Acionistas minoritários do Grupo TIM (antiga Telecom Italia, dona da TIM Brasil) encaminharam ao conselho de administração uma carta na sexta-feira, 27, pedindo a mudança completa no plano de reestruturação da companhia, baseada na venda de redes de telecomunicações na Itália para o pagamento de uma dívida gigantesca de 26 bilhões de euros. A infraestrutura de telecomunicações é vista na Itália como um ativo importante, que gera empregos e investimentos, de modo que a sua venda para estrangeiros é um tema controverso. Em vez disso, os acionistas sugerem a venda da TIM Brasil para equilibrar as contas.
O movimento é encabeçado pela Merlyn Advisors e RN Capital Partners (gestoras de recursos com sede em Londres e Milão, respectivamente), que detêm menos de 3% das ações do Grupo TIM por meio de fundos. Eles se reuniram sob um consórcio batizado de “TIM Value”. Na carta - à qual a Coluna do Broadcast teve acesso - eles também querem a substituição do presidente do Grupo TIM, Pietro Labriola, ex-CEO da unidade brasileira e responsável pelo plano de venda de ativos em andamento. Em seu lugar entraria Stefano Siragusa, sócio-diretor da RN Capital Partners.
O plano de Labriola prevê a demissão de milhares de funcionários e a venda da Netco, unidade de negócios que abriga os braços de infraestrutura de fibra ótica (Fibercop) e de conectividade para empresas (Sparkle). Os ativos atraíram o interesse do fundo norte-americano KKR e de um consórcio formado pelo Cassa Depositi e Prestiti (CDP, banco estatal italiano) e a Macquarie. O KKR largou na frente nessa disputa, obtendo o direito de negociar com exclusividade. As conversas foram iniciadas há meses e caminhavam para a reta final.
Por sua vez, Merlyn e RN Capital são contra a venda da Netco, descrita como um ativo que é “italiano há anos” e que “foi construído com as economias e sacrifícios dos italianos”. Na sua avaliação, seria possível criar uma grande rede nacional de telecomunicações, focada em infraestrutura para digitalização e inovação, tendo o CDP como acionista de referência, ou seja, com o governo italiano à frente do negócio. O Grupo TIM é controlado pela francesa Vivendi (23,8%), mas o governo italiano segue no quadro de acionistas por meio do CDP (9,8%).
Acionistas afirmam que operação no Brasil não é prioridade
A amortização da dívida aí ficaria por conta da venda dos braços de negócios que prestam os serviços de telecom para os consumidores finais de internet. É aí que entra a TIM Brasil. Na carta, os acionistas admitem que a TIM Brasil é um ativo valioso, dá lucro, gera caixa e “possivelmente tem mantido o grupo líquido” nos últimos anos. Por outro lado, afirmam que a operação brasileira não é prioritária. “A venda da TIM Brasil, no preço certo, vai ser uma ferramenta importante para a transformação do grupo”, argumentam.
A discussão sobre uma potencial venda da TIM Brasil já vem sendo ventilada há algum tempo na Itália. Alguns membros da coalizão de partidos de direita e extrema direita que elegeram a primeira-ministra Giorgia Meloni ano passado já haviam levantando essa proposta, de tom nacionalista, sob a justificativa de evitar a venda das empresas locais e preservar os empregos.
Os acionistas afirmam ainda que, caso o conselho do grupo não tome providências, vão buscar aumentar a sua participação de 3% para 5%, o que lhes daria poder para convocar uma assembleia e deliberar sobre o caso com os demais acionistas.
O Grupo TIM confirmou, em comunicado dia 28, que recebeu a correspondência dos acionistas e que submeterá o documento ao conselho de administração, que se reunirá no dia 3 de novembro. No entanto, reiterou que o projeto de venda da NetCo segue em andamento, já tendo sido aprovado por unanimidade pelo conselho e devidamente apresentado aos investidores e analistas em reunião pública de julho do ano passado.
Vale observar que uma eventual venda da TIM Brasil não seria tarefa fácil. A empresa tem valor de mercado de R$ 36 bilhões (67% nas mãos da matriz). Esse tamanho de cheque limitaria muito os candidatos a uma aquisição. Além disso, o mercado brasileiro de telecomunicações já passou por uma grande concentração após a saída da Oi da internet móvel sobrando apenas TIM, Vivo e Claro no segmento. Dificilmente Vivo e Claro teriam permissão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para fatiar a TIM.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 30/10/23, às 19h30.
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