A profunda crise do setor de construção de imóveis na China deverá reduzir a participação do consumo e dos investimentos no crescimento do país em 2024 ante o ano passado. Por outro lado, o enfraquecimento da demanda interna será compensado em parte neste ano pelo aumento das exportações, sobretudo para os EUA, Europa e países asiáticos.
Economistas entrevistados pelo Estadão/Broadcast em Hong Kong e Sydney esperam que a confiança dos consumidores chineses continuará baixa no curto prazo devido à reestruturação do segmento imobiliário, pois 60% da poupança das famílias no país são investidos em imóveis. Ao mesmo tempo, eles acreditam que a força do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e a expectativa de melhora do nível de atividade da Europa no segundo semestre manterão o bom ritmo das exportações, vitais para a produção industrial e a geração de empregos no país oriental.
Em 2023, o PIB da China subiu 5,2%, sendo que o consumo privado contribuiu com 4,3 pontos porcentuais, os investimentos com 1,5 ponto porcentual e as exportações líquidas tiveram um impacto negativo de 0,6 ponto porcentual. Mas, para a expansão do PIB de 5% neste ano, 3,5 pontos porcentuais devem vir do consumo; as exportações terão uma participação positiva de 0,5 ponto porcentual e a formação bruta de capital fixo contribuirá com 1 ponto porcentual, estima Lin Li, diretora de pesquisa de mercados globais para a Ásia do banco MUFG.
Para Lin, terão efeitos muito pequenos as tarifas sobre produtos importados da China impostas pelos EUA, especialmente sobre veículos e baterias elétricas, pois atingirão US$ 18 bilhões em mercadorias, apenas 0,53% de todas as exportações do país oriental.
A decisão da União Europeia de adotar a partir desta sexta-feira tarifas de importação sobre automóveis elétricos chineses, que variam de 17,4% a 37,6% dependendo da montadora, não deve afetar substancialmente as vendas externas destes carros, pois o custo de fabricação na China é bem menor do que no velho continente. “Tal fato ocorre devido a subsídios concedidos pelo governo, cadeias de produção mais eficientes naquele país e despesas inferiores de energia com gás natural importado da Rússia”, afirmou Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para a Ásia e Pacífico do banco Natixis.
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Apesar da perspectiva de desaceleração da economia americana no segundo semestre, o PIB dos EUA deve continuar vigoroso nos próximos trimestres e ajudará nas exportações do país asiático. Também será importante a melhora gradual do nível de atividade na zona do euro no curto prazo com a distensão da política monetária. “Além disso, a adoção da inteligência artificial pelo mundo eleva a produção de equipamentos eletrônicos pela China, que são fornecidos para indústrias em Taiwan e Coreia do Sul”, afirmou Lin.
O favorável desempenho das exportações da China leva a administração do presidente Xi Jinping a não ter pressa para a emissão de 1 trilhão de renminbis de bônus especiais do governo para estimular a economia em 2024, que ocorrerá entre maio e novembro. “Se as vendas externas não estivessem tão bem neste ano, tal emissão de títulos públicos aconteceria em um prazo mais curto”, afirmou Michelle Lam, economista do banco Société Générale. Ela estima que as exportações da China subirão 4,7% neste ano, acima da alta de 0,6% em 2023.
Pacote
O governo da China adotou em maio um pacote de medidas para tentar estabilizar o setor de construção de imóveis, entre as quais a concessão de 300 bilhões de renminbis para prefeituras comprarem imóveis novos e torná-los casas populares.
“Este conjunto de ações ajudará o setor no segundo semestre, especialmente em cidades de médio porte onde há um grande estoque de residências novas não adquiridas”, comentou Carlos Casanova, economista sênior para a Ásia do banco suíço Union Bancaire Privée (UBP). “Mas o segmento de imóveis passa por uma profunda reestruturação, que levará anos para ser concluída e continuará a afetar a confiança dos consumidores.”
Os investimentos em propriedades na China baixaram 9,6% em 2023 e devem diminuir cerca de 5% neste ano, prevê Lin Li, do banco MUFG. A construção de novas residências caiu 20,4% no ano passado e poderá ter uma retração de 15% a 20% em 2024, ela estima.
Com problemas estruturais para o avanço do setor de imóveis, o governo da China deve continuar neste ano a expandir os gastos, especialmente em infraestrutura e subsídios para empresas produtoras de veículos elétricos e painéis solares. O déficit público total, que envolve os governos central e locais, como proporção do PIB deve subir de 6% em 2023 para 7% em 2024, prevê Michelle Lam, do Société Générale.
Para especialistas, a administração Xi Jinping precisará implementar medidas estruturais para estimular o consumo. “É preciso um programa amplo para reduzir o desemprego dos jovens, combinando o conhecimento adquirido nas universidades com a demanda do mercado de trabalho”, afirma Katrina Ell, diretora de pesquisas para a Ásia e Pacífico da Moody ‘s Analytics. “É necessário também o governo garantir a liquidez das incorporadoras para concluir a construção de empreendimentos.”