As chuvas registradas nos últimos dias, combinadas com as medidas de redução de demanda, deram um alívio aos reservatórios do Sul e Sudeste/Centro-Oeste e diminuíram o risco de um novo racionamento nos moldes do de 2001. O cenário, no entanto, ainda é preocupante, uma vez que o período úmido só está no início e ainda não se sabe ao certo qual a intensidade da hidrologia nos próximos meses, dizem especialistas.
De 1.º de outubro até agora, os reservatórios do Sul – que representam 7% do armazenamento do País – tiveram ganho de 5,78 pontos porcentuais no volume de água, de 28,35% para 34,13%. No Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade, a recuperação foi menor, mas pelo menos parou de cair. Em 6 de outubro, as usinas da região registraram o menor patamar de água em seus lagos, de 16,49%. No dia 12, estava em 16,82%.
“A situação de suprimento ainda é desconfortável, mas melhorou na margem, ou seja, não é hora de comemorar o fim da crise hídrica. O cenário só despiorou”, diz o presidente da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso. Segundo ele, a adesão das empresas em relação ao plano de redução voluntária também ajudou bastante na melhora do cenário.
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que o programa de redução voluntária de energia elétrica somou 442 megawatts (MW), em setembro, e 600 MW neste mês. Junta-se a isso a antecipação do funcionamento de usinas térmicas e eólicas autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A combinação de todos esses fatores ajudou a diminuir o nível de tensão sobre o sistema momentaneamente. “Hoje, o cenário é outro. O risco diminuiu sensivelmente. Agora, temos de ver se essa trajetória de chuvas vai continuar nas próximas semanas”, diz o professor da UFRJ Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).
Em evento ontem, o ONS descartou o risco de racionamento neste ano, mas destacou que a situação ainda é crítica e que as medidas emergenciais precisam ser mantidas em 2022. Ou seja, as térmicas devem continuar em operação por mais tempo, o que pressiona o preço da energia para o consumidor. “Esse é o ponto crítico que vai perdurar nos próximos meses. A bandeira tarifária não está conseguindo cobrir o preço das térmicas (algumas chegam a R$ 1,6 mil o MWh”, diz Castro.
“Essa chuva vem em boa hora, mas não resolve o problema. É muito cedo para ter a real percepção da estação chuvosa. Essa melhora é fruto das ações que todas as entidades do CMSE [Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico] estão tomando desde outubro do ano passado”, disse o diretor-geral do ONS, Luiz Ciocchi, que participou do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase).
Segundo ele, ações como o despacho de térmicas e critérios para transmissão de energia, que estão ompletando um ano, trouxeram uma situação mais esperançosa. “As nossas análises mostram bastante preocupação e mobilizamos todos para enfrentar a escassez hídrica. A recomendação do ONS no CMSE é de que não podemos desmobilizar os efeitos de energia termoelétrica para o sistema”, explicou.
No entanto, o diretor-geral do ONS não descartou uma possível desmobilização das usinas térmicas mais caras ao final do período úmido. “Tendo uma situação mais confortável, as termoelétricas mais caras podem sair, mas a mobilização deve continuar. Ao término desta estação chuvosa vamos avaliar.”
Renovável
Ao mesmo tempo, há previsão para entrada em operação de uma série de novas – e mais baratas – usinas no mercado, como as solares e as eólicas. Segundo o presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos, a eólica foi a grande protagonista durante essa crise elétrica. Em alguns momentos, os parques espalhados pelo País, sobretudo no Nordeste, conseguiram gerar até 21% de toda energia consumida no Brasil inteiro.
A solar chegou a quase 2% do total produzido, mas a tendência é que ela siga a trajetória da eólica. “No futuro, prevemos que ela vai ocupar um espaço ainda maior que a eólica no País. O benefício é que há potencial também no Sudeste”, diz Vlavianos.
Para o presidente da PSR, Luiz Augusto Barroso, além do volume de chuvas, o abastecimento do ano que vem vai depender da manutenção das térmicas emergenciais em operação atualmente e da entrada de nova capacidade. Segundo ele, há um série de usinas renováveis entrando em operação em 2022, tanto de geração centralizada (parques maiores) quanto distribuída (placas residenciais).
“Além de reforçar a oferta, isso diversifica a matriz e reduz a nossa dependência à hidrologia.” Além disso, completa o executivo, o governo vai realizar neste mês um leilão para compra de nova oferta de energia para 2022, adicional ao que já está previsto, o que reforça o suprimento do ano. /COLABOROU LEANDRO TAVARES