Inicialmente planejados para julho e dezembro de 2024, os leilões de reserva de capacidade já movimentam geradores e transmissores de energia, que aguardam uma definição do governo sobre as regras do certame para desengavetar projetos de expansão e a adoção de novas tecnologias, como o uso de baterias para armazenamento. No primeiro caso, nomes de peso do setor elétrico, como a Engie e a Copel esperam que o leilão gere a oportunidade de ampliação de capacidade em parte de suas hidrelétricas.
Na Engie, por exemplo, seria possível adicionar aproximadamente 922 megawatts (MW) de capacidade implantando mais turbinas em infraestrutura já existente nas usinas Jaguara, Miranda e Salto Santiago. “Depende do modelo que o governo vai adotar para fazer o leilão, mas estamos confiantes de que poderemos participar”, disse o gerente de Assuntos Regulatórios e de Mercado da companhia, Eduardo Takamori, durante teleconferência de resultados do terceiro trimestre deste ano.
Mesmo antes de uma definição do modelo que será adotado para o leilão, a empresa já faz uma modernização em Jaguara e contratou a Andritz Hydro Brazil para modernizar o ativo de 424 MW.
O acordo inclui a modernização de quatro unidades geradoras, com capacidade de 106 MW cada, geradores, turbinas, reguladores de velocidade e tensão, sistema digital de supervisão e controle, sistema de proteção e todos os sistemas auxiliares relacionados. Já na paranaense Copel, a adição de capacidade pode ocorrer na hidrelétrica Foz do Areia, que recentemente teve sua concessão renovada. Nela seria possível adicionar duas turbinas, que somam mais 872 MW. Outra usina que pode ser revitalizada para o leilão é a hidrelétrica Segredo.
Durante evento com investidores e analistas, o diretor-geral da Copel Geração e Transmissão, Moacir Carlos Bertol, afirmou que, caso as regras para o leilão permitam a participação desses empreendimentos, a empresa terá “uma oferta competitiva e com excelente taxa de retorno”.
Pátria e parceiros também tem interesse
Também entre as geradoras térmicas há grande expectativa em relação ao leilão. A Arke, empresa formada pelo Pátria Investimentos, Shell, Mitsubishi, espera que o certame a permita viabilizar a construção de sua segunda termelétrica a gás natural, de 651 MW, no Porto do Açu, no Rio de Janeiro. A primeira foi inaugurada no mês passado e tem capacidade para produzir 565 MW. Segundo o presidente da companhia, Bruno Chevalier, a companhia já trabalha para obter as licenças prévias do projeto, documento necessário para disputar o certame.
No mercado, especula-se também que o leilão será uma boa oportunidade para empresas que desejam rentabilizar empreendimentos que hoje operam sem contato fixo, as chamadas térmicas merchant. Este é o caso, por exemplo, da usina Araucária, vendida pela Copel ao Grupo J&F nos últimos dias.
De acordo com uma fonte ouvida pelo Broadcast Energia e que aceitou falar sem ter o nome identificado, a perspectiva de rentabilizar o empreendimento no leilão de reserva de capacidade foi um dos principais motivos da aquisição, uma vez que ela não é conectada à malha de gasodutos do Estado e produz energia apenas quando é acionada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para auxiliar no atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Esse tipo de operação foi importante para garantir segurança energética durante a crise hídrica, em 2021, mas com a melhora no nível dos reservatórios das hidrelétricas o acionamento do empreendimento passou a ser menos provável. “É uma usina que precisava de alguém com capacidade de suportar o consumo de caixa no período em que fica sem produzir energia, e que tivesse capacidade de buscar um novo contrato fixo”.
Outra empresa que analisa potenciais negócios com o leilão de reserva de capacidade é a Delta Energia, que tem a usina William Arjona, localizada em Mato Grosso do Sul. A termelétrica é ligada ao gasoduto Brasil-Bolívia e no momento também atua como merchant, mas pode buscar uma oportunidade caso o certame permita usinas existentes.
Empresas avaliam armazenagem por baterias
Outro ponto que tem sido avaliado tanto pelo órgão regulador, quanto pelas empresas é a possibilidade de uso de baterias. Uma das interessadas nessa tecnologia é a transmissora Isa Cteep, que já possui um empreendimento neste modelo em São Paulo, e que funciona para atender à demanda de pico no litoral paulista.
Conforme o diretor-presidente da Isa Cteep, Rui Chammas, a companhia ganhou experiência com esse ativo e pode replicar o modelo, caso as regras do certame permitam. “Fizemos questão de defender para que o projeto de baterias em Registro viesse a acontecer, por existiam outras alternativas técnicas, mas a gente imaginava que ganharia muito com aquela experiência”, afirmou.
Quem também se espera oportunidades numa eventual disputa com projetos de baterias é a AES Brasil. O diretor presidente da companhia, Rogério Jorge, disse ver grande potencial para esse segmento, tendo em vista que a AES Corp, controladora norte-americana, é uma das principais desenvolvedoras globais de sistemas de armazenamento com baterias por meio da Fluence, empresa criada em parceria com a Siemens em 2018. “Isso é um diferencial competitivo para nós de know-how e de acesso à tecnologia”, disse.
Regulador vê potencial de competitividade
Do lado do governo, já houve sinalização positiva por parte da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que fez estudos sobre a adoção dessa tecnologia no leilão. As análises realizadas apontaram que essas iniciativas poderiam atender aos requisitos de capacidade e possivelmente teriam competitividade.
Contudo, a definição sobre a inserção das baterias ainda passa por desafios relacionados aos requisitos de “ciclagem” desses empreendimentos, isto é, definições relacionadas à disponibilidade e frequência para ligar e desligar esses sistemas. “Quanto mais ciclagem, mais custo”, disse o secretário Nacional de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Gentil Nogueira de Sá Júnior, durante evento realizado este mês.