Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Como o mercado reagiria à alteração na meta de inflação?


Certos dados favorecem a hipótese de que as expectativas, depois de alguma volatilidade, tenderiam a se manter onde estão

Por Claudio Adilson Gonçalez
Atualização:

O processo de formação das expectativas exerce papel crucial para a compreensão dos fenômenos econômicos, tais como inflação, criação e estouro de bolhas de ativos, corridas bancárias, flutuações cíclicas da atividade, entre outros. A teoria econômica tradicional “resolveu” o problema com a invenção do Homo economicus, ou seja, um ser que, tendo acesso irrestrito às informações, sempre toma decisões econômicas racionais. A partir dessa hipótese, é possível desenvolver modelos estatísticos para previsões econômicas, em que as expectativas, contando com pesquisas de opinião, são endogenamente especificadas. Nesse mundo norteado pelas expectativas racionais, crises econômicas seriam provocadas por fatores exógenos, jamais por decisões equivocadas dos participantes de mercado. Pena que tal hipótese já caiu por terra.

Uma velha piada ilustra a questão. Um homem (economista, creio) procurava, em uma noite escura, um objeto perdido em uma longa estrada. Sua busca se concentrava ao redor de um poste de iluminação pública. Alguém lhe perguntou: por que você procura apenas nessa área? A resposta: porque é a única que está iluminada.

Pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026 Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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O economista Richard T. Curtin, diretor do Departamento de Pesquisas sobre Sentimento dos Consumidores da Universidade de Michigan, argumenta no artigo A new theory of expectations, de 2022, que os economistas precisam muito do auxílio de neurocientistas e psicólogos para a aferição e projeção da evolução das expectativas dos agentes econômicos.

Com isso em mente, me causa certo incômodo a afirmação peremptória de parte dos analistas financeiros de que, caso o Conselho Monetário Nacional (CMN), no momento certo e escudado em razões técnicas, eleve a meta de inflação para, digamos, 4%, as expectativas hoje estabilizadas ao redor desse patamar para 2024, 2025 e 2026, conforme levantamento da pesquisa Focus do Banco Central (BC), subiriam significativamente, forçando a elevação ou dificultando a queda da taxa básica de juro (Selic).

É verdade que as expectativas medianas para o IPCA subiram recentemente e que os ruídos políticos em torno do tema podem ter dado o empurrão para isso. Mas não se pode negar que bem antes disso economistas de reconhecida competência começaram a debater o tema.

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A rigor, a resposta para a pergunta que dá título a este artigo é “não sei”. Mas creio que há certos dados que favorecem a hipótese de que as expectativas, depois de alguma volatilidade, tenderiam a se manter onde estão. A própria pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026. Além disso, a meta de 3% parece pouco crível. No Brasil, só foi possível manter a inflação nesse patamar em períodos de elevada ociosidade, com desemprego nas alturas e com baixa utilização da capacidade instalada.

O processo de formação das expectativas exerce papel crucial para a compreensão dos fenômenos econômicos, tais como inflação, criação e estouro de bolhas de ativos, corridas bancárias, flutuações cíclicas da atividade, entre outros. A teoria econômica tradicional “resolveu” o problema com a invenção do Homo economicus, ou seja, um ser que, tendo acesso irrestrito às informações, sempre toma decisões econômicas racionais. A partir dessa hipótese, é possível desenvolver modelos estatísticos para previsões econômicas, em que as expectativas, contando com pesquisas de opinião, são endogenamente especificadas. Nesse mundo norteado pelas expectativas racionais, crises econômicas seriam provocadas por fatores exógenos, jamais por decisões equivocadas dos participantes de mercado. Pena que tal hipótese já caiu por terra.

Uma velha piada ilustra a questão. Um homem (economista, creio) procurava, em uma noite escura, um objeto perdido em uma longa estrada. Sua busca se concentrava ao redor de um poste de iluminação pública. Alguém lhe perguntou: por que você procura apenas nessa área? A resposta: porque é a única que está iluminada.

Pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O economista Richard T. Curtin, diretor do Departamento de Pesquisas sobre Sentimento dos Consumidores da Universidade de Michigan, argumenta no artigo A new theory of expectations, de 2022, que os economistas precisam muito do auxílio de neurocientistas e psicólogos para a aferição e projeção da evolução das expectativas dos agentes econômicos.

Com isso em mente, me causa certo incômodo a afirmação peremptória de parte dos analistas financeiros de que, caso o Conselho Monetário Nacional (CMN), no momento certo e escudado em razões técnicas, eleve a meta de inflação para, digamos, 4%, as expectativas hoje estabilizadas ao redor desse patamar para 2024, 2025 e 2026, conforme levantamento da pesquisa Focus do Banco Central (BC), subiriam significativamente, forçando a elevação ou dificultando a queda da taxa básica de juro (Selic).

É verdade que as expectativas medianas para o IPCA subiram recentemente e que os ruídos políticos em torno do tema podem ter dado o empurrão para isso. Mas não se pode negar que bem antes disso economistas de reconhecida competência começaram a debater o tema.

A rigor, a resposta para a pergunta que dá título a este artigo é “não sei”. Mas creio que há certos dados que favorecem a hipótese de que as expectativas, depois de alguma volatilidade, tenderiam a se manter onde estão. A própria pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026. Além disso, a meta de 3% parece pouco crível. No Brasil, só foi possível manter a inflação nesse patamar em períodos de elevada ociosidade, com desemprego nas alturas e com baixa utilização da capacidade instalada.

O processo de formação das expectativas exerce papel crucial para a compreensão dos fenômenos econômicos, tais como inflação, criação e estouro de bolhas de ativos, corridas bancárias, flutuações cíclicas da atividade, entre outros. A teoria econômica tradicional “resolveu” o problema com a invenção do Homo economicus, ou seja, um ser que, tendo acesso irrestrito às informações, sempre toma decisões econômicas racionais. A partir dessa hipótese, é possível desenvolver modelos estatísticos para previsões econômicas, em que as expectativas, contando com pesquisas de opinião, são endogenamente especificadas. Nesse mundo norteado pelas expectativas racionais, crises econômicas seriam provocadas por fatores exógenos, jamais por decisões equivocadas dos participantes de mercado. Pena que tal hipótese já caiu por terra.

Uma velha piada ilustra a questão. Um homem (economista, creio) procurava, em uma noite escura, um objeto perdido em uma longa estrada. Sua busca se concentrava ao redor de um poste de iluminação pública. Alguém lhe perguntou: por que você procura apenas nessa área? A resposta: porque é a única que está iluminada.

Pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O economista Richard T. Curtin, diretor do Departamento de Pesquisas sobre Sentimento dos Consumidores da Universidade de Michigan, argumenta no artigo A new theory of expectations, de 2022, que os economistas precisam muito do auxílio de neurocientistas e psicólogos para a aferição e projeção da evolução das expectativas dos agentes econômicos.

Com isso em mente, me causa certo incômodo a afirmação peremptória de parte dos analistas financeiros de que, caso o Conselho Monetário Nacional (CMN), no momento certo e escudado em razões técnicas, eleve a meta de inflação para, digamos, 4%, as expectativas hoje estabilizadas ao redor desse patamar para 2024, 2025 e 2026, conforme levantamento da pesquisa Focus do Banco Central (BC), subiriam significativamente, forçando a elevação ou dificultando a queda da taxa básica de juro (Selic).

É verdade que as expectativas medianas para o IPCA subiram recentemente e que os ruídos políticos em torno do tema podem ter dado o empurrão para isso. Mas não se pode negar que bem antes disso economistas de reconhecida competência começaram a debater o tema.

A rigor, a resposta para a pergunta que dá título a este artigo é “não sei”. Mas creio que há certos dados que favorecem a hipótese de que as expectativas, depois de alguma volatilidade, tenderiam a se manter onde estão. A própria pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026. Além disso, a meta de 3% parece pouco crível. No Brasil, só foi possível manter a inflação nesse patamar em períodos de elevada ociosidade, com desemprego nas alturas e com baixa utilização da capacidade instalada.

O processo de formação das expectativas exerce papel crucial para a compreensão dos fenômenos econômicos, tais como inflação, criação e estouro de bolhas de ativos, corridas bancárias, flutuações cíclicas da atividade, entre outros. A teoria econômica tradicional “resolveu” o problema com a invenção do Homo economicus, ou seja, um ser que, tendo acesso irrestrito às informações, sempre toma decisões econômicas racionais. A partir dessa hipótese, é possível desenvolver modelos estatísticos para previsões econômicas, em que as expectativas, contando com pesquisas de opinião, são endogenamente especificadas. Nesse mundo norteado pelas expectativas racionais, crises econômicas seriam provocadas por fatores exógenos, jamais por decisões equivocadas dos participantes de mercado. Pena que tal hipótese já caiu por terra.

Uma velha piada ilustra a questão. Um homem (economista, creio) procurava, em uma noite escura, um objeto perdido em uma longa estrada. Sua busca se concentrava ao redor de um poste de iluminação pública. Alguém lhe perguntou: por que você procura apenas nessa área? A resposta: porque é a única que está iluminada.

Pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O economista Richard T. Curtin, diretor do Departamento de Pesquisas sobre Sentimento dos Consumidores da Universidade de Michigan, argumenta no artigo A new theory of expectations, de 2022, que os economistas precisam muito do auxílio de neurocientistas e psicólogos para a aferição e projeção da evolução das expectativas dos agentes econômicos.

Com isso em mente, me causa certo incômodo a afirmação peremptória de parte dos analistas financeiros de que, caso o Conselho Monetário Nacional (CMN), no momento certo e escudado em razões técnicas, eleve a meta de inflação para, digamos, 4%, as expectativas hoje estabilizadas ao redor desse patamar para 2024, 2025 e 2026, conforme levantamento da pesquisa Focus do Banco Central (BC), subiriam significativamente, forçando a elevação ou dificultando a queda da taxa básica de juro (Selic).

É verdade que as expectativas medianas para o IPCA subiram recentemente e que os ruídos políticos em torno do tema podem ter dado o empurrão para isso. Mas não se pode negar que bem antes disso economistas de reconhecida competência começaram a debater o tema.

A rigor, a resposta para a pergunta que dá título a este artigo é “não sei”. Mas creio que há certos dados que favorecem a hipótese de que as expectativas, depois de alguma volatilidade, tenderiam a se manter onde estão. A própria pesquisa Focus, apesar de esperar o IPCA se estabilizando em 4%, prevê quedas graduais da Selic até 9%, ao final de 2026. Além disso, a meta de 3% parece pouco crível. No Brasil, só foi possível manter a inflação nesse patamar em períodos de elevada ociosidade, com desemprego nas alturas e com baixa utilização da capacidade instalada.

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Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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