Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|A redução da potência da política monetária


Perda de potência se deve ao funcionamento imperfeito dos três principais canais de transmissão da política monetária: crédito, taxa de câmbio e efeito riqueza

Por Claudio Adilson Gonçalez

No meu artigo anterior (28/10/24), mostrei que a percepção de insustentabilidade da dívida pública resultava em enorme dificuldade para o Banco Central do Brasil (BC) conseguir fazer a inflação convergir para a meta de 3% ao ano, mediante aumento expressivo da taxa básica de juros (Selic).

Mas a política monetária também vem perdendo potência em razão do funcionamento imperfeito de seus três principais canais de transmissão, a saber: crédito, taxa de câmbio e efeito riqueza.

Ao aumentar a Selic e, eventualmente, emitir sinais sobre suas atuações futuras, o BC espera que o custo do crédito suba, o que reduziria a demanda por bens e serviços e ajudaria a conter as pressões inflacionárias.

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Vitória de Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos EUA, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio Foto: Raphael Ribeiro/BCB

No entanto, sem entrar no mérito econômico das medidas, é notório que o governo, na contramão da política monetária, vem ampliando e prometendo ampliar ainda mais o crédito direcionado, parte a taxas subsidiadas, principalmente utilizando recursos de fundos privados dos quais a União é cotista majoritária. O patrimônio da União nesses fundos, sendo os principais o Fundo Garantidor de Operações (FGO) e o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), era de quase R$ 110 bilhões em setembro/2024. Há também proposta de utilização dos superávits financeiros de fundos públicos mantidos na conta única do Tesouro no BC para financiar programas geridos pelo BNDES.

O canal de transmissão da taxa de câmbio afeta a inflação pelo diferencial entre os juros internos e externos. Tudo o mais constante, a ampliação desse diferencial aprecia o real, o que reduziria os preços dos bens transacionados no mercado internacional. O problema é que as demais variáveis não estão constantes, mas sim se movimentando no sentido de depreciar o real. Os destaques aqui são as expectativas internas sobre a política fiscal e as incertezas externas. A vitória de Donald Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos Estados Unidos, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio.

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O canal do efeito riqueza também está parcialmente obstruído. Altas da Selic e dos juros para vencimentos mais longos reduzem o valor de mercado dos títulos remunerados a taxas prefixadas, ou indexados à inflação mais um juro real, o que provoca perda patrimonial a seus detentores, afetando negativamente sua demanda por bens e serviços. Mas quem possui Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), além de não sofrer tal perda, pois esses papéis são remunerados pela própria Selic, veem sua renda de aplicação financeira crescer, o que aumenta seu poder aquisitivo.

No fim de 2018, as LFTs representavam 36,8% da dívida interna mobiliária federal. Em setembro de 2024, chegaram a 47,4%. E essa participação deve continuar crescendo, pelo menos enquanto o mercado financeiro exigir prêmios elevados para comprar títulos prefixados. Ou seja, enquanto persistir a crise de confiança.

No meu artigo anterior (28/10/24), mostrei que a percepção de insustentabilidade da dívida pública resultava em enorme dificuldade para o Banco Central do Brasil (BC) conseguir fazer a inflação convergir para a meta de 3% ao ano, mediante aumento expressivo da taxa básica de juros (Selic).

Mas a política monetária também vem perdendo potência em razão do funcionamento imperfeito de seus três principais canais de transmissão, a saber: crédito, taxa de câmbio e efeito riqueza.

Ao aumentar a Selic e, eventualmente, emitir sinais sobre suas atuações futuras, o BC espera que o custo do crédito suba, o que reduziria a demanda por bens e serviços e ajudaria a conter as pressões inflacionárias.

Vitória de Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos EUA, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio Foto: Raphael Ribeiro/BCB

No entanto, sem entrar no mérito econômico das medidas, é notório que o governo, na contramão da política monetária, vem ampliando e prometendo ampliar ainda mais o crédito direcionado, parte a taxas subsidiadas, principalmente utilizando recursos de fundos privados dos quais a União é cotista majoritária. O patrimônio da União nesses fundos, sendo os principais o Fundo Garantidor de Operações (FGO) e o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), era de quase R$ 110 bilhões em setembro/2024. Há também proposta de utilização dos superávits financeiros de fundos públicos mantidos na conta única do Tesouro no BC para financiar programas geridos pelo BNDES.

O canal de transmissão da taxa de câmbio afeta a inflação pelo diferencial entre os juros internos e externos. Tudo o mais constante, a ampliação desse diferencial aprecia o real, o que reduziria os preços dos bens transacionados no mercado internacional. O problema é que as demais variáveis não estão constantes, mas sim se movimentando no sentido de depreciar o real. Os destaques aqui são as expectativas internas sobre a política fiscal e as incertezas externas. A vitória de Donald Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos Estados Unidos, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio.

O canal do efeito riqueza também está parcialmente obstruído. Altas da Selic e dos juros para vencimentos mais longos reduzem o valor de mercado dos títulos remunerados a taxas prefixadas, ou indexados à inflação mais um juro real, o que provoca perda patrimonial a seus detentores, afetando negativamente sua demanda por bens e serviços. Mas quem possui Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), além de não sofrer tal perda, pois esses papéis são remunerados pela própria Selic, veem sua renda de aplicação financeira crescer, o que aumenta seu poder aquisitivo.

No fim de 2018, as LFTs representavam 36,8% da dívida interna mobiliária federal. Em setembro de 2024, chegaram a 47,4%. E essa participação deve continuar crescendo, pelo menos enquanto o mercado financeiro exigir prêmios elevados para comprar títulos prefixados. Ou seja, enquanto persistir a crise de confiança.

No meu artigo anterior (28/10/24), mostrei que a percepção de insustentabilidade da dívida pública resultava em enorme dificuldade para o Banco Central do Brasil (BC) conseguir fazer a inflação convergir para a meta de 3% ao ano, mediante aumento expressivo da taxa básica de juros (Selic).

Mas a política monetária também vem perdendo potência em razão do funcionamento imperfeito de seus três principais canais de transmissão, a saber: crédito, taxa de câmbio e efeito riqueza.

Ao aumentar a Selic e, eventualmente, emitir sinais sobre suas atuações futuras, o BC espera que o custo do crédito suba, o que reduziria a demanda por bens e serviços e ajudaria a conter as pressões inflacionárias.

Vitória de Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos EUA, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio Foto: Raphael Ribeiro/BCB

No entanto, sem entrar no mérito econômico das medidas, é notório que o governo, na contramão da política monetária, vem ampliando e prometendo ampliar ainda mais o crédito direcionado, parte a taxas subsidiadas, principalmente utilizando recursos de fundos privados dos quais a União é cotista majoritária. O patrimônio da União nesses fundos, sendo os principais o Fundo Garantidor de Operações (FGO) e o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), era de quase R$ 110 bilhões em setembro/2024. Há também proposta de utilização dos superávits financeiros de fundos públicos mantidos na conta única do Tesouro no BC para financiar programas geridos pelo BNDES.

O canal de transmissão da taxa de câmbio afeta a inflação pelo diferencial entre os juros internos e externos. Tudo o mais constante, a ampliação desse diferencial aprecia o real, o que reduziria os preços dos bens transacionados no mercado internacional. O problema é que as demais variáveis não estão constantes, mas sim se movimentando no sentido de depreciar o real. Os destaques aqui são as expectativas internas sobre a política fiscal e as incertezas externas. A vitória de Donald Trump tende a elevar, a médio prazo, a inflação e os juros nos Estados Unidos, dificultando a ação da política monetária do BC pelo canal do câmbio.

O canal do efeito riqueza também está parcialmente obstruído. Altas da Selic e dos juros para vencimentos mais longos reduzem o valor de mercado dos títulos remunerados a taxas prefixadas, ou indexados à inflação mais um juro real, o que provoca perda patrimonial a seus detentores, afetando negativamente sua demanda por bens e serviços. Mas quem possui Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), além de não sofrer tal perda, pois esses papéis são remunerados pela própria Selic, veem sua renda de aplicação financeira crescer, o que aumenta seu poder aquisitivo.

No fim de 2018, as LFTs representavam 36,8% da dívida interna mobiliária federal. Em setembro de 2024, chegaram a 47,4%. E essa participação deve continuar crescendo, pelo menos enquanto o mercado financeiro exigir prêmios elevados para comprar títulos prefixados. Ou seja, enquanto persistir a crise de confiança.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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