O princípio de pânico no mercado financeiro global nos últimos dias foi rapidamente revertido. Se não houve uma reversão definitiva, pode-se dizer que as tensões se amenizaram sem que nada de especial tivesse acontecido nem para puxar pelo estresse nem para reduzi-lo.
É provável que turbulências passageiras desse tipo se multipliquem daqui pela frente. Isso sugere alguma reflexão.
Começa com o agigantamento do mercado financeiro global. Há alguns anos, não era equivalente a mais do que um PIB global. Hoje, seu tamanho já é superior a 20 PIBs globais.
Leia Também:
Isso tem a ver com dois fatores que agem simultaneamente. Com a expansão das dívidas públicas (emissão de títulos pelos tesouros nacionais) e com o crescimento da poupança global, que cria as reservas com as quais se adquirem os títulos.
Como as dívidas públicas são medidas em tamanho do Produto Interno Bruto e as poupanças nacionais correspondem às rendas não consumidas, o próprio crescimento do PIB global ajuda a expandir o mercado financeiro global. São cada vez mais recursos com alta liquidez girando como dervixes ao redor do mundo.
Outro fator a considerar é o alto índice de globalização dos capitais e do mercado financeiro que, a rigor, não dependem de deslocamentos físicos nem de logísticas sofisticadas. Durante a pandemia, a indústria e o comércio mundial sofreram muito, porque insumos, matérias-primas e componentes ficaram retidos nos portos ou não puderam ser produzidos. Foi o que derrubou as cadeias globais de produção e distribuição e rompeu os sistemas just in time (que definem o tempo certo em que insumos, componentes e peças devem chegar às linhas de produção).
As finanças não dependem desses deslocamentos físicos, são altamente digitalizadas e circulam à velocidade da luz. É uma dinheirama que circula freneticamente, alimentada por duas fontes contrárias: pelo medo de perda (como mostra o Índice Vix no gráfico) e pela ganância.
É o que também explica por que, de repente, empresas que não valiam nada há alguns anos, como a Nvidia ou Mercado Livre, hoje valem mais do que conglomerados do setor de veículos ou de petróleo. É, também, o que explica a cada vez maior complexidade das finanças não bancárias. É muito capital solto correndo atrás de atrações.
O mercado financeiro se tornou um megassistema globalizado e, também, um sistema que opera a altíssima velocidade.
Difícil saber até que ponto os Estados nacionais e os bancos centrais conseguirão controlar essas forças e mais difícil ainda prever até que ponto tudo isso não desemboque num forte movimento de ajuste.