O presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu na última quinta-feira que “os apostadores na alta do dólar quebrarão a cara”. Se deveria produzir algum efeito, a ameaça produziu efeito contrário.
A cotação do dólar subiu 6,4% em junho e nada menos que 15,1% neste primeiro semestre do ano.
O presidente ainda tentou vender o diagnóstico equivocado de que, por trás dessa alta, há especulação com derivativos. Finge ignorar que, com ou sem o jogo de especuladores, as cotações do dólar dispararam porque aumentou a incerteza que tem a ver com a deterioração das contas públicas.
As chamadas despesas obrigatórias representam 93% do Orçamento e deixam menos de 10% para a cobertura das demais despesas. Aproxima-se perigosamente o dia em que ultrapassarão os 100%.
Essa é avaliação indesmentível, que vai acendendo luzes amarelas em todas as mesas de fechamento de negócios. Um dólar cada vez mais alto encarece os produtos importados e aqueles que, embora produzidos aqui, são cotados em moeda estrangeira, caso dos combustíveis e de grande número de alimentos. É inflação injetada nas veias da economia e questiona sobre o que o Banco Central fará com os juros.
Lula ainda não entendeu que esse alastramento da incerteza tende a lhe custar alto custo político e eleitoral. Por enquanto, limita-se a malhar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como bode expiatório – expediente que tem tudo para ser tiro no pé, porque em apenas seis meses, o Banco Central estará sob a direção de quem Lula indicar e poderá faltar então o culpado da hora.
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Do ponto de vista meramente técnico, não há muito por que temer por uma corrida ao dólar nos moldes das que houve nos anos 1970 e 1980, quando o Brasil quebrou e teve de decretar a moratória da dívida em dólares. As contas externas seguem exuberantes, graças à força das exportações de commodities (petróleo, minério e grãos). E há US$ 357,3 bilhões em reservas externas. A alta do dólar explica-se principalmente pela retenção de receitas em moeda estrangeira com exportações no mercado global.
Dá para reverter esse movimento de busca de proteção no dólar. Bastaria para isso que o presidente Lula mudasse sua postura em relação à questão fiscal. Muita gente não acredita nisso, baseada na convicção de que é da natureza do escorpião picar até mesmo quem lhe dê carona na travessia do rio. O que eventualmente poderia levar o presidente a reconverter-se à responsabilidade fiscal seria a aproximação de uma crise que lhe custasse grandes perdas eleitorais. O risco é o de que chegue o dia em que isso seja tarde demais.