Bastidores do mundo dos negócios

Bancos médios querem simplificação em portabilidade de salário para diminuir recusas


Instituições querem contornar vantagem dos grandes bancos na gestão de folhas de pagamento

Por Matheus Piovesana e Cícero Cotrim
ABBC afirma que dispensa de pedido do CNPJ do empregador ajudaria a reduzir recusas de portabilidade. Foto: JF Diorio/Estadão

Bancos de médio porte e fintechs apresentaram à registradora Nuclea uma proposta de ajuste na portabilidade de conta salário, e esperam ter o apoio dos grandes bancos para que as mudanças sejam implementadas. As instituições querem ganhar competitividade junto aos clientes que entram nos bancos via folhas de pagamento, instrumento que ainda é chave para garantir a fidelidade do público.

Neste mês, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa instituições de médio e pequenos portes e algumas fintechs, enviou à Nuclea um documento com sugestões que poderiam ser implementadas sem a necessidade de aprovação pelo Banco Central.

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Uma das sugestões do documento, ao qual à Coluna teve acesso, é que as solicitações deixem de exigir do cliente o CNPJ do empregador. Segundo a ABBC, de cada dez recusas de portabilidade, seis estão relacionadas a divergências no número do CNPJ. Como alternativa, a ABBC sugere que os bancos validem o pedido apenas com os oito primeiros dígitos do CNPJ.

A ABBC pede ainda que se analise as recusas relacionadas ao motivo “CPF não encontrado”. De acordo com a entidade, como o banco original e o que busca “ganhar” a conta têm acesso aos dados do cliente, este fator não deveria ter o peso que tem hoje no total de recusas de portabilidade.

As instituições também sugerem que os motivos de recusa de portabilidade sejam padronizados, com a criação de um manual pela Nuclea. Além disso, propõem que o prazo para que os pedidos sejam analisados caia de dez dias úteis para cinco, sob o argumento de que o atual prazo não é compatível com as possibilidades de transferência instantânea de recursos existentes no País.

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A Nuclea, uma sociedade entre dezenas de bancos, é a responsável por registrar e processar os pedidos de portabilidade de crédito. Os bancos de menor porte consideram que o processo atual é burocrático e que a falta de um padrão não apenas impede que mais pedidos de mudança de banco sejam aceitos como também dificulta a solução de problemas.

Um dos pedidos que as instituições fazem à empresa é que os relatórios e apresentações sobre a portabilidade sejam disponibilizados no site da Nuclea. Hoje, estes dados ficam restritos às instituições financeiras.

Por meio de nota, a Nuclea disse que “a portabilidade de conta-salário é autorregulada e depende da aprovação do mercado para a implementação de melhorias ou ajustes sistêmicos. “A fim de evoluir constantemente e prover a melhor experiência para o solicitante da portabilidade de conta-salário, a Núclea promove conversas regulares com o mercado e todos os entes do setor financeiro, incluindo a ABBC e a Febraban.”

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A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, por meio de nota, que entende que “toda evolução sistêmica e operacional que traga maior benefício e transparência ao cliente é importante”, mas ressaltou que é necessário ter cuidado para não expor os clientes a fraudes ou golpes. “A proposta da ABBC à Nuclea visa reduzir as recusas por erros de preenchimento, simplificando o preenchimento dos dados da fonte pagadora, exigindo apenas o CNPJ raiz da fonte pagadora ao invés do CNPJ completo”, disse a entidade.

Demanda das fintechs por nova portabilidade é antiga

A demanda das fintechs por mudanças na portabilidade de salário é antiga. Em paralelo ao pedido feito pela ABBC, entidades como a Zetta, que representa o Nubank, buscam junto ao BC mudanças como a portabilidade através das transferências inteligentes via Pix, já em implementação dentro do Open Finance desde meados de abril. Um dos avanços já obtidos foi a inclusão dos dados dos empregadores, que permitiu o preenchimento automático das informações, o que eliminou inconsistências que antes levavam à rejeição de pedidos.

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A portabilidade de salário é vista por essas instituições como uma forma de contornar uma das vantagens dos bancos tradicionais, que é a gestão das folhas de pagamento das empresas. Ao deterem as contas pelas quais as empresas pagam seus funcionários, os bancos conseguem capturar receitas com as transações que estes clientes fazem. E têm acesso a depósitos de custo zero através das contas correntes, o que cria um financiamento barato à concessão de crédito.

Segundo a Zetta, as transferências inteligentes - que funcionam como uma automação de movimentações via Pix - viabilizaram a portabilidade na prática, já que seria possível programar transferências da conta onde se recebe o salário para uma conta em outra instituição.

O problema é que, hoje, contas-salário não podem ser movimentadas por Pix e, portanto, ficariam fora das transações inteligentes. Para avançar nesse tema, é necessário fazer mudanças na resolução número 5.058, do Conselho Monetário Nacional (CMN), que disciplina o funcionamento desse tipo de conta.

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“A primeira etapa seria as transferências inteligentes estarem funcionando super bem e o segundo ponto, mais importante, é um pequeno ajuste regulatório. Aí, conseguiríamos fazer a portabilidade de salários na prática”, diz o presidente da Zetta, Eduardo Lopes. “Do ponto de vista técnico, o ajuste de permitir que a conta-salário seja movimentada via Pix tem um desenvolvimento baixo”, completa Letícia Novaes, advogada da entidade.

Procurados, o Banco Central e a ABBC não responderam até o fechamento desta reportagem.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 30/07/24, às 16h55.

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ABBC afirma que dispensa de pedido do CNPJ do empregador ajudaria a reduzir recusas de portabilidade. Foto: JF Diorio/Estadão

Bancos de médio porte e fintechs apresentaram à registradora Nuclea uma proposta de ajuste na portabilidade de conta salário, e esperam ter o apoio dos grandes bancos para que as mudanças sejam implementadas. As instituições querem ganhar competitividade junto aos clientes que entram nos bancos via folhas de pagamento, instrumento que ainda é chave para garantir a fidelidade do público.

Neste mês, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa instituições de médio e pequenos portes e algumas fintechs, enviou à Nuclea um documento com sugestões que poderiam ser implementadas sem a necessidade de aprovação pelo Banco Central.

Uma das sugestões do documento, ao qual à Coluna teve acesso, é que as solicitações deixem de exigir do cliente o CNPJ do empregador. Segundo a ABBC, de cada dez recusas de portabilidade, seis estão relacionadas a divergências no número do CNPJ. Como alternativa, a ABBC sugere que os bancos validem o pedido apenas com os oito primeiros dígitos do CNPJ.

A ABBC pede ainda que se analise as recusas relacionadas ao motivo “CPF não encontrado”. De acordo com a entidade, como o banco original e o que busca “ganhar” a conta têm acesso aos dados do cliente, este fator não deveria ter o peso que tem hoje no total de recusas de portabilidade.

As instituições também sugerem que os motivos de recusa de portabilidade sejam padronizados, com a criação de um manual pela Nuclea. Além disso, propõem que o prazo para que os pedidos sejam analisados caia de dez dias úteis para cinco, sob o argumento de que o atual prazo não é compatível com as possibilidades de transferência instantânea de recursos existentes no País.

A Nuclea, uma sociedade entre dezenas de bancos, é a responsável por registrar e processar os pedidos de portabilidade de crédito. Os bancos de menor porte consideram que o processo atual é burocrático e que a falta de um padrão não apenas impede que mais pedidos de mudança de banco sejam aceitos como também dificulta a solução de problemas.

Um dos pedidos que as instituições fazem à empresa é que os relatórios e apresentações sobre a portabilidade sejam disponibilizados no site da Nuclea. Hoje, estes dados ficam restritos às instituições financeiras.

Por meio de nota, a Nuclea disse que “a portabilidade de conta-salário é autorregulada e depende da aprovação do mercado para a implementação de melhorias ou ajustes sistêmicos. “A fim de evoluir constantemente e prover a melhor experiência para o solicitante da portabilidade de conta-salário, a Núclea promove conversas regulares com o mercado e todos os entes do setor financeiro, incluindo a ABBC e a Febraban.”

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, por meio de nota, que entende que “toda evolução sistêmica e operacional que traga maior benefício e transparência ao cliente é importante”, mas ressaltou que é necessário ter cuidado para não expor os clientes a fraudes ou golpes. “A proposta da ABBC à Nuclea visa reduzir as recusas por erros de preenchimento, simplificando o preenchimento dos dados da fonte pagadora, exigindo apenas o CNPJ raiz da fonte pagadora ao invés do CNPJ completo”, disse a entidade.

Demanda das fintechs por nova portabilidade é antiga

A demanda das fintechs por mudanças na portabilidade de salário é antiga. Em paralelo ao pedido feito pela ABBC, entidades como a Zetta, que representa o Nubank, buscam junto ao BC mudanças como a portabilidade através das transferências inteligentes via Pix, já em implementação dentro do Open Finance desde meados de abril. Um dos avanços já obtidos foi a inclusão dos dados dos empregadores, que permitiu o preenchimento automático das informações, o que eliminou inconsistências que antes levavam à rejeição de pedidos.

A portabilidade de salário é vista por essas instituições como uma forma de contornar uma das vantagens dos bancos tradicionais, que é a gestão das folhas de pagamento das empresas. Ao deterem as contas pelas quais as empresas pagam seus funcionários, os bancos conseguem capturar receitas com as transações que estes clientes fazem. E têm acesso a depósitos de custo zero através das contas correntes, o que cria um financiamento barato à concessão de crédito.

Segundo a Zetta, as transferências inteligentes - que funcionam como uma automação de movimentações via Pix - viabilizaram a portabilidade na prática, já que seria possível programar transferências da conta onde se recebe o salário para uma conta em outra instituição.

O problema é que, hoje, contas-salário não podem ser movimentadas por Pix e, portanto, ficariam fora das transações inteligentes. Para avançar nesse tema, é necessário fazer mudanças na resolução número 5.058, do Conselho Monetário Nacional (CMN), que disciplina o funcionamento desse tipo de conta.

“A primeira etapa seria as transferências inteligentes estarem funcionando super bem e o segundo ponto, mais importante, é um pequeno ajuste regulatório. Aí, conseguiríamos fazer a portabilidade de salários na prática”, diz o presidente da Zetta, Eduardo Lopes. “Do ponto de vista técnico, o ajuste de permitir que a conta-salário seja movimentada via Pix tem um desenvolvimento baixo”, completa Letícia Novaes, advogada da entidade.

Procurados, o Banco Central e a ABBC não responderam até o fechamento desta reportagem.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 30/07/24, às 16h55.

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ABBC afirma que dispensa de pedido do CNPJ do empregador ajudaria a reduzir recusas de portabilidade. Foto: JF Diorio/Estadão

Bancos de médio porte e fintechs apresentaram à registradora Nuclea uma proposta de ajuste na portabilidade de conta salário, e esperam ter o apoio dos grandes bancos para que as mudanças sejam implementadas. As instituições querem ganhar competitividade junto aos clientes que entram nos bancos via folhas de pagamento, instrumento que ainda é chave para garantir a fidelidade do público.

Neste mês, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa instituições de médio e pequenos portes e algumas fintechs, enviou à Nuclea um documento com sugestões que poderiam ser implementadas sem a necessidade de aprovação pelo Banco Central.

Uma das sugestões do documento, ao qual à Coluna teve acesso, é que as solicitações deixem de exigir do cliente o CNPJ do empregador. Segundo a ABBC, de cada dez recusas de portabilidade, seis estão relacionadas a divergências no número do CNPJ. Como alternativa, a ABBC sugere que os bancos validem o pedido apenas com os oito primeiros dígitos do CNPJ.

A ABBC pede ainda que se analise as recusas relacionadas ao motivo “CPF não encontrado”. De acordo com a entidade, como o banco original e o que busca “ganhar” a conta têm acesso aos dados do cliente, este fator não deveria ter o peso que tem hoje no total de recusas de portabilidade.

As instituições também sugerem que os motivos de recusa de portabilidade sejam padronizados, com a criação de um manual pela Nuclea. Além disso, propõem que o prazo para que os pedidos sejam analisados caia de dez dias úteis para cinco, sob o argumento de que o atual prazo não é compatível com as possibilidades de transferência instantânea de recursos existentes no País.

A Nuclea, uma sociedade entre dezenas de bancos, é a responsável por registrar e processar os pedidos de portabilidade de crédito. Os bancos de menor porte consideram que o processo atual é burocrático e que a falta de um padrão não apenas impede que mais pedidos de mudança de banco sejam aceitos como também dificulta a solução de problemas.

Um dos pedidos que as instituições fazem à empresa é que os relatórios e apresentações sobre a portabilidade sejam disponibilizados no site da Nuclea. Hoje, estes dados ficam restritos às instituições financeiras.

Por meio de nota, a Nuclea disse que “a portabilidade de conta-salário é autorregulada e depende da aprovação do mercado para a implementação de melhorias ou ajustes sistêmicos. “A fim de evoluir constantemente e prover a melhor experiência para o solicitante da portabilidade de conta-salário, a Núclea promove conversas regulares com o mercado e todos os entes do setor financeiro, incluindo a ABBC e a Febraban.”

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, por meio de nota, que entende que “toda evolução sistêmica e operacional que traga maior benefício e transparência ao cliente é importante”, mas ressaltou que é necessário ter cuidado para não expor os clientes a fraudes ou golpes. “A proposta da ABBC à Nuclea visa reduzir as recusas por erros de preenchimento, simplificando o preenchimento dos dados da fonte pagadora, exigindo apenas o CNPJ raiz da fonte pagadora ao invés do CNPJ completo”, disse a entidade.

Demanda das fintechs por nova portabilidade é antiga

A demanda das fintechs por mudanças na portabilidade de salário é antiga. Em paralelo ao pedido feito pela ABBC, entidades como a Zetta, que representa o Nubank, buscam junto ao BC mudanças como a portabilidade através das transferências inteligentes via Pix, já em implementação dentro do Open Finance desde meados de abril. Um dos avanços já obtidos foi a inclusão dos dados dos empregadores, que permitiu o preenchimento automático das informações, o que eliminou inconsistências que antes levavam à rejeição de pedidos.

A portabilidade de salário é vista por essas instituições como uma forma de contornar uma das vantagens dos bancos tradicionais, que é a gestão das folhas de pagamento das empresas. Ao deterem as contas pelas quais as empresas pagam seus funcionários, os bancos conseguem capturar receitas com as transações que estes clientes fazem. E têm acesso a depósitos de custo zero através das contas correntes, o que cria um financiamento barato à concessão de crédito.

Segundo a Zetta, as transferências inteligentes - que funcionam como uma automação de movimentações via Pix - viabilizaram a portabilidade na prática, já que seria possível programar transferências da conta onde se recebe o salário para uma conta em outra instituição.

O problema é que, hoje, contas-salário não podem ser movimentadas por Pix e, portanto, ficariam fora das transações inteligentes. Para avançar nesse tema, é necessário fazer mudanças na resolução número 5.058, do Conselho Monetário Nacional (CMN), que disciplina o funcionamento desse tipo de conta.

“A primeira etapa seria as transferências inteligentes estarem funcionando super bem e o segundo ponto, mais importante, é um pequeno ajuste regulatório. Aí, conseguiríamos fazer a portabilidade de salários na prática”, diz o presidente da Zetta, Eduardo Lopes. “Do ponto de vista técnico, o ajuste de permitir que a conta-salário seja movimentada via Pix tem um desenvolvimento baixo”, completa Letícia Novaes, advogada da entidade.

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