São Paulo - A passagem de bastão entre Roberto Santos e Paulo Kakinoff na presidência, anunciada na quarta-feira, 31, não levará a uma guinada na estratégia da Porto (ex-Porto Seguro), pelo contrário: a ideia é reforçar a aposta na diversificação dos negócios para além dos seguros. Quem diz isso é o próprio Santos, que deixará a presidência da companhia na virada do ano, após mais de cinco anos no posto, e irá para o conselho de administração.
“A estratégia da companhia não muda, até porque ele (Kakinoff) ajudou a construir essa estratégia, toda estratégia passa pelo conselho”, disse Santos ao Estadão/Broadcast. O ex-CEO da Gol está no conselho da Porto desde 2020, e foi escolhido após um processo que, segundo o atual presidente da companhia, considerou nomes de dentro da casa.
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Essa escolha começou a ser tocada no ano passado, e considerou ainda as opiniões dos demais executivos e dos principais acionistas, a família Garfinkel e o Itaú Unibanco. A Porto hoje é uma espécie de holding, comandada por Santos, com áreas separadas por produto, as chamadas verticais. Essa configuração foi estabelecida em abril do ano passado, quando a companhia tirou o “seguro” da marca principal.
Santos afirma que a escolha de Kakinoff ajudará a intensificar a diversificação do negócio, que a mudança de estrutura buscou fortalecer. A maior parte do resultado do grupo ainda vem dos seguros, em especial de automóveis, em que a Porto é líder, mas tem crescido a participação de negócios como os de saúde, serviços financeiros e assistência.
“Não tem nenhuma guinada aqui, tem uma mudança olhando para o futuro da companhia. O Kakinoff tem 49 anos, e um olhar de outras indústrias que vai ser muito útil”, disse o atual presidente da Porto. Antes de comandar a Gol, Kakinoff esteve à frente da montadora Audi no Brasil, e ocupou posições executivas no Grupo Volkswagen na Alemanha - sempre como um dos mais jovens executivos a passar pelos postos.
Mudanças
A troca foi anunciada no final de um mês movimentado para o mercado de seguros. No sábado, 27, o grupo alemão Talanx anunciou a compra das carteiras de varejo da americana Liberty em quatro países da América Latina, entre eles o Brasil. A operação vai transformar a HDI na segunda maior seguradora do País quando excluídos os segmentos de vida e previdência, atrás somente da própria Porto.
Neste contexto, Kakinoff encontrará uma empresa com a estrutura formada, e a missão será de fazê-la crescer. “É como se você estivesse fazendo um bolo e ele estivesse no forno. Agora é cuidar para que não desande e cresça, é continuidade”, disse Santos.
Segundo ele, não haverá outras mudanças no comitê executivo da Porto, seja nas áreas de negócio, seja na holding. Hoje, são dois vice-presidentes ligados à holding e quatro CEOs das verticais, e as últimas mudanças na composição do grupo aconteceram no ano passado. “As verticais estão tomando um bom caminho. É até bom trazer alguém do conselho, porque não mexe nas outras verticais.”
Desacelerar
Com 43 anos de mercado, sendo 21 na Porto, Santos não pretende parar. Ele afirma que vinha conversando com o presidente do conselho, Bruno Garfinkel, para mudar o ritmo de atuação. “Antigamente, era comum trabalhar até não aguentar mais parar de pé”, disse. “Eu não penso dessa forma: quero desacelerar, passar para uma nova fase, contribuir para o futuro da Porto de uma outra forma.”
O presidente da empresa afirma que nos últimos 21 anos, o mercado de seguros não só cresceu como se profissionalizou. Na Porto, o crescimento também foi a regra. “Costumamos dizer aqui que a Porto é como uma série de TV: tem personagens que entram e personagens que saem a cada temporada, mas a essência continua a mesma.”
Além de ocupar um assento no conselho da companhia, Santos continuará como presidente do conselho diretor da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).