Os analistas vão passar os próximos dias avaliando o passo dado quinta-feira, em caráter emergencial, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A decisão foi cortar em 0,5 ponto porcentual (para 5,75% ao ano) os juros nas operações de redesconto junto aos bancos, que, assim, podem ter mais recursos para emprestar a seus clientes. Não se pode confundir os juros básicos, que nos Estados Unidos estão a 5,25% ao ano, com os juros no redesconto. Os juros básicos refletem o volume de dinheiro disponível na economia. Quando operam no overnight, ou seja, nas operações diárias com as instituições financeiras, como aconteceu ao longo da semana passada, os bancos centrais só restabelecem o nível de dinheiro na economia, de modo a garantir que os juros continuem no patamar definido pela política monetária (política de juros). Mas os empréstimos são por apenas um dia. As operações de redesconto definem a função do banco central como emprestador de última instância. Quando não têm capacidade de emprestar, os bancos repassam ao banco central contratos de financiamento (promissórias) firmados com os clientes. Em troca, recebem os recursos correspondentes, a juros mais altos. Em geral, essas operações são por 30 dias. No vencimento, o banco central devolve os contratos e retoma os recursos. A decisão está carregada de significado e de conseqüências. O Fed reconhece agora que a crise é grave. E isso está, preto no branco, no comunicado emitido após a decisão. Lá ficou dito que as condições da economia real se deterioraram e que o sistema produtivo está ameaçado, o que é o fator preocupante na decisão. Isso, por si só, indica mudanças. Mudou, por exemplo, a percepção do Fed. No dia 7, ao definir os juros básicos, dizia o contrário: que a economia se expandia em ritmo moderado, "sustentada por crescimento sólido do emprego e da renda e pela robustez da economia mundial". E avisou que a prioridade era o combate à inflação. Fica entendido agora que a economia corre perigo e que o Fed deixará o combate à inflação para depois. O momento é de prover oxigênio para a economia. Enfim, o novo presidente (desde janeiro de 2006), Ben Bernanke, age como agia o anterior, Alan Greenspan, em circunstâncias semelhantes, pouco se importando com eventuais acusações de leniência que pudessem lhe ser feitas agora ou no futuro, como pipocam sobre Greenspan. O passo dado ontem ainda não atacou o olho do furacão, que são os contratos imobiliários de longo prazo (hipotecas) e a ameaça de queda do consumo. Forneceu mais liquidez para os bancos, mas não aumentou o volume de moeda na economia. Mas ficou o aviso: se precisar, haverá. "O comitê está preparado para agir conforme a necessidade". Fica subentendido que os juros básicos podem cair, até antes de 18 de setembro, data da nova reunião para revisão da política. Os mercados vacilaram, com um olho no agravamento da crise e outro nas promessas de ajuda ilimitada. A percepção que prevalece é de que há xerife no pedaço, com uma arma reluzente. Falta saber se vai dar conta dos pistoleiros.
COM 86% OFF