Jornalista e comentarista de economia

Opinião|No cenário otimista, o que sobra para as esquerdas?


A oposição apostou que a economia não vingaria, mas há agora indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica

Por Celso Ming e Guilherme Guerra

O ano termina e outro começa com certo otimismo entre os analistas. E há mesmo bons indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica, num clima de inflação baixa e sob controle e de juros básicos que nunca estiveram em níveis tão reduzidos. Bancos, consultorias e analistas reveem para cima projeções de crescimento e agências de rating reclassificam também para melhor suas notas para o Brasil.

Em edições anteriores, esta Coluna já mostrou que os indicadores são animadores, mas é preciso cautela e dar um tempo para saber se a retomada é consistente e se não passa de voo de galinha, como outros no passado.

A oposição, em especial as esquerdas, apostou que aconteceria o contrário e, ao longo do primeiro ano da administração Bolsonaro, aferrou-se ao discurso do “quanto pior, melhor” e de que estava tudo errado na política econômica neoliberal conduzida pelo ministro Paulo Guedes.

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A oposição apostou que a economia não vingaria, mas há agora indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica Foto: Marcos Müller/Estadão

Não só condenou a reforma trabalhista, como, também, com exceção do PDT, continuou negando a necessidade da reforma da Previdência. Até hoje não apresenta um projeto de reforma tributária que vá além da taxação das grandes fortunas e, ainda assim, sem avançar como se faria isso.

Também não avançou nenhuma proposta de como o setor público deve enfrentar a mãe de todos os problemas econômicos do País, que é a desordem das contas públicas, especialmente dos Estados e dos municípios. Tende a condenar a austeridade orçamentária, ao contrário do que fizeram os dois últimos ministros da Fazenda do governo Dilma, e, no lugar dela, prega o crescimento econômico, sem explicar como isso seria obtido.

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Esse viés negacionista parecia ter algum fôlego enquanto os indicadores se mantiveram ruins. Mas, se a economia confirmar a aceleração, essa estratégia pode trazer mais prejuízos eleitorais para as esquerdas.

Para o economista Marcio Pochmann, um dos coautores do programa econômico do Partido dos Trabalhadores (PT) exposto na última campanha eleitoral, o clima otimista tem muito de fake, porque se restringe ao mercado financeiro, que sempre se dá bem, até mesmo na recessão. A crise, afirma ele, continua batendo forte na indústria, que enfrenta enorme ociosidade, e nas pequenas e médias empresas.

A solução, para Pochmann, é retomar a cartilha do Partido dos Trabalhadores colocada em prática durante o governo Lula, principalmente em seu segundo mandato, de retomar a primazia do Estado na condução da economia. O foco, diz ele, deve ser a retomada do mercado interno com providências semelhantes à recente liberação dos saques do Fundo de Garantia, uma “medida heterodoxa”. Mas, além de eventual, é pouco, avalia ele. “A fotografia não deixa de ser positiva, mas o filme não se sustenta”, diz.

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Sugere, ainda, aumentar investimentos com mais endividamento – sem levar em conta que esse passivo hoje se avizinha dos 80% do PIB. Prega, também, utilização de uma parcela das reservas externas na indústria hospitalar, uma vez que melhora na área de saúde é uma das principais demandas da sociedade.

Em suma, é um discurso que repete o que não conseguiu sensibilizar o eleitor nas últimas eleições. O maior problema para as esquerdas é o de que esse conjunto de proposições não parece consistente a ponto de se contrapor para valer à atual linha de condução da política econômica.

Apenas condenar o baixo crescimento e o desemprego é, de certa maneira, remeter-se à situação que prevalecia no governo Dilma. Repisar que o aumento do emprego informal e das atividades por conta própria precariza o trabalho não leva em conta a enorme transformação em marcha no mercado, não só no Brasil.

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O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, explica que as esquerdas, e não só o PT, vivem um dilema sobre como se posicionar em relação ao governo Bolsonaro, já que aguardam o sucesso ou o fracasso da política econômica para decidir como atacar o governo. Além disso, o eleitor brasileiro já não se deixa sensibilizar apenas com apelos nostálgicos dos tempos de bonança da era Lula. É preciso trocar esse disco, diz.

E Cortez acrescenta: “Em um cenário de sucesso econômico, o que resta é apontar riscos para o modus operandi do bolsonarismo”, referindo-se à retórica isolacionista e aguerrida do clã do presidente da República. “Em síntese, para as esquerdas, num cenário de crescimento econômico, as perspectivas não são positivas.”

O ano termina e outro começa com certo otimismo entre os analistas. E há mesmo bons indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica, num clima de inflação baixa e sob controle e de juros básicos que nunca estiveram em níveis tão reduzidos. Bancos, consultorias e analistas reveem para cima projeções de crescimento e agências de rating reclassificam também para melhor suas notas para o Brasil.

Em edições anteriores, esta Coluna já mostrou que os indicadores são animadores, mas é preciso cautela e dar um tempo para saber se a retomada é consistente e se não passa de voo de galinha, como outros no passado.

A oposição, em especial as esquerdas, apostou que aconteceria o contrário e, ao longo do primeiro ano da administração Bolsonaro, aferrou-se ao discurso do “quanto pior, melhor” e de que estava tudo errado na política econômica neoliberal conduzida pelo ministro Paulo Guedes.

A oposição apostou que a economia não vingaria, mas há agora indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica Foto: Marcos Müller/Estadão

Não só condenou a reforma trabalhista, como, também, com exceção do PDT, continuou negando a necessidade da reforma da Previdência. Até hoje não apresenta um projeto de reforma tributária que vá além da taxação das grandes fortunas e, ainda assim, sem avançar como se faria isso.

Também não avançou nenhuma proposta de como o setor público deve enfrentar a mãe de todos os problemas econômicos do País, que é a desordem das contas públicas, especialmente dos Estados e dos municípios. Tende a condenar a austeridade orçamentária, ao contrário do que fizeram os dois últimos ministros da Fazenda do governo Dilma, e, no lugar dela, prega o crescimento econômico, sem explicar como isso seria obtido.

Esse viés negacionista parecia ter algum fôlego enquanto os indicadores se mantiveram ruins. Mas, se a economia confirmar a aceleração, essa estratégia pode trazer mais prejuízos eleitorais para as esquerdas.

Para o economista Marcio Pochmann, um dos coautores do programa econômico do Partido dos Trabalhadores (PT) exposto na última campanha eleitoral, o clima otimista tem muito de fake, porque se restringe ao mercado financeiro, que sempre se dá bem, até mesmo na recessão. A crise, afirma ele, continua batendo forte na indústria, que enfrenta enorme ociosidade, e nas pequenas e médias empresas.

A solução, para Pochmann, é retomar a cartilha do Partido dos Trabalhadores colocada em prática durante o governo Lula, principalmente em seu segundo mandato, de retomar a primazia do Estado na condução da economia. O foco, diz ele, deve ser a retomada do mercado interno com providências semelhantes à recente liberação dos saques do Fundo de Garantia, uma “medida heterodoxa”. Mas, além de eventual, é pouco, avalia ele. “A fotografia não deixa de ser positiva, mas o filme não se sustenta”, diz.

Sugere, ainda, aumentar investimentos com mais endividamento – sem levar em conta que esse passivo hoje se avizinha dos 80% do PIB. Prega, também, utilização de uma parcela das reservas externas na indústria hospitalar, uma vez que melhora na área de saúde é uma das principais demandas da sociedade.

Em suma, é um discurso que repete o que não conseguiu sensibilizar o eleitor nas últimas eleições. O maior problema para as esquerdas é o de que esse conjunto de proposições não parece consistente a ponto de se contrapor para valer à atual linha de condução da política econômica.

Apenas condenar o baixo crescimento e o desemprego é, de certa maneira, remeter-se à situação que prevalecia no governo Dilma. Repisar que o aumento do emprego informal e das atividades por conta própria precariza o trabalho não leva em conta a enorme transformação em marcha no mercado, não só no Brasil.

O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, explica que as esquerdas, e não só o PT, vivem um dilema sobre como se posicionar em relação ao governo Bolsonaro, já que aguardam o sucesso ou o fracasso da política econômica para decidir como atacar o governo. Além disso, o eleitor brasileiro já não se deixa sensibilizar apenas com apelos nostálgicos dos tempos de bonança da era Lula. É preciso trocar esse disco, diz.

E Cortez acrescenta: “Em um cenário de sucesso econômico, o que resta é apontar riscos para o modus operandi do bolsonarismo”, referindo-se à retórica isolacionista e aguerrida do clã do presidente da República. “Em síntese, para as esquerdas, num cenário de crescimento econômico, as perspectivas não são positivas.”

O ano termina e outro começa com certo otimismo entre os analistas. E há mesmo bons indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica, num clima de inflação baixa e sob controle e de juros básicos que nunca estiveram em níveis tão reduzidos. Bancos, consultorias e analistas reveem para cima projeções de crescimento e agências de rating reclassificam também para melhor suas notas para o Brasil.

Em edições anteriores, esta Coluna já mostrou que os indicadores são animadores, mas é preciso cautela e dar um tempo para saber se a retomada é consistente e se não passa de voo de galinha, como outros no passado.

A oposição, em especial as esquerdas, apostou que aconteceria o contrário e, ao longo do primeiro ano da administração Bolsonaro, aferrou-se ao discurso do “quanto pior, melhor” e de que estava tudo errado na política econômica neoliberal conduzida pelo ministro Paulo Guedes.

A oposição apostou que a economia não vingaria, mas há agora indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica Foto: Marcos Müller/Estadão

Não só condenou a reforma trabalhista, como, também, com exceção do PDT, continuou negando a necessidade da reforma da Previdência. Até hoje não apresenta um projeto de reforma tributária que vá além da taxação das grandes fortunas e, ainda assim, sem avançar como se faria isso.

Também não avançou nenhuma proposta de como o setor público deve enfrentar a mãe de todos os problemas econômicos do País, que é a desordem das contas públicas, especialmente dos Estados e dos municípios. Tende a condenar a austeridade orçamentária, ao contrário do que fizeram os dois últimos ministros da Fazenda do governo Dilma, e, no lugar dela, prega o crescimento econômico, sem explicar como isso seria obtido.

Esse viés negacionista parecia ter algum fôlego enquanto os indicadores se mantiveram ruins. Mas, se a economia confirmar a aceleração, essa estratégia pode trazer mais prejuízos eleitorais para as esquerdas.

Para o economista Marcio Pochmann, um dos coautores do programa econômico do Partido dos Trabalhadores (PT) exposto na última campanha eleitoral, o clima otimista tem muito de fake, porque se restringe ao mercado financeiro, que sempre se dá bem, até mesmo na recessão. A crise, afirma ele, continua batendo forte na indústria, que enfrenta enorme ociosidade, e nas pequenas e médias empresas.

A solução, para Pochmann, é retomar a cartilha do Partido dos Trabalhadores colocada em prática durante o governo Lula, principalmente em seu segundo mandato, de retomar a primazia do Estado na condução da economia. O foco, diz ele, deve ser a retomada do mercado interno com providências semelhantes à recente liberação dos saques do Fundo de Garantia, uma “medida heterodoxa”. Mas, além de eventual, é pouco, avalia ele. “A fotografia não deixa de ser positiva, mas o filme não se sustenta”, diz.

Sugere, ainda, aumentar investimentos com mais endividamento – sem levar em conta que esse passivo hoje se avizinha dos 80% do PIB. Prega, também, utilização de uma parcela das reservas externas na indústria hospitalar, uma vez que melhora na área de saúde é uma das principais demandas da sociedade.

Em suma, é um discurso que repete o que não conseguiu sensibilizar o eleitor nas últimas eleições. O maior problema para as esquerdas é o de que esse conjunto de proposições não parece consistente a ponto de se contrapor para valer à atual linha de condução da política econômica.

Apenas condenar o baixo crescimento e o desemprego é, de certa maneira, remeter-se à situação que prevalecia no governo Dilma. Repisar que o aumento do emprego informal e das atividades por conta própria precariza o trabalho não leva em conta a enorme transformação em marcha no mercado, não só no Brasil.

O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, explica que as esquerdas, e não só o PT, vivem um dilema sobre como se posicionar em relação ao governo Bolsonaro, já que aguardam o sucesso ou o fracasso da política econômica para decidir como atacar o governo. Além disso, o eleitor brasileiro já não se deixa sensibilizar apenas com apelos nostálgicos dos tempos de bonança da era Lula. É preciso trocar esse disco, diz.

E Cortez acrescenta: “Em um cenário de sucesso econômico, o que resta é apontar riscos para o modus operandi do bolsonarismo”, referindo-se à retórica isolacionista e aguerrida do clã do presidente da República. “Em síntese, para as esquerdas, num cenário de crescimento econômico, as perspectivas não são positivas.”

O ano termina e outro começa com certo otimismo entre os analistas. E há mesmo bons indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica, num clima de inflação baixa e sob controle e de juros básicos que nunca estiveram em níveis tão reduzidos. Bancos, consultorias e analistas reveem para cima projeções de crescimento e agências de rating reclassificam também para melhor suas notas para o Brasil.

Em edições anteriores, esta Coluna já mostrou que os indicadores são animadores, mas é preciso cautela e dar um tempo para saber se a retomada é consistente e se não passa de voo de galinha, como outros no passado.

A oposição, em especial as esquerdas, apostou que aconteceria o contrário e, ao longo do primeiro ano da administração Bolsonaro, aferrou-se ao discurso do “quanto pior, melhor” e de que estava tudo errado na política econômica neoliberal conduzida pelo ministro Paulo Guedes.

A oposição apostou que a economia não vingaria, mas há agora indicadores de que o País ensaia uma recuperação econômica Foto: Marcos Müller/Estadão

Não só condenou a reforma trabalhista, como, também, com exceção do PDT, continuou negando a necessidade da reforma da Previdência. Até hoje não apresenta um projeto de reforma tributária que vá além da taxação das grandes fortunas e, ainda assim, sem avançar como se faria isso.

Também não avançou nenhuma proposta de como o setor público deve enfrentar a mãe de todos os problemas econômicos do País, que é a desordem das contas públicas, especialmente dos Estados e dos municípios. Tende a condenar a austeridade orçamentária, ao contrário do que fizeram os dois últimos ministros da Fazenda do governo Dilma, e, no lugar dela, prega o crescimento econômico, sem explicar como isso seria obtido.

Esse viés negacionista parecia ter algum fôlego enquanto os indicadores se mantiveram ruins. Mas, se a economia confirmar a aceleração, essa estratégia pode trazer mais prejuízos eleitorais para as esquerdas.

Para o economista Marcio Pochmann, um dos coautores do programa econômico do Partido dos Trabalhadores (PT) exposto na última campanha eleitoral, o clima otimista tem muito de fake, porque se restringe ao mercado financeiro, que sempre se dá bem, até mesmo na recessão. A crise, afirma ele, continua batendo forte na indústria, que enfrenta enorme ociosidade, e nas pequenas e médias empresas.

A solução, para Pochmann, é retomar a cartilha do Partido dos Trabalhadores colocada em prática durante o governo Lula, principalmente em seu segundo mandato, de retomar a primazia do Estado na condução da economia. O foco, diz ele, deve ser a retomada do mercado interno com providências semelhantes à recente liberação dos saques do Fundo de Garantia, uma “medida heterodoxa”. Mas, além de eventual, é pouco, avalia ele. “A fotografia não deixa de ser positiva, mas o filme não se sustenta”, diz.

Sugere, ainda, aumentar investimentos com mais endividamento – sem levar em conta que esse passivo hoje se avizinha dos 80% do PIB. Prega, também, utilização de uma parcela das reservas externas na indústria hospitalar, uma vez que melhora na área de saúde é uma das principais demandas da sociedade.

Em suma, é um discurso que repete o que não conseguiu sensibilizar o eleitor nas últimas eleições. O maior problema para as esquerdas é o de que esse conjunto de proposições não parece consistente a ponto de se contrapor para valer à atual linha de condução da política econômica.

Apenas condenar o baixo crescimento e o desemprego é, de certa maneira, remeter-se à situação que prevalecia no governo Dilma. Repisar que o aumento do emprego informal e das atividades por conta própria precariza o trabalho não leva em conta a enorme transformação em marcha no mercado, não só no Brasil.

O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, explica que as esquerdas, e não só o PT, vivem um dilema sobre como se posicionar em relação ao governo Bolsonaro, já que aguardam o sucesso ou o fracasso da política econômica para decidir como atacar o governo. Além disso, o eleitor brasileiro já não se deixa sensibilizar apenas com apelos nostálgicos dos tempos de bonança da era Lula. É preciso trocar esse disco, diz.

E Cortez acrescenta: “Em um cenário de sucesso econômico, o que resta é apontar riscos para o modus operandi do bolsonarismo”, referindo-se à retórica isolacionista e aguerrida do clã do presidente da República. “Em síntese, para as esquerdas, num cenário de crescimento econômico, as perspectivas não são positivas.”

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Guilherme Guerra

Repórter do Estadão desde 2018, com passagem pelas coberturas de educação, internacional, economia e tecnologia. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

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