Esta foi uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em alguns pontos diferente das anteriores. Isso mostra mudanças relevantes na economia.
Depois de seis reuniões seguidas, em que os juros básicos (Selic) caíram 0,5 ponto porcentual por vez, nesta quarta-feira, o Copom decidiu reduzir a dose do corte para 0,25 ponto porcentual. A Selic agora está a 10,5% ao ano.
Fato relevante foi o racha dentro do Comitê. Todos os diretores (quatro dos nove) que votaram pelo corte maior, de 0,5 ponto, foram conduzidos ao Copom pelo presidente Lula – que vem urgindo mais pressa no corte dos juros. Dá para imaginar que essa aliviada no acelerador aumentará a gritaria dos mais radicais, no governo e adjacências.
O que também contribuiu para mudar a tendência foi a quebra da intenção revelada anteriormente (forward guidance) para a decisão desta reunião. No comunicado de março, foi antecipado que o mercado deveria esperar mais um corte de 0,5 ponto porcentual também agora. Outra novidade: os dirigentes do Copom não anteciparam a intenção da mexida prevista para junho. Mas, na avaliação do Banco Central, algumas coisas passaram a exigir “mais cautela” na trajetória dos juros.
O comunicado divulgado após a reunião desta quarta-feira menciona certos fatores, alguns com ênfase, outros veladamente.
A valorização do dólar que se seguiu à decisão do Fed (o banco central dos Estados Unidos) de adiar o início do ciclo de baixa dos juros produziu a alta das cotações em reais. Em, janeiro, o dólar foi negociado a R$ 4,80; em abril, seu preço avançou para até R$ 5,20; neste maio, continua perto dos R$ 5,10. O efeito dessa alta foi o encarecimento no Brasil dos produtos importados e das commodities cotadas em moeda estrangeira, como milho, soja, café, petróleo.
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A área fiscal se deteriorou. Com surpreendente leniência, o governo Lula desistiu do arcabouço fiscal sólido e passou a trabalhar com déficit. Além de exigir novas despesas para socorro e reconstrução, as catástrofes ocorridas no Rio Grande do Sul derrubarão a arrecadação, o consumo, o emprego e os negócios. O governo federal injeta mais recursos no mercado, na contramão da política monetária contracionista do Banco Central.
Espera-se, também, aumento do consumo em consequência do fortalecimento do poder aquisitivo da população, por causa do recuo do desemprego e do aumento da renda média. Além disso, apesar do comportamento moderado do custo de vida, os preços dos alimentos seguem em alta.
O Copom responsabilizou as pressões inflacionárias globais e a “resiliência da inflação de serviços”, como fatores que determinaram o corte menor nos juros.