Janeiros são marcados, no calendário econômico, pelos inevitáveis exercícios de previsão para o que o ano reserva em termos de crescimento, inflação e juros. O ano de 2025 não é diferente; o que o diferencia é o nível de incerteza e amplitude dos cenários possíveis que temos pela frente, global e domesticamente. Entretanto, do pouco que se pode antecipar, as notícias são pouco promissoras: será um ano de inflação alta e desaceleração do crescimento no Brasil.
No exterior, a fraca economia chinesa exportará deflação, mas também importará menos de países como o Brasil. Nos EUA, a única certeza é de que a nova presidência Trump eleva a incerteza sobre a política econômica americana e os próximos passos do Banco Central americano, com reflexos sobre as moedas e taxas de juros das demais economias – em particular as emergentes.
No Brasil, 2024 termina com um IPCA de 4,83%, acima do teto da banda da meta de inflação, e o ano que se segue sugere pouco alívio no cenário inflacionário. No BNP Paribas projetamos uma inflação de 5,6% ao final de 2025, com a inflação acumulada em 12 meses acima de 5% ao longo de todos os trimestres. Os preços de alimentos e os reflexos da depreciação cambial ao longo do último trimestre do ano passado são grandes pressões, mas coadjuvantes do verdadeiro vilão: o ritmo de crescimento dos preços ligados aos serviços, que vão desde passagens aéreas a escolas e manutenção de automóveis. O último IPCA de 2024 confirmou uma preocupação: estes preços estão em aceleração na virada do ano, se aproximando de 6%. Sua natureza inercial os torna particularmente sensíveis ao estado da economia.
Diante de um contexto de atividade que cresce acima do potencial da economia e riscos de que um mercado de trabalho muito aquecido leve à aceleração adicional da inflação de serviços, o BC seguirá revertendo os cortes de juros empreendidos desde 2023 e deve levar a taxa Selic a cerca de 15% ao ano – o patamar mais alto em 20 anos. Esse necessário ajuste se fará sentir com maior força a partir do segundo semestre do ano, se estendendo até 2026. Projetamos um crescimento de 2% para o PIB deste ano, porém seguido de crescimento bem mais fraco em 2026.
Adiciona-se a este contexto os questionamentos em torno da sustentabilidade da dívida pública, em ambiente de expansão real dos gastos públicos, e têm-se a receita para um ano que aponta para volatilidade, incerteza e desaceleração na economia.