Um total de R$ 65 bilhões em carteiras de crédito de pessoas físicas e de empresas que deixaram de honrar seus compromissos com o sistema financeiro deve ser colocado à venda neste ano, segundo contas da consultoria Deloitte feitas em sua pesquisa anual sobre esse mercado. O montante é semelhante ao que foi colocado à venda em 2022, porém mostra a crescente disposição de bancos, varejistas e fintechs em desovar créditos que estão vencidos e não foram pagos. Também deixa claro o impacto da expansão do crédito durante a pandemia, além dos efeitos da disparada do juro e da inflação em um curto espaço de tempo na inadimplência.
Frente a 2019, antes da pandemia, o volume de carteiras “podres” colocadas à venda subiu 86%, refletindo um crescimento de 46% nas concessões de crédito pelo sistema, que saiu de R$ 3,5 trilhões em março de 2020 para R$ 5,2 trilhões em outubro de 2022.
Foco de vendas é melhorar balanço
“Cresceu o número de empresas do sistema financeiro que procuraram ceder carteiras com o objetivo de melhorar seus balanços”, afirmou o sócio de consultoria financeira da Deloitte, Ricardo Marin. De acordo com a pesquisa, 52% dos cedentes de carteiras de crédito inadimplente apontaram ser esse o motivo da venda no ano passado, contra 37% em 2021. Também, para 52%, a ideia é alocar melhor os recursos e abrir espaço para a concessão de mais crédito.
Das 22 empresas do sistema financeiro consultadas pela Deloitte que vendem carteira, 20% disseram que ofertaram uma média de 15% a mais de carteiras do que esperavam no ano passado. A maioria delas (90%) tem um faturamento anual entre R$ 1 bilhão e R$ 15 bilhões.
“Estamos em caminho de crescimento importante do mercado de cessão de créditos”, acrescentou. Marin observou que não se trata somente de um contexto macroeconômico, mas da entrada de novos participantes na indústria de cessão de crédito, assim como de investidores que se interessam em comprar esses créditos vencidos.
Investidores esperam gastar R$ 8,4 bilhões nessas compras
Os investidores que adquirem tais carteiras - empresas que pertencem a bancos ou gestoras independentes especializadas - têm elevado suas apostas. Este ano, eles esperam gastar R$ 8,4 bilhões comprando essas carteiras, uma expectativa que supera os mais de R$ 7 bilhões que previam investir em 2022.
Vale lembrar que o montante financeiro investido na compra de carteiras inadimplentes é sempre muito menor do que o volume financeiro do que é ofertado, porque corresponde ao que efetivamente pago. As carteiras são colocadas à venda pelo valor de face, mas por estarem inadimplentes, o investidor compra com desconto.
Com oferta maior, investidor pressiona por desconto
A oferta crescente de carteiras vencidas tem deixado os investidores confortáveis na briga por preço ou, nesse caso, em torno do desconto. De acordo com Marin, algumas empresas que venderam carteira no fim de 2021 acabaram cedendo à pressão dos compradores. Essa tônica deve também perdurar ao longo deste ano, especialmente porque, conforme mostra a pesquisa, vendedores e compradores têm intenções diferentes.
Do lado dos vendedores, 62% tem intenção de despejar mais carteiras de crédito de pessoas físicas sem garantia, como cartão de crédito. Mas na ponta dos investidores, apenas 38% querem investir nessas carteiras. O desejo dos compradores é diversificar para carteiras de pequenas e médias empresas e imobiliárias. No caso das carteiras vencidas de pessoas jurídicas, o foco dos vendedores são empresas em recuperação judicial e dos investidores em casos em que a possibilidade de reaver bens e garantias estejam mapeados.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 09/01/2023, às 13h50
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