Inflação bem acima da meta, juros nas alturas, atividade econômica no chão, desemprego explosivo, situação fiscal à beira do descontrole. Tudo isso dentro de um quadro político de turbulências, que desembocou no impeachment de Dilma Rousseff e na entrada em cena de Michel Temer. Esse era o panorama da economia brasileira que se avistava da “janela”, três anos e quatro meses atrás, quando esta coluna fez sua estreia no Estadão. Havia, porém, em vários setores, especialmente entre empresários e investidores, uma esperança de que essa ruptura eliminasse as incertezas e abrisse caminho para uma rápida volta do País à normalidade – com o enfrentamento das grandes questões que inviabilizariam o crescimento sustentado da economia brasileira e, em consequência, com a superação das inúmeras e profundas mazelas sociais.
Em pouco tempo, ficou claro que essas expectativas estavam contaminadas por um excesso de otimismo. Nem o quadro político se acomodou nem a economia ganhou musculatura nos prazos esperados. A aposta repetiu-se nas eleições presidenciais de 2018, depois de uma campanha marcada por aguda polarização, e de novo deu lugar a uma certa frustração. Exatas 167 colunas depois, o cenário político não dá o menor sinal de calmaria e já se discute abertamente o que será do País nas eleições presidenciais de 2022 – com esquerda (s) e direita (s) se atacando e o centro em busca de um líder da ocasião. Não dá para dizer, porém, que na economia tudo continua do mesmo jeito.
Com um protagonismo do Congresso sem precedentes na história recente do País, a reforma da Previdência acabou sendo aprovada. O texto final não garantiu o ganho fiscal de R$ 1 trilhão dos sonhos do ministro Paulo Guedes, mas chegou às vizinhanças de R$ 800 bilhões. Um resultado bastante razoável, embora já se saiba que será necessário fazer outra logo adiante. Além disso, um pacotaço de reformas com foco no ajuste fiscal foi entregue ao Congresso, para tramitação e votação no ano que vem, ainda que algumas consideradas essenciais, como a tributária e a administrativa, tenham sido esvaziadas ou adiadas – esta última pelo próprio Bolsonaro, temendo que a explosão de violência nas ruas do Chile, Bolívia, Equador e Colômbia seja replicada no Brasil.
Aos olhos da população em geral, porém, a principal mudança ainda está por vir. A maioria dos analistas vê sinais de que estaria chegando ao fim o mais longo processo de recuperação da economia depois de uma recessão. Vem aí o terceiro ano de crescimento do PIB na faixa de 1%, mas para 2020 as projeções oscilam em torno de 2%. É pouco, mesmo considerando-se que até há pouco tempo as projeções para 2019 estavam mais próximas de 0,5%.
Está no ar uma esperança de que o consumo de fim de ano, turbinado pelos incentivos de curto prazo providenciados pela equipe econômica sob forte pressão, anuncie uma entrada em 2020 num astral mais favorável. Além disso, novos empregos com carteira assinada começam a aparecer – neste ano, já ultrapassam 840 mil, segundo o Caged –, embora a informalidade mantenha o domínio do mercado de trabalho, com o bom o velho “bico” mascarado pela alardeada vocação dos brasileiros para o empreendedorismo. E a proposta do governo para acelerar esse processo, o programa de estímulos ao emprego de jovens, veio ancorada numa inacreditável taxação do seguro-desemprego.
Com tudo isso, fica claro que uma virada no cenário econômico para valer, consistente e duradoura, ainda depende da retomada dos investimentos. E estes continuam à espera de um quadro político mais pacificado, mais seguro, mais consequente. A pergunta é uma só: demora? Pelo que se tem visto nos últimos tempos, falta sobretudo juízo aos chamados “atores” da cena política para que a resposta seja animadora. *********** Aos leitores: Com esta coluna, um resumo do que pude acompanhar no cenário econômico e político a partir deste privilegiado observatório, me despeço do Estadão. Sem temer o lugar comum, foram quase três anos e meio que valeram por muitos mais. Agradeço a atenção dos leitores e espero ter contribuído para o debate de ideias, num tempo em que sobressaem os extremismos e as crenças cegas.
*É JORNALISTA