A ATG, empresa da gestora de recursos Mubadala Capital, de Abu Dhabi, está conversando com grandes investidores institucionais no exterior e no Brasil para garantir liquidez à sua bolsa de valores mobiliários, concorrente da B3 e que deve estar operando a partir do segundo semestre de 2025. Como contrapartida, esses agentes - a maioria grandes bancos e empresas de tecnologia especializadas em transações de alta frequência - terão acesso a uma participação acionária na bolsa.
“Vários acordos de confidencialidade foram firmados e neste momento estes investidores institucionais estão recebendo informações sobre nosso projeto”, disse o presidente da ATG, Claudio Pracownick com exclusividade à Coluna do Broadcast. “O passo seguinte, será o Mubadala definir quanto será a participação colocada à disposição destes investidores”, acrescenta.
A Mubadala Capital, que tem entre seus principais investidores o fundo soberano de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, adquiriu em 2023 pouco mais de 70% da ATG, dando início ao processo de constituição de uma segunda bolsa no Brasil. Os cerca de 30% restantes estão em um fundo de investimento em participações (FIP) sob gestão da Angra Partners e atuais executivos da ATG, no modelo de partnership.
O FIP, que tem 27% da ATG, tem como principais cotistas os fundos de pensão Postalis, dos Correios, e Serpros, do Serviço Federal de Processamento de Dados, além da própria Mubadala.
Definição até o final do ano
“Até o final do ano, devemos ter uma definição sobre quais e quantos serão os liquidity partners - como estamos chamando esses parceiros”, afirma Pracownick. O executivo diz haver muitos interessados e observa que a volatilidade macroeconômica não é um empecilho. “Há excesso de liquidez lá fora”, nota. Ele diz, inclusive, que algumas dessas instituições já se dispuseram a participar da fase de testes de verificação, que devem durar seis meses, conforme a regulação, e acontecem depois da aprovação do projeto.
A ATG entrou com pedido de registro da ATS, sua subsidiária para operar bolsa, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e da ACS, outra subsidiária, como clearing, responsável pela compensação e liquidação das ordens, no Banco Central. “Meu compromisso é ter a bolsa pronta, tecnologicamente falando”, afirma. Depois disso, serão seis meses para os testes de verificação dos órgãos reguladores e mais seis para abrir efetivamente a bolsa. “Por isso, a previsão de início de operação ao final de 2025″, acrescentou.
O serviço de custódia será prestado pela B3, mediante contrato assinado, fruto de uma disputa de anos em câmaras de arbitragem e de mediação, após a ATG entrar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) com alegação de monopólio na fusão entre BM&FBovespa e Cetip, em 2017.
Andamento
Novos nomes devem ser anunciados nos próximos meses para a holding ATG e as duas empresas, que estão com seus respectivos projetos parados há mais de dez anos. Também não está definida onde será a sede física da bolsa, para eventuais eventos e “toque do sino”.
A ATG é uma empresa de tecnologia que tem uma plataforma de ordens “as a service”, conectando instituições financeiras e bancos à B3. De acordo com Pracownick, 10% das ordens que chegam à B3 passam pelos “dutos” da ATG, por meio de 320 gestoras de investimento e 52 corretoras.
O projeto prevê que a bolsa opere em sua primeira fase os mercados à vista de ações, de derivativos e cotas de fundos de renda variável. A ATG não pretende entrar, nesse primeiro momento, no mercado de renda fixa.
Relação com a B3
Embora ATG e B3 tenham brigado ao longo de vários anos, o CEO, que chegou ao grupo pelas mãos da Mubadala, suavizou o tom em relação à B3, especialmente porque reconhece que terão de trabalhar juntos. “Se tenho de suspender um participante por fraude, temos de nos comunicar, não podemos ser inimigos”, diz.
Pracownick fez questão ainda de desvincular o projeto da ATG da imagem de uma concorrência frontal com a B3 e de uma guerra de preços. “Não se trata puramente de uma guerra de preço, custo de operação mais baixo é consequência de eficiência”, afirma.
Ele lembra que o Brasil é um dos poucos mercados que têm somente uma bolsa e sua tese é de que mais bolsas ampliam a liquidez para todas. “Nosso business plan não é roubar clientes da B3, mas aumentar o volume de negócios no mercado brasileiro, o que vai ser bom para a B3 também”, afirma.
Segundo Pracownick, os investidores institucionais estrangeiros têm um limite menor para negociar no Brasil frente a países que tem mais de uma bolsa, dada a concentração de risco por aqui. Já operações feitas pelos High Frequency Traders, robôs que operam transações em alta frequência, têm mais valor quando é possível arbitrar entre duas bolsas.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 05/06/24, às 16h17
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