A perspectiva de a Bolsa brasileira completar três anos sem qualquer oferta de uma nova empresa (IPO, na sigla em inglês) cresceu recentemente e já se mostra um consenso entre vários banqueiros e gestores de investimento. Nesse grupo estão profissionais que até pouco tempo defendiam a chegada de um novo entrante antes de agosto, mês em que Raízen e Oncoclínicas fizeram as últimas ofertas no mercado brasileiro, em 2021 - depois, só a oferta do Nubank, em dezembro daquele ano, mas que foi feita em Nova York, com dupla listagem na B3.
Agora, quando a pergunta na Faria Lima é “quando será realizado um IPO?”, a maioria torce o nariz, aponta para o segundo semestre e diz que há muita incerteza sobre os juros nos EUA - a queda de juros, que se esperava que fosse começar em maio, agora migrou para setembro - e no Brasil, com a visão de que o Banco Central pode reduzir a intensidade dos cortes, assim como crescentes turbulências geopolíticas no mundo.
A seca de ofertas de ações por aqui se contrapõe a movimentações em outras praças globalmente, como nos Estados Unidos e Europa, onde algumas grandes ofertas voltaram a acontecer. Um exemplo recente de sucesso em Nova York foi o IPO da iBotta, empresa digital bancada pelo Walmart, que oferece produtos como cashback. O papel disparou 27% na estreia, no último dia 18 de abril, após a empresa precificar acima do topo da faixa de preço sugerida, um indicativo da forte demanda, captando US$ 578 milhões. Pouco antes, em março, a plataforma de mídia social Reddit levantou US$ 866 milhões e disparou 48% na estreia, isso após vender suas ações no topo da faixa proposta.
Na Europa, grandes ofertas voltaram acontecer, incluindo a maior do ano no mundo até agora, a do grupo Puig, da Espanha, dona de marcas de perfume como Paco Rabanne e Carolina Herrera e que no Brasil é sócia da Granado. A empresa estreou na bolsa espanhola na última quinta-feira, dia 2, vendendo suas ações no topo da faixa sugerida e movimentando 3 bilhões de euros. O IPO superou o até então maior do ano, o da empresa suíça Galderma, de produtos dermatológicos, de US$ 2,6 bilhões em março, com preço saindo também no topo da faixa.
“Se uma janela de IPO se abrir em 2024 no Brasil será para nomes que têm grande necessidade de capital e o mais provável é que aconteça no final do ano”, disse o CEO no Brasil do canadense Scotiabank, Paulo Bernardo. Para ele, as demais companhias vão aguardar para sentir o apetite do investidor, especialmente o estrangeiro, necessário para dar sustentabilidade às ofertas. O grande concorrente dos IPOs brasileiros nesse momento, avalia o executivo, é o custo de oportunidade, onde o juro alto no exterior e a proximidade de eleições presidenciais nos Estados Unidos, que sempre geram volatilidade, jogam contra. O Scotiabank estava entre os coordenadores do IPO da Raízen, o último a sair antes de a janela se fechar no Brasil.
Enquanto o mercado brasileiro não ganha tração, os banqueiros olham para a bolsa de Nova York e citam que alguns grupos brasileiros podem sair com transações de abertura de capital por lá, como já tem feito algumas empresas da região, como do México e do Peru, que abriram o capital em Nova York nas últimas semanas. “Vai ser uma alternativa para empresas brasileiras, mas não funcionará para todas”, afirma o responsável pela área de mercado de capitais e renda variável do Goldman Sachs Brasil, Fabio Federici.
Entre as candidatas estão aquelas com modelo de negócio global ou pela América Latina ou ainda que tenham uma estratégia de crescer no exterior, como foi a história do Nubank. Recentemente, empresas do Peru e do México conseguiram fazer um IPO em Nova York, sinalizando que há demanda para boas histórias da América Latina
Em 2018, houve uma forte onda de IPOs no exterior e dez empresas brasileiras abriram o capital nas bolsas norte-americanas. Em 2021, outros nomes voltaram a acessar o mercado externo, incluindo o Nubank e a Vtex, grande parte deles com teses relacionadas a tecnologia, que na época era o setor que mais atraía investidores.
Se há ceticismo com IPO no Brasil, ninguém duvida que a privatização da Sabesp, a maior operação em bolsa prevista para este ano, com potencial de movimentar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, será um sucesso. A oferta pode acontecer em julho, conforme o cronograma do governo do Estado de São Paulo, que reduzirá a fatia de 50,3% do governo do Estado para perto de 18%.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 07/05/24, às 10h32.
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