Bastidores do mundo dos negócios

‘É hora de agir e não de conversar’, diz CEO da Oncoclínicas sobre estresse na saúde privada


Para executivo, solução para crise financeira passa por comunhão entre agentes do setor

Por Cynthia Decloedt
'Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização', diz Bruno Ferrari, da Oncoclínicas Foto: Pedro Gravatá/Oncoclínicas

Sócio fundador da Oncoclínicas, Bruno Ferrari está em defesa de uma discussão mais profunda sobre o sistema de saúde para evitar a continuidade de uma série de problemas que afeta essa indústria e principalmente seus usuários. Especializada no tratamento e acompanhamento de pessoas com câncer, a Oncoclínicas está na ponta das prestadoras de serviços de saúde que têm sentido a crise das operadoras e dos planos de saúde nas renegociações de prazos e preços de seus contratos.

“O setor de saúde privado está estressado, esse é o momento de agir e não de conversar”, diz Ferrari em entrevista exclusiva ao Broadcast. Os planos de saúde, por sua vez, vivem o gargalo de receitas insuficientes para cobrir custos médicos acima da inflação, aumento da sinistralidade e das fraudes. Os usuários dos planos e serviços de saúde, ao final da cadeia, têm enfrentado constrangimentos de cancelamentos de planos ou barreiras para tratamentos de transtornos relacionados ao desenvolvimento humano e do espectro autista, que passaram a ter reembolsos ilimitados a partir de 2021 pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

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Para Ferrari, não há bala de prata. A solução para a crise financeira que a indústria atravessa não vem da queda do juro ou de corte de custos. Segundo ele, é holística e passa por uma comunhão entre as operadoras, prestadores de serviços, adequação da lei à realidade da saúde brasileira e entendimento dos usuários de seus limites.

Judicialização

“Se comprei um plano de saúde que tem restrições, tenho de usar com essas restrições. Não dá para chegar à Justiça e querer um plano superior ao que foi contratado. É saúde suplementar. Se você quer mais serviços e um plano diferente, tem de pagar. Não pode fraudar o sistema. Você que provê o serviço, não pode fraudar o plano de saúde; você do plano de saúde, tem uma regra, tem de cumprir. Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização”, afirma.

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O oncologista reiteradamente defende a sustentabilidade do sistema, por meio da adequação de custos e efetividade no atendimento, para entrega aos usuários do que realmente precisam. “Como médico, assim que eu penso, vou dar ao meu paciente tudo o que ele precisa, nada a mais, nada a menos, o tratamento certo, para o paciente certo, pelo tempo certo. Daí está se falando de custo e efetividade, trazendo sustentabilidade e equilíbrio para um jogo, que está altamente desequilibrado.”

Ferrari acredita que o mais importante ao sistema de saúde privado é que mais pessoas tenham acesso a ele, para ser oxigenado. “O desempregado e o aposentado não têm opção, não existe venda de plano individual de fato”, afirma.

Projeto de lei

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As operadoras e planos de saúde praticamente não oferecem planos individuais pelo fato de os reajustes serem limitados pela ANS em patamares normalmente inferiores à inflação e, portanto, aos custos. No Congresso, as discussões estão concentradas em torno do projeto de lei dos planos de saúde, sob relatoria do deputado Duarte Jr. (PSB-MA), que prevê mudanças no formato de cobranças.

Na Oncoclínicas, onde elevou sua participação acionária para 12%, em um aumento de capital privado de R$ 1,5 bilhão recente, Ferrari tem trilhado o caminho das parcerias, justamente porque acredita que o melhor para a equação custo e efetividade é ter em suas mãos a jornada do paciente.

Entre várias parcerias, as mais recentes são com o plano de autogestão para servidores públicos Geap, fechada no início deste ano, e com a rede hospitalar Grupo Santa Lúcia, com operações no Centro-Oeste do País. Também a Oncoclínicas e a Porto Seguro Saúde criaram uma joint venture no ano passado focada em oncologia.

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Peça do sistema

Ferrari lembra que a Oncoclínicas é uma peça do sistema de saúde, altamente especializada que acaba se adaptando às operadoras, hospitais de alta complexidade e, por fim, desenvolvendo ou trazendo um departamento completo de oncologia, uma melhor negociação com a indústria farmacêutica e de equipamentos oncológicos, além de escala, pelo volume de pacientes, e protocolos para o tratamento oncológico.

“O paciente tem uma jornada assistencial, mas tem também financeira, na qual deveríamos estar participando dela, até porque nós temos o paciente e ele está sob nosso controle”, diz. Isso não acontece, por exemplo, quando o paciente é internado em hospitais com os quais não são parceiros. Por isso, a empresa segue trabalhando novas parcerias, inclusive com planos de saúde, sobre as quais Ferrari não deu mais detalhes.

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Aumento de capital

No aumento de capital conduzido em maio, Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, se tornou detentor de perto de 20% da Oncoclínicas, por meio de dois fundos ligados ao banco e dos quais é o maior cotista. Segundo Ferrari, essa era uma transação que estava sendo gestada e foi antecipada para dar conforto financeiro à Oncoclínicas, que atravessou um primeiro trimestre turbulento, por conta de problemas na Unimed Rio, que foi assumida pela Unimed Ferj no início de março. Ele diz que a Unimed Rio responde por entre 10% e 12% do faturamento da Oncoclínicas, tendo provocando um gargalo que “está se resolvendo”.

O oncologista não planeja grandes movimentações na empresa daqui em diante, senão foco no crescimento e na manutenção de uma baixa alavancagem, a qual ficou no primeiro trimestre em 3,9 vezes, na relação divida financeira total versus Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “A companhia segue focada em reforçar a estrutura de capital, crescer organicamente e aproveitar oportunidades altamente estratégicas”, diz.

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Para alavancagem, Ferrari aponta para algo abaixo de 2% como o desejado. “Isso não é um guidance (projeção), mas queremos estar bem desalavancados e gerar caixa enquanto não houver perspectiva de um cenário macroeconômico melhor”, afirma. Ele acredita que o sistema como um todo tem ainda este ano de ajustes e que, mesmo depois de uma melhora, haverá uma cauda. Mas observa que a Oncoclínicas não está sob pressão e que não fará nada sob pressão.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 25/06/24, às 15h53.

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'Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização', diz Bruno Ferrari, da Oncoclínicas Foto: Pedro Gravatá/Oncoclínicas

Sócio fundador da Oncoclínicas, Bruno Ferrari está em defesa de uma discussão mais profunda sobre o sistema de saúde para evitar a continuidade de uma série de problemas que afeta essa indústria e principalmente seus usuários. Especializada no tratamento e acompanhamento de pessoas com câncer, a Oncoclínicas está na ponta das prestadoras de serviços de saúde que têm sentido a crise das operadoras e dos planos de saúde nas renegociações de prazos e preços de seus contratos.

“O setor de saúde privado está estressado, esse é o momento de agir e não de conversar”, diz Ferrari em entrevista exclusiva ao Broadcast. Os planos de saúde, por sua vez, vivem o gargalo de receitas insuficientes para cobrir custos médicos acima da inflação, aumento da sinistralidade e das fraudes. Os usuários dos planos e serviços de saúde, ao final da cadeia, têm enfrentado constrangimentos de cancelamentos de planos ou barreiras para tratamentos de transtornos relacionados ao desenvolvimento humano e do espectro autista, que passaram a ter reembolsos ilimitados a partir de 2021 pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

Para Ferrari, não há bala de prata. A solução para a crise financeira que a indústria atravessa não vem da queda do juro ou de corte de custos. Segundo ele, é holística e passa por uma comunhão entre as operadoras, prestadores de serviços, adequação da lei à realidade da saúde brasileira e entendimento dos usuários de seus limites.

Judicialização

“Se comprei um plano de saúde que tem restrições, tenho de usar com essas restrições. Não dá para chegar à Justiça e querer um plano superior ao que foi contratado. É saúde suplementar. Se você quer mais serviços e um plano diferente, tem de pagar. Não pode fraudar o sistema. Você que provê o serviço, não pode fraudar o plano de saúde; você do plano de saúde, tem uma regra, tem de cumprir. Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização”, afirma.

O oncologista reiteradamente defende a sustentabilidade do sistema, por meio da adequação de custos e efetividade no atendimento, para entrega aos usuários do que realmente precisam. “Como médico, assim que eu penso, vou dar ao meu paciente tudo o que ele precisa, nada a mais, nada a menos, o tratamento certo, para o paciente certo, pelo tempo certo. Daí está se falando de custo e efetividade, trazendo sustentabilidade e equilíbrio para um jogo, que está altamente desequilibrado.”

Ferrari acredita que o mais importante ao sistema de saúde privado é que mais pessoas tenham acesso a ele, para ser oxigenado. “O desempregado e o aposentado não têm opção, não existe venda de plano individual de fato”, afirma.

Projeto de lei

As operadoras e planos de saúde praticamente não oferecem planos individuais pelo fato de os reajustes serem limitados pela ANS em patamares normalmente inferiores à inflação e, portanto, aos custos. No Congresso, as discussões estão concentradas em torno do projeto de lei dos planos de saúde, sob relatoria do deputado Duarte Jr. (PSB-MA), que prevê mudanças no formato de cobranças.

Na Oncoclínicas, onde elevou sua participação acionária para 12%, em um aumento de capital privado de R$ 1,5 bilhão recente, Ferrari tem trilhado o caminho das parcerias, justamente porque acredita que o melhor para a equação custo e efetividade é ter em suas mãos a jornada do paciente.

Entre várias parcerias, as mais recentes são com o plano de autogestão para servidores públicos Geap, fechada no início deste ano, e com a rede hospitalar Grupo Santa Lúcia, com operações no Centro-Oeste do País. Também a Oncoclínicas e a Porto Seguro Saúde criaram uma joint venture no ano passado focada em oncologia.

Peça do sistema

Ferrari lembra que a Oncoclínicas é uma peça do sistema de saúde, altamente especializada que acaba se adaptando às operadoras, hospitais de alta complexidade e, por fim, desenvolvendo ou trazendo um departamento completo de oncologia, uma melhor negociação com a indústria farmacêutica e de equipamentos oncológicos, além de escala, pelo volume de pacientes, e protocolos para o tratamento oncológico.

“O paciente tem uma jornada assistencial, mas tem também financeira, na qual deveríamos estar participando dela, até porque nós temos o paciente e ele está sob nosso controle”, diz. Isso não acontece, por exemplo, quando o paciente é internado em hospitais com os quais não são parceiros. Por isso, a empresa segue trabalhando novas parcerias, inclusive com planos de saúde, sobre as quais Ferrari não deu mais detalhes.

Aumento de capital

No aumento de capital conduzido em maio, Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, se tornou detentor de perto de 20% da Oncoclínicas, por meio de dois fundos ligados ao banco e dos quais é o maior cotista. Segundo Ferrari, essa era uma transação que estava sendo gestada e foi antecipada para dar conforto financeiro à Oncoclínicas, que atravessou um primeiro trimestre turbulento, por conta de problemas na Unimed Rio, que foi assumida pela Unimed Ferj no início de março. Ele diz que a Unimed Rio responde por entre 10% e 12% do faturamento da Oncoclínicas, tendo provocando um gargalo que “está se resolvendo”.

O oncologista não planeja grandes movimentações na empresa daqui em diante, senão foco no crescimento e na manutenção de uma baixa alavancagem, a qual ficou no primeiro trimestre em 3,9 vezes, na relação divida financeira total versus Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “A companhia segue focada em reforçar a estrutura de capital, crescer organicamente e aproveitar oportunidades altamente estratégicas”, diz.

Para alavancagem, Ferrari aponta para algo abaixo de 2% como o desejado. “Isso não é um guidance (projeção), mas queremos estar bem desalavancados e gerar caixa enquanto não houver perspectiva de um cenário macroeconômico melhor”, afirma. Ele acredita que o sistema como um todo tem ainda este ano de ajustes e que, mesmo depois de uma melhora, haverá uma cauda. Mas observa que a Oncoclínicas não está sob pressão e que não fará nada sob pressão.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 25/06/24, às 15h53.

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'Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização', diz Bruno Ferrari, da Oncoclínicas Foto: Pedro Gravatá/Oncoclínicas

Sócio fundador da Oncoclínicas, Bruno Ferrari está em defesa de uma discussão mais profunda sobre o sistema de saúde para evitar a continuidade de uma série de problemas que afeta essa indústria e principalmente seus usuários. Especializada no tratamento e acompanhamento de pessoas com câncer, a Oncoclínicas está na ponta das prestadoras de serviços de saúde que têm sentido a crise das operadoras e dos planos de saúde nas renegociações de prazos e preços de seus contratos.

“O setor de saúde privado está estressado, esse é o momento de agir e não de conversar”, diz Ferrari em entrevista exclusiva ao Broadcast. Os planos de saúde, por sua vez, vivem o gargalo de receitas insuficientes para cobrir custos médicos acima da inflação, aumento da sinistralidade e das fraudes. Os usuários dos planos e serviços de saúde, ao final da cadeia, têm enfrentado constrangimentos de cancelamentos de planos ou barreiras para tratamentos de transtornos relacionados ao desenvolvimento humano e do espectro autista, que passaram a ter reembolsos ilimitados a partir de 2021 pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

Para Ferrari, não há bala de prata. A solução para a crise financeira que a indústria atravessa não vem da queda do juro ou de corte de custos. Segundo ele, é holística e passa por uma comunhão entre as operadoras, prestadores de serviços, adequação da lei à realidade da saúde brasileira e entendimento dos usuários de seus limites.

Judicialização

“Se comprei um plano de saúde que tem restrições, tenho de usar com essas restrições. Não dá para chegar à Justiça e querer um plano superior ao que foi contratado. É saúde suplementar. Se você quer mais serviços e um plano diferente, tem de pagar. Não pode fraudar o sistema. Você que provê o serviço, não pode fraudar o plano de saúde; você do plano de saúde, tem uma regra, tem de cumprir. Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização”, afirma.

O oncologista reiteradamente defende a sustentabilidade do sistema, por meio da adequação de custos e efetividade no atendimento, para entrega aos usuários do que realmente precisam. “Como médico, assim que eu penso, vou dar ao meu paciente tudo o que ele precisa, nada a mais, nada a menos, o tratamento certo, para o paciente certo, pelo tempo certo. Daí está se falando de custo e efetividade, trazendo sustentabilidade e equilíbrio para um jogo, que está altamente desequilibrado.”

Ferrari acredita que o mais importante ao sistema de saúde privado é que mais pessoas tenham acesso a ele, para ser oxigenado. “O desempregado e o aposentado não têm opção, não existe venda de plano individual de fato”, afirma.

Projeto de lei

As operadoras e planos de saúde praticamente não oferecem planos individuais pelo fato de os reajustes serem limitados pela ANS em patamares normalmente inferiores à inflação e, portanto, aos custos. No Congresso, as discussões estão concentradas em torno do projeto de lei dos planos de saúde, sob relatoria do deputado Duarte Jr. (PSB-MA), que prevê mudanças no formato de cobranças.

Na Oncoclínicas, onde elevou sua participação acionária para 12%, em um aumento de capital privado de R$ 1,5 bilhão recente, Ferrari tem trilhado o caminho das parcerias, justamente porque acredita que o melhor para a equação custo e efetividade é ter em suas mãos a jornada do paciente.

Entre várias parcerias, as mais recentes são com o plano de autogestão para servidores públicos Geap, fechada no início deste ano, e com a rede hospitalar Grupo Santa Lúcia, com operações no Centro-Oeste do País. Também a Oncoclínicas e a Porto Seguro Saúde criaram uma joint venture no ano passado focada em oncologia.

Peça do sistema

Ferrari lembra que a Oncoclínicas é uma peça do sistema de saúde, altamente especializada que acaba se adaptando às operadoras, hospitais de alta complexidade e, por fim, desenvolvendo ou trazendo um departamento completo de oncologia, uma melhor negociação com a indústria farmacêutica e de equipamentos oncológicos, além de escala, pelo volume de pacientes, e protocolos para o tratamento oncológico.

“O paciente tem uma jornada assistencial, mas tem também financeira, na qual deveríamos estar participando dela, até porque nós temos o paciente e ele está sob nosso controle”, diz. Isso não acontece, por exemplo, quando o paciente é internado em hospitais com os quais não são parceiros. Por isso, a empresa segue trabalhando novas parcerias, inclusive com planos de saúde, sobre as quais Ferrari não deu mais detalhes.

Aumento de capital

No aumento de capital conduzido em maio, Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, se tornou detentor de perto de 20% da Oncoclínicas, por meio de dois fundos ligados ao banco e dos quais é o maior cotista. Segundo Ferrari, essa era uma transação que estava sendo gestada e foi antecipada para dar conforto financeiro à Oncoclínicas, que atravessou um primeiro trimestre turbulento, por conta de problemas na Unimed Rio, que foi assumida pela Unimed Ferj no início de março. Ele diz que a Unimed Rio responde por entre 10% e 12% do faturamento da Oncoclínicas, tendo provocando um gargalo que “está se resolvendo”.

O oncologista não planeja grandes movimentações na empresa daqui em diante, senão foco no crescimento e na manutenção de uma baixa alavancagem, a qual ficou no primeiro trimestre em 3,9 vezes, na relação divida financeira total versus Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “A companhia segue focada em reforçar a estrutura de capital, crescer organicamente e aproveitar oportunidades altamente estratégicas”, diz.

Para alavancagem, Ferrari aponta para algo abaixo de 2% como o desejado. “Isso não é um guidance (projeção), mas queremos estar bem desalavancados e gerar caixa enquanto não houver perspectiva de um cenário macroeconômico melhor”, afirma. Ele acredita que o sistema como um todo tem ainda este ano de ajustes e que, mesmo depois de uma melhora, haverá uma cauda. Mas observa que a Oncoclínicas não está sob pressão e que não fará nada sob pressão.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 25/06/24, às 15h53.

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'Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização', diz Bruno Ferrari, da Oncoclínicas Foto: Pedro Gravatá/Oncoclínicas

Sócio fundador da Oncoclínicas, Bruno Ferrari está em defesa de uma discussão mais profunda sobre o sistema de saúde para evitar a continuidade de uma série de problemas que afeta essa indústria e principalmente seus usuários. Especializada no tratamento e acompanhamento de pessoas com câncer, a Oncoclínicas está na ponta das prestadoras de serviços de saúde que têm sentido a crise das operadoras e dos planos de saúde nas renegociações de prazos e preços de seus contratos.

“O setor de saúde privado está estressado, esse é o momento de agir e não de conversar”, diz Ferrari em entrevista exclusiva ao Broadcast. Os planos de saúde, por sua vez, vivem o gargalo de receitas insuficientes para cobrir custos médicos acima da inflação, aumento da sinistralidade e das fraudes. Os usuários dos planos e serviços de saúde, ao final da cadeia, têm enfrentado constrangimentos de cancelamentos de planos ou barreiras para tratamentos de transtornos relacionados ao desenvolvimento humano e do espectro autista, que passaram a ter reembolsos ilimitados a partir de 2021 pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

Para Ferrari, não há bala de prata. A solução para a crise financeira que a indústria atravessa não vem da queda do juro ou de corte de custos. Segundo ele, é holística e passa por uma comunhão entre as operadoras, prestadores de serviços, adequação da lei à realidade da saúde brasileira e entendimento dos usuários de seus limites.

Judicialização

“Se comprei um plano de saúde que tem restrições, tenho de usar com essas restrições. Não dá para chegar à Justiça e querer um plano superior ao que foi contratado. É saúde suplementar. Se você quer mais serviços e um plano diferente, tem de pagar. Não pode fraudar o sistema. Você que provê o serviço, não pode fraudar o plano de saúde; você do plano de saúde, tem uma regra, tem de cumprir. Tudo está altamente regulamentado, mas existe um fenômeno chamado judicialização”, afirma.

O oncologista reiteradamente defende a sustentabilidade do sistema, por meio da adequação de custos e efetividade no atendimento, para entrega aos usuários do que realmente precisam. “Como médico, assim que eu penso, vou dar ao meu paciente tudo o que ele precisa, nada a mais, nada a menos, o tratamento certo, para o paciente certo, pelo tempo certo. Daí está se falando de custo e efetividade, trazendo sustentabilidade e equilíbrio para um jogo, que está altamente desequilibrado.”

Ferrari acredita que o mais importante ao sistema de saúde privado é que mais pessoas tenham acesso a ele, para ser oxigenado. “O desempregado e o aposentado não têm opção, não existe venda de plano individual de fato”, afirma.

Projeto de lei

As operadoras e planos de saúde praticamente não oferecem planos individuais pelo fato de os reajustes serem limitados pela ANS em patamares normalmente inferiores à inflação e, portanto, aos custos. No Congresso, as discussões estão concentradas em torno do projeto de lei dos planos de saúde, sob relatoria do deputado Duarte Jr. (PSB-MA), que prevê mudanças no formato de cobranças.

Na Oncoclínicas, onde elevou sua participação acionária para 12%, em um aumento de capital privado de R$ 1,5 bilhão recente, Ferrari tem trilhado o caminho das parcerias, justamente porque acredita que o melhor para a equação custo e efetividade é ter em suas mãos a jornada do paciente.

Entre várias parcerias, as mais recentes são com o plano de autogestão para servidores públicos Geap, fechada no início deste ano, e com a rede hospitalar Grupo Santa Lúcia, com operações no Centro-Oeste do País. Também a Oncoclínicas e a Porto Seguro Saúde criaram uma joint venture no ano passado focada em oncologia.

Peça do sistema

Ferrari lembra que a Oncoclínicas é uma peça do sistema de saúde, altamente especializada que acaba se adaptando às operadoras, hospitais de alta complexidade e, por fim, desenvolvendo ou trazendo um departamento completo de oncologia, uma melhor negociação com a indústria farmacêutica e de equipamentos oncológicos, além de escala, pelo volume de pacientes, e protocolos para o tratamento oncológico.

“O paciente tem uma jornada assistencial, mas tem também financeira, na qual deveríamos estar participando dela, até porque nós temos o paciente e ele está sob nosso controle”, diz. Isso não acontece, por exemplo, quando o paciente é internado em hospitais com os quais não são parceiros. Por isso, a empresa segue trabalhando novas parcerias, inclusive com planos de saúde, sobre as quais Ferrari não deu mais detalhes.

Aumento de capital

No aumento de capital conduzido em maio, Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, se tornou detentor de perto de 20% da Oncoclínicas, por meio de dois fundos ligados ao banco e dos quais é o maior cotista. Segundo Ferrari, essa era uma transação que estava sendo gestada e foi antecipada para dar conforto financeiro à Oncoclínicas, que atravessou um primeiro trimestre turbulento, por conta de problemas na Unimed Rio, que foi assumida pela Unimed Ferj no início de março. Ele diz que a Unimed Rio responde por entre 10% e 12% do faturamento da Oncoclínicas, tendo provocando um gargalo que “está se resolvendo”.

O oncologista não planeja grandes movimentações na empresa daqui em diante, senão foco no crescimento e na manutenção de uma baixa alavancagem, a qual ficou no primeiro trimestre em 3,9 vezes, na relação divida financeira total versus Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “A companhia segue focada em reforçar a estrutura de capital, crescer organicamente e aproveitar oportunidades altamente estratégicas”, diz.

Para alavancagem, Ferrari aponta para algo abaixo de 2% como o desejado. “Isso não é um guidance (projeção), mas queremos estar bem desalavancados e gerar caixa enquanto não houver perspectiva de um cenário macroeconômico melhor”, afirma. Ele acredita que o sistema como um todo tem ainda este ano de ajustes e que, mesmo depois de uma melhora, haverá uma cauda. Mas observa que a Oncoclínicas não está sob pressão e que não fará nada sob pressão.

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