dois dos três votos no Conselho Monetário Nacional (CMN) serão ligados diretamente a Paulo Guedes - o próprio voto do ministro e de seu secretário de Fazenda. Foto: Adriano Machado/Reuters

A definição dessas margens foi necessária por duas razões: primeira, para acomodar uma inflação que viesse a ser produzida por fatores alheios ao volume de moeda emitido pelo Banco Central. É o caso de uma inflação de alimentos causada por secas ou enchentes. E, segunda razão, porque o critério escolhido para efeito de cumprimento da meta foi a inflação ocorrida dentro do ano-calendário, que nem sempre se consegue acertar.

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No tempo em que a meta de inflação era de 8,0%, como era em 1999, as margens de tolerância admitidas também eram de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta. Com eventual meta de inflação de 3,5% para 2020, nem mesmo margens de tolerância parecem apropriadas.

Nenhum grande banco central trabalha com áreas de escape. Primeiro porque, para execução de sua política de juros, não considera exatamente a evolução do custo de vida, mas os chamados núcleos de inflação, ou seja, a inflação expurgada de fatores aleatórios, como alta temporária dos alimentos e do petróleo. E, segundo, porque não olham para o ano-calendário, mas para o período móvel de 12 meses.

Nenhum obstáculo relevante parece impedir que o Brasil adote o mesmo critério. Como o sistema de metas de inflação foi instituído por decreto do presidente da República, qualquer mudança nesse sentido poderia ser feita também por decreto.

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Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para decidir a meta de inflação de 2022 é o principal destaque da semana econômica, com analistas prevendo redução para 3,5%. IPCA-15 de junho, taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio, sem expectativa de redução, Relatório de Inflação, PIB americano e reunião do G-20, no Japão, são os outros destaques.

Na quinta-feira 27, o Conselho Monetário Nacional reúne-se para definir a meta de inflação para 2022. Este assunto pode parecer árido, e é, mas traz importantes consequências para a vida econômica de qualquer brasileiro.

No atual sistema, é o governo que define a meta de inflação a vigorar em determinado ano, e resta ao Banco Central calibrar a política monetária (os juros), ou seja, deve ajustar o volume de moeda na economia para que a meta seja cumprida.

Quem toma a decisão pelo governo é o Conselho Monetário Nacional, também conhecido pelo apelido com carga nordestina de Cenemê. Até o ano passado, faziam parte deste Conselho o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Com a fusão dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, ocupou a vaga o secretário especial da Fazenda, hoje o economista Waldery Rodrigues.

Muita gente pode pensar que 2022 é horizonte distante demais para que se preste muita atenção para a meta de inflação a ser fixada na quinta-feira. Mas não é assim. O mundo dos negócios tem de lidar com prazos esticados. O prazo de pagamento de uma máquina ou de contratos de fornecimento pode ser de muitos anos. Mesmo o contrato de financiamento de uma casa pode ter prazo de amortização de 20 anos. Por isso, é preciso trabalhar tendo por referência a inflação de anos à frente, para demarcar compromissos e pagamentos.

Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo de negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo Foto: Marcos Müller/Estadão

Para executar sua política monetária, o Banco Central também tem de olhar bem para a frente, mirar o tal “horizonte relevante” que está nos documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom), para definir a ração de moeda (e de juros) com que alimentar a economia.

Neste ano, a meta de inflação é de 4,25%. Para 2020, será de 4,0% e para 2021, de 3,75%. A expectativa é que, para 2022, o Conselho Monetário Nacional bata o martelo nos 3,5%, um número inimaginável nos anos 80, quando a inflação chegou a encostar nos 100% ao mês (e não ao ano). 

Como o Banco Central vem conduzindo as expectativas do mercado; como a inflação deste ano está apontando para algo abaixo dos 4,0%; e como, para 2020, as projeções do mercado são de que fique nos 3,95%, a meta de 3,5% parece relativamente folgada.

A principal consequência da definição de uma meta e de seu cumprimento por um banco central de credibilidade é produzir a convergência dos fazedores de preços de modo a que operem nos seus negócios com uma inflação dessa ordem. Em contrapartida, quem trabalha no mercado financeiro, num ano de inflação de 3,5%, terá de olhar para juros não superiores a 5% ao ano.

Com esses números, não faz sentido manter o encaixotamento da política monetária dentro de margens de escape como as que vigoram hoje. Margens de escape são os níveis de tolerância, isto é, são os espaços dimensionados acima e abaixo da inflação em que a meta se considera cumprida mesmo se a inflação do ano ficar fora do centro dessa meta, desde que o intervalo de escape seja observado. Para deixar mais claro: se a meta de inflação de 2016 foi de 4,5% e as margens eram de 2,0 pontos porcentuais, a inflação poderia ter ficado entre 2,5% e 6,5%.

Dois dos três votos no Conselho Monetário Nacional (CMN) serão ligados diretamente a Paulo Guedes - o próprio voto do ministro e de seu secretário de Fazenda. Foto: Adriano Machado/Reuters

A definição dessas margens foi necessária por duas razões: primeira, para acomodar uma inflação que viesse a ser produzida por fatores alheios ao volume de moeda emitido pelo Banco Central. É o caso de uma inflação de alimentos causada por secas ou enchentes. E, segunda razão, porque o critério escolhido para efeito de cumprimento da meta foi a inflação ocorrida dentro do ano-calendário, que nem sempre se consegue acertar.

No tempo em que a meta de inflação era de 8,0%, como era em 1999, as margens de tolerância admitidas também eram de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta. Com eventual meta de inflação de 3,5% para 2020, nem mesmo margens de tolerância parecem apropriadas.

Nenhum grande banco central trabalha com áreas de escape. Primeiro porque, para execução de sua política de juros, não considera exatamente a evolução do custo de vida, mas os chamados núcleos de inflação, ou seja, a inflação expurgada de fatores aleatórios, como alta temporária dos alimentos e do petróleo. E, segundo, porque não olham para o ano-calendário, mas para o período móvel de 12 meses.

Nenhum obstáculo relevante parece impedir que o Brasil adote o mesmo critério. Como o sistema de metas de inflação foi instituído por decreto do presidente da República, qualquer mudança nesse sentido poderia ser feita também por decreto.

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Na quinta-feira 27, o Conselho Monetário Nacional reúne-se para definir a meta de inflação para 2022. Este assunto pode parecer árido, e é, mas traz importantes consequências para a vida econômica de qualquer brasileiro.

No atual sistema, é o governo que define a meta de inflação a vigorar em determinado ano, e resta ao Banco Central calibrar a política monetária (os juros), ou seja, deve ajustar o volume de moeda na economia para que a meta seja cumprida.

Quem toma a decisão pelo governo é o Conselho Monetário Nacional, também conhecido pelo apelido com carga nordestina de Cenemê. Até o ano passado, faziam parte deste Conselho o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Com a fusão dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, ocupou a vaga o secretário especial da Fazenda, hoje o economista Waldery Rodrigues.

Muita gente pode pensar que 2022 é horizonte distante demais para que se preste muita atenção para a meta de inflação a ser fixada na quinta-feira. Mas não é assim. O mundo dos negócios tem de lidar com prazos esticados. O prazo de pagamento de uma máquina ou de contratos de fornecimento pode ser de muitos anos. Mesmo o contrato de financiamento de uma casa pode ter prazo de amortização de 20 anos. Por isso, é preciso trabalhar tendo por referência a inflação de anos à frente, para demarcar compromissos e pagamentos.

Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo de negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo Foto: Marcos Müller/Estadão

Para executar sua política monetária, o Banco Central também tem de olhar bem para a frente, mirar o tal “horizonte relevante” que está nos documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom), para definir a ração de moeda (e de juros) com que alimentar a economia.

Neste ano, a meta de inflação é de 4,25%. Para 2020, será de 4,0% e para 2021, de 3,75%. A expectativa é que, para 2022, o Conselho Monetário Nacional bata o martelo nos 3,5%, um número inimaginável nos anos 80, quando a inflação chegou a encostar nos 100% ao mês (e não ao ano). 

Como o Banco Central vem conduzindo as expectativas do mercado; como a inflação deste ano está apontando para algo abaixo dos 4,0%; e como, para 2020, as projeções do mercado são de que fique nos 3,95%, a meta de 3,5% parece relativamente folgada.

A principal consequência da definição de uma meta e de seu cumprimento por um banco central de credibilidade é produzir a convergência dos fazedores de preços de modo a que operem nos seus negócios com uma inflação dessa ordem. Em contrapartida, quem trabalha no mercado financeiro, num ano de inflação de 3,5%, terá de olhar para juros não superiores a 5% ao ano.

Com esses números, não faz sentido manter o encaixotamento da política monetária dentro de margens de escape como as que vigoram hoje. Margens de escape são os níveis de tolerância, isto é, são os espaços dimensionados acima e abaixo da inflação em que a meta se considera cumprida mesmo se a inflação do ano ficar fora do centro dessa meta, desde que o intervalo de escape seja observado. Para deixar mais claro: se a meta de inflação de 2016 foi de 4,5% e as margens eram de 2,0 pontos porcentuais, a inflação poderia ter ficado entre 2,5% e 6,5%.

Dois dos três votos no Conselho Monetário Nacional (CMN) serão ligados diretamente a Paulo Guedes - o próprio voto do ministro e de seu secretário de Fazenda. Foto: Adriano Machado/Reuters

A definição dessas margens foi necessária por duas razões: primeira, para acomodar uma inflação que viesse a ser produzida por fatores alheios ao volume de moeda emitido pelo Banco Central. É o caso de uma inflação de alimentos causada por secas ou enchentes. E, segunda razão, porque o critério escolhido para efeito de cumprimento da meta foi a inflação ocorrida dentro do ano-calendário, que nem sempre se consegue acertar.

No tempo em que a meta de inflação era de 8,0%, como era em 1999, as margens de tolerância admitidas também eram de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta. Com eventual meta de inflação de 3,5% para 2020, nem mesmo margens de tolerância parecem apropriadas.

Nenhum grande banco central trabalha com áreas de escape. Primeiro porque, para execução de sua política de juros, não considera exatamente a evolução do custo de vida, mas os chamados núcleos de inflação, ou seja, a inflação expurgada de fatores aleatórios, como alta temporária dos alimentos e do petróleo. E, segundo, porque não olham para o ano-calendário, mas para o período móvel de 12 meses.

Nenhum obstáculo relevante parece impedir que o Brasil adote o mesmo critério. Como o sistema de metas de inflação foi instituído por decreto do presidente da República, qualquer mudança nesse sentido poderia ser feita também por decreto.

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Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para decidir a meta de inflação de 2022 é o principal destaque da semana econômica, com analistas prevendo redução para 3,5%. IPCA-15 de junho, taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio, sem expectativa de redução, Relatório de Inflação, PIB americano e reunião do G-20, no Japão, são os outros destaques.

Na quinta-feira 27, o Conselho Monetário Nacional reúne-se para definir a meta de inflação para 2022. Este assunto pode parecer árido, e é, mas traz importantes consequências para a vida econômica de qualquer brasileiro.

No atual sistema, é o governo que define a meta de inflação a vigorar em determinado ano, e resta ao Banco Central calibrar a política monetária (os juros), ou seja, deve ajustar o volume de moeda na economia para que a meta seja cumprida.

Quem toma a decisão pelo governo é o Conselho Monetário Nacional, também conhecido pelo apelido com carga nordestina de Cenemê. Até o ano passado, faziam parte deste Conselho o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Com a fusão dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, ocupou a vaga o secretário especial da Fazenda, hoje o economista Waldery Rodrigues.

Muita gente pode pensar que 2022 é horizonte distante demais para que se preste muita atenção para a meta de inflação a ser fixada na quinta-feira. Mas não é assim. O mundo dos negócios tem de lidar com prazos esticados. O prazo de pagamento de uma máquina ou de contratos de fornecimento pode ser de muitos anos. Mesmo o contrato de financiamento de uma casa pode ter prazo de amortização de 20 anos. Por isso, é preciso trabalhar tendo por referência a inflação de anos à frente, para demarcar compromissos e pagamentos.

Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo de negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo Foto: Marcos Müller/Estadão

Para executar sua política monetária, o Banco Central também tem de olhar bem para a frente, mirar o tal “horizonte relevante” que está nos documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom), para definir a ração de moeda (e de juros) com que alimentar a economia.

Neste ano, a meta de inflação é de 4,25%. Para 2020, será de 4,0% e para 2021, de 3,75%. A expectativa é que, para 2022, o Conselho Monetário Nacional bata o martelo nos 3,5%, um número inimaginável nos anos 80, quando a inflação chegou a encostar nos 100% ao mês (e não ao ano). 

Como o Banco Central vem conduzindo as expectativas do mercado; como a inflação deste ano está apontando para algo abaixo dos 4,0%; e como, para 2020, as projeções do mercado são de que fique nos 3,95%, a meta de 3,5% parece relativamente folgada.

A principal consequência da definição de uma meta e de seu cumprimento por um banco central de credibilidade é produzir a convergência dos fazedores de preços de modo a que operem nos seus negócios com uma inflação dessa ordem. Em contrapartida, quem trabalha no mercado financeiro, num ano de inflação de 3,5%, terá de olhar para juros não superiores a 5% ao ano.

Com esses números, não faz sentido manter o encaixotamento da política monetária dentro de margens de escape como as que vigoram hoje. Margens de escape são os níveis de tolerância, isto é, são os espaços dimensionados acima e abaixo da inflação em que a meta se considera cumprida mesmo se a inflação do ano ficar fora do centro dessa meta, desde que o intervalo de escape seja observado. Para deixar mais claro: se a meta de inflação de 2016 foi de 4,5% e as margens eram de 2,0 pontos porcentuais, a inflação poderia ter ficado entre 2,5% e 6,5%.

Dois dos três votos no Conselho Monetário Nacional (CMN) serão ligados diretamente a Paulo Guedes - o próprio voto do ministro e de seu secretário de Fazenda. Foto: Adriano Machado/Reuters

A definição dessas margens foi necessária por duas razões: primeira, para acomodar uma inflação que viesse a ser produzida por fatores alheios ao volume de moeda emitido pelo Banco Central. É o caso de uma inflação de alimentos causada por secas ou enchentes. E, segunda razão, porque o critério escolhido para efeito de cumprimento da meta foi a inflação ocorrida dentro do ano-calendário, que nem sempre se consegue acertar.

No tempo em que a meta de inflação era de 8,0%, como era em 1999, as margens de tolerância admitidas também eram de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta. Com eventual meta de inflação de 3,5% para 2020, nem mesmo margens de tolerância parecem apropriadas.

Nenhum grande banco central trabalha com áreas de escape. Primeiro porque, para execução de sua política de juros, não considera exatamente a evolução do custo de vida, mas os chamados núcleos de inflação, ou seja, a inflação expurgada de fatores aleatórios, como alta temporária dos alimentos e do petróleo. E, segundo, porque não olham para o ano-calendário, mas para o período móvel de 12 meses.

Nenhum obstáculo relevante parece impedir que o Brasil adote o mesmo critério. Como o sistema de metas de inflação foi instituído por decreto do presidente da República, qualquer mudança nesse sentido poderia ser feita também por decreto.

Seu navegador não suporta esse video.

Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para decidir a meta de inflação de 2022 é o principal destaque da semana econômica, com analistas prevendo redução para 3,5%. IPCA-15 de junho, taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio, sem expectativa de redução, Relatório de Inflação, PIB americano e reunião do G-20, no Japão, são os outros destaques.

Na quinta-feira 27, o Conselho Monetário Nacional reúne-se para definir a meta de inflação para 2022. Este assunto pode parecer árido, e é, mas traz importantes consequências para a vida econômica de qualquer brasileiro.

No atual sistema, é o governo que define a meta de inflação a vigorar em determinado ano, e resta ao Banco Central calibrar a política monetária (os juros), ou seja, deve ajustar o volume de moeda na economia para que a meta seja cumprida.

Quem toma a decisão pelo governo é o Conselho Monetário Nacional, também conhecido pelo apelido com carga nordestina de Cenemê. Até o ano passado, faziam parte deste Conselho o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Com a fusão dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, ocupou a vaga o secretário especial da Fazenda, hoje o economista Waldery Rodrigues.

Muita gente pode pensar que 2022 é horizonte distante demais para que se preste muita atenção para a meta de inflação a ser fixada na quinta-feira. Mas não é assim. O mundo dos negócios tem de lidar com prazos esticados. O prazo de pagamento de uma máquina ou de contratos de fornecimento pode ser de muitos anos. Mesmo o contrato de financiamento de uma casa pode ter prazo de amortização de 20 anos. Por isso, é preciso trabalhar tendo por referência a inflação de anos à frente, para demarcar compromissos e pagamentos.

Muita gente pode pensar que a meta de inflação de 2022 é distante demais para se prestar atenção, mas, no mundo de negócios, prazos esticados são essenciais em investimentos a longo prazo Foto: Marcos Müller/Estadão

Para executar sua política monetária, o Banco Central também tem de olhar bem para a frente, mirar o tal “horizonte relevante” que está nos documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom), para definir a ração de moeda (e de juros) com que alimentar a economia.

Neste ano, a meta de inflação é de 4,25%. Para 2020, será de 4,0% e para 2021, de 3,75%. A expectativa é que, para 2022, o Conselho Monetário Nacional bata o martelo nos 3,5%, um número inimaginável nos anos 80, quando a inflação chegou a encostar nos 100% ao mês (e não ao ano). 

Como o Banco Central vem conduzindo as expectativas do mercado; como a inflação deste ano está apontando para algo abaixo dos 4,0%; e como, para 2020, as projeções do mercado são de que fique nos 3,95%, a meta de 3,5% parece relativamente folgada.

A principal consequência da definição de uma meta e de seu cumprimento por um banco central de credibilidade é produzir a convergência dos fazedores de preços de modo a que operem nos seus negócios com uma inflação dessa ordem. Em contrapartida, quem trabalha no mercado financeiro, num ano de inflação de 3,5%, terá de olhar para juros não superiores a 5% ao ano.

Com esses números, não faz sentido manter o encaixotamento da política monetária dentro de margens de escape como as que vigoram hoje. Margens de escape são os níveis de tolerância, isto é, são os espaços dimensionados acima e abaixo da inflação em que a meta se considera cumprida mesmo se a inflação do ano ficar fora do centro dessa meta, desde que o intervalo de escape seja observado. Para deixar mais claro: se a meta de inflação de 2016 foi de 4,5% e as margens eram de 2,0 pontos porcentuais, a inflação poderia ter ficado entre 2,5% e 6,5%.

Dois dos três votos no Conselho Monetário Nacional (CMN) serão ligados diretamente a Paulo Guedes - o próprio voto do ministro e de seu secretário de Fazenda. Foto: Adriano Machado/Reuters

A definição dessas margens foi necessária por duas razões: primeira, para acomodar uma inflação que viesse a ser produzida por fatores alheios ao volume de moeda emitido pelo Banco Central. É o caso de uma inflação de alimentos causada por secas ou enchentes. E, segunda razão, porque o critério escolhido para efeito de cumprimento da meta foi a inflação ocorrida dentro do ano-calendário, que nem sempre se consegue acertar.

No tempo em que a meta de inflação era de 8,0%, como era em 1999, as margens de tolerância admitidas também eram de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta. Com eventual meta de inflação de 3,5% para 2020, nem mesmo margens de tolerância parecem apropriadas.

Nenhum grande banco central trabalha com áreas de escape. Primeiro porque, para execução de sua política de juros, não considera exatamente a evolução do custo de vida, mas os chamados núcleos de inflação, ou seja, a inflação expurgada de fatores aleatórios, como alta temporária dos alimentos e do petróleo. E, segundo, porque não olham para o ano-calendário, mas para o período móvel de 12 meses.

Nenhum obstáculo relevante parece impedir que o Brasil adote o mesmo critério. Como o sistema de metas de inflação foi instituído por decreto do presidente da República, qualquer mudança nesse sentido poderia ser feita também por decreto.

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