Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Como a política fiscal afeta o crescimento econômico


Quando a economia está no limite de sua capacidade produtiva, a expansão fiscal pode ser danosa

Por Claudio Adilson Gonçalez
Atualização:

Ao contrário das ciências exatas, como a física, em economia há correntes de pensamento que se opõem fortemente, tendendo, muitas vezes, para acirradas batalhas ideológicas. A questão mais polêmica é o papel da política fiscal, ou seja, tributação e gastos públicos, sobre a inflação e o crescimento econômico. Por simplificação, mas com perda de rigor, vou dividi-los em dois grupos.

De um lado, encontram-se os neoclássicos, que se intitulam por aqui de liberais. Eles acreditam que as regras do livre mercado ajustam naturalmente os preços e salários para alcançar a estabilidade econômica. Os governos devem intervir o mínimo possível na economia, limitando-se ao suprimento de bens públicos, correção de falhas de mercado e redução do risco dos agentes privados. Com essa visão, defendem a autorregulação e enfatizam o efeito inflacionário dos gastos públicos, sejam de custeio ou de investimentos.

A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano Foto: JF Diório/Estadão
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No outro extremo estão os keynesianos, que seguem, principalmente, as ideias de John Maynard Keynes (1883-1946). Para estes, frequentemente, dadas as imperfeições do mercado, a economia pode passar por crises de escassez de demanda, o que exige política fiscal ativa para restaurar o pleno-emprego e possibilitar a continuidade do crescimento econômico. O pós-keynesiano Hyman Minsky (1919-1996) ofereceu valiosa colaboração ao mostrar que os humores do sistema financeiro podem gerar ciclos econômicos, com bolhas e recessões.

Como sempre, a verdade parece estar no meio. O governo pode e deve se preocupar com muitas questões que vão bem além das propostas pelos neoclássicos, tais como desigualdade, oportunidades e investimentos, especialmente em saúde, educação, pesquisa e inovação, meio ambiente e infraestrutura. E se aceitarmos que a economia pode endogenamente entrar em recessões decorrentes de escassez de demanda, os estímulos fiscais e monetários são necessários para tirá-la dessa situação.

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No entanto, quando a economia está no limite de sua capacidade produtiva, a expansão fiscal pode ser danosa, pois tende a provocar pressões inflacionárias e a deteriorar a balança de transações correntes (diferença entre exportações e importações de bens e serviços).

E há uma profusão de indicadores mostrando que é esse o estágio atual da economia brasileira. A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano. Da mesma forma, embora ainda não haja dificuldade para o financiamento externo, o déficit em conta corrente deve saltar de US$ 22 bilhões em 2023, para US$ 60 bilhões em 2025.

Pouco importa se os keynesianos ou os neoclássicos estão com a razão. A economia brasileira dá fortes sinais de que, na atual situação, políticas de expansão de demanda podem levar a uma grave crise econômica.

Ao contrário das ciências exatas, como a física, em economia há correntes de pensamento que se opõem fortemente, tendendo, muitas vezes, para acirradas batalhas ideológicas. A questão mais polêmica é o papel da política fiscal, ou seja, tributação e gastos públicos, sobre a inflação e o crescimento econômico. Por simplificação, mas com perda de rigor, vou dividi-los em dois grupos.

De um lado, encontram-se os neoclássicos, que se intitulam por aqui de liberais. Eles acreditam que as regras do livre mercado ajustam naturalmente os preços e salários para alcançar a estabilidade econômica. Os governos devem intervir o mínimo possível na economia, limitando-se ao suprimento de bens públicos, correção de falhas de mercado e redução do risco dos agentes privados. Com essa visão, defendem a autorregulação e enfatizam o efeito inflacionário dos gastos públicos, sejam de custeio ou de investimentos.

A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano Foto: JF Diório/Estadão

No outro extremo estão os keynesianos, que seguem, principalmente, as ideias de John Maynard Keynes (1883-1946). Para estes, frequentemente, dadas as imperfeições do mercado, a economia pode passar por crises de escassez de demanda, o que exige política fiscal ativa para restaurar o pleno-emprego e possibilitar a continuidade do crescimento econômico. O pós-keynesiano Hyman Minsky (1919-1996) ofereceu valiosa colaboração ao mostrar que os humores do sistema financeiro podem gerar ciclos econômicos, com bolhas e recessões.

Como sempre, a verdade parece estar no meio. O governo pode e deve se preocupar com muitas questões que vão bem além das propostas pelos neoclássicos, tais como desigualdade, oportunidades e investimentos, especialmente em saúde, educação, pesquisa e inovação, meio ambiente e infraestrutura. E se aceitarmos que a economia pode endogenamente entrar em recessões decorrentes de escassez de demanda, os estímulos fiscais e monetários são necessários para tirá-la dessa situação.

No entanto, quando a economia está no limite de sua capacidade produtiva, a expansão fiscal pode ser danosa, pois tende a provocar pressões inflacionárias e a deteriorar a balança de transações correntes (diferença entre exportações e importações de bens e serviços).

E há uma profusão de indicadores mostrando que é esse o estágio atual da economia brasileira. A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano. Da mesma forma, embora ainda não haja dificuldade para o financiamento externo, o déficit em conta corrente deve saltar de US$ 22 bilhões em 2023, para US$ 60 bilhões em 2025.

Pouco importa se os keynesianos ou os neoclássicos estão com a razão. A economia brasileira dá fortes sinais de que, na atual situação, políticas de expansão de demanda podem levar a uma grave crise econômica.

Ao contrário das ciências exatas, como a física, em economia há correntes de pensamento que se opõem fortemente, tendendo, muitas vezes, para acirradas batalhas ideológicas. A questão mais polêmica é o papel da política fiscal, ou seja, tributação e gastos públicos, sobre a inflação e o crescimento econômico. Por simplificação, mas com perda de rigor, vou dividi-los em dois grupos.

De um lado, encontram-se os neoclássicos, que se intitulam por aqui de liberais. Eles acreditam que as regras do livre mercado ajustam naturalmente os preços e salários para alcançar a estabilidade econômica. Os governos devem intervir o mínimo possível na economia, limitando-se ao suprimento de bens públicos, correção de falhas de mercado e redução do risco dos agentes privados. Com essa visão, defendem a autorregulação e enfatizam o efeito inflacionário dos gastos públicos, sejam de custeio ou de investimentos.

A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano Foto: JF Diório/Estadão

No outro extremo estão os keynesianos, que seguem, principalmente, as ideias de John Maynard Keynes (1883-1946). Para estes, frequentemente, dadas as imperfeições do mercado, a economia pode passar por crises de escassez de demanda, o que exige política fiscal ativa para restaurar o pleno-emprego e possibilitar a continuidade do crescimento econômico. O pós-keynesiano Hyman Minsky (1919-1996) ofereceu valiosa colaboração ao mostrar que os humores do sistema financeiro podem gerar ciclos econômicos, com bolhas e recessões.

Como sempre, a verdade parece estar no meio. O governo pode e deve se preocupar com muitas questões que vão bem além das propostas pelos neoclássicos, tais como desigualdade, oportunidades e investimentos, especialmente em saúde, educação, pesquisa e inovação, meio ambiente e infraestrutura. E se aceitarmos que a economia pode endogenamente entrar em recessões decorrentes de escassez de demanda, os estímulos fiscais e monetários são necessários para tirá-la dessa situação.

No entanto, quando a economia está no limite de sua capacidade produtiva, a expansão fiscal pode ser danosa, pois tende a provocar pressões inflacionárias e a deteriorar a balança de transações correntes (diferença entre exportações e importações de bens e serviços).

E há uma profusão de indicadores mostrando que é esse o estágio atual da economia brasileira. A inflação (IPCA), medida pela média móvel anualizada dos últimos seis meses, já está em 6% ao ano, e as expectativas para 2025 e 2026 estão cada vez mais distantes da meta de 3% ao ano. Da mesma forma, embora ainda não haja dificuldade para o financiamento externo, o déficit em conta corrente deve saltar de US$ 22 bilhões em 2023, para US$ 60 bilhões em 2025.

Pouco importa se os keynesianos ou os neoclássicos estão com a razão. A economia brasileira dá fortes sinais de que, na atual situação, políticas de expansão de demanda podem levar a uma grave crise econômica.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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