Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Piora de expectativas ainda não impactou investimentos


Erosão da confiança no arcabouço fiscal e incertezas tributárias desestimularão investimentos privados

Por Claudio Adilson Gonçalez
Atualização:

Na linguagem das contas nacionais, investimento ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é o aumento bruto (antes da depreciação) do estoque de bens de capital (construções e máquinas e equipamentos). A capacidade de crescimento futuro de uma economia está positivamente correlacionada com a evolução da relação FBCF/PIB, ou seja, com a sua taxa de investimento.

Em 2023, a taxa de investimento foi de apenas 16,5% do PIB, registrando queda de 1,3 ponto porcentual em relação ao biênio 2021/2022. De forma açodada, vários analistas começaram a associar tal queda à deterioração de expectativas decorrente das incertezas criadas no atual governo em relação à política fiscal e às ameaças de aumento da tributação. Há vários equívocos e omissões nessa explicação.

A primeira é não considerar a defasagem temporal entre a decisão de investir e a concretização do investimento físico, que é quando ele será computado no PIB. No caso das construções, tais como novas fábricas, infraestrutura e habitações, essa defasagem pode ser de alguns anos. Tomada a decisão, são necessários projetos de arquitetura e engenharia, aprovações governamentais, licenças ambientais e levantamento de recursos para financiar o investimento.

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Mesmo a aquisição de novas máquinas e equipamentos, no caso brasileiro grande parte suprida por importações, entre a decisão de adquiri-las e a entrada efetiva do bem há uma diferença temporal considerável, de vários meses a até alguns anos, como aviões, por exemplo.

Erosão da confiança no arcabouço fiscal deve ter impacto nos investimentos  Foto: Wilton Junior/Estadão

O segundo ponto é que não é correto comparar a evolução da taxa de investimento a preços correntes, dado que alterações nos preços relativos dos bens de capital afetam essa variável, sem implicar, necessariamente, mudanças no volume físico da FBCF. Se tomarmos a série divulgada pelo IBGE a preços constantes de 2010, veremos que a taxa de investimento de 2023, que nesse conceito foi de 17,1% do PIB, é superior à média de 16,6% observada no quinquênio 2016/2020. O pico ocorreu em 2013: 21,6% do PIB.

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Mais: ao correlacionar expectativas e FBCF, deve-se considerar apenas o investimento privado, excluindo o setor público e a Petrobras. Também é preciso levar em conta as distorções introduzidas pela forma de contabilização das plataformas de petróleo, em função do programa Repetro. Infelizmente, ainda não há dados completos para 2023 que permitam esse refinamento. Portanto, é prematuro dar explicações para o comportamento de uma variável que nem sequer foi devidamente mensurada.

Provavelmente, a erosão da confiança no arcabouço fiscal, aprofundada depois da revisão para baixo das metas de resultado primário, e as incertezas tributárias terão impactos negativos nas expectativas e desestimularão os investimentos privados. Mas isso ainda está por acontecer, podendo reduzir ainda mais a nossa já baixa taxa de investimento.

Na linguagem das contas nacionais, investimento ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é o aumento bruto (antes da depreciação) do estoque de bens de capital (construções e máquinas e equipamentos). A capacidade de crescimento futuro de uma economia está positivamente correlacionada com a evolução da relação FBCF/PIB, ou seja, com a sua taxa de investimento.

Em 2023, a taxa de investimento foi de apenas 16,5% do PIB, registrando queda de 1,3 ponto porcentual em relação ao biênio 2021/2022. De forma açodada, vários analistas começaram a associar tal queda à deterioração de expectativas decorrente das incertezas criadas no atual governo em relação à política fiscal e às ameaças de aumento da tributação. Há vários equívocos e omissões nessa explicação.

A primeira é não considerar a defasagem temporal entre a decisão de investir e a concretização do investimento físico, que é quando ele será computado no PIB. No caso das construções, tais como novas fábricas, infraestrutura e habitações, essa defasagem pode ser de alguns anos. Tomada a decisão, são necessários projetos de arquitetura e engenharia, aprovações governamentais, licenças ambientais e levantamento de recursos para financiar o investimento.

Mesmo a aquisição de novas máquinas e equipamentos, no caso brasileiro grande parte suprida por importações, entre a decisão de adquiri-las e a entrada efetiva do bem há uma diferença temporal considerável, de vários meses a até alguns anos, como aviões, por exemplo.

Erosão da confiança no arcabouço fiscal deve ter impacto nos investimentos  Foto: Wilton Junior/Estadão

O segundo ponto é que não é correto comparar a evolução da taxa de investimento a preços correntes, dado que alterações nos preços relativos dos bens de capital afetam essa variável, sem implicar, necessariamente, mudanças no volume físico da FBCF. Se tomarmos a série divulgada pelo IBGE a preços constantes de 2010, veremos que a taxa de investimento de 2023, que nesse conceito foi de 17,1% do PIB, é superior à média de 16,6% observada no quinquênio 2016/2020. O pico ocorreu em 2013: 21,6% do PIB.

Mais: ao correlacionar expectativas e FBCF, deve-se considerar apenas o investimento privado, excluindo o setor público e a Petrobras. Também é preciso levar em conta as distorções introduzidas pela forma de contabilização das plataformas de petróleo, em função do programa Repetro. Infelizmente, ainda não há dados completos para 2023 que permitam esse refinamento. Portanto, é prematuro dar explicações para o comportamento de uma variável que nem sequer foi devidamente mensurada.

Provavelmente, a erosão da confiança no arcabouço fiscal, aprofundada depois da revisão para baixo das metas de resultado primário, e as incertezas tributárias terão impactos negativos nas expectativas e desestimularão os investimentos privados. Mas isso ainda está por acontecer, podendo reduzir ainda mais a nossa já baixa taxa de investimento.

Na linguagem das contas nacionais, investimento ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é o aumento bruto (antes da depreciação) do estoque de bens de capital (construções e máquinas e equipamentos). A capacidade de crescimento futuro de uma economia está positivamente correlacionada com a evolução da relação FBCF/PIB, ou seja, com a sua taxa de investimento.

Em 2023, a taxa de investimento foi de apenas 16,5% do PIB, registrando queda de 1,3 ponto porcentual em relação ao biênio 2021/2022. De forma açodada, vários analistas começaram a associar tal queda à deterioração de expectativas decorrente das incertezas criadas no atual governo em relação à política fiscal e às ameaças de aumento da tributação. Há vários equívocos e omissões nessa explicação.

A primeira é não considerar a defasagem temporal entre a decisão de investir e a concretização do investimento físico, que é quando ele será computado no PIB. No caso das construções, tais como novas fábricas, infraestrutura e habitações, essa defasagem pode ser de alguns anos. Tomada a decisão, são necessários projetos de arquitetura e engenharia, aprovações governamentais, licenças ambientais e levantamento de recursos para financiar o investimento.

Mesmo a aquisição de novas máquinas e equipamentos, no caso brasileiro grande parte suprida por importações, entre a decisão de adquiri-las e a entrada efetiva do bem há uma diferença temporal considerável, de vários meses a até alguns anos, como aviões, por exemplo.

Erosão da confiança no arcabouço fiscal deve ter impacto nos investimentos  Foto: Wilton Junior/Estadão

O segundo ponto é que não é correto comparar a evolução da taxa de investimento a preços correntes, dado que alterações nos preços relativos dos bens de capital afetam essa variável, sem implicar, necessariamente, mudanças no volume físico da FBCF. Se tomarmos a série divulgada pelo IBGE a preços constantes de 2010, veremos que a taxa de investimento de 2023, que nesse conceito foi de 17,1% do PIB, é superior à média de 16,6% observada no quinquênio 2016/2020. O pico ocorreu em 2013: 21,6% do PIB.

Mais: ao correlacionar expectativas e FBCF, deve-se considerar apenas o investimento privado, excluindo o setor público e a Petrobras. Também é preciso levar em conta as distorções introduzidas pela forma de contabilização das plataformas de petróleo, em função do programa Repetro. Infelizmente, ainda não há dados completos para 2023 que permitam esse refinamento. Portanto, é prematuro dar explicações para o comportamento de uma variável que nem sequer foi devidamente mensurada.

Provavelmente, a erosão da confiança no arcabouço fiscal, aprofundada depois da revisão para baixo das metas de resultado primário, e as incertezas tributárias terão impactos negativos nas expectativas e desestimularão os investimentos privados. Mas isso ainda está por acontecer, podendo reduzir ainda mais a nossa já baixa taxa de investimento.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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