Até que demorou para que uma companhia francesa abrisse guerra contra os produtos brasileiros, ação alinhada ao que pensa e faz o presidente francês, Emmanuel Macron. O 'crime' cometido pelo agronegócio brasileiro é ser muito mais competente, ter melhores preços e produtos do que os dos pecuaristas franceses. Quem pintou o rosto para guerra foi o Carrefour, na França. E é possível que os consumidores brasileiros entendam que, se a França não quer nossos produtos, também não queremos os produtos deles.
Não se trata de nacionalismo tacanho. As relações econômicas, como as diplomáticas, são vias de duas mãos. Quem bloqueia, pode ser bloqueado. Quem boicota, boicotado.
O Grupo Carrefour é dono, dentre outros negócios, do Atacadão. Em resposta ao boicote francês, os maiores frigoríficos brasileiros anunciaram que não venderão mais para as lojas do Carrefour e do Atacadão no país. É claro que eles não tentarão importar carne daquele país para suprir a que não será fornecida pelas companhias brasileiras.
Então, as ações do CEO global da companhia, Alexandre Bompard, podem ter efeito positivo no mercado francês, mas bem negativo por aqui. E essa não é uma ação isolada. Outro grupo francês, Les Mousquetaires, também anunciou que não comprará mais carne do Brasil.
Apesar disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não se manifestou sobre esses casos, e continua a ter um relacionamento muito amistoso com Macron. O que é estranho, porque são os interesses econômicos do Brasil que estão em jogo, e isso significa empregos, impostos etc.
Talvez o governo brasileiro esteja 'pisando em ovos' de olho em um futuro acordo Mercosul-União Europeia. Mas ficou bem claro, porém, que a França lutará com todas as forças contra esse acordo. Se conseguir mais países adeptos dessa visão, o acordo não sairá.Há outros aspectos dessa briga. Os consumidores franceses terão de pagar bem mais caro pela carne, ao menos no Carrefour e em Les Mousquetaires. Sempre que se erguem barreiras comerciais e há reservas de mercado, a conta fica para os cidadãos. E talvez eles não queiram bancar essa proteção aos pecuaristas franceses.
A propósito, Macron está tentando vender um pacote de equipamentos de defesa para o Brasil, com caças Rafale, submarino e helicópteros. Não parece um bom momento para tentar vender algo ao Brasil.