‘Tem de chamar a área privada para a saúde avançar’, diz Claudio Lottenberg; leia entrevista


Médico que preside o conselho do Hospital Albert Einstein aponta saídas para obter mais recursos, mais tecnologia e menos filas

Por Sonia Racy
Atualização:
Foto: Divulgação
Entrevista comClaudio LottenbergPresidente do conselho do Hospital Albert Einstein

Foi por gostar, desde cedo, de relacionamento humano que o paulistano Claudio Lottenberg decidiu ser médico. “Minha vida é muito relacional, mesmo na área de gestão”, explica. E optou pela oftalmologia “porque é maravilhoso devolver a visão às pessoas”. Hoje, ele preside o Instituto Coalizão Saúde. Foi por 15 anos presidente do Hospital Albert Einstein e há seis preside o conselho da instituição.

Formado em oftalmologia na Escola Paulista de Medicina, Lottenberg especializou-se em Urgências Oftalmológicas pelo Manhattan Eye Ear & Throat Hospital, em Nova York, em 1989 – e arrumou tempo, durante a prefeitura de José Serra, para ser seu secretário da Saúde.

De olho na virada de governo, em janeiro de 2023, ele faz, nesta conversa com Cenários, uma advertência: “Se o País não encontrar recursos financeiros, não conseguirá fazer o mínimo necessário nas ações básicas da saúde”. E como isso vai exigir investimentos, é preciso achar uma forma de “buscar recursos dentro da iniciativa privada”. Assim como se leva dinheiro “para infraestrutura, para estradas, ferrovias”, o raciocínio “serve também para a área da saúde”, adverte. Para tanto, o governo precisa ter responsabilidade, recuperar a credibilidade e “ser ousado, trazer a iniciativa privada para investir e ter retorno de seus investimentos”. A seguir, os principais trechos da conversa.

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O médico Claudio Lottenberg, que preside o conselho do Hospital Albert Einstein Foto: Divulgação

Como vê hoje o futuro da saúde no Brasil?

A saúde é um desafio permanente. De um lado temos o aumento da expectativa de vida das pessoas e de outro lado a sustentação de um sistema que incrementa tecnologia sistematicamente sem subtrair outros tipos de tecnologia, pela forma de remuneração. É um desafio enorme não só no Brasil como no mundo inteiro. O sistema inglês, por exemplo, tem uma alocação de recursos muito maior que o nosso – e também enormes filas e gente aguardando procedimentos neste pós-covid. Por aqui o SUS caminhou bem e, apesar do enorme número de mortes, mostrou resiliência. E existe aí uma perspectiva de mudança via transformação digital.

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Como seria essa mudança?

Ela passa tanto por processos gerenciais quanto pela experiência digital dos pacientes, que querem contato pessoal com o médico mesmo em assuntos não tão relevantes. Daí os hospitais ficam lotados e é difícil fazer a fila andar. A experiência digital pode trazer a oportunidade fundamental de levar a saúde a cada brasileiro.

Acha irreal imaginarmos um SUS forte e sólido?

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Não acho. Primeiro temos a questão do subfinanciamento. O País gasta 9,5% de seu PIB em saúde. O problema é que, disso, 3,5% a 4% vão para 150 milhões de pessoas, via SUS. Há uma desproporção grande entre o que se gasta per capita no financiamento público e no privado. Precisamos de mais dinheiro e um modo de chegar a isso é fazer o produto crescer. Se a economia se recupera, gerando mais empregos, criamos acesso a planos de saúde corporativos – e isso libera o SUS para atender à grande parte da população que de fato precisa.

Acha que telemedicina vai revolucionar a saúde?

Já vem revolucionando. Nós estamos atrasados nisso, demorarmos demais para regulamentá-la. Dos pacientes que experimentam a telemedicina, 70% deles repetem a experiência em 60 dias. Estou seguro de que precisamos, sim, investir nela nos próximos anos.

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Muita gente entende que o médico deve nos examinar pessoalmente. Esse contato direto não faria falta?

Quando falamos de telemedicina não significa que seja a forma exclusiva de atendimento, que você não vai ao médico, que ele não vai te apalpar. Mas hoje há como examinar um paciente à distância. Outra coisa é que as novas gerações têm expectativa diferente da relação com outros seres humanos. São novos tempos mas isso não significa desumanizar, e sim preservar o tempo do médico e a relação presencial quando for de fato necessária.

Sobre a vacinação no País, qual o seu balanço hoje?

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Assistimos, nos últimos dois anos atos de desestímulo de pessoas importantes que, por seu poder de penetração, mudaram o entendimento da população a respeito dela. Nós que trabalhamos com a saúde temos a obrigação de exigir das lideranças um comportamento diferente. Fazer campanhas, recolocar o Brasil na posição de 4 ou 5 anos atrás.

E como vê o papel da iniciativa privada nessa tarefa?

Temos as complicações da covid, muito paciente com insuficiência renal, cardíaca, pulmonar. É preciso agilizar, diminuir as filas. E convocar, sim, a iniciativa privada, para essa mobilização nacional. E o governo terá de priorizar a alocação de recursos para isso. A gente tem ociosidade na área privada. Dá pra discutir essa assistência, criar unidades avançadas. E com isso o complexo da saúde pode levar a uma grande geração de empregos. Ninguém está dizendo pra deixar de ter controle social ou transparência. O Einstein já faz isso, outros hospitais também, como o Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa – todos com a Prefeitura de São Paulo. Temos de entrar no novo ano acreditando. Eu prefiro acreditar que vai dar certo.

Foi por gostar, desde cedo, de relacionamento humano que o paulistano Claudio Lottenberg decidiu ser médico. “Minha vida é muito relacional, mesmo na área de gestão”, explica. E optou pela oftalmologia “porque é maravilhoso devolver a visão às pessoas”. Hoje, ele preside o Instituto Coalizão Saúde. Foi por 15 anos presidente do Hospital Albert Einstein e há seis preside o conselho da instituição.

Formado em oftalmologia na Escola Paulista de Medicina, Lottenberg especializou-se em Urgências Oftalmológicas pelo Manhattan Eye Ear & Throat Hospital, em Nova York, em 1989 – e arrumou tempo, durante a prefeitura de José Serra, para ser seu secretário da Saúde.

De olho na virada de governo, em janeiro de 2023, ele faz, nesta conversa com Cenários, uma advertência: “Se o País não encontrar recursos financeiros, não conseguirá fazer o mínimo necessário nas ações básicas da saúde”. E como isso vai exigir investimentos, é preciso achar uma forma de “buscar recursos dentro da iniciativa privada”. Assim como se leva dinheiro “para infraestrutura, para estradas, ferrovias”, o raciocínio “serve também para a área da saúde”, adverte. Para tanto, o governo precisa ter responsabilidade, recuperar a credibilidade e “ser ousado, trazer a iniciativa privada para investir e ter retorno de seus investimentos”. A seguir, os principais trechos da conversa.

O médico Claudio Lottenberg, que preside o conselho do Hospital Albert Einstein Foto: Divulgação

Como vê hoje o futuro da saúde no Brasil?

A saúde é um desafio permanente. De um lado temos o aumento da expectativa de vida das pessoas e de outro lado a sustentação de um sistema que incrementa tecnologia sistematicamente sem subtrair outros tipos de tecnologia, pela forma de remuneração. É um desafio enorme não só no Brasil como no mundo inteiro. O sistema inglês, por exemplo, tem uma alocação de recursos muito maior que o nosso – e também enormes filas e gente aguardando procedimentos neste pós-covid. Por aqui o SUS caminhou bem e, apesar do enorme número de mortes, mostrou resiliência. E existe aí uma perspectiva de mudança via transformação digital.

Como seria essa mudança?

Ela passa tanto por processos gerenciais quanto pela experiência digital dos pacientes, que querem contato pessoal com o médico mesmo em assuntos não tão relevantes. Daí os hospitais ficam lotados e é difícil fazer a fila andar. A experiência digital pode trazer a oportunidade fundamental de levar a saúde a cada brasileiro.

Acha irreal imaginarmos um SUS forte e sólido?

Não acho. Primeiro temos a questão do subfinanciamento. O País gasta 9,5% de seu PIB em saúde. O problema é que, disso, 3,5% a 4% vão para 150 milhões de pessoas, via SUS. Há uma desproporção grande entre o que se gasta per capita no financiamento público e no privado. Precisamos de mais dinheiro e um modo de chegar a isso é fazer o produto crescer. Se a economia se recupera, gerando mais empregos, criamos acesso a planos de saúde corporativos – e isso libera o SUS para atender à grande parte da população que de fato precisa.

Acha que telemedicina vai revolucionar a saúde?

Já vem revolucionando. Nós estamos atrasados nisso, demorarmos demais para regulamentá-la. Dos pacientes que experimentam a telemedicina, 70% deles repetem a experiência em 60 dias. Estou seguro de que precisamos, sim, investir nela nos próximos anos.

Muita gente entende que o médico deve nos examinar pessoalmente. Esse contato direto não faria falta?

Quando falamos de telemedicina não significa que seja a forma exclusiva de atendimento, que você não vai ao médico, que ele não vai te apalpar. Mas hoje há como examinar um paciente à distância. Outra coisa é que as novas gerações têm expectativa diferente da relação com outros seres humanos. São novos tempos mas isso não significa desumanizar, e sim preservar o tempo do médico e a relação presencial quando for de fato necessária.

Sobre a vacinação no País, qual o seu balanço hoje?

Assistimos, nos últimos dois anos atos de desestímulo de pessoas importantes que, por seu poder de penetração, mudaram o entendimento da população a respeito dela. Nós que trabalhamos com a saúde temos a obrigação de exigir das lideranças um comportamento diferente. Fazer campanhas, recolocar o Brasil na posição de 4 ou 5 anos atrás.

E como vê o papel da iniciativa privada nessa tarefa?

Temos as complicações da covid, muito paciente com insuficiência renal, cardíaca, pulmonar. É preciso agilizar, diminuir as filas. E convocar, sim, a iniciativa privada, para essa mobilização nacional. E o governo terá de priorizar a alocação de recursos para isso. A gente tem ociosidade na área privada. Dá pra discutir essa assistência, criar unidades avançadas. E com isso o complexo da saúde pode levar a uma grande geração de empregos. Ninguém está dizendo pra deixar de ter controle social ou transparência. O Einstein já faz isso, outros hospitais também, como o Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa – todos com a Prefeitura de São Paulo. Temos de entrar no novo ano acreditando. Eu prefiro acreditar que vai dar certo.

Foi por gostar, desde cedo, de relacionamento humano que o paulistano Claudio Lottenberg decidiu ser médico. “Minha vida é muito relacional, mesmo na área de gestão”, explica. E optou pela oftalmologia “porque é maravilhoso devolver a visão às pessoas”. Hoje, ele preside o Instituto Coalizão Saúde. Foi por 15 anos presidente do Hospital Albert Einstein e há seis preside o conselho da instituição.

Formado em oftalmologia na Escola Paulista de Medicina, Lottenberg especializou-se em Urgências Oftalmológicas pelo Manhattan Eye Ear & Throat Hospital, em Nova York, em 1989 – e arrumou tempo, durante a prefeitura de José Serra, para ser seu secretário da Saúde.

De olho na virada de governo, em janeiro de 2023, ele faz, nesta conversa com Cenários, uma advertência: “Se o País não encontrar recursos financeiros, não conseguirá fazer o mínimo necessário nas ações básicas da saúde”. E como isso vai exigir investimentos, é preciso achar uma forma de “buscar recursos dentro da iniciativa privada”. Assim como se leva dinheiro “para infraestrutura, para estradas, ferrovias”, o raciocínio “serve também para a área da saúde”, adverte. Para tanto, o governo precisa ter responsabilidade, recuperar a credibilidade e “ser ousado, trazer a iniciativa privada para investir e ter retorno de seus investimentos”. A seguir, os principais trechos da conversa.

O médico Claudio Lottenberg, que preside o conselho do Hospital Albert Einstein Foto: Divulgação

Como vê hoje o futuro da saúde no Brasil?

A saúde é um desafio permanente. De um lado temos o aumento da expectativa de vida das pessoas e de outro lado a sustentação de um sistema que incrementa tecnologia sistematicamente sem subtrair outros tipos de tecnologia, pela forma de remuneração. É um desafio enorme não só no Brasil como no mundo inteiro. O sistema inglês, por exemplo, tem uma alocação de recursos muito maior que o nosso – e também enormes filas e gente aguardando procedimentos neste pós-covid. Por aqui o SUS caminhou bem e, apesar do enorme número de mortes, mostrou resiliência. E existe aí uma perspectiva de mudança via transformação digital.

Como seria essa mudança?

Ela passa tanto por processos gerenciais quanto pela experiência digital dos pacientes, que querem contato pessoal com o médico mesmo em assuntos não tão relevantes. Daí os hospitais ficam lotados e é difícil fazer a fila andar. A experiência digital pode trazer a oportunidade fundamental de levar a saúde a cada brasileiro.

Acha irreal imaginarmos um SUS forte e sólido?

Não acho. Primeiro temos a questão do subfinanciamento. O País gasta 9,5% de seu PIB em saúde. O problema é que, disso, 3,5% a 4% vão para 150 milhões de pessoas, via SUS. Há uma desproporção grande entre o que se gasta per capita no financiamento público e no privado. Precisamos de mais dinheiro e um modo de chegar a isso é fazer o produto crescer. Se a economia se recupera, gerando mais empregos, criamos acesso a planos de saúde corporativos – e isso libera o SUS para atender à grande parte da população que de fato precisa.

Acha que telemedicina vai revolucionar a saúde?

Já vem revolucionando. Nós estamos atrasados nisso, demorarmos demais para regulamentá-la. Dos pacientes que experimentam a telemedicina, 70% deles repetem a experiência em 60 dias. Estou seguro de que precisamos, sim, investir nela nos próximos anos.

Muita gente entende que o médico deve nos examinar pessoalmente. Esse contato direto não faria falta?

Quando falamos de telemedicina não significa que seja a forma exclusiva de atendimento, que você não vai ao médico, que ele não vai te apalpar. Mas hoje há como examinar um paciente à distância. Outra coisa é que as novas gerações têm expectativa diferente da relação com outros seres humanos. São novos tempos mas isso não significa desumanizar, e sim preservar o tempo do médico e a relação presencial quando for de fato necessária.

Sobre a vacinação no País, qual o seu balanço hoje?

Assistimos, nos últimos dois anos atos de desestímulo de pessoas importantes que, por seu poder de penetração, mudaram o entendimento da população a respeito dela. Nós que trabalhamos com a saúde temos a obrigação de exigir das lideranças um comportamento diferente. Fazer campanhas, recolocar o Brasil na posição de 4 ou 5 anos atrás.

E como vê o papel da iniciativa privada nessa tarefa?

Temos as complicações da covid, muito paciente com insuficiência renal, cardíaca, pulmonar. É preciso agilizar, diminuir as filas. E convocar, sim, a iniciativa privada, para essa mobilização nacional. E o governo terá de priorizar a alocação de recursos para isso. A gente tem ociosidade na área privada. Dá pra discutir essa assistência, criar unidades avançadas. E com isso o complexo da saúde pode levar a uma grande geração de empregos. Ninguém está dizendo pra deixar de ter controle social ou transparência. O Einstein já faz isso, outros hospitais também, como o Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa – todos com a Prefeitura de São Paulo. Temos de entrar no novo ano acreditando. Eu prefiro acreditar que vai dar certo.

Foi por gostar, desde cedo, de relacionamento humano que o paulistano Claudio Lottenberg decidiu ser médico. “Minha vida é muito relacional, mesmo na área de gestão”, explica. E optou pela oftalmologia “porque é maravilhoso devolver a visão às pessoas”. Hoje, ele preside o Instituto Coalizão Saúde. Foi por 15 anos presidente do Hospital Albert Einstein e há seis preside o conselho da instituição.

Formado em oftalmologia na Escola Paulista de Medicina, Lottenberg especializou-se em Urgências Oftalmológicas pelo Manhattan Eye Ear & Throat Hospital, em Nova York, em 1989 – e arrumou tempo, durante a prefeitura de José Serra, para ser seu secretário da Saúde.

De olho na virada de governo, em janeiro de 2023, ele faz, nesta conversa com Cenários, uma advertência: “Se o País não encontrar recursos financeiros, não conseguirá fazer o mínimo necessário nas ações básicas da saúde”. E como isso vai exigir investimentos, é preciso achar uma forma de “buscar recursos dentro da iniciativa privada”. Assim como se leva dinheiro “para infraestrutura, para estradas, ferrovias”, o raciocínio “serve também para a área da saúde”, adverte. Para tanto, o governo precisa ter responsabilidade, recuperar a credibilidade e “ser ousado, trazer a iniciativa privada para investir e ter retorno de seus investimentos”. A seguir, os principais trechos da conversa.

O médico Claudio Lottenberg, que preside o conselho do Hospital Albert Einstein Foto: Divulgação

Como vê hoje o futuro da saúde no Brasil?

A saúde é um desafio permanente. De um lado temos o aumento da expectativa de vida das pessoas e de outro lado a sustentação de um sistema que incrementa tecnologia sistematicamente sem subtrair outros tipos de tecnologia, pela forma de remuneração. É um desafio enorme não só no Brasil como no mundo inteiro. O sistema inglês, por exemplo, tem uma alocação de recursos muito maior que o nosso – e também enormes filas e gente aguardando procedimentos neste pós-covid. Por aqui o SUS caminhou bem e, apesar do enorme número de mortes, mostrou resiliência. E existe aí uma perspectiva de mudança via transformação digital.

Como seria essa mudança?

Ela passa tanto por processos gerenciais quanto pela experiência digital dos pacientes, que querem contato pessoal com o médico mesmo em assuntos não tão relevantes. Daí os hospitais ficam lotados e é difícil fazer a fila andar. A experiência digital pode trazer a oportunidade fundamental de levar a saúde a cada brasileiro.

Acha irreal imaginarmos um SUS forte e sólido?

Não acho. Primeiro temos a questão do subfinanciamento. O País gasta 9,5% de seu PIB em saúde. O problema é que, disso, 3,5% a 4% vão para 150 milhões de pessoas, via SUS. Há uma desproporção grande entre o que se gasta per capita no financiamento público e no privado. Precisamos de mais dinheiro e um modo de chegar a isso é fazer o produto crescer. Se a economia se recupera, gerando mais empregos, criamos acesso a planos de saúde corporativos – e isso libera o SUS para atender à grande parte da população que de fato precisa.

Acha que telemedicina vai revolucionar a saúde?

Já vem revolucionando. Nós estamos atrasados nisso, demorarmos demais para regulamentá-la. Dos pacientes que experimentam a telemedicina, 70% deles repetem a experiência em 60 dias. Estou seguro de que precisamos, sim, investir nela nos próximos anos.

Muita gente entende que o médico deve nos examinar pessoalmente. Esse contato direto não faria falta?

Quando falamos de telemedicina não significa que seja a forma exclusiva de atendimento, que você não vai ao médico, que ele não vai te apalpar. Mas hoje há como examinar um paciente à distância. Outra coisa é que as novas gerações têm expectativa diferente da relação com outros seres humanos. São novos tempos mas isso não significa desumanizar, e sim preservar o tempo do médico e a relação presencial quando for de fato necessária.

Sobre a vacinação no País, qual o seu balanço hoje?

Assistimos, nos últimos dois anos atos de desestímulo de pessoas importantes que, por seu poder de penetração, mudaram o entendimento da população a respeito dela. Nós que trabalhamos com a saúde temos a obrigação de exigir das lideranças um comportamento diferente. Fazer campanhas, recolocar o Brasil na posição de 4 ou 5 anos atrás.

E como vê o papel da iniciativa privada nessa tarefa?

Temos as complicações da covid, muito paciente com insuficiência renal, cardíaca, pulmonar. É preciso agilizar, diminuir as filas. E convocar, sim, a iniciativa privada, para essa mobilização nacional. E o governo terá de priorizar a alocação de recursos para isso. A gente tem ociosidade na área privada. Dá pra discutir essa assistência, criar unidades avançadas. E com isso o complexo da saúde pode levar a uma grande geração de empregos. Ninguém está dizendo pra deixar de ter controle social ou transparência. O Einstein já faz isso, outros hospitais também, como o Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa – todos com a Prefeitura de São Paulo. Temos de entrar no novo ano acreditando. Eu prefiro acreditar que vai dar certo.

Foi por gostar, desde cedo, de relacionamento humano que o paulistano Claudio Lottenberg decidiu ser médico. “Minha vida é muito relacional, mesmo na área de gestão”, explica. E optou pela oftalmologia “porque é maravilhoso devolver a visão às pessoas”. Hoje, ele preside o Instituto Coalizão Saúde. Foi por 15 anos presidente do Hospital Albert Einstein e há seis preside o conselho da instituição.

Formado em oftalmologia na Escola Paulista de Medicina, Lottenberg especializou-se em Urgências Oftalmológicas pelo Manhattan Eye Ear & Throat Hospital, em Nova York, em 1989 – e arrumou tempo, durante a prefeitura de José Serra, para ser seu secretário da Saúde.

De olho na virada de governo, em janeiro de 2023, ele faz, nesta conversa com Cenários, uma advertência: “Se o País não encontrar recursos financeiros, não conseguirá fazer o mínimo necessário nas ações básicas da saúde”. E como isso vai exigir investimentos, é preciso achar uma forma de “buscar recursos dentro da iniciativa privada”. Assim como se leva dinheiro “para infraestrutura, para estradas, ferrovias”, o raciocínio “serve também para a área da saúde”, adverte. Para tanto, o governo precisa ter responsabilidade, recuperar a credibilidade e “ser ousado, trazer a iniciativa privada para investir e ter retorno de seus investimentos”. A seguir, os principais trechos da conversa.

O médico Claudio Lottenberg, que preside o conselho do Hospital Albert Einstein Foto: Divulgação

Como vê hoje o futuro da saúde no Brasil?

A saúde é um desafio permanente. De um lado temos o aumento da expectativa de vida das pessoas e de outro lado a sustentação de um sistema que incrementa tecnologia sistematicamente sem subtrair outros tipos de tecnologia, pela forma de remuneração. É um desafio enorme não só no Brasil como no mundo inteiro. O sistema inglês, por exemplo, tem uma alocação de recursos muito maior que o nosso – e também enormes filas e gente aguardando procedimentos neste pós-covid. Por aqui o SUS caminhou bem e, apesar do enorme número de mortes, mostrou resiliência. E existe aí uma perspectiva de mudança via transformação digital.

Como seria essa mudança?

Ela passa tanto por processos gerenciais quanto pela experiência digital dos pacientes, que querem contato pessoal com o médico mesmo em assuntos não tão relevantes. Daí os hospitais ficam lotados e é difícil fazer a fila andar. A experiência digital pode trazer a oportunidade fundamental de levar a saúde a cada brasileiro.

Acha irreal imaginarmos um SUS forte e sólido?

Não acho. Primeiro temos a questão do subfinanciamento. O País gasta 9,5% de seu PIB em saúde. O problema é que, disso, 3,5% a 4% vão para 150 milhões de pessoas, via SUS. Há uma desproporção grande entre o que se gasta per capita no financiamento público e no privado. Precisamos de mais dinheiro e um modo de chegar a isso é fazer o produto crescer. Se a economia se recupera, gerando mais empregos, criamos acesso a planos de saúde corporativos – e isso libera o SUS para atender à grande parte da população que de fato precisa.

Acha que telemedicina vai revolucionar a saúde?

Já vem revolucionando. Nós estamos atrasados nisso, demorarmos demais para regulamentá-la. Dos pacientes que experimentam a telemedicina, 70% deles repetem a experiência em 60 dias. Estou seguro de que precisamos, sim, investir nela nos próximos anos.

Muita gente entende que o médico deve nos examinar pessoalmente. Esse contato direto não faria falta?

Quando falamos de telemedicina não significa que seja a forma exclusiva de atendimento, que você não vai ao médico, que ele não vai te apalpar. Mas hoje há como examinar um paciente à distância. Outra coisa é que as novas gerações têm expectativa diferente da relação com outros seres humanos. São novos tempos mas isso não significa desumanizar, e sim preservar o tempo do médico e a relação presencial quando for de fato necessária.

Sobre a vacinação no País, qual o seu balanço hoje?

Assistimos, nos últimos dois anos atos de desestímulo de pessoas importantes que, por seu poder de penetração, mudaram o entendimento da população a respeito dela. Nós que trabalhamos com a saúde temos a obrigação de exigir das lideranças um comportamento diferente. Fazer campanhas, recolocar o Brasil na posição de 4 ou 5 anos atrás.

E como vê o papel da iniciativa privada nessa tarefa?

Temos as complicações da covid, muito paciente com insuficiência renal, cardíaca, pulmonar. É preciso agilizar, diminuir as filas. E convocar, sim, a iniciativa privada, para essa mobilização nacional. E o governo terá de priorizar a alocação de recursos para isso. A gente tem ociosidade na área privada. Dá pra discutir essa assistência, criar unidades avançadas. E com isso o complexo da saúde pode levar a uma grande geração de empregos. Ninguém está dizendo pra deixar de ter controle social ou transparência. O Einstein já faz isso, outros hospitais também, como o Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa – todos com a Prefeitura de São Paulo. Temos de entrar no novo ano acreditando. Eu prefiro acreditar que vai dar certo.

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