A Inter Asset, gestora de recursos do Banco Inter, da família Menin, está lançando um fundo de investimento para construção e venda de prédios residenciais nos Estados Unidos. Os projetos são da Resia, incorporadora que pertence ao conglomerado MRV&Co, da mesma família. A expectativa é captar R$ 100 milhões junto a investidores qualificados. O fundo tem prazo previsto de cinco anos, podendo ser esticado por mais dois. O retorno esperado é de 12,6% ao ano, em dólar, líquido de impostos, custos, taxas de administração e performance.
A Resia constrói prédios residenciais cujos apartamentos são destinados à locação para norte-americanos da classe média. Entram aí solteiros e casais jovens, com até dois filhos, e renda anual menor que US$ 90 mil. É a chamada “workforce”, ou classe trabalhadora em bom português. Na visão do grupo MRV&Co, há uma demanda não atendida de moradia, uma vez que os preços dos imóveis subiram muito, e o aluguel se tornou a saída possível para essas pessoas.
Só que a Resia não vive só de locação. Depois que a maioria dos apartamentos já foi alugada, o edifício inteiro é vendido a investidores institucionais. Da mesma forma, o propósito do fundo desenvolvido pela Inter Asset é obter ganho de capital com a venda do ativo após sua construção, locação e a chamada estabilização.
Aportes vão ocorrer em três projetos da Resia na Flórida e no Texas
O fundo vai participar de três projetos da Resia localizados na Flórida e no Texas. Ao todo, serão erguidos sete prédios, com 1,4 mil apartamentos. A previsão é que as obras sejam iniciadas na virada deste ano e terminem em 2025, com a venda dos edifícios estimada para 2026. É aí que os cotistas terão seu retorno.
O lançamento do fundo – chamado de Inter Resia Development Opportunity Fund I – aconteceu numa semana que foi dura para a MRV&Co. O mercado reagiu mal ao relatório operacional do grupo, que mostrou uma queima de caixa elevada, de R$ 635 milhões, dos quais R$ 443 milhões vieram da Resia.
Com isso, as ações da companhia caíram quase 10% na quarta-feira, 18. No dia seguinte, a MRV&Co tentou acalmar o mercado anunciando que prevê vender cinco empreendimentos até o fim de 2024, levantando US$ 400 milhões. Apesar de dar mais previsibilidade ao negócio, o valor das vendas ficou abaixo do previsto pelo mercado, e as ações da companhia caíram mais 1,2% na sexta-feira, 20.
A Resia é uma empresa jovem e em fase de expansão, com a meta de atingir patamar de produção de 12 mil apartamentos por ano, o que a colocaria entre as grandes do setor nos EUA. Até aqui, foram construídas 3 mil unidades. O problema é que, quando as vendas dos prédios não acontecem no trimestre, há um consumo de caixa grande, e em dólar, associado às obras, desenvolvimento de projetos e manutenção das equipes, o que polui o balanço da MRV&Co, cujo negócio principal é a construção e venda de imóveis no Brasil, com receita em real.
No ano passado, o grupo chegou a contratar bancos de investimentos para atrair sócios que pudessem aportar recursos na Resia em troca de uma participação da companhia, conforme revelou a Coluna na ocasião. O processo foi suspenso por conta da disparada dos juros nos EUA e a pressão para baixo no valor de avaliação das empresas. Com os juros ainda altos, o processo não deve ser retomado tão cedo, aí que o fundo Inter Resia terá um papel importante para ajudar a compor os recursos para os próximos projetos.
Procurada, a MRV&Co não concedeu entrevista.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 23/10/23, às 10h55.
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