A vitória dos bancos na assembleia de minoritários da Cielo, realizada na terça-feira, 24, teve uma ajuda de dois acionistas que haviam questionado o preço oferecido pelas instituições: a gestora Ibiuna e o investidor Victor Adler. Eles ajudaram a reduzir a fatia de acionistas que apoiavam uma nova avaliação para os papéis, que acabou derrotada. Essa derrota evitou um aumento estimado em R$ 3,1 bilhões na conta com que Bradesco e Banco do Brasil terão de arcar para fechar o capital da credenciadora, mas também elevou em mais de R$ 400 milhões o ganho dos minoritários.
A Coluna apurou que a Ibiuna declarou ter vendido parte de sua posição na Cielo, e que se absteve com o restante dos papéis. A Mantaro Capital e Adler também deixaram de votar. Os três nomes estavam entre os signatários da carta divulgada no final de fevereiro que motivou a discussão de um novo laudo de avaliação, em uma tentativa de aumentar o preço que Bradesco e Banco do Brasil, controladores da Cielo, desembolsariam para fechar o capital da credenciadora.
Na carta, um grupo de acionistas minoritários afirmava que se considerado para a Cielo o mesmo múltiplo a que negociam as ações das rivais Stone e PagBank (ex-PagSeguro), o preço por ação teria de ser de R$ 8,61, e não os R$ 5,35 que os dois bancos haviam oferecido inicialmente, e que ainda seriam ajustados por distribuição de dividendos. Isso elevaria de R$ 5,9 bilhões para R$ 9,5 bilhões o valor da fatia minoritária da empresa. Com base neste cálculo, pediram a assembleia de ontem.
Valor ficou em R$ 5,60 por ação, mais o CDI
Para tentar um acordo, os bancos se comprometeram a elevar o preço para R$ 5,60 por ação, mais o CDI acumulado até o fechamento da operação. A condição era a de que a contratação do novo laudo fosse rejeitada pela assembleia, que aconteceria no dia 2, mas ficou suspensa até ontem para que o novo preço fosse avaliado. Com o desfecho, os bancos elevaram a avaliação da fatia minoritária a cerca de R$ 6,4 bilhões, evitando assim uma despesa potencialmente R$ 9,5 bilhões maior.
Um gestor ligado a uma das casas, ouvido sob anonimato, afirmou que o cenário mudou desde o começo do mês, quando a nova oferta foi feita e a assembleia, interrompida. A queda da Bolsa e a alta dos juros futuros de longo prazo aumentaram o custo de carregar ações. Além disso, o mercado acredita que a Cielo vive um momento negativo em termos operacionais, o que tende a pressionar o preço dos papéis. Por isso, a oferta a R$ 5,60 mais o CDI ganha força: se a ação cair na Bolsa, basta aguardar o leilão para vendê-la aos controladores com um prêmio.
Outras gestoras apoiaram a nova proposta. A Clave, que estava no mesmo grupo de Ibiuna, Mantaro e Adler, votou contra a contratação do novo laudo, endossando, na prática, a posição dos dois bancos. A nova oferta, feita no início do mês, havia sido apoiada pela Clave e por outras gestoras que antes buscavam um preço maior.
Porcentual mínimo de adesões deve ser atingido
A nova assembleia foi mais tranquila que a primeira, o que se refletiu no placar da votação. Entre contrários ao laudo e abstenções, foram cerca de 58% dos votos. É um porcentual muito próximo ao que Bradesco e BB terão de angariar na oferta, de dois terços das ações dos que votaram, para de fato tirar a Cielo da B3. Nos bastidores, espera-se que o porcentual mínimo seja atingido, uma vez que com a perspectiva da oferta pública de aquisição de ações (OPA), a liquidez dos papéis tende a cair, criando uma motivação extra para a venda durante o leilão.
Agora, a oferta com o novo preço será registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os trâmites necessários apontam para o início do leilão de compra entre o final de julho e o começo de agosto. O leilão tem duração de cerca de 30 dias.
Procuradas, Ibiuna e Mantaro não se pronunciaram. A Clave não se manifestou até a publicação desta nota. A Coluna não conseguiu contato com Victor Adler.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 24/04/24, às 15h15
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