Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Governo ainda pode reverter a atual crise de confiança


É preciso reconhecer que o cerne dessa crise de confiança se encontra no que se espera que vá ocorrer nos próximos dois anos, e não nos dados macroeconômicos atuais

Há uma séria crise de confiança entre os participantes do mercado com o governo Lula da Silva. As taxas de juros no mercado futuro já incorporam a hipótese de o Banco Central (BC) elevar a Selic até 13,75% ao ano, ou seja, voltar ao patamar de junho/2023 e assim se manter por longo período.

Para mensurar a gravidade dessa deterioração, basta lembrar que em abril deste ano, de acordo com a pesquisa Focus, os analistas projetavam que a taxa básica de juro estaria em 9% no fim de 2024.

O mais intrigante é que os dados macroeconômicos disponíveis não conseguem explicar tamanha deterioração.

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Fala-se em gastança, mas na verdade a relação entre as despesas primárias totais (sem exclusão de gastos extraordinários) deve fechar 2024 em 18,9% do PIB, abaixo do patamar de 19,5% observado em 2019, quando o teto de gastos ainda estava vigente. A relação dívida bruta/PIB alcançará, ao final de 2024, a marca de 78%, mas já era de 75,3% em 2018.

Não se pretende aqui negar as perspectivas ruins para a evolução do endividamento público, mas falar que o País está em crise fiscal é um notório exagero.

Temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses Foto: Wilton Junior/Estadão
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É certo que a inflação, medida pelo IPCA, está se aproximando do teto da meta, e que as expectativas para os próximos anos estão desancoradas. E é por isso que o BC está iniciando novo ciclo de aperto monetário. Contudo, os prêmios no mercado futuro de juros alcançaram patamares vertiginosos, com a projeção de juro real de quase 10% ao ano, ou seja, mais que o dobro do que se estima ser a taxa neutra (aquela que faria a inflação convergir para a meta e o PIB para seu nível potencial).

Quanto à inflação corrente, deve-se notar que ela está sendo puxada mais pelos preços dos bens comercializáveis no mercado internacional, sensíveis à taxa de câmbio. E a depreciação cambial é impulsionada pela crise de confiança, mas também tem muito a ver com fatores externos, destacando-se a desaceleração econômica chinesa e as incertezas da economia norte-americana.

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Dito isso, é preciso reconhecer que o cerne dessa crise de confiança se encontra no que se espera que vá ocorrer nos próximos dois anos, e não nos dados macroeconômicos atuais. O temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses. E se esse for o caminho escolhido, o Congresso, dominado pelo Centrão, com apoio da esquerda, engrossará a desorganização fiscal, como já fez no final do governo Bolsonaro. As falas do presidente frequentemente reforçam esse temor.

O cenário aqui esboçado significaria o total fracasso do governo Lula 3, com enormes custos para a população brasileira. Mas essa trajetória não é irreversível. O governo ainda não chegou na metade de seu mandato. Mesmo que haja dificuldades para a aprovação de medidas de austeridade fiscal no atual Congresso, o Executivo tem que fazer sua parte.

Há uma séria crise de confiança entre os participantes do mercado com o governo Lula da Silva. As taxas de juros no mercado futuro já incorporam a hipótese de o Banco Central (BC) elevar a Selic até 13,75% ao ano, ou seja, voltar ao patamar de junho/2023 e assim se manter por longo período.

Para mensurar a gravidade dessa deterioração, basta lembrar que em abril deste ano, de acordo com a pesquisa Focus, os analistas projetavam que a taxa básica de juro estaria em 9% no fim de 2024.

O mais intrigante é que os dados macroeconômicos disponíveis não conseguem explicar tamanha deterioração.

Fala-se em gastança, mas na verdade a relação entre as despesas primárias totais (sem exclusão de gastos extraordinários) deve fechar 2024 em 18,9% do PIB, abaixo do patamar de 19,5% observado em 2019, quando o teto de gastos ainda estava vigente. A relação dívida bruta/PIB alcançará, ao final de 2024, a marca de 78%, mas já era de 75,3% em 2018.

Não se pretende aqui negar as perspectivas ruins para a evolução do endividamento público, mas falar que o País está em crise fiscal é um notório exagero.

Temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses Foto: Wilton Junior/Estadão

É certo que a inflação, medida pelo IPCA, está se aproximando do teto da meta, e que as expectativas para os próximos anos estão desancoradas. E é por isso que o BC está iniciando novo ciclo de aperto monetário. Contudo, os prêmios no mercado futuro de juros alcançaram patamares vertiginosos, com a projeção de juro real de quase 10% ao ano, ou seja, mais que o dobro do que se estima ser a taxa neutra (aquela que faria a inflação convergir para a meta e o PIB para seu nível potencial).

Quanto à inflação corrente, deve-se notar que ela está sendo puxada mais pelos preços dos bens comercializáveis no mercado internacional, sensíveis à taxa de câmbio. E a depreciação cambial é impulsionada pela crise de confiança, mas também tem muito a ver com fatores externos, destacando-se a desaceleração econômica chinesa e as incertezas da economia norte-americana.

Dito isso, é preciso reconhecer que o cerne dessa crise de confiança se encontra no que se espera que vá ocorrer nos próximos dois anos, e não nos dados macroeconômicos atuais. O temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses. E se esse for o caminho escolhido, o Congresso, dominado pelo Centrão, com apoio da esquerda, engrossará a desorganização fiscal, como já fez no final do governo Bolsonaro. As falas do presidente frequentemente reforçam esse temor.

O cenário aqui esboçado significaria o total fracasso do governo Lula 3, com enormes custos para a população brasileira. Mas essa trajetória não é irreversível. O governo ainda não chegou na metade de seu mandato. Mesmo que haja dificuldades para a aprovação de medidas de austeridade fiscal no atual Congresso, o Executivo tem que fazer sua parte.

Há uma séria crise de confiança entre os participantes do mercado com o governo Lula da Silva. As taxas de juros no mercado futuro já incorporam a hipótese de o Banco Central (BC) elevar a Selic até 13,75% ao ano, ou seja, voltar ao patamar de junho/2023 e assim se manter por longo período.

Para mensurar a gravidade dessa deterioração, basta lembrar que em abril deste ano, de acordo com a pesquisa Focus, os analistas projetavam que a taxa básica de juro estaria em 9% no fim de 2024.

O mais intrigante é que os dados macroeconômicos disponíveis não conseguem explicar tamanha deterioração.

Fala-se em gastança, mas na verdade a relação entre as despesas primárias totais (sem exclusão de gastos extraordinários) deve fechar 2024 em 18,9% do PIB, abaixo do patamar de 19,5% observado em 2019, quando o teto de gastos ainda estava vigente. A relação dívida bruta/PIB alcançará, ao final de 2024, a marca de 78%, mas já era de 75,3% em 2018.

Não se pretende aqui negar as perspectivas ruins para a evolução do endividamento público, mas falar que o País está em crise fiscal é um notório exagero.

Temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses Foto: Wilton Junior/Estadão

É certo que a inflação, medida pelo IPCA, está se aproximando do teto da meta, e que as expectativas para os próximos anos estão desancoradas. E é por isso que o BC está iniciando novo ciclo de aperto monetário. Contudo, os prêmios no mercado futuro de juros alcançaram patamares vertiginosos, com a projeção de juro real de quase 10% ao ano, ou seja, mais que o dobro do que se estima ser a taxa neutra (aquela que faria a inflação convergir para a meta e o PIB para seu nível potencial).

Quanto à inflação corrente, deve-se notar que ela está sendo puxada mais pelos preços dos bens comercializáveis no mercado internacional, sensíveis à taxa de câmbio. E a depreciação cambial é impulsionada pela crise de confiança, mas também tem muito a ver com fatores externos, destacando-se a desaceleração econômica chinesa e as incertezas da economia norte-americana.

Dito isso, é preciso reconhecer que o cerne dessa crise de confiança se encontra no que se espera que vá ocorrer nos próximos dois anos, e não nos dados macroeconômicos atuais. O temor é de que o governo Lula da Silva, na tentativa de melhorar a avaliação de sua gestão, comece a distribuir benesses. E se esse for o caminho escolhido, o Congresso, dominado pelo Centrão, com apoio da esquerda, engrossará a desorganização fiscal, como já fez no final do governo Bolsonaro. As falas do presidente frequentemente reforçam esse temor.

O cenário aqui esboçado significaria o total fracasso do governo Lula 3, com enormes custos para a população brasileira. Mas essa trajetória não é irreversível. O governo ainda não chegou na metade de seu mandato. Mesmo que haja dificuldades para a aprovação de medidas de austeridade fiscal no atual Congresso, o Executivo tem que fazer sua parte.

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