O mercado trilionário de gestão de recursos brasileiro passa por um movimento de consolidação, com empresas de investimentos comprando umas às outras ou se associando a bancos. Só este ano, já ocorreram 41 fusões e aquisições envolvendo gestoras ou assessorias de investimentos, isso depois de outras 53 operações do tipo no ano passado, de acordo com levantamento da consultoria Kroll feito a pedido do Broadcast. Não há indicações de perda de fôlego no ritmo dessas transações que, na avaliação de gestores veteranos ouvidos pelo Broadcast, continuam a acontecer.
Há no Brasil perto de mil gestoras, carregando R$ 9,2 trilhões em ativos, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Esse número é reflexo da popularização dos investimentos no País, puxado por plataformas. No momento, duas gestoras estão procurando sócios, a HSI e a RBR Asset, em processos que têm atraído vários interessados, de acordo com fontes.
Mas não as únicas. O executivo à frente de uma grande gestora contou, em condição de anonimato, que praticamente toda semana é procurado por uma empresa de investimentos menor, que busca algum tipo de sociedade para atravessar o ambiente de mercado que acabou se tornando de crescimento desafiador, em meio ao juro de dois dígitos.
Compradores têm grande porte
Na ponta compradora, estão nomes como o Pátria, Vinci, Kinea e XP, além de bancos, como BTG. Ou seja, casas que superam fácil os R$ 100 bilhões em ativos. Só o Pátria fez dois movimentos recentes: concluiu a compra da gestora de fundos imobiliários que pertencia ao banco Credit Suisse, e comprou os 50% restantes da VBI Real Estate, dando continuidade a um primeiro movimento feito em 2022, onde havia adquirido metade da gestora para reforçar a atuação em fundos imobiliários. A própria compra da gestora do Credit pelo Pátria, por R$ 650 milhões, nas palavras de um gestor, saiu com múltiplos bem atrativos e animou outras gestoras a tentarem se vender, observa um gestor.
Na ponta vendedora, estão gestoras independentes pequenas e médias, com patrimônio na casa dos R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões, que precisam de um sócio financeiramente mais poderoso, para conseguir, por exemplo, mais canais amplos de distribuição de fundos. Em outros casos, são empresas muito focadas em um segmento, como o imobiliário, caso da HSI e da RBR, ou multimercados, que precisam avançar em outras áreas para diversificar receita e não ficarem dependentes de um único nicho de mercado.
Entre os negócios recentes, a Reag comprou a gestora Empírica, em junho, chegando naquele momento a R$ 25 bilhões em ativos. Um mês depois, anunciou a compra de 25% da Confrapar, focada em fundos de private equity (que compram participações em empresas). Já a Vinci anunciou a incorporação da norte-americana Compass, triplicando de tamanho na América Latina, chegando a mais de R$ 280 bilhões em ativos. Em outra operação, anunciada em julho, os escritórios de assessores de investimentos ligados a XP, Storia Capital e Knox Capital, anunciaram a fusão de suas operações.
Alinhamento de cultura
“Acho que essas casas independentes buscam muito entrar em uma plataforma para crescer mais do que conseguem sozinhas”, comenta o sócio, fundador e CEO da Kinea Investimentos, Marcio Verri. “Todas essas oportunidades passam por nós”, disse. Para o veterano gestor, ao fazer uma aquisição, um dos primeiros passos é ver se a gestora a ser comprada tem uma cultura alinhada com a da Kinea. Depois vem a questão financeira. “Já fomos até fases finais de aquisição e acabamos não fazendo”, disse ele.
Para o sócio da Kinea, com R$ 140 bilhões em ativos, algumas independentes vão preferir continuar sendo assim, mas outras vão buscar se transformar em plataformas, com diferentes tipos de fundos. Para isso, vão precisar fazer aquisições ou se associar com outras partes, como fizeram nomes como Kinea, Pátria e Reag. “Acho que o movimento de consolidação continua.”
Uma gestora com diversos produtos, observa Verri, tem uma capacidade muito maior de conversar com outros participantes do mercado, como os distribuidores, outras gestoras ou áreas de alta renda de bancos, do que uma gestora com um único produto. “Ao invés de nosso gestor se preocupar com uma série de assuntos, ele só se preocupara só com a gestão”, afirma ele.
Vocação para consolidação
O sócio do Pátria Investimentos, José Teixeira, conta que a gestora, com R$ 230 bilhões em recursos, tem vocação para consolidar o setor de fundos e sempre avalia oportunidades. Ele ressalta que o momento mais difícil do mercado, com multimercados e fundos de ações perdendo bilhões em recursos, coloca um desafio adicional para as empresas independentes, enquanto a renda fixa, que tem atraído mais aplicações nos últimos meses, é dominada por bancos.
“As gestoras independentes precisam se fortalecer com uma combinação de negócios”, conta o executivo do Pátria. Só os fundos multimercados, foco de muitas gestoras independentes, perderam R$ 279 bilhões em aplicações nos últimos 12 meses, até agosto, dos quais R$ 40 bilhões só no mês passado, segundo dados da Anbima.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 11/09/2024, às 15h22.
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