THE NEW YORK TIMES - Ela era considerada o padrão-ouro no mercado imobiliário cada vez mais instável da China. Agora, os investidores estão tratando a Country Garden, a incorporadora gigante, como uma bomba-relógio.
A empresa, a última grande gigante imobiliária da China a evitar o default (calote), deu dicas de seus problemas financeiros por semanas. Na noite de quinta-feira, 10, foi mais direta: a Country Garden disse esperar um prejuízo de até US$ 7,6 bilhões (cerca de R$ 37,2 bilhões) nos primeiros seis meses deste ano.
As ações da empresa, que são negociadas em Hong Kong, caíram nesta sexta-feira, 11, levando seu valor a novas profundidades. A ação chegou a ser negociada em torno de 1 dólar de Hong Kong, ou cerca de US$ 0,13.
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O pessimismo não se limitou aos mercados.
Os comentaristas nas mídias sociais chinesas expressaram seu choque – e raiva – com as más notícias sobre o mercado imobiliário da China. Muitos invocaram a memória de outra gigante imobiliária, a Evergrande, que entrou em default há dois anos, desencadeando uma onda de fracassos imobiliários.
“Outro gigante imobiliário vai cair. Evergrande entrou em colapso, Country Garden será o próximo?, Guo Guosong, autor e ex-jornalista, escreveu em um comentário.
Outros se juntaram e a conversa online se acendeu no início da tarde, quando mais de 100 milhões de pessoas tinham visualizado os comentários sob a hashtag “Evergrande está insolvente”.
Durante anos, as incorporadoras chinesas contraíram enormes dívidas para se expandir por cidades de todo o país, vendendo apartamentos antes de serem concluídos. Ao longo do caminho, seus principais executivos se juntaram às fileiras dos magnatas mais ricos da Ásia. O fracasso da Evergrande em 2021 destacou as práticas do setor quando desencadeou uma cascata de colapsos semelhantes no setor imobiliário, e milhões de pessoas ficaram com apartamentos inacabados.
“Esses magnatas imobiliários estão ganhando muito dinheiro, mas a empresa está uma bagunça, o dinheiro vai para os bolsos deles e a bagunça é do governo”, escreveu Sun Guoyu, cuja conta verificada em uma rede social diz que ele é o presidente de uma empresa chamada Shenzhen Neteye Holdings. “Problemas sistêmicos, pessoas comuns pagam a conta”, acrescentou.
A raiva pública reprimida sobre o setor imobiliário da China está em construção há anos e às vezes se espalha pelas ruas. Mas o destino do Country Garden, uma das últimas gigantes do país e uma empresa que havia sido vista como mais responsável, parece estar por trás da torrente de frustração de sexta-feira. Alguns se perguntaram: o que aconteceu com o dinheiro que os compradores deram aos incorporadores, já que há tão poucos apartamentos prontos para mostrar?
O fato de a Country Garden estar à beira do colapso alarmou economistas e observadores do mercado, que se preocupam que os formuladores de políticas da China, mesmo depois de prometerem fortalecer o mercado imobiliário, tenham perdido o controle. Alguns opinaram na conversa online nesta sexta-feira.
“O inverno rigoroso do setor imobiliário chegou”, escreveu An Guanglu, um autor baseado na província de Shaanxi. “Vamos ver quem consegue sobreviver.”