Bastidores do mundo dos negócios

Pátria estuda próximos leilões de transmissão e analisa hidrogênio verde


Marcelo Souza, responsável pela área na gestora, diz que todos os temas ligados à transição energética são alvo de atenção

Por Luciana Collet, Wilian Miron e Cristiane Barbieri
Atualização:

Uma das áreas tradicionalmente de destaque no segmento de infraestrutura do Pátria Investimentos, o setor elétrico segue como prioridade para potenciais novos aportes. Temas ligados à transição energética estão entre as apostas da gestora, que não deixa de lado segmentos nos quais já tem atuação de destaque, como Transmissão e Geração Renovável. “Vamos estar sempre muito atentos a todos os temas de transição energética”, diz Marcelo Souza, responsável pela área no Pátria. Ele cita, como exemplos, hidrogênio verde, mobilidade elétrica e baterias.

A primeira investida na área, diz Souza, veio por meio da recém-criada Élis Energia, plataforma voltada ao desenvolvimento de projetos de geração distribuída remota. A estratégia de apostar em miniusinas solares também foi impulsionada pelo forte crescimento desse segmento, em oposição ao de geração renovável centralizada, ou seja, de usinas de maior porte, que enfrenta um cenário adverso de preços de energia muito baixos e custos de construção mais elevados, dificultando a viabilização de novos empreendimentos.

Ainda assim, Souza afirma que, por meio da plataforma Essentia Energia, segue preparando projetos para “quando esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado”.

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A Essentia é um retorno às origens dos investimentos em infraestrutura do Pátria, que teve na antiga Energias Renováveis (ERSA) sua primeira companhia criada, em 2006, a partir de seu fundo 1 e que depois se tornou a CPFL Renováveis.

Placas de energia solar: geração distribuída é tendência mundial, diz Souza, do Pátria Foto: Dayse Maria/Estadão

Outro retorno pode acontecer no segmento de transmissão, no qual a gestora criou e desenvolveu, em 2016, a Argo, que construiu três concessões, sendo posteriormente vendida para o Grupo Energía de Bogotá e a Red Elétrica de Espanha. Segundo Souza, a equipe analisa os lotes que devem ir a leilão este ano. “Se conseguirmos buscar um ângulo em que a gente consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Como o Pátria avalia o cenário da geração de energia, com preços reduzidos e perspectiva de manutenção nesse nível, além de grande número de nova capacidade prevista pra entrar em operação? Isso inibe projetos de geração?

Marcelo Souza - Esse é um ponto importante. O custo de investimento aumentou nos últimos anos, por conta de pandemia, inflação de custo, tanto no eólico, quanto no solar, e o preço da energia de curto prazo caiu. Isso inibe os grandes consumidores livres, principal mercado para a geração renovável. Esses grandes consumidores estão atendendo à demanda de longo prazo com contratos mais curtos, porque o preço dessa energia está baixo. Então, nesse momento, está mais difícil viabilizar grandes projetos de geração centralizada, mas continuamos preparando os de grande porte, para o momento que esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado. Neste meio tempo, avançamos em GD (geração distribuída), o mercado que hoje cresce no Brasil, com a criação da Élis.

O Pátria trabalha com algum horizonte para o retorno aos patamares de preços mais favoráveis?

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Souza - Temos os projetos que estamos preparando para começar a construir em algum momento. No momento em que o preço fechar a conta, vamos fechar PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia, na sigla em inglês), e viabilizar o projeto. Os fundos são longos, não precisamos investir tudo amanhã. Eventualmente não estou fazendo muito investimento em energia, mas estou acelerando em rodovias ou em infraestrutura de dados. Não estou crescendo em energia no Brasil, mas vou crescer na Colômbia. Estamos desenvolvendo quase 500 MW de projeto solar lá.

Os srs. têm uma empresa na Colômbia ou fazem a partir da plataforma de energia Essentia?

Souza - Tudo nasce na gestora do Pátria, mas a gente sempre se apoia no conhecimento das investidas. O que temos lá é um núcleo, um time técnico e de investimentos do Pátria, que está desenvolvendo projetos com parceiros locais. No momento em que conseguirmos viabilizar aqueles projetos, aí vou trazer time de gestão da Essentia para nos ajudar a estabelecer um time local e criar o mesmo tipo de conhecimento que temos na Essentia aqui hoje. Foi o que aconteceu em rodovias: a gente entrou na Entrevias e quando replicou na Colômbia, toda a tecnologia que a gente conhecia de rodovia no Brasil a gente transladou para lá, sempre com executivos locais. É a combinação da expertise setorial com executivos locais, que conhecem o ambiente regulatório e financeiro daquela determinada geografia.

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Qual o tamanho do pipeline de projetos de geração de energia do Pátria?

Souza - Entre projetos mapeados, a gente tem mais de 10 gigawatts (GW), mas com exclusividade, o que já está dentro de casa, temos mais de 1 GW de projetos no pipeline entre Brasil e a Colômbia, nossos dois principais mercados para geração renovável.

Há grande perspectiva de novos investimentos no segmento de transmissão, e o governo planeja para este ano três grandes leilões. O Pátria está analisando esses projetos?

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Souza - Sim, vamos olhar. A gente já monitorava esse setor há muito tempo, e em 2016 e 2027 ganhamos dois leilões fantásticos e criamos a Argo naquele momento (empresa que foi posteriormente vendida). A gente continua muito ativo. Se conseguirmos buscar um ângulo no qual consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes.

Para os próximos leilões, a estratégia Pátria pode ter parcerias com outras empresas?

Souza - Poderia. Somos muito associativos. Dependendo da situação, quando faz sentido estratégico, ou mesmo por uma questão de tamanho, estamos abertos e fazemos parcerias. Basta ver algumas das nossas investidas. Somos muito abertos a sociedades, à participação, desde que a gente consiga ser ativo naquela parceria.

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Neste ano, há muitos negócios colocados à venda no setor elétrico. A Neoenergia, por exemplo, busca um sócio para suas linhas de transmissão. Os srs. poderiam entrar como sócios?

Souza - A gente sempre analisa todas as oportunidades que estão no mercado.

Temos visto várias empresas grandes criando iniciativas para transição energética. Como o Pátria tem se posicionado com relação a isso?

Souza - Estamos muito atentos. O tema da GD (geração distribuída), por exemplo, já está acontecendo. O ambiente regulatório desenhou um caminho para que a geração distribuída crescesse muito, tanto nos telhados de famílias ou pequenas empresas para diminuir a conta de luz, quanto na microgeração descentralizada, na qual se constroem várias plantas para atender consumidores. Para isso, criamos, recentemente, a Élis, nossa plataforma de geração distribuída, com um plano ambicioso de crescimento. Para qualquer novo tema de transição energética que surgir vai ser igual: nasce aqui, estudamos a tese, desenha, até que chega um momento em vamos assinar um contrato, por exemplo, no setor de hidrogênio verde, vai nascer um ‘Pátria Hidrogênio Verde Limitada’.

Houve uma mudança regulatória recentemente, com o marco da geração distribuída, que trouxe segurança jurídica, mas tirou o subsídio. Como o Pátria vê esse cenário?

Souza - O marco da GD tornou as regras claras. Agora, sabe-se exatamente como ela será inserida no sistema, de que forma e qual será o impacto na conta de luz do consumidor, com a tarifa de distribuição (subsídio) tendo prazo definido para diminuir. A atratividade do consumidor que quer acessar GD diminui, mas ela não vai acabar. Certamente haverá um caminho para a geração distribuída no Brasil, porque é uma tendência mundial. A geração descentralizada, na qual a unidade geradora está próxima ao consumo, tem vários méritos, começando por evitar investimentos no sistema de distribuição e de transmissão. Isso ajuda a diminuir as ineficiências. O marco regulatório basicamente definiu como tudo isso vai funcionar, mesmo que agora haja uma corrida para que todos consigam se posicionar, enquanto o benefício está no momento mais atraente.

O plano da Élis, voltado à construção de muitas usinas em um curto espaço de tempo, foi criado para aproveitar esse momento?

Souza - Exato. Como tem a regra que o benefício cheio vale para projetos protocolando o pedido de parecer de acesso até 6 de janeiro deste ano, a Élis está investindo neles e atraindo outros, em vias de obtê-los, que protocolaram dentro do prazo, de forma que a gente tenha esse primeiro grande grupo de projetos com esse incentivo. A gente está basicamente adquirindo portfólio de projetos de quem já se posicionou e já desenvolveu esses projetos.

A Élis anunciou contratos com duas empresas que vão comercializar a energia. A empresa também terá venda direta para o consumidor final?

Souza - Essas empresas (Safira e Evolua) têm maior proximidade com o consumidor final e fazem a ponte com nossas plantas. Queremos atender aos pequenos e médios clientes com parcerias que já tenham essa proximidade com os consumidores finais.

Alguma outra vertente ligada à transição energética vai merecer investimentos?

Souza - Certamente. Há, por exemplo, toda a questão do hidrogênio verde, que ainda não tem viabilidade econômica em grande escala, mas que, em algum momento, vai acontecer, como (aconteceu com a energia) solar. É um tema que a gente monitora e está sempre atento, como acontece com tudo ligado à transição energética. Por exemplo, todo o tema do e-Mobility, a eletrificação de frota, que é uma tendência irreversível. Entre nosso grupo de logística e nosso grupo de energia, estamos muito atentos aos temas de eletrificação de frota, seja de veículos leves - e o que nos chama atenção é eletrificação de frotas corporativas - quanto de ônibus urbanos. Isso já está acontecendo.

Já há negociações em andamento?

Souza - Já tem conversas. É, ainda, um tema novo. Todo o tema das baterias para o setor elétrico, para administrar a sazonalidade da geração, é algo que está se desenvolvendo muito rapidamente. Estamos estudando esse setor, já conversamos com competidores no Brasil e de fora, para que a gente possa eventualmente buscar bons investimentos.

Qual seria o modelo de atuação do Pátria em mobilidade elétrica?

Souza - Em infraestrutura, sempre seremos a empresa que vai fazer o investimento relevante. Muito provavelmente, o modelo será na área corporativa, em, por exemplo, uma companhia com uma frota enorme de ônibus e caminhões. Nós fazemos o investimento por eles nessa frota e em toda a infraestrutura necessária para que ela esteja eletrificada da forma adequada e, em troca, temos um contrato de longo prazo, de 10, 15, 20 anos.

Como o Pátria avalia a abertura do mercado livre de energia?

Souza - Esse é um movimento irreversível, que acontece em outros países. Temos que ter certeza que a regulação vai estar preparada para quando tudo acontecer. Eu diria que as oportunidades continuam as mesmas, de investir em geração e transmissão. Olhando para o Brasil nos próximos 10 anos, o País vai crescer, e a demanda por energia vai crescer, a questão é de adequar o cliente - antes só vendíamos no leilão regulado, agora vamos ter de nos preparar, então a oportunidade está na comercialização. Empresas que se prepararem para atender esses novos clientes, sejam de grande porte, de médio porte ou mesmo varejo, vão ter boas oportunidades.

Os srs. pretendem atuar também em comercialização diretamente?

Souza - Não sabemos, estamos estudando. Existe dentro da Essentia uma área de comercialização, mas o objetivo não é atender varejo, é se aproximar dos grandes consumidores, que demandam energia em grande escala, e com contratos de longo prazo. Se dali vamos nos tornar uma comercializadora mesmo, ainda não sabemos, vamos ver tudo o que vai acontecer. A decisão hoje é ter uma área que apenas viabiliza os contratos dos nossos próprios parques.

O Pátria também tem investimento em termelétrica. Há intenção em ampliar a atuação no segmento?

Souza - Malha Azul é o primeiro grande projeto que vai gerar energia com gás do pré-sal, que entra em operação este ano. Temos a Shell e a Mitsubishi como sócias e somos controladores dessa plataforma. É um projeto que evita a construção de térmicas a óleo diesel e ajuda a estabilizar o sistema elétrico no Sudeste do Brasil. Gostamos do gás. Nossa prioridade é renováveis, mas oportunisticamente, um bom projeto, sustentável, com boas medidas de mitigação dos temas socioambientais, o Pátria vai estar aberto a estudar.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia 28/03/2023, às 16h16

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Uma das áreas tradicionalmente de destaque no segmento de infraestrutura do Pátria Investimentos, o setor elétrico segue como prioridade para potenciais novos aportes. Temas ligados à transição energética estão entre as apostas da gestora, que não deixa de lado segmentos nos quais já tem atuação de destaque, como Transmissão e Geração Renovável. “Vamos estar sempre muito atentos a todos os temas de transição energética”, diz Marcelo Souza, responsável pela área no Pátria. Ele cita, como exemplos, hidrogênio verde, mobilidade elétrica e baterias.

A primeira investida na área, diz Souza, veio por meio da recém-criada Élis Energia, plataforma voltada ao desenvolvimento de projetos de geração distribuída remota. A estratégia de apostar em miniusinas solares também foi impulsionada pelo forte crescimento desse segmento, em oposição ao de geração renovável centralizada, ou seja, de usinas de maior porte, que enfrenta um cenário adverso de preços de energia muito baixos e custos de construção mais elevados, dificultando a viabilização de novos empreendimentos.

Ainda assim, Souza afirma que, por meio da plataforma Essentia Energia, segue preparando projetos para “quando esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado”.

A Essentia é um retorno às origens dos investimentos em infraestrutura do Pátria, que teve na antiga Energias Renováveis (ERSA) sua primeira companhia criada, em 2006, a partir de seu fundo 1 e que depois se tornou a CPFL Renováveis.

Placas de energia solar: geração distribuída é tendência mundial, diz Souza, do Pátria Foto: Dayse Maria/Estadão

Outro retorno pode acontecer no segmento de transmissão, no qual a gestora criou e desenvolveu, em 2016, a Argo, que construiu três concessões, sendo posteriormente vendida para o Grupo Energía de Bogotá e a Red Elétrica de Espanha. Segundo Souza, a equipe analisa os lotes que devem ir a leilão este ano. “Se conseguirmos buscar um ângulo em que a gente consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Pátria avalia o cenário da geração de energia, com preços reduzidos e perspectiva de manutenção nesse nível, além de grande número de nova capacidade prevista pra entrar em operação? Isso inibe projetos de geração?

Marcelo Souza - Esse é um ponto importante. O custo de investimento aumentou nos últimos anos, por conta de pandemia, inflação de custo, tanto no eólico, quanto no solar, e o preço da energia de curto prazo caiu. Isso inibe os grandes consumidores livres, principal mercado para a geração renovável. Esses grandes consumidores estão atendendo à demanda de longo prazo com contratos mais curtos, porque o preço dessa energia está baixo. Então, nesse momento, está mais difícil viabilizar grandes projetos de geração centralizada, mas continuamos preparando os de grande porte, para o momento que esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado. Neste meio tempo, avançamos em GD (geração distribuída), o mercado que hoje cresce no Brasil, com a criação da Élis.

O Pátria trabalha com algum horizonte para o retorno aos patamares de preços mais favoráveis?

Souza - Temos os projetos que estamos preparando para começar a construir em algum momento. No momento em que o preço fechar a conta, vamos fechar PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia, na sigla em inglês), e viabilizar o projeto. Os fundos são longos, não precisamos investir tudo amanhã. Eventualmente não estou fazendo muito investimento em energia, mas estou acelerando em rodovias ou em infraestrutura de dados. Não estou crescendo em energia no Brasil, mas vou crescer na Colômbia. Estamos desenvolvendo quase 500 MW de projeto solar lá.

Os srs. têm uma empresa na Colômbia ou fazem a partir da plataforma de energia Essentia?

Souza - Tudo nasce na gestora do Pátria, mas a gente sempre se apoia no conhecimento das investidas. O que temos lá é um núcleo, um time técnico e de investimentos do Pátria, que está desenvolvendo projetos com parceiros locais. No momento em que conseguirmos viabilizar aqueles projetos, aí vou trazer time de gestão da Essentia para nos ajudar a estabelecer um time local e criar o mesmo tipo de conhecimento que temos na Essentia aqui hoje. Foi o que aconteceu em rodovias: a gente entrou na Entrevias e quando replicou na Colômbia, toda a tecnologia que a gente conhecia de rodovia no Brasil a gente transladou para lá, sempre com executivos locais. É a combinação da expertise setorial com executivos locais, que conhecem o ambiente regulatório e financeiro daquela determinada geografia.

Qual o tamanho do pipeline de projetos de geração de energia do Pátria?

Souza - Entre projetos mapeados, a gente tem mais de 10 gigawatts (GW), mas com exclusividade, o que já está dentro de casa, temos mais de 1 GW de projetos no pipeline entre Brasil e a Colômbia, nossos dois principais mercados para geração renovável.

Há grande perspectiva de novos investimentos no segmento de transmissão, e o governo planeja para este ano três grandes leilões. O Pátria está analisando esses projetos?

Souza - Sim, vamos olhar. A gente já monitorava esse setor há muito tempo, e em 2016 e 2027 ganhamos dois leilões fantásticos e criamos a Argo naquele momento (empresa que foi posteriormente vendida). A gente continua muito ativo. Se conseguirmos buscar um ângulo no qual consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes.

Para os próximos leilões, a estratégia Pátria pode ter parcerias com outras empresas?

Souza - Poderia. Somos muito associativos. Dependendo da situação, quando faz sentido estratégico, ou mesmo por uma questão de tamanho, estamos abertos e fazemos parcerias. Basta ver algumas das nossas investidas. Somos muito abertos a sociedades, à participação, desde que a gente consiga ser ativo naquela parceria.

Neste ano, há muitos negócios colocados à venda no setor elétrico. A Neoenergia, por exemplo, busca um sócio para suas linhas de transmissão. Os srs. poderiam entrar como sócios?

Souza - A gente sempre analisa todas as oportunidades que estão no mercado.

Temos visto várias empresas grandes criando iniciativas para transição energética. Como o Pátria tem se posicionado com relação a isso?

Souza - Estamos muito atentos. O tema da GD (geração distribuída), por exemplo, já está acontecendo. O ambiente regulatório desenhou um caminho para que a geração distribuída crescesse muito, tanto nos telhados de famílias ou pequenas empresas para diminuir a conta de luz, quanto na microgeração descentralizada, na qual se constroem várias plantas para atender consumidores. Para isso, criamos, recentemente, a Élis, nossa plataforma de geração distribuída, com um plano ambicioso de crescimento. Para qualquer novo tema de transição energética que surgir vai ser igual: nasce aqui, estudamos a tese, desenha, até que chega um momento em vamos assinar um contrato, por exemplo, no setor de hidrogênio verde, vai nascer um ‘Pátria Hidrogênio Verde Limitada’.

Houve uma mudança regulatória recentemente, com o marco da geração distribuída, que trouxe segurança jurídica, mas tirou o subsídio. Como o Pátria vê esse cenário?

Souza - O marco da GD tornou as regras claras. Agora, sabe-se exatamente como ela será inserida no sistema, de que forma e qual será o impacto na conta de luz do consumidor, com a tarifa de distribuição (subsídio) tendo prazo definido para diminuir. A atratividade do consumidor que quer acessar GD diminui, mas ela não vai acabar. Certamente haverá um caminho para a geração distribuída no Brasil, porque é uma tendência mundial. A geração descentralizada, na qual a unidade geradora está próxima ao consumo, tem vários méritos, começando por evitar investimentos no sistema de distribuição e de transmissão. Isso ajuda a diminuir as ineficiências. O marco regulatório basicamente definiu como tudo isso vai funcionar, mesmo que agora haja uma corrida para que todos consigam se posicionar, enquanto o benefício está no momento mais atraente.

O plano da Élis, voltado à construção de muitas usinas em um curto espaço de tempo, foi criado para aproveitar esse momento?

Souza - Exato. Como tem a regra que o benefício cheio vale para projetos protocolando o pedido de parecer de acesso até 6 de janeiro deste ano, a Élis está investindo neles e atraindo outros, em vias de obtê-los, que protocolaram dentro do prazo, de forma que a gente tenha esse primeiro grande grupo de projetos com esse incentivo. A gente está basicamente adquirindo portfólio de projetos de quem já se posicionou e já desenvolveu esses projetos.

A Élis anunciou contratos com duas empresas que vão comercializar a energia. A empresa também terá venda direta para o consumidor final?

Souza - Essas empresas (Safira e Evolua) têm maior proximidade com o consumidor final e fazem a ponte com nossas plantas. Queremos atender aos pequenos e médios clientes com parcerias que já tenham essa proximidade com os consumidores finais.

Alguma outra vertente ligada à transição energética vai merecer investimentos?

Souza - Certamente. Há, por exemplo, toda a questão do hidrogênio verde, que ainda não tem viabilidade econômica em grande escala, mas que, em algum momento, vai acontecer, como (aconteceu com a energia) solar. É um tema que a gente monitora e está sempre atento, como acontece com tudo ligado à transição energética. Por exemplo, todo o tema do e-Mobility, a eletrificação de frota, que é uma tendência irreversível. Entre nosso grupo de logística e nosso grupo de energia, estamos muito atentos aos temas de eletrificação de frota, seja de veículos leves - e o que nos chama atenção é eletrificação de frotas corporativas - quanto de ônibus urbanos. Isso já está acontecendo.

Já há negociações em andamento?

Souza - Já tem conversas. É, ainda, um tema novo. Todo o tema das baterias para o setor elétrico, para administrar a sazonalidade da geração, é algo que está se desenvolvendo muito rapidamente. Estamos estudando esse setor, já conversamos com competidores no Brasil e de fora, para que a gente possa eventualmente buscar bons investimentos.

Qual seria o modelo de atuação do Pátria em mobilidade elétrica?

Souza - Em infraestrutura, sempre seremos a empresa que vai fazer o investimento relevante. Muito provavelmente, o modelo será na área corporativa, em, por exemplo, uma companhia com uma frota enorme de ônibus e caminhões. Nós fazemos o investimento por eles nessa frota e em toda a infraestrutura necessária para que ela esteja eletrificada da forma adequada e, em troca, temos um contrato de longo prazo, de 10, 15, 20 anos.

Como o Pátria avalia a abertura do mercado livre de energia?

Souza - Esse é um movimento irreversível, que acontece em outros países. Temos que ter certeza que a regulação vai estar preparada para quando tudo acontecer. Eu diria que as oportunidades continuam as mesmas, de investir em geração e transmissão. Olhando para o Brasil nos próximos 10 anos, o País vai crescer, e a demanda por energia vai crescer, a questão é de adequar o cliente - antes só vendíamos no leilão regulado, agora vamos ter de nos preparar, então a oportunidade está na comercialização. Empresas que se prepararem para atender esses novos clientes, sejam de grande porte, de médio porte ou mesmo varejo, vão ter boas oportunidades.

Os srs. pretendem atuar também em comercialização diretamente?

Souza - Não sabemos, estamos estudando. Existe dentro da Essentia uma área de comercialização, mas o objetivo não é atender varejo, é se aproximar dos grandes consumidores, que demandam energia em grande escala, e com contratos de longo prazo. Se dali vamos nos tornar uma comercializadora mesmo, ainda não sabemos, vamos ver tudo o que vai acontecer. A decisão hoje é ter uma área que apenas viabiliza os contratos dos nossos próprios parques.

O Pátria também tem investimento em termelétrica. Há intenção em ampliar a atuação no segmento?

Souza - Malha Azul é o primeiro grande projeto que vai gerar energia com gás do pré-sal, que entra em operação este ano. Temos a Shell e a Mitsubishi como sócias e somos controladores dessa plataforma. É um projeto que evita a construção de térmicas a óleo diesel e ajuda a estabilizar o sistema elétrico no Sudeste do Brasil. Gostamos do gás. Nossa prioridade é renováveis, mas oportunisticamente, um bom projeto, sustentável, com boas medidas de mitigação dos temas socioambientais, o Pátria vai estar aberto a estudar.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia 28/03/2023, às 16h16

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

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Uma das áreas tradicionalmente de destaque no segmento de infraestrutura do Pátria Investimentos, o setor elétrico segue como prioridade para potenciais novos aportes. Temas ligados à transição energética estão entre as apostas da gestora, que não deixa de lado segmentos nos quais já tem atuação de destaque, como Transmissão e Geração Renovável. “Vamos estar sempre muito atentos a todos os temas de transição energética”, diz Marcelo Souza, responsável pela área no Pátria. Ele cita, como exemplos, hidrogênio verde, mobilidade elétrica e baterias.

A primeira investida na área, diz Souza, veio por meio da recém-criada Élis Energia, plataforma voltada ao desenvolvimento de projetos de geração distribuída remota. A estratégia de apostar em miniusinas solares também foi impulsionada pelo forte crescimento desse segmento, em oposição ao de geração renovável centralizada, ou seja, de usinas de maior porte, que enfrenta um cenário adverso de preços de energia muito baixos e custos de construção mais elevados, dificultando a viabilização de novos empreendimentos.

Ainda assim, Souza afirma que, por meio da plataforma Essentia Energia, segue preparando projetos para “quando esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado”.

A Essentia é um retorno às origens dos investimentos em infraestrutura do Pátria, que teve na antiga Energias Renováveis (ERSA) sua primeira companhia criada, em 2006, a partir de seu fundo 1 e que depois se tornou a CPFL Renováveis.

Placas de energia solar: geração distribuída é tendência mundial, diz Souza, do Pátria Foto: Dayse Maria/Estadão

Outro retorno pode acontecer no segmento de transmissão, no qual a gestora criou e desenvolveu, em 2016, a Argo, que construiu três concessões, sendo posteriormente vendida para o Grupo Energía de Bogotá e a Red Elétrica de Espanha. Segundo Souza, a equipe analisa os lotes que devem ir a leilão este ano. “Se conseguirmos buscar um ângulo em que a gente consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Pátria avalia o cenário da geração de energia, com preços reduzidos e perspectiva de manutenção nesse nível, além de grande número de nova capacidade prevista pra entrar em operação? Isso inibe projetos de geração?

Marcelo Souza - Esse é um ponto importante. O custo de investimento aumentou nos últimos anos, por conta de pandemia, inflação de custo, tanto no eólico, quanto no solar, e o preço da energia de curto prazo caiu. Isso inibe os grandes consumidores livres, principal mercado para a geração renovável. Esses grandes consumidores estão atendendo à demanda de longo prazo com contratos mais curtos, porque o preço dessa energia está baixo. Então, nesse momento, está mais difícil viabilizar grandes projetos de geração centralizada, mas continuamos preparando os de grande porte, para o momento que esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado. Neste meio tempo, avançamos em GD (geração distribuída), o mercado que hoje cresce no Brasil, com a criação da Élis.

O Pátria trabalha com algum horizonte para o retorno aos patamares de preços mais favoráveis?

Souza - Temos os projetos que estamos preparando para começar a construir em algum momento. No momento em que o preço fechar a conta, vamos fechar PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia, na sigla em inglês), e viabilizar o projeto. Os fundos são longos, não precisamos investir tudo amanhã. Eventualmente não estou fazendo muito investimento em energia, mas estou acelerando em rodovias ou em infraestrutura de dados. Não estou crescendo em energia no Brasil, mas vou crescer na Colômbia. Estamos desenvolvendo quase 500 MW de projeto solar lá.

Os srs. têm uma empresa na Colômbia ou fazem a partir da plataforma de energia Essentia?

Souza - Tudo nasce na gestora do Pátria, mas a gente sempre se apoia no conhecimento das investidas. O que temos lá é um núcleo, um time técnico e de investimentos do Pátria, que está desenvolvendo projetos com parceiros locais. No momento em que conseguirmos viabilizar aqueles projetos, aí vou trazer time de gestão da Essentia para nos ajudar a estabelecer um time local e criar o mesmo tipo de conhecimento que temos na Essentia aqui hoje. Foi o que aconteceu em rodovias: a gente entrou na Entrevias e quando replicou na Colômbia, toda a tecnologia que a gente conhecia de rodovia no Brasil a gente transladou para lá, sempre com executivos locais. É a combinação da expertise setorial com executivos locais, que conhecem o ambiente regulatório e financeiro daquela determinada geografia.

Qual o tamanho do pipeline de projetos de geração de energia do Pátria?

Souza - Entre projetos mapeados, a gente tem mais de 10 gigawatts (GW), mas com exclusividade, o que já está dentro de casa, temos mais de 1 GW de projetos no pipeline entre Brasil e a Colômbia, nossos dois principais mercados para geração renovável.

Há grande perspectiva de novos investimentos no segmento de transmissão, e o governo planeja para este ano três grandes leilões. O Pátria está analisando esses projetos?

Souza - Sim, vamos olhar. A gente já monitorava esse setor há muito tempo, e em 2016 e 2027 ganhamos dois leilões fantásticos e criamos a Argo naquele momento (empresa que foi posteriormente vendida). A gente continua muito ativo. Se conseguirmos buscar um ângulo no qual consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes.

Para os próximos leilões, a estratégia Pátria pode ter parcerias com outras empresas?

Souza - Poderia. Somos muito associativos. Dependendo da situação, quando faz sentido estratégico, ou mesmo por uma questão de tamanho, estamos abertos e fazemos parcerias. Basta ver algumas das nossas investidas. Somos muito abertos a sociedades, à participação, desde que a gente consiga ser ativo naquela parceria.

Neste ano, há muitos negócios colocados à venda no setor elétrico. A Neoenergia, por exemplo, busca um sócio para suas linhas de transmissão. Os srs. poderiam entrar como sócios?

Souza - A gente sempre analisa todas as oportunidades que estão no mercado.

Temos visto várias empresas grandes criando iniciativas para transição energética. Como o Pátria tem se posicionado com relação a isso?

Souza - Estamos muito atentos. O tema da GD (geração distribuída), por exemplo, já está acontecendo. O ambiente regulatório desenhou um caminho para que a geração distribuída crescesse muito, tanto nos telhados de famílias ou pequenas empresas para diminuir a conta de luz, quanto na microgeração descentralizada, na qual se constroem várias plantas para atender consumidores. Para isso, criamos, recentemente, a Élis, nossa plataforma de geração distribuída, com um plano ambicioso de crescimento. Para qualquer novo tema de transição energética que surgir vai ser igual: nasce aqui, estudamos a tese, desenha, até que chega um momento em vamos assinar um contrato, por exemplo, no setor de hidrogênio verde, vai nascer um ‘Pátria Hidrogênio Verde Limitada’.

Houve uma mudança regulatória recentemente, com o marco da geração distribuída, que trouxe segurança jurídica, mas tirou o subsídio. Como o Pátria vê esse cenário?

Souza - O marco da GD tornou as regras claras. Agora, sabe-se exatamente como ela será inserida no sistema, de que forma e qual será o impacto na conta de luz do consumidor, com a tarifa de distribuição (subsídio) tendo prazo definido para diminuir. A atratividade do consumidor que quer acessar GD diminui, mas ela não vai acabar. Certamente haverá um caminho para a geração distribuída no Brasil, porque é uma tendência mundial. A geração descentralizada, na qual a unidade geradora está próxima ao consumo, tem vários méritos, começando por evitar investimentos no sistema de distribuição e de transmissão. Isso ajuda a diminuir as ineficiências. O marco regulatório basicamente definiu como tudo isso vai funcionar, mesmo que agora haja uma corrida para que todos consigam se posicionar, enquanto o benefício está no momento mais atraente.

O plano da Élis, voltado à construção de muitas usinas em um curto espaço de tempo, foi criado para aproveitar esse momento?

Souza - Exato. Como tem a regra que o benefício cheio vale para projetos protocolando o pedido de parecer de acesso até 6 de janeiro deste ano, a Élis está investindo neles e atraindo outros, em vias de obtê-los, que protocolaram dentro do prazo, de forma que a gente tenha esse primeiro grande grupo de projetos com esse incentivo. A gente está basicamente adquirindo portfólio de projetos de quem já se posicionou e já desenvolveu esses projetos.

A Élis anunciou contratos com duas empresas que vão comercializar a energia. A empresa também terá venda direta para o consumidor final?

Souza - Essas empresas (Safira e Evolua) têm maior proximidade com o consumidor final e fazem a ponte com nossas plantas. Queremos atender aos pequenos e médios clientes com parcerias que já tenham essa proximidade com os consumidores finais.

Alguma outra vertente ligada à transição energética vai merecer investimentos?

Souza - Certamente. Há, por exemplo, toda a questão do hidrogênio verde, que ainda não tem viabilidade econômica em grande escala, mas que, em algum momento, vai acontecer, como (aconteceu com a energia) solar. É um tema que a gente monitora e está sempre atento, como acontece com tudo ligado à transição energética. Por exemplo, todo o tema do e-Mobility, a eletrificação de frota, que é uma tendência irreversível. Entre nosso grupo de logística e nosso grupo de energia, estamos muito atentos aos temas de eletrificação de frota, seja de veículos leves - e o que nos chama atenção é eletrificação de frotas corporativas - quanto de ônibus urbanos. Isso já está acontecendo.

Já há negociações em andamento?

Souza - Já tem conversas. É, ainda, um tema novo. Todo o tema das baterias para o setor elétrico, para administrar a sazonalidade da geração, é algo que está se desenvolvendo muito rapidamente. Estamos estudando esse setor, já conversamos com competidores no Brasil e de fora, para que a gente possa eventualmente buscar bons investimentos.

Qual seria o modelo de atuação do Pátria em mobilidade elétrica?

Souza - Em infraestrutura, sempre seremos a empresa que vai fazer o investimento relevante. Muito provavelmente, o modelo será na área corporativa, em, por exemplo, uma companhia com uma frota enorme de ônibus e caminhões. Nós fazemos o investimento por eles nessa frota e em toda a infraestrutura necessária para que ela esteja eletrificada da forma adequada e, em troca, temos um contrato de longo prazo, de 10, 15, 20 anos.

Como o Pátria avalia a abertura do mercado livre de energia?

Souza - Esse é um movimento irreversível, que acontece em outros países. Temos que ter certeza que a regulação vai estar preparada para quando tudo acontecer. Eu diria que as oportunidades continuam as mesmas, de investir em geração e transmissão. Olhando para o Brasil nos próximos 10 anos, o País vai crescer, e a demanda por energia vai crescer, a questão é de adequar o cliente - antes só vendíamos no leilão regulado, agora vamos ter de nos preparar, então a oportunidade está na comercialização. Empresas que se prepararem para atender esses novos clientes, sejam de grande porte, de médio porte ou mesmo varejo, vão ter boas oportunidades.

Os srs. pretendem atuar também em comercialização diretamente?

Souza - Não sabemos, estamos estudando. Existe dentro da Essentia uma área de comercialização, mas o objetivo não é atender varejo, é se aproximar dos grandes consumidores, que demandam energia em grande escala, e com contratos de longo prazo. Se dali vamos nos tornar uma comercializadora mesmo, ainda não sabemos, vamos ver tudo o que vai acontecer. A decisão hoje é ter uma área que apenas viabiliza os contratos dos nossos próprios parques.

O Pátria também tem investimento em termelétrica. Há intenção em ampliar a atuação no segmento?

Souza - Malha Azul é o primeiro grande projeto que vai gerar energia com gás do pré-sal, que entra em operação este ano. Temos a Shell e a Mitsubishi como sócias e somos controladores dessa plataforma. É um projeto que evita a construção de térmicas a óleo diesel e ajuda a estabilizar o sistema elétrico no Sudeste do Brasil. Gostamos do gás. Nossa prioridade é renováveis, mas oportunisticamente, um bom projeto, sustentável, com boas medidas de mitigação dos temas socioambientais, o Pátria vai estar aberto a estudar.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia 28/03/2023, às 16h16

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Uma das áreas tradicionalmente de destaque no segmento de infraestrutura do Pátria Investimentos, o setor elétrico segue como prioridade para potenciais novos aportes. Temas ligados à transição energética estão entre as apostas da gestora, que não deixa de lado segmentos nos quais já tem atuação de destaque, como Transmissão e Geração Renovável. “Vamos estar sempre muito atentos a todos os temas de transição energética”, diz Marcelo Souza, responsável pela área no Pátria. Ele cita, como exemplos, hidrogênio verde, mobilidade elétrica e baterias.

A primeira investida na área, diz Souza, veio por meio da recém-criada Élis Energia, plataforma voltada ao desenvolvimento de projetos de geração distribuída remota. A estratégia de apostar em miniusinas solares também foi impulsionada pelo forte crescimento desse segmento, em oposição ao de geração renovável centralizada, ou seja, de usinas de maior porte, que enfrenta um cenário adverso de preços de energia muito baixos e custos de construção mais elevados, dificultando a viabilização de novos empreendimentos.

Ainda assim, Souza afirma que, por meio da plataforma Essentia Energia, segue preparando projetos para “quando esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado”.

A Essentia é um retorno às origens dos investimentos em infraestrutura do Pátria, que teve na antiga Energias Renováveis (ERSA) sua primeira companhia criada, em 2006, a partir de seu fundo 1 e que depois se tornou a CPFL Renováveis.

Placas de energia solar: geração distribuída é tendência mundial, diz Souza, do Pátria Foto: Dayse Maria/Estadão

Outro retorno pode acontecer no segmento de transmissão, no qual a gestora criou e desenvolveu, em 2016, a Argo, que construiu três concessões, sendo posteriormente vendida para o Grupo Energía de Bogotá e a Red Elétrica de Espanha. Segundo Souza, a equipe analisa os lotes que devem ir a leilão este ano. “Se conseguirmos buscar um ângulo em que a gente consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Pátria avalia o cenário da geração de energia, com preços reduzidos e perspectiva de manutenção nesse nível, além de grande número de nova capacidade prevista pra entrar em operação? Isso inibe projetos de geração?

Marcelo Souza - Esse é um ponto importante. O custo de investimento aumentou nos últimos anos, por conta de pandemia, inflação de custo, tanto no eólico, quanto no solar, e o preço da energia de curto prazo caiu. Isso inibe os grandes consumidores livres, principal mercado para a geração renovável. Esses grandes consumidores estão atendendo à demanda de longo prazo com contratos mais curtos, porque o preço dessa energia está baixo. Então, nesse momento, está mais difícil viabilizar grandes projetos de geração centralizada, mas continuamos preparando os de grande porte, para o momento que esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado. Neste meio tempo, avançamos em GD (geração distribuída), o mercado que hoje cresce no Brasil, com a criação da Élis.

O Pátria trabalha com algum horizonte para o retorno aos patamares de preços mais favoráveis?

Souza - Temos os projetos que estamos preparando para começar a construir em algum momento. No momento em que o preço fechar a conta, vamos fechar PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia, na sigla em inglês), e viabilizar o projeto. Os fundos são longos, não precisamos investir tudo amanhã. Eventualmente não estou fazendo muito investimento em energia, mas estou acelerando em rodovias ou em infraestrutura de dados. Não estou crescendo em energia no Brasil, mas vou crescer na Colômbia. Estamos desenvolvendo quase 500 MW de projeto solar lá.

Os srs. têm uma empresa na Colômbia ou fazem a partir da plataforma de energia Essentia?

Souza - Tudo nasce na gestora do Pátria, mas a gente sempre se apoia no conhecimento das investidas. O que temos lá é um núcleo, um time técnico e de investimentos do Pátria, que está desenvolvendo projetos com parceiros locais. No momento em que conseguirmos viabilizar aqueles projetos, aí vou trazer time de gestão da Essentia para nos ajudar a estabelecer um time local e criar o mesmo tipo de conhecimento que temos na Essentia aqui hoje. Foi o que aconteceu em rodovias: a gente entrou na Entrevias e quando replicou na Colômbia, toda a tecnologia que a gente conhecia de rodovia no Brasil a gente transladou para lá, sempre com executivos locais. É a combinação da expertise setorial com executivos locais, que conhecem o ambiente regulatório e financeiro daquela determinada geografia.

Qual o tamanho do pipeline de projetos de geração de energia do Pátria?

Souza - Entre projetos mapeados, a gente tem mais de 10 gigawatts (GW), mas com exclusividade, o que já está dentro de casa, temos mais de 1 GW de projetos no pipeline entre Brasil e a Colômbia, nossos dois principais mercados para geração renovável.

Há grande perspectiva de novos investimentos no segmento de transmissão, e o governo planeja para este ano três grandes leilões. O Pátria está analisando esses projetos?

Souza - Sim, vamos olhar. A gente já monitorava esse setor há muito tempo, e em 2016 e 2027 ganhamos dois leilões fantásticos e criamos a Argo naquele momento (empresa que foi posteriormente vendida). A gente continua muito ativo. Se conseguirmos buscar um ângulo no qual consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes.

Para os próximos leilões, a estratégia Pátria pode ter parcerias com outras empresas?

Souza - Poderia. Somos muito associativos. Dependendo da situação, quando faz sentido estratégico, ou mesmo por uma questão de tamanho, estamos abertos e fazemos parcerias. Basta ver algumas das nossas investidas. Somos muito abertos a sociedades, à participação, desde que a gente consiga ser ativo naquela parceria.

Neste ano, há muitos negócios colocados à venda no setor elétrico. A Neoenergia, por exemplo, busca um sócio para suas linhas de transmissão. Os srs. poderiam entrar como sócios?

Souza - A gente sempre analisa todas as oportunidades que estão no mercado.

Temos visto várias empresas grandes criando iniciativas para transição energética. Como o Pátria tem se posicionado com relação a isso?

Souza - Estamos muito atentos. O tema da GD (geração distribuída), por exemplo, já está acontecendo. O ambiente regulatório desenhou um caminho para que a geração distribuída crescesse muito, tanto nos telhados de famílias ou pequenas empresas para diminuir a conta de luz, quanto na microgeração descentralizada, na qual se constroem várias plantas para atender consumidores. Para isso, criamos, recentemente, a Élis, nossa plataforma de geração distribuída, com um plano ambicioso de crescimento. Para qualquer novo tema de transição energética que surgir vai ser igual: nasce aqui, estudamos a tese, desenha, até que chega um momento em vamos assinar um contrato, por exemplo, no setor de hidrogênio verde, vai nascer um ‘Pátria Hidrogênio Verde Limitada’.

Houve uma mudança regulatória recentemente, com o marco da geração distribuída, que trouxe segurança jurídica, mas tirou o subsídio. Como o Pátria vê esse cenário?

Souza - O marco da GD tornou as regras claras. Agora, sabe-se exatamente como ela será inserida no sistema, de que forma e qual será o impacto na conta de luz do consumidor, com a tarifa de distribuição (subsídio) tendo prazo definido para diminuir. A atratividade do consumidor que quer acessar GD diminui, mas ela não vai acabar. Certamente haverá um caminho para a geração distribuída no Brasil, porque é uma tendência mundial. A geração descentralizada, na qual a unidade geradora está próxima ao consumo, tem vários méritos, começando por evitar investimentos no sistema de distribuição e de transmissão. Isso ajuda a diminuir as ineficiências. O marco regulatório basicamente definiu como tudo isso vai funcionar, mesmo que agora haja uma corrida para que todos consigam se posicionar, enquanto o benefício está no momento mais atraente.

O plano da Élis, voltado à construção de muitas usinas em um curto espaço de tempo, foi criado para aproveitar esse momento?

Souza - Exato. Como tem a regra que o benefício cheio vale para projetos protocolando o pedido de parecer de acesso até 6 de janeiro deste ano, a Élis está investindo neles e atraindo outros, em vias de obtê-los, que protocolaram dentro do prazo, de forma que a gente tenha esse primeiro grande grupo de projetos com esse incentivo. A gente está basicamente adquirindo portfólio de projetos de quem já se posicionou e já desenvolveu esses projetos.

A Élis anunciou contratos com duas empresas que vão comercializar a energia. A empresa também terá venda direta para o consumidor final?

Souza - Essas empresas (Safira e Evolua) têm maior proximidade com o consumidor final e fazem a ponte com nossas plantas. Queremos atender aos pequenos e médios clientes com parcerias que já tenham essa proximidade com os consumidores finais.

Alguma outra vertente ligada à transição energética vai merecer investimentos?

Souza - Certamente. Há, por exemplo, toda a questão do hidrogênio verde, que ainda não tem viabilidade econômica em grande escala, mas que, em algum momento, vai acontecer, como (aconteceu com a energia) solar. É um tema que a gente monitora e está sempre atento, como acontece com tudo ligado à transição energética. Por exemplo, todo o tema do e-Mobility, a eletrificação de frota, que é uma tendência irreversível. Entre nosso grupo de logística e nosso grupo de energia, estamos muito atentos aos temas de eletrificação de frota, seja de veículos leves - e o que nos chama atenção é eletrificação de frotas corporativas - quanto de ônibus urbanos. Isso já está acontecendo.

Já há negociações em andamento?

Souza - Já tem conversas. É, ainda, um tema novo. Todo o tema das baterias para o setor elétrico, para administrar a sazonalidade da geração, é algo que está se desenvolvendo muito rapidamente. Estamos estudando esse setor, já conversamos com competidores no Brasil e de fora, para que a gente possa eventualmente buscar bons investimentos.

Qual seria o modelo de atuação do Pátria em mobilidade elétrica?

Souza - Em infraestrutura, sempre seremos a empresa que vai fazer o investimento relevante. Muito provavelmente, o modelo será na área corporativa, em, por exemplo, uma companhia com uma frota enorme de ônibus e caminhões. Nós fazemos o investimento por eles nessa frota e em toda a infraestrutura necessária para que ela esteja eletrificada da forma adequada e, em troca, temos um contrato de longo prazo, de 10, 15, 20 anos.

Como o Pátria avalia a abertura do mercado livre de energia?

Souza - Esse é um movimento irreversível, que acontece em outros países. Temos que ter certeza que a regulação vai estar preparada para quando tudo acontecer. Eu diria que as oportunidades continuam as mesmas, de investir em geração e transmissão. Olhando para o Brasil nos próximos 10 anos, o País vai crescer, e a demanda por energia vai crescer, a questão é de adequar o cliente - antes só vendíamos no leilão regulado, agora vamos ter de nos preparar, então a oportunidade está na comercialização. Empresas que se prepararem para atender esses novos clientes, sejam de grande porte, de médio porte ou mesmo varejo, vão ter boas oportunidades.

Os srs. pretendem atuar também em comercialização diretamente?

Souza - Não sabemos, estamos estudando. Existe dentro da Essentia uma área de comercialização, mas o objetivo não é atender varejo, é se aproximar dos grandes consumidores, que demandam energia em grande escala, e com contratos de longo prazo. Se dali vamos nos tornar uma comercializadora mesmo, ainda não sabemos, vamos ver tudo o que vai acontecer. A decisão hoje é ter uma área que apenas viabiliza os contratos dos nossos próprios parques.

O Pátria também tem investimento em termelétrica. Há intenção em ampliar a atuação no segmento?

Souza - Malha Azul é o primeiro grande projeto que vai gerar energia com gás do pré-sal, que entra em operação este ano. Temos a Shell e a Mitsubishi como sócias e somos controladores dessa plataforma. É um projeto que evita a construção de térmicas a óleo diesel e ajuda a estabilizar o sistema elétrico no Sudeste do Brasil. Gostamos do gás. Nossa prioridade é renováveis, mas oportunisticamente, um bom projeto, sustentável, com boas medidas de mitigação dos temas socioambientais, o Pátria vai estar aberto a estudar.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia 28/03/2023, às 16h16

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse

Uma das áreas tradicionalmente de destaque no segmento de infraestrutura do Pátria Investimentos, o setor elétrico segue como prioridade para potenciais novos aportes. Temas ligados à transição energética estão entre as apostas da gestora, que não deixa de lado segmentos nos quais já tem atuação de destaque, como Transmissão e Geração Renovável. “Vamos estar sempre muito atentos a todos os temas de transição energética”, diz Marcelo Souza, responsável pela área no Pátria. Ele cita, como exemplos, hidrogênio verde, mobilidade elétrica e baterias.

A primeira investida na área, diz Souza, veio por meio da recém-criada Élis Energia, plataforma voltada ao desenvolvimento de projetos de geração distribuída remota. A estratégia de apostar em miniusinas solares também foi impulsionada pelo forte crescimento desse segmento, em oposição ao de geração renovável centralizada, ou seja, de usinas de maior porte, que enfrenta um cenário adverso de preços de energia muito baixos e custos de construção mais elevados, dificultando a viabilização de novos empreendimentos.

Ainda assim, Souza afirma que, por meio da plataforma Essentia Energia, segue preparando projetos para “quando esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado”.

A Essentia é um retorno às origens dos investimentos em infraestrutura do Pátria, que teve na antiga Energias Renováveis (ERSA) sua primeira companhia criada, em 2006, a partir de seu fundo 1 e que depois se tornou a CPFL Renováveis.

Placas de energia solar: geração distribuída é tendência mundial, diz Souza, do Pátria Foto: Dayse Maria/Estadão

Outro retorno pode acontecer no segmento de transmissão, no qual a gestora criou e desenvolveu, em 2016, a Argo, que construiu três concessões, sendo posteriormente vendida para o Grupo Energía de Bogotá e a Red Elétrica de Espanha. Segundo Souza, a equipe analisa os lotes que devem ir a leilão este ano. “Se conseguirmos buscar um ângulo em que a gente consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Pátria avalia o cenário da geração de energia, com preços reduzidos e perspectiva de manutenção nesse nível, além de grande número de nova capacidade prevista pra entrar em operação? Isso inibe projetos de geração?

Marcelo Souza - Esse é um ponto importante. O custo de investimento aumentou nos últimos anos, por conta de pandemia, inflação de custo, tanto no eólico, quanto no solar, e o preço da energia de curto prazo caiu. Isso inibe os grandes consumidores livres, principal mercado para a geração renovável. Esses grandes consumidores estão atendendo à demanda de longo prazo com contratos mais curtos, porque o preço dessa energia está baixo. Então, nesse momento, está mais difícil viabilizar grandes projetos de geração centralizada, mas continuamos preparando os de grande porte, para o momento que esse mercado voltar, seja porque o PIB vai crescer, seja porque o preço da energia será retomado. Neste meio tempo, avançamos em GD (geração distribuída), o mercado que hoje cresce no Brasil, com a criação da Élis.

O Pátria trabalha com algum horizonte para o retorno aos patamares de preços mais favoráveis?

Souza - Temos os projetos que estamos preparando para começar a construir em algum momento. No momento em que o preço fechar a conta, vamos fechar PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia, na sigla em inglês), e viabilizar o projeto. Os fundos são longos, não precisamos investir tudo amanhã. Eventualmente não estou fazendo muito investimento em energia, mas estou acelerando em rodovias ou em infraestrutura de dados. Não estou crescendo em energia no Brasil, mas vou crescer na Colômbia. Estamos desenvolvendo quase 500 MW de projeto solar lá.

Os srs. têm uma empresa na Colômbia ou fazem a partir da plataforma de energia Essentia?

Souza - Tudo nasce na gestora do Pátria, mas a gente sempre se apoia no conhecimento das investidas. O que temos lá é um núcleo, um time técnico e de investimentos do Pátria, que está desenvolvendo projetos com parceiros locais. No momento em que conseguirmos viabilizar aqueles projetos, aí vou trazer time de gestão da Essentia para nos ajudar a estabelecer um time local e criar o mesmo tipo de conhecimento que temos na Essentia aqui hoje. Foi o que aconteceu em rodovias: a gente entrou na Entrevias e quando replicou na Colômbia, toda a tecnologia que a gente conhecia de rodovia no Brasil a gente transladou para lá, sempre com executivos locais. É a combinação da expertise setorial com executivos locais, que conhecem o ambiente regulatório e financeiro daquela determinada geografia.

Qual o tamanho do pipeline de projetos de geração de energia do Pátria?

Souza - Entre projetos mapeados, a gente tem mais de 10 gigawatts (GW), mas com exclusividade, o que já está dentro de casa, temos mais de 1 GW de projetos no pipeline entre Brasil e a Colômbia, nossos dois principais mercados para geração renovável.

Há grande perspectiva de novos investimentos no segmento de transmissão, e o governo planeja para este ano três grandes leilões. O Pátria está analisando esses projetos?

Souza - Sim, vamos olhar. A gente já monitorava esse setor há muito tempo, e em 2016 e 2027 ganhamos dois leilões fantásticos e criamos a Argo naquele momento (empresa que foi posteriormente vendida). A gente continua muito ativo. Se conseguirmos buscar um ângulo no qual consiga ganhar algum lote, ficaremos superfelizes.

Para os próximos leilões, a estratégia Pátria pode ter parcerias com outras empresas?

Souza - Poderia. Somos muito associativos. Dependendo da situação, quando faz sentido estratégico, ou mesmo por uma questão de tamanho, estamos abertos e fazemos parcerias. Basta ver algumas das nossas investidas. Somos muito abertos a sociedades, à participação, desde que a gente consiga ser ativo naquela parceria.

Neste ano, há muitos negócios colocados à venda no setor elétrico. A Neoenergia, por exemplo, busca um sócio para suas linhas de transmissão. Os srs. poderiam entrar como sócios?

Souza - A gente sempre analisa todas as oportunidades que estão no mercado.

Temos visto várias empresas grandes criando iniciativas para transição energética. Como o Pátria tem se posicionado com relação a isso?

Souza - Estamos muito atentos. O tema da GD (geração distribuída), por exemplo, já está acontecendo. O ambiente regulatório desenhou um caminho para que a geração distribuída crescesse muito, tanto nos telhados de famílias ou pequenas empresas para diminuir a conta de luz, quanto na microgeração descentralizada, na qual se constroem várias plantas para atender consumidores. Para isso, criamos, recentemente, a Élis, nossa plataforma de geração distribuída, com um plano ambicioso de crescimento. Para qualquer novo tema de transição energética que surgir vai ser igual: nasce aqui, estudamos a tese, desenha, até que chega um momento em vamos assinar um contrato, por exemplo, no setor de hidrogênio verde, vai nascer um ‘Pátria Hidrogênio Verde Limitada’.

Houve uma mudança regulatória recentemente, com o marco da geração distribuída, que trouxe segurança jurídica, mas tirou o subsídio. Como o Pátria vê esse cenário?

Souza - O marco da GD tornou as regras claras. Agora, sabe-se exatamente como ela será inserida no sistema, de que forma e qual será o impacto na conta de luz do consumidor, com a tarifa de distribuição (subsídio) tendo prazo definido para diminuir. A atratividade do consumidor que quer acessar GD diminui, mas ela não vai acabar. Certamente haverá um caminho para a geração distribuída no Brasil, porque é uma tendência mundial. A geração descentralizada, na qual a unidade geradora está próxima ao consumo, tem vários méritos, começando por evitar investimentos no sistema de distribuição e de transmissão. Isso ajuda a diminuir as ineficiências. O marco regulatório basicamente definiu como tudo isso vai funcionar, mesmo que agora haja uma corrida para que todos consigam se posicionar, enquanto o benefício está no momento mais atraente.

O plano da Élis, voltado à construção de muitas usinas em um curto espaço de tempo, foi criado para aproveitar esse momento?

Souza - Exato. Como tem a regra que o benefício cheio vale para projetos protocolando o pedido de parecer de acesso até 6 de janeiro deste ano, a Élis está investindo neles e atraindo outros, em vias de obtê-los, que protocolaram dentro do prazo, de forma que a gente tenha esse primeiro grande grupo de projetos com esse incentivo. A gente está basicamente adquirindo portfólio de projetos de quem já se posicionou e já desenvolveu esses projetos.

A Élis anunciou contratos com duas empresas que vão comercializar a energia. A empresa também terá venda direta para o consumidor final?

Souza - Essas empresas (Safira e Evolua) têm maior proximidade com o consumidor final e fazem a ponte com nossas plantas. Queremos atender aos pequenos e médios clientes com parcerias que já tenham essa proximidade com os consumidores finais.

Alguma outra vertente ligada à transição energética vai merecer investimentos?

Souza - Certamente. Há, por exemplo, toda a questão do hidrogênio verde, que ainda não tem viabilidade econômica em grande escala, mas que, em algum momento, vai acontecer, como (aconteceu com a energia) solar. É um tema que a gente monitora e está sempre atento, como acontece com tudo ligado à transição energética. Por exemplo, todo o tema do e-Mobility, a eletrificação de frota, que é uma tendência irreversível. Entre nosso grupo de logística e nosso grupo de energia, estamos muito atentos aos temas de eletrificação de frota, seja de veículos leves - e o que nos chama atenção é eletrificação de frotas corporativas - quanto de ônibus urbanos. Isso já está acontecendo.

Já há negociações em andamento?

Souza - Já tem conversas. É, ainda, um tema novo. Todo o tema das baterias para o setor elétrico, para administrar a sazonalidade da geração, é algo que está se desenvolvendo muito rapidamente. Estamos estudando esse setor, já conversamos com competidores no Brasil e de fora, para que a gente possa eventualmente buscar bons investimentos.

Qual seria o modelo de atuação do Pátria em mobilidade elétrica?

Souza - Em infraestrutura, sempre seremos a empresa que vai fazer o investimento relevante. Muito provavelmente, o modelo será na área corporativa, em, por exemplo, uma companhia com uma frota enorme de ônibus e caminhões. Nós fazemos o investimento por eles nessa frota e em toda a infraestrutura necessária para que ela esteja eletrificada da forma adequada e, em troca, temos um contrato de longo prazo, de 10, 15, 20 anos.

Como o Pátria avalia a abertura do mercado livre de energia?

Souza - Esse é um movimento irreversível, que acontece em outros países. Temos que ter certeza que a regulação vai estar preparada para quando tudo acontecer. Eu diria que as oportunidades continuam as mesmas, de investir em geração e transmissão. Olhando para o Brasil nos próximos 10 anos, o País vai crescer, e a demanda por energia vai crescer, a questão é de adequar o cliente - antes só vendíamos no leilão regulado, agora vamos ter de nos preparar, então a oportunidade está na comercialização. Empresas que se prepararem para atender esses novos clientes, sejam de grande porte, de médio porte ou mesmo varejo, vão ter boas oportunidades.

Os srs. pretendem atuar também em comercialização diretamente?

Souza - Não sabemos, estamos estudando. Existe dentro da Essentia uma área de comercialização, mas o objetivo não é atender varejo, é se aproximar dos grandes consumidores, que demandam energia em grande escala, e com contratos de longo prazo. Se dali vamos nos tornar uma comercializadora mesmo, ainda não sabemos, vamos ver tudo o que vai acontecer. A decisão hoje é ter uma área que apenas viabiliza os contratos dos nossos próprios parques.

O Pátria também tem investimento em termelétrica. Há intenção em ampliar a atuação no segmento?

Souza - Malha Azul é o primeiro grande projeto que vai gerar energia com gás do pré-sal, que entra em operação este ano. Temos a Shell e a Mitsubishi como sócias e somos controladores dessa plataforma. É um projeto que evita a construção de térmicas a óleo diesel e ajuda a estabilizar o sistema elétrico no Sudeste do Brasil. Gostamos do gás. Nossa prioridade é renováveis, mas oportunisticamente, um bom projeto, sustentável, com boas medidas de mitigação dos temas socioambientais, o Pátria vai estar aberto a estudar.

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia 28/03/2023, às 16h16

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