Bastidores do mundo dos negócios

Mesmo com aposta em fintechs, bancos estrangeiros perdem espaço no Brasil


Apenas quatro das 20 maiores instituições são de fora do País

Por Altamiro Silva Junior e Matheus Piovesana
Santander é um dos maiores bancos estrangeiros no País. NILTON FUKUDA/ESTADÃO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

Em dez anos, a presença dos bancos estrangeiros no ranking dos maiores do Brasil encolheu, mesmo com a ofensiva recente no varejo por meio dos bancos digitais. Dados do Banco Central mostram que, em dezembro, apenas quatro dos 20 maiores bancos em volume de ativos do País tinham origem estrangeira. Em dezembro de 2012, sete deles figuravam nessa lista.

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A redução mostra o movimento de saída de vários nomes do varejo bancário no País, e também a dificuldade de alguns para surfar a onda dos neobancos e fintechs em solo brasileiro. A mais recente ofensiva de bancos estrangeiros para tentar entrar no disputado varejo brasileiro, um dos maiores mercados do mundo, está se mostrando tão frustrada quanto a anterior.

A maior parte dos nomes relevantes que operam no País se concentra no atendimento a grandes empresas e nas atividades de banco de investimento, enquanto as iniciativas com marcas digitais enfrentam o desafio dos juros altos e de um ciclo de crédito desfavorável. A lista de bancos que deixou o Brasil nos período analisado inclui o gigante inglês HSBC, que vendeu as operações ao Bradesco em 2016. Hoje, os dois maiores bancos internacionais no País em ativos são o Santander e o Citi, e cada um adotou um caminho: o Santander se tornou um titã no varejo após comprar o Banespa, em 2000, e o Real, em 2007, integrá-los e desenvolver uma via de trabalho própria. O Citi decidiu se concentrar no atacado e vendeu o varejo ao Itaú em 2017.

A estratégia deu certo: de 2018 a 2022, o Citi triplicou de tamanho no País. “A decisão estava diretamente relacionada a uma estratégia global do banco de focar em atacado ou em mercados de varejo, à época, em que tivéssemos relevância”, disse ao Broadcast o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. “Nosso varejo era rentável, mas em uma escala muito pequena.”

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Outros bancos globais vêm tentando surfar a onda dos bancos digitais para ter exposição ao varejo, atraídos pelo atendimento que dispensa as amplas redes de agências. No passado, foram elas a principal barreira à entrada de novos competidores no País. Entre os grandes nomes que aderiram ao movimento estão o JPMorgan, que comprou uma fatia no C6 no início de 2022, e o BBVA, que virou sócio do Neon.

Essas entradas se deram na mesma época em que os próprios bancos locais investiam forte em marcas direcionadas ao público digital. Mas o cenário mudou, com os juros mais altos e a desaceleração da economia -, e as fintechs e bancos digitais precisaram rever estratégias.

A maior fintech do Brasil é o Nubank, que tinha R$ 136 bilhões em ativos no fim do ano passado, mais que o JP ou o BNP Paribas, os outros dois estrangeiros entre os 20 maiores.

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Maioria dos estrangeiros ainda atua em banco de investimentos

Boa parte dos bancos estrangeiros que opera hoje no País, como Bank of America, UBS, Goldman Sachs e Morgan Stanley, continuaram voltados a determinados nichos, como banco de investimento ou gestão de fortunas. O UBS inclusive se associou a um local, o Banco do Brasil, para atuar na originação de operações no mercado de capitais. Outros nomes, como o alemão Deutsche Bank e o francês Credit Agricole, reduziram negócios.

Entre os anos 2000 e 2010, grandes bancos de capital externo, sem conseguir competir com os locais no varejo, foram forçados a deixar o Brasil, com a venda das operações a nomes brasileiros como Itaú Unibanco e Bradesco. “Hoje a barreira de entrada para o varejo no Brasil é menor, mas a necessidade de escala é a mesma”, disse Marangon, do Citi. O banco americano está há 108 anos no Brasil

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. O ex-presidente de um banco estrangeiro no Brasil diz que o varejo local não é comparável ao de outros países, portanto não é possível replicar modelos. O segmento tem especificidades que os bancos locais conhecem bem, como dar crédito para a baixa renda em cenários econômicos mais adversos, e as fintechs agora enfrentam esse desafio. Muitas precisaram rever políticas de concessão de crédito e de novos cartões “com o carro em movimento”, diz.

Crédito é visto como essencial para estratégia digital

Ainda assim, nomes da seara digital consideram que é do crédito que virá a maior parte dos resultados nos próximos anos. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito”, disse ao Broadcast na semana passada o CEO do Nubank, David Vélez.

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A virada de mercado, no entanto, representa um obstáculo a essa estratégia. Fintechs estrangeiras que estavam de malas prontas para desembarcar no Brasil, como o alemão N26, tiveram de revisar a estratégia ao longo do último ano, e as de origem brasileira também se viram obrigadas a conceder empréstimos a partir de preceitos mais rigorosos.

O contexto de curto prazo não é o único obstáculo. “Nenhuma dessas fintechs (estrangeiras) começa com crédito, e se começarem, vão levar de cinco a dez anos para montar um modelo, e precisarão de captação em moeda local”, afirmou Vélez. “O Brasil é tão grande que elas podem crescer, mas duvido que virem o banco principal do brasileiro, e não é necessariamente a estratégia delas.”

Com mais de 75 milhões de clientes no Brasil, o Nubank quer ser o banco principal de seus clientes, e Vélez afirma que isso passa por conceder limites maiores.

Santander é um dos maiores bancos estrangeiros no País. NILTON FUKUDA/ESTADÃO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

Em dez anos, a presença dos bancos estrangeiros no ranking dos maiores do Brasil encolheu, mesmo com a ofensiva recente no varejo por meio dos bancos digitais. Dados do Banco Central mostram que, em dezembro, apenas quatro dos 20 maiores bancos em volume de ativos do País tinham origem estrangeira. Em dezembro de 2012, sete deles figuravam nessa lista.

A redução mostra o movimento de saída de vários nomes do varejo bancário no País, e também a dificuldade de alguns para surfar a onda dos neobancos e fintechs em solo brasileiro. A mais recente ofensiva de bancos estrangeiros para tentar entrar no disputado varejo brasileiro, um dos maiores mercados do mundo, está se mostrando tão frustrada quanto a anterior.

A maior parte dos nomes relevantes que operam no País se concentra no atendimento a grandes empresas e nas atividades de banco de investimento, enquanto as iniciativas com marcas digitais enfrentam o desafio dos juros altos e de um ciclo de crédito desfavorável. A lista de bancos que deixou o Brasil nos período analisado inclui o gigante inglês HSBC, que vendeu as operações ao Bradesco em 2016. Hoje, os dois maiores bancos internacionais no País em ativos são o Santander e o Citi, e cada um adotou um caminho: o Santander se tornou um titã no varejo após comprar o Banespa, em 2000, e o Real, em 2007, integrá-los e desenvolver uma via de trabalho própria. O Citi decidiu se concentrar no atacado e vendeu o varejo ao Itaú em 2017.

A estratégia deu certo: de 2018 a 2022, o Citi triplicou de tamanho no País. “A decisão estava diretamente relacionada a uma estratégia global do banco de focar em atacado ou em mercados de varejo, à época, em que tivéssemos relevância”, disse ao Broadcast o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. “Nosso varejo era rentável, mas em uma escala muito pequena.”

Outros bancos globais vêm tentando surfar a onda dos bancos digitais para ter exposição ao varejo, atraídos pelo atendimento que dispensa as amplas redes de agências. No passado, foram elas a principal barreira à entrada de novos competidores no País. Entre os grandes nomes que aderiram ao movimento estão o JPMorgan, que comprou uma fatia no C6 no início de 2022, e o BBVA, que virou sócio do Neon.

Essas entradas se deram na mesma época em que os próprios bancos locais investiam forte em marcas direcionadas ao público digital. Mas o cenário mudou, com os juros mais altos e a desaceleração da economia -, e as fintechs e bancos digitais precisaram rever estratégias.

A maior fintech do Brasil é o Nubank, que tinha R$ 136 bilhões em ativos no fim do ano passado, mais que o JP ou o BNP Paribas, os outros dois estrangeiros entre os 20 maiores.

Maioria dos estrangeiros ainda atua em banco de investimentos

Boa parte dos bancos estrangeiros que opera hoje no País, como Bank of America, UBS, Goldman Sachs e Morgan Stanley, continuaram voltados a determinados nichos, como banco de investimento ou gestão de fortunas. O UBS inclusive se associou a um local, o Banco do Brasil, para atuar na originação de operações no mercado de capitais. Outros nomes, como o alemão Deutsche Bank e o francês Credit Agricole, reduziram negócios.

Entre os anos 2000 e 2010, grandes bancos de capital externo, sem conseguir competir com os locais no varejo, foram forçados a deixar o Brasil, com a venda das operações a nomes brasileiros como Itaú Unibanco e Bradesco. “Hoje a barreira de entrada para o varejo no Brasil é menor, mas a necessidade de escala é a mesma”, disse Marangon, do Citi. O banco americano está há 108 anos no Brasil

. O ex-presidente de um banco estrangeiro no Brasil diz que o varejo local não é comparável ao de outros países, portanto não é possível replicar modelos. O segmento tem especificidades que os bancos locais conhecem bem, como dar crédito para a baixa renda em cenários econômicos mais adversos, e as fintechs agora enfrentam esse desafio. Muitas precisaram rever políticas de concessão de crédito e de novos cartões “com o carro em movimento”, diz.

Crédito é visto como essencial para estratégia digital

Ainda assim, nomes da seara digital consideram que é do crédito que virá a maior parte dos resultados nos próximos anos. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito”, disse ao Broadcast na semana passada o CEO do Nubank, David Vélez.

A virada de mercado, no entanto, representa um obstáculo a essa estratégia. Fintechs estrangeiras que estavam de malas prontas para desembarcar no Brasil, como o alemão N26, tiveram de revisar a estratégia ao longo do último ano, e as de origem brasileira também se viram obrigadas a conceder empréstimos a partir de preceitos mais rigorosos.

O contexto de curto prazo não é o único obstáculo. “Nenhuma dessas fintechs (estrangeiras) começa com crédito, e se começarem, vão levar de cinco a dez anos para montar um modelo, e precisarão de captação em moeda local”, afirmou Vélez. “O Brasil é tão grande que elas podem crescer, mas duvido que virem o banco principal do brasileiro, e não é necessariamente a estratégia delas.”

Com mais de 75 milhões de clientes no Brasil, o Nubank quer ser o banco principal de seus clientes, e Vélez afirma que isso passa por conceder limites maiores.

Santander é um dos maiores bancos estrangeiros no País. NILTON FUKUDA/ESTADÃO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

Em dez anos, a presença dos bancos estrangeiros no ranking dos maiores do Brasil encolheu, mesmo com a ofensiva recente no varejo por meio dos bancos digitais. Dados do Banco Central mostram que, em dezembro, apenas quatro dos 20 maiores bancos em volume de ativos do País tinham origem estrangeira. Em dezembro de 2012, sete deles figuravam nessa lista.

A redução mostra o movimento de saída de vários nomes do varejo bancário no País, e também a dificuldade de alguns para surfar a onda dos neobancos e fintechs em solo brasileiro. A mais recente ofensiva de bancos estrangeiros para tentar entrar no disputado varejo brasileiro, um dos maiores mercados do mundo, está se mostrando tão frustrada quanto a anterior.

A maior parte dos nomes relevantes que operam no País se concentra no atendimento a grandes empresas e nas atividades de banco de investimento, enquanto as iniciativas com marcas digitais enfrentam o desafio dos juros altos e de um ciclo de crédito desfavorável. A lista de bancos que deixou o Brasil nos período analisado inclui o gigante inglês HSBC, que vendeu as operações ao Bradesco em 2016. Hoje, os dois maiores bancos internacionais no País em ativos são o Santander e o Citi, e cada um adotou um caminho: o Santander se tornou um titã no varejo após comprar o Banespa, em 2000, e o Real, em 2007, integrá-los e desenvolver uma via de trabalho própria. O Citi decidiu se concentrar no atacado e vendeu o varejo ao Itaú em 2017.

A estratégia deu certo: de 2018 a 2022, o Citi triplicou de tamanho no País. “A decisão estava diretamente relacionada a uma estratégia global do banco de focar em atacado ou em mercados de varejo, à época, em que tivéssemos relevância”, disse ao Broadcast o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. “Nosso varejo era rentável, mas em uma escala muito pequena.”

Outros bancos globais vêm tentando surfar a onda dos bancos digitais para ter exposição ao varejo, atraídos pelo atendimento que dispensa as amplas redes de agências. No passado, foram elas a principal barreira à entrada de novos competidores no País. Entre os grandes nomes que aderiram ao movimento estão o JPMorgan, que comprou uma fatia no C6 no início de 2022, e o BBVA, que virou sócio do Neon.

Essas entradas se deram na mesma época em que os próprios bancos locais investiam forte em marcas direcionadas ao público digital. Mas o cenário mudou, com os juros mais altos e a desaceleração da economia -, e as fintechs e bancos digitais precisaram rever estratégias.

A maior fintech do Brasil é o Nubank, que tinha R$ 136 bilhões em ativos no fim do ano passado, mais que o JP ou o BNP Paribas, os outros dois estrangeiros entre os 20 maiores.

Maioria dos estrangeiros ainda atua em banco de investimentos

Boa parte dos bancos estrangeiros que opera hoje no País, como Bank of America, UBS, Goldman Sachs e Morgan Stanley, continuaram voltados a determinados nichos, como banco de investimento ou gestão de fortunas. O UBS inclusive se associou a um local, o Banco do Brasil, para atuar na originação de operações no mercado de capitais. Outros nomes, como o alemão Deutsche Bank e o francês Credit Agricole, reduziram negócios.

Entre os anos 2000 e 2010, grandes bancos de capital externo, sem conseguir competir com os locais no varejo, foram forçados a deixar o Brasil, com a venda das operações a nomes brasileiros como Itaú Unibanco e Bradesco. “Hoje a barreira de entrada para o varejo no Brasil é menor, mas a necessidade de escala é a mesma”, disse Marangon, do Citi. O banco americano está há 108 anos no Brasil

. O ex-presidente de um banco estrangeiro no Brasil diz que o varejo local não é comparável ao de outros países, portanto não é possível replicar modelos. O segmento tem especificidades que os bancos locais conhecem bem, como dar crédito para a baixa renda em cenários econômicos mais adversos, e as fintechs agora enfrentam esse desafio. Muitas precisaram rever políticas de concessão de crédito e de novos cartões “com o carro em movimento”, diz.

Crédito é visto como essencial para estratégia digital

Ainda assim, nomes da seara digital consideram que é do crédito que virá a maior parte dos resultados nos próximos anos. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito”, disse ao Broadcast na semana passada o CEO do Nubank, David Vélez.

A virada de mercado, no entanto, representa um obstáculo a essa estratégia. Fintechs estrangeiras que estavam de malas prontas para desembarcar no Brasil, como o alemão N26, tiveram de revisar a estratégia ao longo do último ano, e as de origem brasileira também se viram obrigadas a conceder empréstimos a partir de preceitos mais rigorosos.

O contexto de curto prazo não é o único obstáculo. “Nenhuma dessas fintechs (estrangeiras) começa com crédito, e se começarem, vão levar de cinco a dez anos para montar um modelo, e precisarão de captação em moeda local”, afirmou Vélez. “O Brasil é tão grande que elas podem crescer, mas duvido que virem o banco principal do brasileiro, e não é necessariamente a estratégia delas.”

Com mais de 75 milhões de clientes no Brasil, o Nubank quer ser o banco principal de seus clientes, e Vélez afirma que isso passa por conceder limites maiores.

Santander é um dos maiores bancos estrangeiros no País. NILTON FUKUDA/ESTADÃO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

Em dez anos, a presença dos bancos estrangeiros no ranking dos maiores do Brasil encolheu, mesmo com a ofensiva recente no varejo por meio dos bancos digitais. Dados do Banco Central mostram que, em dezembro, apenas quatro dos 20 maiores bancos em volume de ativos do País tinham origem estrangeira. Em dezembro de 2012, sete deles figuravam nessa lista.

A redução mostra o movimento de saída de vários nomes do varejo bancário no País, e também a dificuldade de alguns para surfar a onda dos neobancos e fintechs em solo brasileiro. A mais recente ofensiva de bancos estrangeiros para tentar entrar no disputado varejo brasileiro, um dos maiores mercados do mundo, está se mostrando tão frustrada quanto a anterior.

A maior parte dos nomes relevantes que operam no País se concentra no atendimento a grandes empresas e nas atividades de banco de investimento, enquanto as iniciativas com marcas digitais enfrentam o desafio dos juros altos e de um ciclo de crédito desfavorável. A lista de bancos que deixou o Brasil nos período analisado inclui o gigante inglês HSBC, que vendeu as operações ao Bradesco em 2016. Hoje, os dois maiores bancos internacionais no País em ativos são o Santander e o Citi, e cada um adotou um caminho: o Santander se tornou um titã no varejo após comprar o Banespa, em 2000, e o Real, em 2007, integrá-los e desenvolver uma via de trabalho própria. O Citi decidiu se concentrar no atacado e vendeu o varejo ao Itaú em 2017.

A estratégia deu certo: de 2018 a 2022, o Citi triplicou de tamanho no País. “A decisão estava diretamente relacionada a uma estratégia global do banco de focar em atacado ou em mercados de varejo, à época, em que tivéssemos relevância”, disse ao Broadcast o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. “Nosso varejo era rentável, mas em uma escala muito pequena.”

Outros bancos globais vêm tentando surfar a onda dos bancos digitais para ter exposição ao varejo, atraídos pelo atendimento que dispensa as amplas redes de agências. No passado, foram elas a principal barreira à entrada de novos competidores no País. Entre os grandes nomes que aderiram ao movimento estão o JPMorgan, que comprou uma fatia no C6 no início de 2022, e o BBVA, que virou sócio do Neon.

Essas entradas se deram na mesma época em que os próprios bancos locais investiam forte em marcas direcionadas ao público digital. Mas o cenário mudou, com os juros mais altos e a desaceleração da economia -, e as fintechs e bancos digitais precisaram rever estratégias.

A maior fintech do Brasil é o Nubank, que tinha R$ 136 bilhões em ativos no fim do ano passado, mais que o JP ou o BNP Paribas, os outros dois estrangeiros entre os 20 maiores.

Maioria dos estrangeiros ainda atua em banco de investimentos

Boa parte dos bancos estrangeiros que opera hoje no País, como Bank of America, UBS, Goldman Sachs e Morgan Stanley, continuaram voltados a determinados nichos, como banco de investimento ou gestão de fortunas. O UBS inclusive se associou a um local, o Banco do Brasil, para atuar na originação de operações no mercado de capitais. Outros nomes, como o alemão Deutsche Bank e o francês Credit Agricole, reduziram negócios.

Entre os anos 2000 e 2010, grandes bancos de capital externo, sem conseguir competir com os locais no varejo, foram forçados a deixar o Brasil, com a venda das operações a nomes brasileiros como Itaú Unibanco e Bradesco. “Hoje a barreira de entrada para o varejo no Brasil é menor, mas a necessidade de escala é a mesma”, disse Marangon, do Citi. O banco americano está há 108 anos no Brasil

. O ex-presidente de um banco estrangeiro no Brasil diz que o varejo local não é comparável ao de outros países, portanto não é possível replicar modelos. O segmento tem especificidades que os bancos locais conhecem bem, como dar crédito para a baixa renda em cenários econômicos mais adversos, e as fintechs agora enfrentam esse desafio. Muitas precisaram rever políticas de concessão de crédito e de novos cartões “com o carro em movimento”, diz.

Crédito é visto como essencial para estratégia digital

Ainda assim, nomes da seara digital consideram que é do crédito que virá a maior parte dos resultados nos próximos anos. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito”, disse ao Broadcast na semana passada o CEO do Nubank, David Vélez.

A virada de mercado, no entanto, representa um obstáculo a essa estratégia. Fintechs estrangeiras que estavam de malas prontas para desembarcar no Brasil, como o alemão N26, tiveram de revisar a estratégia ao longo do último ano, e as de origem brasileira também se viram obrigadas a conceder empréstimos a partir de preceitos mais rigorosos.

O contexto de curto prazo não é o único obstáculo. “Nenhuma dessas fintechs (estrangeiras) começa com crédito, e se começarem, vão levar de cinco a dez anos para montar um modelo, e precisarão de captação em moeda local”, afirmou Vélez. “O Brasil é tão grande que elas podem crescer, mas duvido que virem o banco principal do brasileiro, e não é necessariamente a estratégia delas.”

Com mais de 75 milhões de clientes no Brasil, o Nubank quer ser o banco principal de seus clientes, e Vélez afirma que isso passa por conceder limites maiores.

Santander é um dos maiores bancos estrangeiros no País. NILTON FUKUDA/ESTADÃO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

Em dez anos, a presença dos bancos estrangeiros no ranking dos maiores do Brasil encolheu, mesmo com a ofensiva recente no varejo por meio dos bancos digitais. Dados do Banco Central mostram que, em dezembro, apenas quatro dos 20 maiores bancos em volume de ativos do País tinham origem estrangeira. Em dezembro de 2012, sete deles figuravam nessa lista.

A redução mostra o movimento de saída de vários nomes do varejo bancário no País, e também a dificuldade de alguns para surfar a onda dos neobancos e fintechs em solo brasileiro. A mais recente ofensiva de bancos estrangeiros para tentar entrar no disputado varejo brasileiro, um dos maiores mercados do mundo, está se mostrando tão frustrada quanto a anterior.

A maior parte dos nomes relevantes que operam no País se concentra no atendimento a grandes empresas e nas atividades de banco de investimento, enquanto as iniciativas com marcas digitais enfrentam o desafio dos juros altos e de um ciclo de crédito desfavorável. A lista de bancos que deixou o Brasil nos período analisado inclui o gigante inglês HSBC, que vendeu as operações ao Bradesco em 2016. Hoje, os dois maiores bancos internacionais no País em ativos são o Santander e o Citi, e cada um adotou um caminho: o Santander se tornou um titã no varejo após comprar o Banespa, em 2000, e o Real, em 2007, integrá-los e desenvolver uma via de trabalho própria. O Citi decidiu se concentrar no atacado e vendeu o varejo ao Itaú em 2017.

A estratégia deu certo: de 2018 a 2022, o Citi triplicou de tamanho no País. “A decisão estava diretamente relacionada a uma estratégia global do banco de focar em atacado ou em mercados de varejo, à época, em que tivéssemos relevância”, disse ao Broadcast o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. “Nosso varejo era rentável, mas em uma escala muito pequena.”

Outros bancos globais vêm tentando surfar a onda dos bancos digitais para ter exposição ao varejo, atraídos pelo atendimento que dispensa as amplas redes de agências. No passado, foram elas a principal barreira à entrada de novos competidores no País. Entre os grandes nomes que aderiram ao movimento estão o JPMorgan, que comprou uma fatia no C6 no início de 2022, e o BBVA, que virou sócio do Neon.

Essas entradas se deram na mesma época em que os próprios bancos locais investiam forte em marcas direcionadas ao público digital. Mas o cenário mudou, com os juros mais altos e a desaceleração da economia -, e as fintechs e bancos digitais precisaram rever estratégias.

A maior fintech do Brasil é o Nubank, que tinha R$ 136 bilhões em ativos no fim do ano passado, mais que o JP ou o BNP Paribas, os outros dois estrangeiros entre os 20 maiores.

Maioria dos estrangeiros ainda atua em banco de investimentos

Boa parte dos bancos estrangeiros que opera hoje no País, como Bank of America, UBS, Goldman Sachs e Morgan Stanley, continuaram voltados a determinados nichos, como banco de investimento ou gestão de fortunas. O UBS inclusive se associou a um local, o Banco do Brasil, para atuar na originação de operações no mercado de capitais. Outros nomes, como o alemão Deutsche Bank e o francês Credit Agricole, reduziram negócios.

Entre os anos 2000 e 2010, grandes bancos de capital externo, sem conseguir competir com os locais no varejo, foram forçados a deixar o Brasil, com a venda das operações a nomes brasileiros como Itaú Unibanco e Bradesco. “Hoje a barreira de entrada para o varejo no Brasil é menor, mas a necessidade de escala é a mesma”, disse Marangon, do Citi. O banco americano está há 108 anos no Brasil

. O ex-presidente de um banco estrangeiro no Brasil diz que o varejo local não é comparável ao de outros países, portanto não é possível replicar modelos. O segmento tem especificidades que os bancos locais conhecem bem, como dar crédito para a baixa renda em cenários econômicos mais adversos, e as fintechs agora enfrentam esse desafio. Muitas precisaram rever políticas de concessão de crédito e de novos cartões “com o carro em movimento”, diz.

Crédito é visto como essencial para estratégia digital

Ainda assim, nomes da seara digital consideram que é do crédito que virá a maior parte dos resultados nos próximos anos. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito”, disse ao Broadcast na semana passada o CEO do Nubank, David Vélez.

A virada de mercado, no entanto, representa um obstáculo a essa estratégia. Fintechs estrangeiras que estavam de malas prontas para desembarcar no Brasil, como o alemão N26, tiveram de revisar a estratégia ao longo do último ano, e as de origem brasileira também se viram obrigadas a conceder empréstimos a partir de preceitos mais rigorosos.

O contexto de curto prazo não é o único obstáculo. “Nenhuma dessas fintechs (estrangeiras) começa com crédito, e se começarem, vão levar de cinco a dez anos para montar um modelo, e precisarão de captação em moeda local”, afirmou Vélez. “O Brasil é tão grande que elas podem crescer, mas duvido que virem o banco principal do brasileiro, e não é necessariamente a estratégia delas.”

Com mais de 75 milhões de clientes no Brasil, o Nubank quer ser o banco principal de seus clientes, e Vélez afirma que isso passa por conceder limites maiores.

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