A startup verde Earth Renewable Techonologies (ERT) está dando novos passos em direção ao plano de se consolidar como maior nome da América Latina na transformação do mercado bilionário de plásticos. Uma rodada de R$ 50 milhões, feita junto à XP, ajudará a dobrar os investimentos na fábrica de bioplásticos no Paraná, para um total de R$ 30 milhões. O grupo prepara um movimento de aquisições e traça planos para avançar um degrau na cadeia de produção, com a fabricação no País de um insumo hoje importado, num movimento de verticalização.
A rodada de R$ 50 milhões, feita com clientes da XP Private, deve ser um divisor de águas. A gigante das finanças vê na produtora do plástico biodegradável potencial para repetir trajetória semelhante à do grupo: um pequeno empreendedor com potencial de transformar um mercado com concorrentes gigantes - o plástico verde mobiliza hoje petroquímicas globais, como a Braskem.
"Para nós foi o momento ideal: abrir a fábrica aqui, trazer a XP como sócia e se capitalizar imaginando que nossos próximos cinco anos serão de crescimento bem acelerado", afirma Kim Gurtensten Fabri, CEO da ERT. "Até eles brincaram que viram a gente como a XP do plástico."
Faturamento deve alcançar R$ 100 milhões este ano
Com apenas 27 funcionários e menos de cinco anos de vida, a greentech sonha alto. Prevê elevar o faturamento dos R$ 100 milhões projetados para este ano para R$ 900 milhões em 2025. A ambição está em linha com o potencial do mercado. Hoje, os produtos biodegradáveis representam apenas 0,9% do mercado global de plásticos. A expectativa é que passem a ser até 40% em 2030.
O ritmo da evolução será guiado pela queda no preço e pela demanda por sustentabilidade. Hoje, o plástico verde custa cerca de 1,5 ou 2 vezes mais que o produto normal, redução significativa em relação ao passado. A capacidade de produção caminha na medida em que os investimentos acompanham as demandas de consumidores por soluções sustentáveis ou pelas normas impostas por reguladores para "limpar" o rastro de embalagens.
Cana é matéria-prima do plástico compostável
No Brasil, o mercado de bioplásticos cresce a um ritmo próximo de 15% ao ano. Um dos diferenciais é a abundância da matéria-prima: a cana-de-açúcar. Isso explica por que a americana ERT escolheu o Paraná para instalar sua fábrica. "A gente brinca que a companhia já é quase 100% brasileira", diz Fabri. A família do executivo brasileiro, do ramo de shopping centers, apostou no negócio ainda em fase pré-operacional, nos EUA, e também acompanhou a rodada da XP.
Embora conte com o aporte para acelerar o ritmo, a empresa não quer ser vista como uma tese de crescimento, como startups promissoras que queimam caixa em prol de avanço e hoje encontram dificuldades para se financiar. A expectativa é tornar o negócio sustentável e avançar de maneira cautelosa. Não há, por exemplo, expectativa de abertura de capital e nem apetite para uma potencial venda.
Empresa avalia aquisições no Brasil e na Europa
A empresa caminha, na verdade, na frente oposta. Está avaliando aquisições no Brasil e na Europa e pretende finalizar uma compra nos próximos seis meses. "Vemos desde empresas de reciclagem até companhias para compor portfólio na Europa", afirma o executivo. "A ERT já é um hub de sustentabilidade, as marcas nos procuram em busca de soluções e o próximo passo é aumentar o portfólio de produtos sustentáveis."
A resina produzida no Paraná é feita a partir de um processo de fermentação do açúcar. A empresa tem nove patentes. A tecnologia do plástico compostável permite, por exemplo, que um pacote de delivery possa ser jogado junto aos restos de alimento no lixo orgânico, para então ser transformado em matéria-prima novamente.
O objetivo é atacar no segmento de embalagens que não são recicladas atualmente - no Brasil, somente 5% do plástico é reciclado, na sua maioria, no segmento PET. Os clientes da companhia são os chamados transformadores, ou seja, a indústria de embalagens, mas a prioridade para relacionamento são com as marcas, como a Embalixo, por exemplo.
Num mercado ainda em formação, um dos pontos fundamentais é alcançar capacidade de produção para atender a demanda. Daí os investimentos se voltarem para a fábrica - e a ERT já sabe que o próximo passo envolve outro patamar. A ideia é aumentar em dez vezes o tamanho da unidade, com investimentos estimados em R$ 500 milhões. Trata-se de um plano para daqui a cinco anos, com potencial de se ser antecipado, a depender da expansão do negócio depois do ingresso da XP.
Este texto foi publicado no Broadcast+ no dia 29/09/2022, às 15h17
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