Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|O tamanho do tombo


Falta de envergadura de Jair Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas

Por Claudio Adilson Gonçalez

Há um mês, a mediana da pesquisa Focus, do Banco Central, projetava queda do PIB brasileiro, em 2020, de 4,1%. Semana passada, a equipe técnica da consultoria econômica da qual sou diretor atualizou seu modelo macroeconômico e estimou que essa contração deve alcançar 7%. E há instituições de excelente reputação técnica trabalhando com encolhimento ainda maior, em torno de 10%. A taxa de desemprego, com os devidos ajustes sazonais, deverá ser de 18%, na média do último trimestre. É um tombo e tanto, o maior já registrado, em um só ano, em mais de um século. Além disso, dado que a população mais pobre e de menor escolaridade será a mais atingida, a pobreza e a desigualdade social tendem a aumentar significativamente.

Nas finanças públicas o estrago também será grande. O déficit primário da União, em 2020, deve superar 10% do PIB. A Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) – o melhor indicador, a meu ver, do grau de vulnerabilidade fiscal de um país – deverá saltar de 58% do PIB, no final do ano passado, para 72%, em 2021.

É um grande equívoco atribuir tal tombo ao isolamento social, adotado pelos governos estaduais e municipais, em maior ou menor escala, na maior parte do País, contrariamente à orientação presidencial. O vilão é o vírus, não as medidas destinadas a reduzir a velocidade de contágio, de forma a evitar o colapso do sistema de saúde e, portanto, salvar vidas.

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Sem elas, a esta altura, o número de mortes tenderia a atingir patamar assustador. O medo e o instinto de preservação natural do ser humano afastariam as pessoas das ruas, do comércio e dos serviços. A retração econômica poderia ser igual ou maior à que vamos observar, com a agravante de perder muito mais vidas. Não se trata de mera conjectura. Há evidências internacionais que suportam essa afirmativa. O caso mais emblemático é o da Suécia, que não praticou o isolamento social obrigatório. Mesmo dispondo de um sistema de saúde pública de elevada qualidade, esse país atingiu a maior taxa de mortalidade decorrente da covid-19 até agora registrada no mundo: 40,7 óbitos por 100 mil habitantes. Apesar disso, o PIB sueco, de acordo com projeções oficiais, deverá cair tanto quanto o brasileiro.

A economia brasileira já dava sinais de fragilidade desde o início do ano, antes da pandemia. A agenda fiscal e de reformas pró-produtividade não avançava. Muito disso se deve à forma desastrada como Bolsonaro conduzia o governo. Desde a posse, o presidente foi uma fonte recorrente de agitação do cenário político.

O País embarcou numa verdadeira montanha-russa de turbulências políticas que colocaram na agenda de discussões relevantes o impeachment do presidente e até a possibilidade de alguma ruptura da ordem democrática. Nenhum desses dois desdobramentos extremos passou ao terreno do provável. Mas o imperativo de termos de avaliá-los como cenários de alguma plausibilidade comprova a amplitude da confusão política que assolou o País em meio à epidemia de covid-19. Claro que isso provocou o aumento das incertezas e afetou negativamente a imagem brasileira no exterior. As consequências econômicas disso são óbvias: inibição dos investimentos, fragilização do mercado de trabalho e do consumo e fuga de capitais.

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O enorme déficit primário deste ano e a elevação da relação DLGG/PIB, decorrentes do mergulho da atividade econômica e da expansão fiscal necessária para proteger a população mais vulnerável, minimizar as perdas de emprego e reforçar o sistema de saúde, não são, necessariamente, prenúncios de descontrole fiscal duradouro. Tudo depende de como o governo irá conduzir, em conjunto com o Legislativo, a agenda de reforma e as políticas públicas necessárias para tratar as sequelas deixadas pela crise.

Mas, infelizmente, a notória falta de envergadura de Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas. *ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Há um mês, a mediana da pesquisa Focus, do Banco Central, projetava queda do PIB brasileiro, em 2020, de 4,1%. Semana passada, a equipe técnica da consultoria econômica da qual sou diretor atualizou seu modelo macroeconômico e estimou que essa contração deve alcançar 7%. E há instituições de excelente reputação técnica trabalhando com encolhimento ainda maior, em torno de 10%. A taxa de desemprego, com os devidos ajustes sazonais, deverá ser de 18%, na média do último trimestre. É um tombo e tanto, o maior já registrado, em um só ano, em mais de um século. Além disso, dado que a população mais pobre e de menor escolaridade será a mais atingida, a pobreza e a desigualdade social tendem a aumentar significativamente.

Nas finanças públicas o estrago também será grande. O déficit primário da União, em 2020, deve superar 10% do PIB. A Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) – o melhor indicador, a meu ver, do grau de vulnerabilidade fiscal de um país – deverá saltar de 58% do PIB, no final do ano passado, para 72%, em 2021.

É um grande equívoco atribuir tal tombo ao isolamento social, adotado pelos governos estaduais e municipais, em maior ou menor escala, na maior parte do País, contrariamente à orientação presidencial. O vilão é o vírus, não as medidas destinadas a reduzir a velocidade de contágio, de forma a evitar o colapso do sistema de saúde e, portanto, salvar vidas.

Sem elas, a esta altura, o número de mortes tenderia a atingir patamar assustador. O medo e o instinto de preservação natural do ser humano afastariam as pessoas das ruas, do comércio e dos serviços. A retração econômica poderia ser igual ou maior à que vamos observar, com a agravante de perder muito mais vidas. Não se trata de mera conjectura. Há evidências internacionais que suportam essa afirmativa. O caso mais emblemático é o da Suécia, que não praticou o isolamento social obrigatório. Mesmo dispondo de um sistema de saúde pública de elevada qualidade, esse país atingiu a maior taxa de mortalidade decorrente da covid-19 até agora registrada no mundo: 40,7 óbitos por 100 mil habitantes. Apesar disso, o PIB sueco, de acordo com projeções oficiais, deverá cair tanto quanto o brasileiro.

A economia brasileira já dava sinais de fragilidade desde o início do ano, antes da pandemia. A agenda fiscal e de reformas pró-produtividade não avançava. Muito disso se deve à forma desastrada como Bolsonaro conduzia o governo. Desde a posse, o presidente foi uma fonte recorrente de agitação do cenário político.

O País embarcou numa verdadeira montanha-russa de turbulências políticas que colocaram na agenda de discussões relevantes o impeachment do presidente e até a possibilidade de alguma ruptura da ordem democrática. Nenhum desses dois desdobramentos extremos passou ao terreno do provável. Mas o imperativo de termos de avaliá-los como cenários de alguma plausibilidade comprova a amplitude da confusão política que assolou o País em meio à epidemia de covid-19. Claro que isso provocou o aumento das incertezas e afetou negativamente a imagem brasileira no exterior. As consequências econômicas disso são óbvias: inibição dos investimentos, fragilização do mercado de trabalho e do consumo e fuga de capitais.

O enorme déficit primário deste ano e a elevação da relação DLGG/PIB, decorrentes do mergulho da atividade econômica e da expansão fiscal necessária para proteger a população mais vulnerável, minimizar as perdas de emprego e reforçar o sistema de saúde, não são, necessariamente, prenúncios de descontrole fiscal duradouro. Tudo depende de como o governo irá conduzir, em conjunto com o Legislativo, a agenda de reforma e as políticas públicas necessárias para tratar as sequelas deixadas pela crise.

Mas, infelizmente, a notória falta de envergadura de Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas. *ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Há um mês, a mediana da pesquisa Focus, do Banco Central, projetava queda do PIB brasileiro, em 2020, de 4,1%. Semana passada, a equipe técnica da consultoria econômica da qual sou diretor atualizou seu modelo macroeconômico e estimou que essa contração deve alcançar 7%. E há instituições de excelente reputação técnica trabalhando com encolhimento ainda maior, em torno de 10%. A taxa de desemprego, com os devidos ajustes sazonais, deverá ser de 18%, na média do último trimestre. É um tombo e tanto, o maior já registrado, em um só ano, em mais de um século. Além disso, dado que a população mais pobre e de menor escolaridade será a mais atingida, a pobreza e a desigualdade social tendem a aumentar significativamente.

Nas finanças públicas o estrago também será grande. O déficit primário da União, em 2020, deve superar 10% do PIB. A Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) – o melhor indicador, a meu ver, do grau de vulnerabilidade fiscal de um país – deverá saltar de 58% do PIB, no final do ano passado, para 72%, em 2021.

É um grande equívoco atribuir tal tombo ao isolamento social, adotado pelos governos estaduais e municipais, em maior ou menor escala, na maior parte do País, contrariamente à orientação presidencial. O vilão é o vírus, não as medidas destinadas a reduzir a velocidade de contágio, de forma a evitar o colapso do sistema de saúde e, portanto, salvar vidas.

Sem elas, a esta altura, o número de mortes tenderia a atingir patamar assustador. O medo e o instinto de preservação natural do ser humano afastariam as pessoas das ruas, do comércio e dos serviços. A retração econômica poderia ser igual ou maior à que vamos observar, com a agravante de perder muito mais vidas. Não se trata de mera conjectura. Há evidências internacionais que suportam essa afirmativa. O caso mais emblemático é o da Suécia, que não praticou o isolamento social obrigatório. Mesmo dispondo de um sistema de saúde pública de elevada qualidade, esse país atingiu a maior taxa de mortalidade decorrente da covid-19 até agora registrada no mundo: 40,7 óbitos por 100 mil habitantes. Apesar disso, o PIB sueco, de acordo com projeções oficiais, deverá cair tanto quanto o brasileiro.

A economia brasileira já dava sinais de fragilidade desde o início do ano, antes da pandemia. A agenda fiscal e de reformas pró-produtividade não avançava. Muito disso se deve à forma desastrada como Bolsonaro conduzia o governo. Desde a posse, o presidente foi uma fonte recorrente de agitação do cenário político.

O País embarcou numa verdadeira montanha-russa de turbulências políticas que colocaram na agenda de discussões relevantes o impeachment do presidente e até a possibilidade de alguma ruptura da ordem democrática. Nenhum desses dois desdobramentos extremos passou ao terreno do provável. Mas o imperativo de termos de avaliá-los como cenários de alguma plausibilidade comprova a amplitude da confusão política que assolou o País em meio à epidemia de covid-19. Claro que isso provocou o aumento das incertezas e afetou negativamente a imagem brasileira no exterior. As consequências econômicas disso são óbvias: inibição dos investimentos, fragilização do mercado de trabalho e do consumo e fuga de capitais.

O enorme déficit primário deste ano e a elevação da relação DLGG/PIB, decorrentes do mergulho da atividade econômica e da expansão fiscal necessária para proteger a população mais vulnerável, minimizar as perdas de emprego e reforçar o sistema de saúde, não são, necessariamente, prenúncios de descontrole fiscal duradouro. Tudo depende de como o governo irá conduzir, em conjunto com o Legislativo, a agenda de reforma e as políticas públicas necessárias para tratar as sequelas deixadas pela crise.

Mas, infelizmente, a notória falta de envergadura de Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas. *ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Há um mês, a mediana da pesquisa Focus, do Banco Central, projetava queda do PIB brasileiro, em 2020, de 4,1%. Semana passada, a equipe técnica da consultoria econômica da qual sou diretor atualizou seu modelo macroeconômico e estimou que essa contração deve alcançar 7%. E há instituições de excelente reputação técnica trabalhando com encolhimento ainda maior, em torno de 10%. A taxa de desemprego, com os devidos ajustes sazonais, deverá ser de 18%, na média do último trimestre. É um tombo e tanto, o maior já registrado, em um só ano, em mais de um século. Além disso, dado que a população mais pobre e de menor escolaridade será a mais atingida, a pobreza e a desigualdade social tendem a aumentar significativamente.

Nas finanças públicas o estrago também será grande. O déficit primário da União, em 2020, deve superar 10% do PIB. A Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) – o melhor indicador, a meu ver, do grau de vulnerabilidade fiscal de um país – deverá saltar de 58% do PIB, no final do ano passado, para 72%, em 2021.

É um grande equívoco atribuir tal tombo ao isolamento social, adotado pelos governos estaduais e municipais, em maior ou menor escala, na maior parte do País, contrariamente à orientação presidencial. O vilão é o vírus, não as medidas destinadas a reduzir a velocidade de contágio, de forma a evitar o colapso do sistema de saúde e, portanto, salvar vidas.

Sem elas, a esta altura, o número de mortes tenderia a atingir patamar assustador. O medo e o instinto de preservação natural do ser humano afastariam as pessoas das ruas, do comércio e dos serviços. A retração econômica poderia ser igual ou maior à que vamos observar, com a agravante de perder muito mais vidas. Não se trata de mera conjectura. Há evidências internacionais que suportam essa afirmativa. O caso mais emblemático é o da Suécia, que não praticou o isolamento social obrigatório. Mesmo dispondo de um sistema de saúde pública de elevada qualidade, esse país atingiu a maior taxa de mortalidade decorrente da covid-19 até agora registrada no mundo: 40,7 óbitos por 100 mil habitantes. Apesar disso, o PIB sueco, de acordo com projeções oficiais, deverá cair tanto quanto o brasileiro.

A economia brasileira já dava sinais de fragilidade desde o início do ano, antes da pandemia. A agenda fiscal e de reformas pró-produtividade não avançava. Muito disso se deve à forma desastrada como Bolsonaro conduzia o governo. Desde a posse, o presidente foi uma fonte recorrente de agitação do cenário político.

O País embarcou numa verdadeira montanha-russa de turbulências políticas que colocaram na agenda de discussões relevantes o impeachment do presidente e até a possibilidade de alguma ruptura da ordem democrática. Nenhum desses dois desdobramentos extremos passou ao terreno do provável. Mas o imperativo de termos de avaliá-los como cenários de alguma plausibilidade comprova a amplitude da confusão política que assolou o País em meio à epidemia de covid-19. Claro que isso provocou o aumento das incertezas e afetou negativamente a imagem brasileira no exterior. As consequências econômicas disso são óbvias: inibição dos investimentos, fragilização do mercado de trabalho e do consumo e fuga de capitais.

O enorme déficit primário deste ano e a elevação da relação DLGG/PIB, decorrentes do mergulho da atividade econômica e da expansão fiscal necessária para proteger a população mais vulnerável, minimizar as perdas de emprego e reforçar o sistema de saúde, não são, necessariamente, prenúncios de descontrole fiscal duradouro. Tudo depende de como o governo irá conduzir, em conjunto com o Legislativo, a agenda de reforma e as políticas públicas necessárias para tratar as sequelas deixadas pela crise.

Mas, infelizmente, a notória falta de envergadura de Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas. *ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

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