‘Chance de subida de juros este ano aumentou’, diz Solange Srour


Na avaliação da diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, a incerteza na área fiscal e a falta de um discurso duro do BC podem levar a aperto monetário

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:
Foto: WILTON JUNIOR
Entrevista comSolange SrourDiretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management

Diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) endureceu a mensagem no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 31, mas ela pondera que essa mudança de tom não foi suficiente, diante de um cenário em que parte do mercado passou a precificar uma possibilidade alta da taxa básica de juros (Selic) em setembro.

“O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos”, afirma.

Na leitura da economista, cresceu o risco de o BC precisar subir a taxa básica de juros (Selic) – mantida em 10,5% nesta quarta —) neste ano pela incerteza fiscal que paira na economia brasileira e pela falta “dureza de discurso” do BC.

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“Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura as expectativas. Não é uma condição suficiente para a expectativa (de inflação) cair, mas eu acho que é uma condição necessária”, diz. “Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas.”

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como a sra. avalia a decisão e o comunicado do Copom?

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O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos para corroborar o que o mercado tem. O mercado tem uma alta (de juros) em setembro, e ele (Copom) não está querendo deixar para o mercado claro que está disposto a subir os juros.

Qual a consequência de o BC não ser tão duro como deveria ser, de acordo com a avaliação da sra.?

Tinha muita gente esperando que fosse bem dura (a comunicação), deixando a porta mais aberta para setembro. Se o mercado interpretar que a porta não está tão aberta assim e deveria estar, devemos ver o câmbio depreciando mais.

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Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil tem o desafio de manter a inflação dentro da meta Foto: Raphael Ribeiro/BC

E, nesse cenário, quais devem ser os próximos passos do BC?

Na nossa opinião, os fatores de risco são mais elevados do que o Banco Central tem visto. A gente acha que a expectativa de inflação vai continuar subindo. No horizonte que a gente consegue enxergar, não tem uma notícia de (política) fiscal que mude a percepção de falta de âncora. Então, a chance, hoje, de ter uma subida de juros este ano e, com certeza, no ano que vem, aumentou, tanto pela questão fiscal como pela questão de dureza de discurso. Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura a expectativa. Não é uma condição suficiente para a expectativa cair, mas eu acho que é uma condição necessária.

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Desde o início do mandato, o presidente Lula vem criticando a condução da política monetária. O BC vai ter força para subir o juro se necessário?

Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas. Se a expectativa continua subindo, ela vai para cima do topo do teto. Ficar parado nessa situação vai ser visto como abandono de meta. Se o cenário continuar no sentido de perda de credibilidade fiscal e dúvidas sobre o BC, inevitavelmente, as expectativas vão subir, e vai ficar impossível não subir (os juros).

O problema de empurrar com a barriga esse cenário de subida de juros, não atuar enquanto as expectativas mal ou bem estão descoladas, mas ainda estão dentro da banda, é que você acaba tendo de subir mais e o impacto nas expectativas demora mais. Um BC menos crível acaba tendo de fazer um aperto maior. Já vimos isso na história. Quanto mais demorar, quanto mais descolada estiver a expectativa de inflação, maior é o tamanho do ciclo e o impacto negativo na atividade.

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No mesmo dia, o Fed manteve os juros. Como a sra. avalia a decisão?

O comunicado tentou deixar em aberto, não cravar uma queda em setembro. Houve poucas mudanças, mas elas mostram um viés de corte de juros, porque você tem (no comunicado) que o aumento do emprego, que, antes, era forte, agora, moderou. O desemprego está baixo, mas subiu, e houve algum progresso em relação à inflação. Mas o mais importante é que eles estão olhando com atenção os riscos dos dois lados do mandato (do Fed). E, antes, olhavam para os ricos da inflação. Agora, estão olhando para o risco de o desemprego subir muito mais. Durante a coletiva de imprensa, ficou um pouco mais claro, porque o Powell (Jerome Powell, presidente do Fed) disse que os próximos passos vão depender dos dados. Ele quis deixar bastante explícito o que levaria a cortar em setembro ou não. E também disse que alguns membros, poucos, chegaram a discutir um corte nessa reunião. Eu acho que, no final das contas, apesar de tentar deixar em aberto, vai haver um cortar em setembro.

E o que deve ocorrer depois de setembro?

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Vai ser muito depende de dados. Temos uma eleição americana, que pode influenciar muito as expectativas de inflação e a visão do Fed sobre a inflação para o horizonte de 2025 e 2026. Eu acho que é uma reunião (desta quarta-feira) que não mexe muito em preços de ativos, porque o mercado já estava precificando uma queda em setembro, mas também não traz muita clareza sobre o tamanho do ciclo, a intensidade.

O seu cenário é de dois cortes dos juros pelo Fed?

Sim. Hoje, é de dois cortes, em setembro e dezembro.

A entrada da Kamala Harris na disputa altera o cenário que o mercado trabalhava para a eleição dos EUA ou ela oferece uma agenda parecida com a do Biden?

É difícil dizer se vai ser parecida, porque ela (Kamala) não tem falado muito sobre isso. Ela não falou de política fiscal e monetária. O mercado tem muita incerteza sobre qual seria a política econômica dela, se estaria muito alinhada com o da Biden ou não. Mas o que muda na disputa é que o mercado tinha uma precificação maior do Trump ganhando, inclusive com Câmara e o Senado republicanos. Essa probabilidade, de tudo ser controlado pelos republicanos, diminuiu um pouco. Eu acho que o cenário está muito incerto, mas tira um pouco esse risco do Trump com as duas casas. O que não muda muito, caso o Trump continue como favorito, é a expectativa de que ele vá colocar tarifas e uma política imigratória mais restritiva. Isso tem muita importância para o Fed. São duas medidas que trazem riscos inflacionários.

Diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) endureceu a mensagem no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 31, mas ela pondera que essa mudança de tom não foi suficiente, diante de um cenário em que parte do mercado passou a precificar uma possibilidade alta da taxa básica de juros (Selic) em setembro.

“O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos”, afirma.

Na leitura da economista, cresceu o risco de o BC precisar subir a taxa básica de juros (Selic) – mantida em 10,5% nesta quarta —) neste ano pela incerteza fiscal que paira na economia brasileira e pela falta “dureza de discurso” do BC.

“Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura as expectativas. Não é uma condição suficiente para a expectativa (de inflação) cair, mas eu acho que é uma condição necessária”, diz. “Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas.”

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como a sra. avalia a decisão e o comunicado do Copom?

O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos para corroborar o que o mercado tem. O mercado tem uma alta (de juros) em setembro, e ele (Copom) não está querendo deixar para o mercado claro que está disposto a subir os juros.

Qual a consequência de o BC não ser tão duro como deveria ser, de acordo com a avaliação da sra.?

Tinha muita gente esperando que fosse bem dura (a comunicação), deixando a porta mais aberta para setembro. Se o mercado interpretar que a porta não está tão aberta assim e deveria estar, devemos ver o câmbio depreciando mais.

Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil tem o desafio de manter a inflação dentro da meta Foto: Raphael Ribeiro/BC

E, nesse cenário, quais devem ser os próximos passos do BC?

Na nossa opinião, os fatores de risco são mais elevados do que o Banco Central tem visto. A gente acha que a expectativa de inflação vai continuar subindo. No horizonte que a gente consegue enxergar, não tem uma notícia de (política) fiscal que mude a percepção de falta de âncora. Então, a chance, hoje, de ter uma subida de juros este ano e, com certeza, no ano que vem, aumentou, tanto pela questão fiscal como pela questão de dureza de discurso. Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura a expectativa. Não é uma condição suficiente para a expectativa cair, mas eu acho que é uma condição necessária.

Desde o início do mandato, o presidente Lula vem criticando a condução da política monetária. O BC vai ter força para subir o juro se necessário?

Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas. Se a expectativa continua subindo, ela vai para cima do topo do teto. Ficar parado nessa situação vai ser visto como abandono de meta. Se o cenário continuar no sentido de perda de credibilidade fiscal e dúvidas sobre o BC, inevitavelmente, as expectativas vão subir, e vai ficar impossível não subir (os juros).

O problema de empurrar com a barriga esse cenário de subida de juros, não atuar enquanto as expectativas mal ou bem estão descoladas, mas ainda estão dentro da banda, é que você acaba tendo de subir mais e o impacto nas expectativas demora mais. Um BC menos crível acaba tendo de fazer um aperto maior. Já vimos isso na história. Quanto mais demorar, quanto mais descolada estiver a expectativa de inflação, maior é o tamanho do ciclo e o impacto negativo na atividade.

No mesmo dia, o Fed manteve os juros. Como a sra. avalia a decisão?

O comunicado tentou deixar em aberto, não cravar uma queda em setembro. Houve poucas mudanças, mas elas mostram um viés de corte de juros, porque você tem (no comunicado) que o aumento do emprego, que, antes, era forte, agora, moderou. O desemprego está baixo, mas subiu, e houve algum progresso em relação à inflação. Mas o mais importante é que eles estão olhando com atenção os riscos dos dois lados do mandato (do Fed). E, antes, olhavam para os ricos da inflação. Agora, estão olhando para o risco de o desemprego subir muito mais. Durante a coletiva de imprensa, ficou um pouco mais claro, porque o Powell (Jerome Powell, presidente do Fed) disse que os próximos passos vão depender dos dados. Ele quis deixar bastante explícito o que levaria a cortar em setembro ou não. E também disse que alguns membros, poucos, chegaram a discutir um corte nessa reunião. Eu acho que, no final das contas, apesar de tentar deixar em aberto, vai haver um cortar em setembro.

E o que deve ocorrer depois de setembro?

Vai ser muito depende de dados. Temos uma eleição americana, que pode influenciar muito as expectativas de inflação e a visão do Fed sobre a inflação para o horizonte de 2025 e 2026. Eu acho que é uma reunião (desta quarta-feira) que não mexe muito em preços de ativos, porque o mercado já estava precificando uma queda em setembro, mas também não traz muita clareza sobre o tamanho do ciclo, a intensidade.

O seu cenário é de dois cortes dos juros pelo Fed?

Sim. Hoje, é de dois cortes, em setembro e dezembro.

A entrada da Kamala Harris na disputa altera o cenário que o mercado trabalhava para a eleição dos EUA ou ela oferece uma agenda parecida com a do Biden?

É difícil dizer se vai ser parecida, porque ela (Kamala) não tem falado muito sobre isso. Ela não falou de política fiscal e monetária. O mercado tem muita incerteza sobre qual seria a política econômica dela, se estaria muito alinhada com o da Biden ou não. Mas o que muda na disputa é que o mercado tinha uma precificação maior do Trump ganhando, inclusive com Câmara e o Senado republicanos. Essa probabilidade, de tudo ser controlado pelos republicanos, diminuiu um pouco. Eu acho que o cenário está muito incerto, mas tira um pouco esse risco do Trump com as duas casas. O que não muda muito, caso o Trump continue como favorito, é a expectativa de que ele vá colocar tarifas e uma política imigratória mais restritiva. Isso tem muita importância para o Fed. São duas medidas que trazem riscos inflacionários.

Diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) endureceu a mensagem no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 31, mas ela pondera que essa mudança de tom não foi suficiente, diante de um cenário em que parte do mercado passou a precificar uma possibilidade alta da taxa básica de juros (Selic) em setembro.

“O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos”, afirma.

Na leitura da economista, cresceu o risco de o BC precisar subir a taxa básica de juros (Selic) – mantida em 10,5% nesta quarta —) neste ano pela incerteza fiscal que paira na economia brasileira e pela falta “dureza de discurso” do BC.

“Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura as expectativas. Não é uma condição suficiente para a expectativa (de inflação) cair, mas eu acho que é uma condição necessária”, diz. “Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas.”

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como a sra. avalia a decisão e o comunicado do Copom?

O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos para corroborar o que o mercado tem. O mercado tem uma alta (de juros) em setembro, e ele (Copom) não está querendo deixar para o mercado claro que está disposto a subir os juros.

Qual a consequência de o BC não ser tão duro como deveria ser, de acordo com a avaliação da sra.?

Tinha muita gente esperando que fosse bem dura (a comunicação), deixando a porta mais aberta para setembro. Se o mercado interpretar que a porta não está tão aberta assim e deveria estar, devemos ver o câmbio depreciando mais.

Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil tem o desafio de manter a inflação dentro da meta Foto: Raphael Ribeiro/BC

E, nesse cenário, quais devem ser os próximos passos do BC?

Na nossa opinião, os fatores de risco são mais elevados do que o Banco Central tem visto. A gente acha que a expectativa de inflação vai continuar subindo. No horizonte que a gente consegue enxergar, não tem uma notícia de (política) fiscal que mude a percepção de falta de âncora. Então, a chance, hoje, de ter uma subida de juros este ano e, com certeza, no ano que vem, aumentou, tanto pela questão fiscal como pela questão de dureza de discurso. Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura a expectativa. Não é uma condição suficiente para a expectativa cair, mas eu acho que é uma condição necessária.

Desde o início do mandato, o presidente Lula vem criticando a condução da política monetária. O BC vai ter força para subir o juro se necessário?

Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas. Se a expectativa continua subindo, ela vai para cima do topo do teto. Ficar parado nessa situação vai ser visto como abandono de meta. Se o cenário continuar no sentido de perda de credibilidade fiscal e dúvidas sobre o BC, inevitavelmente, as expectativas vão subir, e vai ficar impossível não subir (os juros).

O problema de empurrar com a barriga esse cenário de subida de juros, não atuar enquanto as expectativas mal ou bem estão descoladas, mas ainda estão dentro da banda, é que você acaba tendo de subir mais e o impacto nas expectativas demora mais. Um BC menos crível acaba tendo de fazer um aperto maior. Já vimos isso na história. Quanto mais demorar, quanto mais descolada estiver a expectativa de inflação, maior é o tamanho do ciclo e o impacto negativo na atividade.

No mesmo dia, o Fed manteve os juros. Como a sra. avalia a decisão?

O comunicado tentou deixar em aberto, não cravar uma queda em setembro. Houve poucas mudanças, mas elas mostram um viés de corte de juros, porque você tem (no comunicado) que o aumento do emprego, que, antes, era forte, agora, moderou. O desemprego está baixo, mas subiu, e houve algum progresso em relação à inflação. Mas o mais importante é que eles estão olhando com atenção os riscos dos dois lados do mandato (do Fed). E, antes, olhavam para os ricos da inflação. Agora, estão olhando para o risco de o desemprego subir muito mais. Durante a coletiva de imprensa, ficou um pouco mais claro, porque o Powell (Jerome Powell, presidente do Fed) disse que os próximos passos vão depender dos dados. Ele quis deixar bastante explícito o que levaria a cortar em setembro ou não. E também disse que alguns membros, poucos, chegaram a discutir um corte nessa reunião. Eu acho que, no final das contas, apesar de tentar deixar em aberto, vai haver um cortar em setembro.

E o que deve ocorrer depois de setembro?

Vai ser muito depende de dados. Temos uma eleição americana, que pode influenciar muito as expectativas de inflação e a visão do Fed sobre a inflação para o horizonte de 2025 e 2026. Eu acho que é uma reunião (desta quarta-feira) que não mexe muito em preços de ativos, porque o mercado já estava precificando uma queda em setembro, mas também não traz muita clareza sobre o tamanho do ciclo, a intensidade.

O seu cenário é de dois cortes dos juros pelo Fed?

Sim. Hoje, é de dois cortes, em setembro e dezembro.

A entrada da Kamala Harris na disputa altera o cenário que o mercado trabalhava para a eleição dos EUA ou ela oferece uma agenda parecida com a do Biden?

É difícil dizer se vai ser parecida, porque ela (Kamala) não tem falado muito sobre isso. Ela não falou de política fiscal e monetária. O mercado tem muita incerteza sobre qual seria a política econômica dela, se estaria muito alinhada com o da Biden ou não. Mas o que muda na disputa é que o mercado tinha uma precificação maior do Trump ganhando, inclusive com Câmara e o Senado republicanos. Essa probabilidade, de tudo ser controlado pelos republicanos, diminuiu um pouco. Eu acho que o cenário está muito incerto, mas tira um pouco esse risco do Trump com as duas casas. O que não muda muito, caso o Trump continue como favorito, é a expectativa de que ele vá colocar tarifas e uma política imigratória mais restritiva. Isso tem muita importância para o Fed. São duas medidas que trazem riscos inflacionários.

Diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) endureceu a mensagem no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 31, mas ela pondera que essa mudança de tom não foi suficiente, diante de um cenário em que parte do mercado passou a precificar uma possibilidade alta da taxa básica de juros (Selic) em setembro.

“O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos”, afirma.

Na leitura da economista, cresceu o risco de o BC precisar subir a taxa básica de juros (Selic) – mantida em 10,5% nesta quarta —) neste ano pela incerteza fiscal que paira na economia brasileira e pela falta “dureza de discurso” do BC.

“Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura as expectativas. Não é uma condição suficiente para a expectativa (de inflação) cair, mas eu acho que é uma condição necessária”, diz. “Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas.”

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como a sra. avalia a decisão e o comunicado do Copom?

O Copom, por meio das palavras, tentou passar uma mensagem mais dura, mas não foi suficientemente dura nas projeções e no balanço de riscos para corroborar o que o mercado tem. O mercado tem uma alta (de juros) em setembro, e ele (Copom) não está querendo deixar para o mercado claro que está disposto a subir os juros.

Qual a consequência de o BC não ser tão duro como deveria ser, de acordo com a avaliação da sra.?

Tinha muita gente esperando que fosse bem dura (a comunicação), deixando a porta mais aberta para setembro. Se o mercado interpretar que a porta não está tão aberta assim e deveria estar, devemos ver o câmbio depreciando mais.

Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil tem o desafio de manter a inflação dentro da meta Foto: Raphael Ribeiro/BC

E, nesse cenário, quais devem ser os próximos passos do BC?

Na nossa opinião, os fatores de risco são mais elevados do que o Banco Central tem visto. A gente acha que a expectativa de inflação vai continuar subindo. No horizonte que a gente consegue enxergar, não tem uma notícia de (política) fiscal que mude a percepção de falta de âncora. Então, a chance, hoje, de ter uma subida de juros este ano e, com certeza, no ano que vem, aumentou, tanto pela questão fiscal como pela questão de dureza de discurso. Certamente, um discurso mais duro do Banco Central segura o câmbio e, de uma certa forma, segura a expectativa. Não é uma condição suficiente para a expectativa cair, mas eu acho que é uma condição necessária.

Desde o início do mandato, o presidente Lula vem criticando a condução da política monetária. O BC vai ter força para subir o juro se necessário?

Se as expectativas, conforme eu espero, continuarem subindo, o Banco Central vai precisar subir os juros porque elas já estão super desancoradas. Se a expectativa continua subindo, ela vai para cima do topo do teto. Ficar parado nessa situação vai ser visto como abandono de meta. Se o cenário continuar no sentido de perda de credibilidade fiscal e dúvidas sobre o BC, inevitavelmente, as expectativas vão subir, e vai ficar impossível não subir (os juros).

O problema de empurrar com a barriga esse cenário de subida de juros, não atuar enquanto as expectativas mal ou bem estão descoladas, mas ainda estão dentro da banda, é que você acaba tendo de subir mais e o impacto nas expectativas demora mais. Um BC menos crível acaba tendo de fazer um aperto maior. Já vimos isso na história. Quanto mais demorar, quanto mais descolada estiver a expectativa de inflação, maior é o tamanho do ciclo e o impacto negativo na atividade.

No mesmo dia, o Fed manteve os juros. Como a sra. avalia a decisão?

O comunicado tentou deixar em aberto, não cravar uma queda em setembro. Houve poucas mudanças, mas elas mostram um viés de corte de juros, porque você tem (no comunicado) que o aumento do emprego, que, antes, era forte, agora, moderou. O desemprego está baixo, mas subiu, e houve algum progresso em relação à inflação. Mas o mais importante é que eles estão olhando com atenção os riscos dos dois lados do mandato (do Fed). E, antes, olhavam para os ricos da inflação. Agora, estão olhando para o risco de o desemprego subir muito mais. Durante a coletiva de imprensa, ficou um pouco mais claro, porque o Powell (Jerome Powell, presidente do Fed) disse que os próximos passos vão depender dos dados. Ele quis deixar bastante explícito o que levaria a cortar em setembro ou não. E também disse que alguns membros, poucos, chegaram a discutir um corte nessa reunião. Eu acho que, no final das contas, apesar de tentar deixar em aberto, vai haver um cortar em setembro.

E o que deve ocorrer depois de setembro?

Vai ser muito depende de dados. Temos uma eleição americana, que pode influenciar muito as expectativas de inflação e a visão do Fed sobre a inflação para o horizonte de 2025 e 2026. Eu acho que é uma reunião (desta quarta-feira) que não mexe muito em preços de ativos, porque o mercado já estava precificando uma queda em setembro, mas também não traz muita clareza sobre o tamanho do ciclo, a intensidade.

O seu cenário é de dois cortes dos juros pelo Fed?

Sim. Hoje, é de dois cortes, em setembro e dezembro.

A entrada da Kamala Harris na disputa altera o cenário que o mercado trabalhava para a eleição dos EUA ou ela oferece uma agenda parecida com a do Biden?

É difícil dizer se vai ser parecida, porque ela (Kamala) não tem falado muito sobre isso. Ela não falou de política fiscal e monetária. O mercado tem muita incerteza sobre qual seria a política econômica dela, se estaria muito alinhada com o da Biden ou não. Mas o que muda na disputa é que o mercado tinha uma precificação maior do Trump ganhando, inclusive com Câmara e o Senado republicanos. Essa probabilidade, de tudo ser controlado pelos republicanos, diminuiu um pouco. Eu acho que o cenário está muito incerto, mas tira um pouco esse risco do Trump com as duas casas. O que não muda muito, caso o Trump continue como favorito, é a expectativa de que ele vá colocar tarifas e uma política imigratória mais restritiva. Isso tem muita importância para o Fed. São duas medidas que trazem riscos inflacionários.

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