Nesta quinta-feira, o barril de petróleo tipo Brent, referência para o produto brasileiro, superou os US$ 90, um retorno às cotações de junho de 2022. No ano, os preços acumulam alta de 19%. São números grávidos de consequências.
Três fatores vêm puxando a demanda global mais do que a oferta. Um deles é a necessidade de fazer estoques no Hemisfério Norte. O verão se aproxima, os aparelhos de ar-condicionado deverão queimar mais energia, especialmente se a onda de calor continuar, e o período de férias promete consumo de mais combustíveis.
Outro fator é a perspectiva de aumento da atividade econômica, nos Estados Unidos, mas principalmente na Europa, até mesmo antes de o Banco Central Europeu iniciar o processo de redução dos juros.
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O terceiro fator tem a ver com a política da Opep de manter os cortes na oferta de óleo cru. Pode-se acrescentar que o agravamento das condições geopolíticas internacionais por si só exige reforço dos estoques.
Essa nova esticada nos preços põe relevo na necessidade de reajuste interno dos preços dos combustíveis, cujo atraso vai aumentando. Desde o início do governo Lula, que revogou a política anterior de seguir em reais as cotações internacionais, os critérios de fixação dos preços internos são um mistério. A única certeza é de que são carregados de subjetividade e correspondem a decisão política (ou eleitoral) do governo Lula – e não técnica.
Como a Petrobras não fornece esses dados, não há saída senão recorrer aos da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom). Eles apontam que os preços da gasolina nas refinarias controladas pela Petrobras estão, em média, 19% abaixo da paridade internacional e os do diesel, 12%.
As distorções produzidas por esses atrasos são conhecidas: redução das encomendas pelos importadores – o que empurra essa incumbência para a Petrobras; e acúmulo de redução de receita bruta da ordem de R$ 9,4 bilhões entre maio de 2023 e março deste ano, depois que a Petrobras abandonou a Política de Paridade de Importação, como avaliou estudo da associação de refinarias privadas (Refina Brasil).
Essa “defasagem” pressiona a inflação futura e esta, por sua vez, é fator que aumenta os juros futuros, os que são praticados no mercado financeiro por setores que precisam de proteção para seus compromissos.
Complicação extra é quando isso acontece num momento em que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está sob fritura, como agora. Se a expectativa é de troca na cúpula da Petrobras, aumentam as incertezas sobre o que serão os planos de investimento, levando-se em conta que o governo Lula tem obrigado a Petrobras a despejar capitais em projetos esdrúxulos, como no aumento da capacidade de refino e na construção de navios a custos proibitivos.