Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Discutir meta de inflação não deveria ser tabu


Qual a taxa ideal a ser perseguida pelos bancos centrais?

Por Claudio Adilson Gonçalez
Atualização:

Em julho de 1996, Janet Yellen, atual secretária do Tesouro norte-americano, então membra votante do Comitê de Política Monetária do Fed (o banco central dos Estados Unidos), enfrentou o todo-poderoso presidente, Alan Greenspan, discordando, veementemente, da ideia que ainda predominava na ortodoxia econômica, de que a taxa ideal de inflação deveria ser zero. Yellen estava convencida que alguma taxa positiva era necessária, para permitir ajustes de preços relativos, em um mundo onde impera a rigidez para baixo dos salários nominais.

A tese de que a inflação ideal não pode ser zero, ou muito próxima disso, já está cristalizada na teoria econômica. Além de facilitar o ajuste de preços relativos, minimiza-se o risco de deflação, situação muito mais difícil de lidar do que a inflação.

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos Foto: Reuters
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Mas a inflação distorce a alocação eficiente de recursos e reduz o crescimento. Ao aumentar a volatilidade e a imprevisibilidade na economia, inibe os investimentos. E gera efeitos distributivos perversos, prejudicando principalmente os mais pobres, pois estes não têm acesso a instrumentos financeiros que os protejam da corrosão do seu poder de compra. Taxas elevadas de inflação tendem também a gerar inércia e indexação, e isso aumenta o custo da desinflação.

Se não pode ser muito próxima de zero e tampouco muito alta, qual então a taxa ideal de inflação a ser perseguida pelos bancos centrais? Essa resposta não é simples e depende das condições estruturais de cada país.

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Já em 2010, economistas renomados, como Olivier Blanchard, defenderam que o ideal para os Estados Unidos seria algo mais próximo de 4% do que 2%, meta implicitamente adotada pelo Fed. Blanchard voltou recentemente ao tema, agora defendendo 3% como meta ideal. Muitos outros economistas de peso, como Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008), juntaram-se a ele.

Pesquisas atuais mostram que a inflação é mais prejudicial quando as pessoas se preocupam com ela e passam a incluir as expectativas inflacionárias nas suas decisões econômicas. Modelos que relacionam o número de pesquisas no Google da palavra inflação com o seu nível efetivamente observado levaram Blanchard e outros a estimarem a meta ideal, para os Estados Unidos, em 3%.

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Na MCM, repetimos para o Brasil o exercício de Blanchard, com algumas modificações metodológicas, e chegamos a 3,7%. Mas, dado que países endividados só conseguem taxas de inflação muito baixas quando reduzem suas dívidas mediante políticas fiscais austeras, uma meta de 4% parece mais realista e crível do que 3% para nosso país.

Infelizmente, o presidente Lula da Silva, no seu mundo maniqueísta de rentistas contra pobres, colocou essa questão de forma inadequada. Ficou mais difícil para o Conselho Monetário Nacional elevar a meta na sua próxima reunião. Mas o tema precisa ser debatido fora do campo ideológico. Não pode ser tabu.

Em julho de 1996, Janet Yellen, atual secretária do Tesouro norte-americano, então membra votante do Comitê de Política Monetária do Fed (o banco central dos Estados Unidos), enfrentou o todo-poderoso presidente, Alan Greenspan, discordando, veementemente, da ideia que ainda predominava na ortodoxia econômica, de que a taxa ideal de inflação deveria ser zero. Yellen estava convencida que alguma taxa positiva era necessária, para permitir ajustes de preços relativos, em um mundo onde impera a rigidez para baixo dos salários nominais.

A tese de que a inflação ideal não pode ser zero, ou muito próxima disso, já está cristalizada na teoria econômica. Além de facilitar o ajuste de preços relativos, minimiza-se o risco de deflação, situação muito mais difícil de lidar do que a inflação.

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos Foto: Reuters

Mas a inflação distorce a alocação eficiente de recursos e reduz o crescimento. Ao aumentar a volatilidade e a imprevisibilidade na economia, inibe os investimentos. E gera efeitos distributivos perversos, prejudicando principalmente os mais pobres, pois estes não têm acesso a instrumentos financeiros que os protejam da corrosão do seu poder de compra. Taxas elevadas de inflação tendem também a gerar inércia e indexação, e isso aumenta o custo da desinflação.

Se não pode ser muito próxima de zero e tampouco muito alta, qual então a taxa ideal de inflação a ser perseguida pelos bancos centrais? Essa resposta não é simples e depende das condições estruturais de cada país.

Já em 2010, economistas renomados, como Olivier Blanchard, defenderam que o ideal para os Estados Unidos seria algo mais próximo de 4% do que 2%, meta implicitamente adotada pelo Fed. Blanchard voltou recentemente ao tema, agora defendendo 3% como meta ideal. Muitos outros economistas de peso, como Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008), juntaram-se a ele.

Pesquisas atuais mostram que a inflação é mais prejudicial quando as pessoas se preocupam com ela e passam a incluir as expectativas inflacionárias nas suas decisões econômicas. Modelos que relacionam o número de pesquisas no Google da palavra inflação com o seu nível efetivamente observado levaram Blanchard e outros a estimarem a meta ideal, para os Estados Unidos, em 3%.

Na MCM, repetimos para o Brasil o exercício de Blanchard, com algumas modificações metodológicas, e chegamos a 3,7%. Mas, dado que países endividados só conseguem taxas de inflação muito baixas quando reduzem suas dívidas mediante políticas fiscais austeras, uma meta de 4% parece mais realista e crível do que 3% para nosso país.

Infelizmente, o presidente Lula da Silva, no seu mundo maniqueísta de rentistas contra pobres, colocou essa questão de forma inadequada. Ficou mais difícil para o Conselho Monetário Nacional elevar a meta na sua próxima reunião. Mas o tema precisa ser debatido fora do campo ideológico. Não pode ser tabu.

Em julho de 1996, Janet Yellen, atual secretária do Tesouro norte-americano, então membra votante do Comitê de Política Monetária do Fed (o banco central dos Estados Unidos), enfrentou o todo-poderoso presidente, Alan Greenspan, discordando, veementemente, da ideia que ainda predominava na ortodoxia econômica, de que a taxa ideal de inflação deveria ser zero. Yellen estava convencida que alguma taxa positiva era necessária, para permitir ajustes de preços relativos, em um mundo onde impera a rigidez para baixo dos salários nominais.

A tese de que a inflação ideal não pode ser zero, ou muito próxima disso, já está cristalizada na teoria econômica. Além de facilitar o ajuste de preços relativos, minimiza-se o risco de deflação, situação muito mais difícil de lidar do que a inflação.

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos Foto: Reuters

Mas a inflação distorce a alocação eficiente de recursos e reduz o crescimento. Ao aumentar a volatilidade e a imprevisibilidade na economia, inibe os investimentos. E gera efeitos distributivos perversos, prejudicando principalmente os mais pobres, pois estes não têm acesso a instrumentos financeiros que os protejam da corrosão do seu poder de compra. Taxas elevadas de inflação tendem também a gerar inércia e indexação, e isso aumenta o custo da desinflação.

Se não pode ser muito próxima de zero e tampouco muito alta, qual então a taxa ideal de inflação a ser perseguida pelos bancos centrais? Essa resposta não é simples e depende das condições estruturais de cada país.

Já em 2010, economistas renomados, como Olivier Blanchard, defenderam que o ideal para os Estados Unidos seria algo mais próximo de 4% do que 2%, meta implicitamente adotada pelo Fed. Blanchard voltou recentemente ao tema, agora defendendo 3% como meta ideal. Muitos outros economistas de peso, como Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008), juntaram-se a ele.

Pesquisas atuais mostram que a inflação é mais prejudicial quando as pessoas se preocupam com ela e passam a incluir as expectativas inflacionárias nas suas decisões econômicas. Modelos que relacionam o número de pesquisas no Google da palavra inflação com o seu nível efetivamente observado levaram Blanchard e outros a estimarem a meta ideal, para os Estados Unidos, em 3%.

Na MCM, repetimos para o Brasil o exercício de Blanchard, com algumas modificações metodológicas, e chegamos a 3,7%. Mas, dado que países endividados só conseguem taxas de inflação muito baixas quando reduzem suas dívidas mediante políticas fiscais austeras, uma meta de 4% parece mais realista e crível do que 3% para nosso país.

Infelizmente, o presidente Lula da Silva, no seu mundo maniqueísta de rentistas contra pobres, colocou essa questão de forma inadequada. Ficou mais difícil para o Conselho Monetário Nacional elevar a meta na sua próxima reunião. Mas o tema precisa ser debatido fora do campo ideológico. Não pode ser tabu.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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