Bastidores do mundo dos negócios

‘Nem o trio da Americanas deve saber o que está acontecendo lá dentro’, diz Abilio Diniz


Empresário diz ter telefonado para Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles para se solidarizar; para ele, caso da varejista é ‘muito complexo’

Por Altamiro Silva Junior e Talita Nascimento
Atualização:
Entrevista comAbilio DinizEmpresário e fundador da Península Participações

O empresário Abilio Diniz, que já comandou o Pão de Açúcar e o Carrefour, ligou para o trio de acionistas de referência da Americanas para demonstrar solidariedade. Conhecido de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que também fazem parte do clube de bilionários brasileiros “há décadas”, ele não discutiu sobre o rombo de R$ 20 bilhões. “Nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade”, disse ao Broadcast, durante evento do Credit Suisse.

Na avaliação de Diniz, o caso da Americanas não afeta a relação do setor varejista com os bancos, nem causa desconfiança generalizada sobre os ativos brasileiros no exterior. “Nenhum francês me perguntou sobre isso”.

Sobre os sócios franceses, aliás, ele diz estar feliz com sua posição no Carrefour global. Vai reunir em sua fazenda nesta semana o conselho mundial do grupo de varejo, e diz que sua briga com Jean-Charles Naouri (presidente do Grupo Casino, que controla atualmente o Grupo Pão de Açúcar) terminou há muito tempo. “Estamos em um bom momento”.

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O empresário Abilio Diniz, fundador da Península Participações. Foto: Hélvio Romero/Estadão Foto: Hélvio Romero/Estadão

Confira os principais pontos da entrevista:

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O que esperar do varejo em 2023? O caso Americanas pode ter algum impacto?

Sobre o caso da Americanas, acho que não muda nada. Não falo sobre esse caso por dois motivos. Primeiro, os acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Carlos Aberto Sicupira e Marcel Telles) são meus amigos de décadas. Até falei com eles mostrando solidariedade, mas nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade. Em relação ao mercado como um todo, não muda nada, absolutamente nada.

Mas não afeta a relação das empresas de varejo com os bancos?

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Isso é transitório. Tem certas coisas que não se pode olhar só o dia de hoje, tem que olhar mais para frente. Hoje você pode ter um mau humor, mas depois acalma.

E quais são as perspectivas para o varejo neste ano?

Acredito que vai ser um setor que vai crescer, o consumo das famílias terá expansão. Não há como não crescer com estes estímulos que estão sendo dados. O Lula pretende reajustar o salário mínimo e, se fizer isso, melhora mais ainda a renda das famílias e isso vai para o consumo.

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Mas os juros neste nível prejudicam o crédito para pessoa física, não?

Essa taxa de juros inibe aquele que vai comprar alguma geladeira ou televisor e compra isso a prazo. Essa pessoa, se puder, vai empurrar isso para frente, pois a taxa de juros está muito alta. Como isso é transitório, dizem: “Não vou comprar neste ano, vou comprar ano que vem”. Esse delay [adiamento] existe por causa da taxa de juros. Na alimentação, isso é menos importante, pois a venda a crédito na alimentação é muito menor. Para aqueles que estão em setores de coisas mais leves, como vestuário, por exemplo, a taxa não influi muito. Para os mais pesados, há um delay (nas vendas).

O senhor disse que confia no Banco Central para definir qual o melhor momento para cortar juros. Ao mesmo tempo, o presidente Lula tem criticado o BC independente. Como avalia essa discussão sobre os juros?

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A questão não é se o Banco Central de um país como o Brasil deve ser independente. Precisamos de um Banco Central responsável. Eles têm ferramentas de análises que os outros não possuem. Sendo responsáveis com as informações que têm, eles têm que saber qual o melhor momento para baixar a taxa de juros. Viemos de uma taxa de inflação de 13% para menos de 6% no final do ano. Isso é uma vitória extraordinária. Mas quando se começa a ver as projeções para frente, tem um certo repique da inflação e, provavelmente, em janeiro ela vai ser mais alta do que foi em dezembro. Isso faz com que o Banco Central tenha receio de começar o processo de reduzir os juros. Quem viveu a hiperinflação como eu, tem medo dela. E quem é o mais penalizado é o pobre, que não tem chance de se defender.

O senhor declarou que a Península e o Carrefour continuam investindo. Mesmo com a taxa de juros mais alta?

Considero que a taxa de juros é transitória. Não se pode imaginar que vai ficar nesse nível por muito tempo. Quando o Banco Central sentir que a inflação está mais controlada, ele vai começar a baixar. Você não faz investimento olhando hoje e o mês que vem. O Carrefour e a Península fazem investimento de médio e longo prazo.

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O que o senhor tem visto na França que pode mostrar tendências para o Brasil?

Estou há 23 anos em duas empresas diferentes. Primeiro, com o pessoal do Casino, depois, saí de lá e fui, por meio da Península, para o Carrefour global. Era já um desejo antigo nosso fazer algo com eles. Para mim, o fato de estar na sede global me dá uma visão de mundo muito maior. Temos operação na Europa inteira e, até pouco tempo atrás, na China também. Isso me dá uma visão de mundo maior que me ajuda, inclusive, como economista, a desenvolver ideias sobre o Brasil. Não dá para analisar o Brasil, no mundo de hoje, isoladamente. É preciso analisar o Brasil dentro do contexto mundial.

Ficando aqui, apenas, o senhor não teria essa visão?

Não somos uma ilha aonde não chega nada. Hoje estamos conectados até em lugares longínquos. Os investidores sabem disso e olham tudo. E nós (o Brasil) somos profundamente atraentes. Deixa esse governo acalmar e apresentar os seus planos, que sejam consistentes. Teremos muito investimento e vamos crescer.

Uma conversa entre o senhor e Jean-Charles Naouri chegou a acontecer para algum negócio aqui no Brasil?

Não, minha briga com o Jean se encerrou há muito tempo. Estamos em boa situação. Mas, enfim, já encerramos nossos negócios. Estou no Carrefour e estou satisfeito com as pessoas lá.

E o pessoal de lá (do Carrefour) está vindo para cá?

O Brasil é tão importante para nós no contexto mundial que vamos fazer uma reunião do Conselho no Brasil. A operação aqui sempre foi rentável e importante, mas é o desenvolvimento do País (que interessa). Quando se fala na Europa sobre o Brasil, brilha o olho. O Brasil é extremamente atraente. Agora, com essa ideia de que vamos cuidar mais do meio ambiente e das relações internacionais, o Brasil volta ao contexto mundial com muita simpatia do mundo

A Americanas não interfere nessa imagem externa do Brasil?

Eu não ouvi nenhum francês perguntar sobre isso. Pode ser que alguém me pergunte. Até agora, ninguém perguntou nada.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast no dia 31/01/2023, às 15h13

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O empresário Abilio Diniz, que já comandou o Pão de Açúcar e o Carrefour, ligou para o trio de acionistas de referência da Americanas para demonstrar solidariedade. Conhecido de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que também fazem parte do clube de bilionários brasileiros “há décadas”, ele não discutiu sobre o rombo de R$ 20 bilhões. “Nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade”, disse ao Broadcast, durante evento do Credit Suisse.

Na avaliação de Diniz, o caso da Americanas não afeta a relação do setor varejista com os bancos, nem causa desconfiança generalizada sobre os ativos brasileiros no exterior. “Nenhum francês me perguntou sobre isso”.

Sobre os sócios franceses, aliás, ele diz estar feliz com sua posição no Carrefour global. Vai reunir em sua fazenda nesta semana o conselho mundial do grupo de varejo, e diz que sua briga com Jean-Charles Naouri (presidente do Grupo Casino, que controla atualmente o Grupo Pão de Açúcar) terminou há muito tempo. “Estamos em um bom momento”.

O empresário Abilio Diniz, fundador da Península Participações. Foto: Hélvio Romero/Estadão Foto: Hélvio Romero/Estadão

Confira os principais pontos da entrevista:

O que esperar do varejo em 2023? O caso Americanas pode ter algum impacto?

Sobre o caso da Americanas, acho que não muda nada. Não falo sobre esse caso por dois motivos. Primeiro, os acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Carlos Aberto Sicupira e Marcel Telles) são meus amigos de décadas. Até falei com eles mostrando solidariedade, mas nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade. Em relação ao mercado como um todo, não muda nada, absolutamente nada.

Mas não afeta a relação das empresas de varejo com os bancos?

Isso é transitório. Tem certas coisas que não se pode olhar só o dia de hoje, tem que olhar mais para frente. Hoje você pode ter um mau humor, mas depois acalma.

E quais são as perspectivas para o varejo neste ano?

Acredito que vai ser um setor que vai crescer, o consumo das famílias terá expansão. Não há como não crescer com estes estímulos que estão sendo dados. O Lula pretende reajustar o salário mínimo e, se fizer isso, melhora mais ainda a renda das famílias e isso vai para o consumo.

Mas os juros neste nível prejudicam o crédito para pessoa física, não?

Essa taxa de juros inibe aquele que vai comprar alguma geladeira ou televisor e compra isso a prazo. Essa pessoa, se puder, vai empurrar isso para frente, pois a taxa de juros está muito alta. Como isso é transitório, dizem: “Não vou comprar neste ano, vou comprar ano que vem”. Esse delay [adiamento] existe por causa da taxa de juros. Na alimentação, isso é menos importante, pois a venda a crédito na alimentação é muito menor. Para aqueles que estão em setores de coisas mais leves, como vestuário, por exemplo, a taxa não influi muito. Para os mais pesados, há um delay (nas vendas).

O senhor disse que confia no Banco Central para definir qual o melhor momento para cortar juros. Ao mesmo tempo, o presidente Lula tem criticado o BC independente. Como avalia essa discussão sobre os juros?

A questão não é se o Banco Central de um país como o Brasil deve ser independente. Precisamos de um Banco Central responsável. Eles têm ferramentas de análises que os outros não possuem. Sendo responsáveis com as informações que têm, eles têm que saber qual o melhor momento para baixar a taxa de juros. Viemos de uma taxa de inflação de 13% para menos de 6% no final do ano. Isso é uma vitória extraordinária. Mas quando se começa a ver as projeções para frente, tem um certo repique da inflação e, provavelmente, em janeiro ela vai ser mais alta do que foi em dezembro. Isso faz com que o Banco Central tenha receio de começar o processo de reduzir os juros. Quem viveu a hiperinflação como eu, tem medo dela. E quem é o mais penalizado é o pobre, que não tem chance de se defender.

O senhor declarou que a Península e o Carrefour continuam investindo. Mesmo com a taxa de juros mais alta?

Considero que a taxa de juros é transitória. Não se pode imaginar que vai ficar nesse nível por muito tempo. Quando o Banco Central sentir que a inflação está mais controlada, ele vai começar a baixar. Você não faz investimento olhando hoje e o mês que vem. O Carrefour e a Península fazem investimento de médio e longo prazo.

O que o senhor tem visto na França que pode mostrar tendências para o Brasil?

Estou há 23 anos em duas empresas diferentes. Primeiro, com o pessoal do Casino, depois, saí de lá e fui, por meio da Península, para o Carrefour global. Era já um desejo antigo nosso fazer algo com eles. Para mim, o fato de estar na sede global me dá uma visão de mundo muito maior. Temos operação na Europa inteira e, até pouco tempo atrás, na China também. Isso me dá uma visão de mundo maior que me ajuda, inclusive, como economista, a desenvolver ideias sobre o Brasil. Não dá para analisar o Brasil, no mundo de hoje, isoladamente. É preciso analisar o Brasil dentro do contexto mundial.

Ficando aqui, apenas, o senhor não teria essa visão?

Não somos uma ilha aonde não chega nada. Hoje estamos conectados até em lugares longínquos. Os investidores sabem disso e olham tudo. E nós (o Brasil) somos profundamente atraentes. Deixa esse governo acalmar e apresentar os seus planos, que sejam consistentes. Teremos muito investimento e vamos crescer.

Uma conversa entre o senhor e Jean-Charles Naouri chegou a acontecer para algum negócio aqui no Brasil?

Não, minha briga com o Jean se encerrou há muito tempo. Estamos em boa situação. Mas, enfim, já encerramos nossos negócios. Estou no Carrefour e estou satisfeito com as pessoas lá.

E o pessoal de lá (do Carrefour) está vindo para cá?

O Brasil é tão importante para nós no contexto mundial que vamos fazer uma reunião do Conselho no Brasil. A operação aqui sempre foi rentável e importante, mas é o desenvolvimento do País (que interessa). Quando se fala na Europa sobre o Brasil, brilha o olho. O Brasil é extremamente atraente. Agora, com essa ideia de que vamos cuidar mais do meio ambiente e das relações internacionais, o Brasil volta ao contexto mundial com muita simpatia do mundo

A Americanas não interfere nessa imagem externa do Brasil?

Eu não ouvi nenhum francês perguntar sobre isso. Pode ser que alguém me pergunte. Até agora, ninguém perguntou nada.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast no dia 31/01/2023, às 15h13

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

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O empresário Abilio Diniz, que já comandou o Pão de Açúcar e o Carrefour, ligou para o trio de acionistas de referência da Americanas para demonstrar solidariedade. Conhecido de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que também fazem parte do clube de bilionários brasileiros “há décadas”, ele não discutiu sobre o rombo de R$ 20 bilhões. “Nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade”, disse ao Broadcast, durante evento do Credit Suisse.

Na avaliação de Diniz, o caso da Americanas não afeta a relação do setor varejista com os bancos, nem causa desconfiança generalizada sobre os ativos brasileiros no exterior. “Nenhum francês me perguntou sobre isso”.

Sobre os sócios franceses, aliás, ele diz estar feliz com sua posição no Carrefour global. Vai reunir em sua fazenda nesta semana o conselho mundial do grupo de varejo, e diz que sua briga com Jean-Charles Naouri (presidente do Grupo Casino, que controla atualmente o Grupo Pão de Açúcar) terminou há muito tempo. “Estamos em um bom momento”.

O empresário Abilio Diniz, fundador da Península Participações. Foto: Hélvio Romero/Estadão Foto: Hélvio Romero/Estadão

Confira os principais pontos da entrevista:

O que esperar do varejo em 2023? O caso Americanas pode ter algum impacto?

Sobre o caso da Americanas, acho que não muda nada. Não falo sobre esse caso por dois motivos. Primeiro, os acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Carlos Aberto Sicupira e Marcel Telles) são meus amigos de décadas. Até falei com eles mostrando solidariedade, mas nem eles devem saber o que está acontecendo lá dentro. Não tenho as informações, o caso é muito complexo, não quero cometer leviandade. Em relação ao mercado como um todo, não muda nada, absolutamente nada.

Mas não afeta a relação das empresas de varejo com os bancos?

Isso é transitório. Tem certas coisas que não se pode olhar só o dia de hoje, tem que olhar mais para frente. Hoje você pode ter um mau humor, mas depois acalma.

E quais são as perspectivas para o varejo neste ano?

Acredito que vai ser um setor que vai crescer, o consumo das famílias terá expansão. Não há como não crescer com estes estímulos que estão sendo dados. O Lula pretende reajustar o salário mínimo e, se fizer isso, melhora mais ainda a renda das famílias e isso vai para o consumo.

Mas os juros neste nível prejudicam o crédito para pessoa física, não?

Essa taxa de juros inibe aquele que vai comprar alguma geladeira ou televisor e compra isso a prazo. Essa pessoa, se puder, vai empurrar isso para frente, pois a taxa de juros está muito alta. Como isso é transitório, dizem: “Não vou comprar neste ano, vou comprar ano que vem”. Esse delay [adiamento] existe por causa da taxa de juros. Na alimentação, isso é menos importante, pois a venda a crédito na alimentação é muito menor. Para aqueles que estão em setores de coisas mais leves, como vestuário, por exemplo, a taxa não influi muito. Para os mais pesados, há um delay (nas vendas).

O senhor disse que confia no Banco Central para definir qual o melhor momento para cortar juros. Ao mesmo tempo, o presidente Lula tem criticado o BC independente. Como avalia essa discussão sobre os juros?

A questão não é se o Banco Central de um país como o Brasil deve ser independente. Precisamos de um Banco Central responsável. Eles têm ferramentas de análises que os outros não possuem. Sendo responsáveis com as informações que têm, eles têm que saber qual o melhor momento para baixar a taxa de juros. Viemos de uma taxa de inflação de 13% para menos de 6% no final do ano. Isso é uma vitória extraordinária. Mas quando se começa a ver as projeções para frente, tem um certo repique da inflação e, provavelmente, em janeiro ela vai ser mais alta do que foi em dezembro. Isso faz com que o Banco Central tenha receio de começar o processo de reduzir os juros. Quem viveu a hiperinflação como eu, tem medo dela. E quem é o mais penalizado é o pobre, que não tem chance de se defender.

O senhor declarou que a Península e o Carrefour continuam investindo. Mesmo com a taxa de juros mais alta?

Considero que a taxa de juros é transitória. Não se pode imaginar que vai ficar nesse nível por muito tempo. Quando o Banco Central sentir que a inflação está mais controlada, ele vai começar a baixar. Você não faz investimento olhando hoje e o mês que vem. O Carrefour e a Península fazem investimento de médio e longo prazo.

O que o senhor tem visto na França que pode mostrar tendências para o Brasil?

Estou há 23 anos em duas empresas diferentes. Primeiro, com o pessoal do Casino, depois, saí de lá e fui, por meio da Península, para o Carrefour global. Era já um desejo antigo nosso fazer algo com eles. Para mim, o fato de estar na sede global me dá uma visão de mundo muito maior. Temos operação na Europa inteira e, até pouco tempo atrás, na China também. Isso me dá uma visão de mundo maior que me ajuda, inclusive, como economista, a desenvolver ideias sobre o Brasil. Não dá para analisar o Brasil, no mundo de hoje, isoladamente. É preciso analisar o Brasil dentro do contexto mundial.

Ficando aqui, apenas, o senhor não teria essa visão?

Não somos uma ilha aonde não chega nada. Hoje estamos conectados até em lugares longínquos. Os investidores sabem disso e olham tudo. E nós (o Brasil) somos profundamente atraentes. Deixa esse governo acalmar e apresentar os seus planos, que sejam consistentes. Teremos muito investimento e vamos crescer.

Uma conversa entre o senhor e Jean-Charles Naouri chegou a acontecer para algum negócio aqui no Brasil?

Não, minha briga com o Jean se encerrou há muito tempo. Estamos em boa situação. Mas, enfim, já encerramos nossos negócios. Estou no Carrefour e estou satisfeito com as pessoas lá.

E o pessoal de lá (do Carrefour) está vindo para cá?

O Brasil é tão importante para nós no contexto mundial que vamos fazer uma reunião do Conselho no Brasil. A operação aqui sempre foi rentável e importante, mas é o desenvolvimento do País (que interessa). Quando se fala na Europa sobre o Brasil, brilha o olho. O Brasil é extremamente atraente. Agora, com essa ideia de que vamos cuidar mais do meio ambiente e das relações internacionais, o Brasil volta ao contexto mundial com muita simpatia do mundo

A Americanas não interfere nessa imagem externa do Brasil?

Eu não ouvi nenhum francês perguntar sobre isso. Pode ser que alguém me pergunte. Até agora, ninguém perguntou nada.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast no dia 31/01/2023, às 15h13

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Entrevista por Altamiro Silva Junior

Altamiro Silva Junior é repórter especial do Broadcast. Responsável pela cobertura de negócios e bancos de investimento, é formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mestrado em Economia pela mesma universidade. Foi correspondente da Agência Estado em Nova York por quatro anos e seis meses, entre 2012 e 2017.

Talita Nascimento

Talita Nascimento é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Responsável pela cobertura de varejo e bens de consumo, é formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), com especialização em economia pela FGV. Foi uma das 50 jornalistas de Economia Mais Admiradas de 2023, segundo o Jornalistas & Cia.

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