Bastidores do mundo dos negócios

Posição mais firme em governança nos EUA teria postergado IPO do PicPay


Por Cristiane Barbieri e Altamiro Silva Junior
Controle da fintech passou do banco Original para a J&F em março Foto: Rogerio Cassimiro

O respeito à agenda ESG (ligada às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, da sigla em inglês) parece estar deixando o discurso para se tornar prática efetiva no mercado de capitais - ao menos nos Estados Unidos. Esse teria sido um dos principais motivos para que o valor de mercado da carteira digital PicPay fosse dos US$ 25 bilhões, esperado no IPO (oferta inicial de ações, também da sigla em inglês), para menos de US$ 8 bilhões. Com a inapetência dos investidores pelo papel, o lançamento foi postergado para 2022 ou 2023, como adiantou o Broadcast. Motivo: desde março, o controle do PicPay está diretamente sob a J&F, dos irmãos Batista e, por questões de governança, os investidores norte-americanos pedem desconto maior para se associar a esse risco.

Esse teria sido, inclusive, o motivo pelo qual nenhum banco de investimento norte-americano fez parte do IPO, previsto para acontecer na Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia naquele país. Expostos a regras rígidas de combate à corrupção, os bancos com sede nos EUA não podem se ligar à empresa, cujos controladores têm voz ativa na gestão e reconheceram ter praticado atos ilícitos em delações premiadas.

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Para se associar a operações de empresas envolvidas em escândalos, os bancos norte-americanos precisam que a gestão e o conselho da empresa sejam trocados, bem como que sejam estabelecidas políticas de compliance (conformidade) muito conservadoras. Só aí a página é virada. Segundo uma fonte, em casos de empresas envolvidas em acordos de delação ligados à Lava Jato, familiares ou executivos que praticaram os atos de corrupção não têm mais com voz ativa. A única exceção são as empresas ligadas à J&F e aos irmãos Batista.

Sem os norte-americanos, participam da oferta os bancos BTG Pactual, Bradesco BBI, Santander e Barclays, de origem britânica.

Inicialmente, foi aventado como motivo para a postergação do IPO o crescimento da aversão a mercados emergentes, com a mudança nas perspectivas de altas nos juros nos EUA, feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em junho, mês em que o volume de IPOs nos EUA foi o mais forte em mais de 20 anos.

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Holding fará aporte de R$ 3 bi

Numa reestruturação concluída em março, o controle da fintech passou do banco Original para a J&F, holding controlada pelos irmãos Batista, envolvidos na Operação Lava Jato. "Os bancos conhecem o quão criterioso é o Banco Central no processo de supervisão. Isso não passa no crivo de qualquer banco que é regulado pelo Federal Reserve", diz um executivo, que optou não participar da operação e observa que esta tendência está ganhando força também entre investidores brasileiros.

O argumento da empresa é que a reestruturação aumentou a governança, com simplificação da estrutura societária. O PicPay segue regulado pelo BC e, ao ficar independente do banco, tem mais espaço para buscar parcerias de negócios com outras instituições financeiras. Além disso, diz que os irmãos Batista não controlam o PicPay e não possuem nenhuma pendência jurídica nos EUA, tendo fechado acordo com a Justiça americana. Outro argumento é que o grupo J&F nunca esteve envolvido na Lava Jato e os Batista controlam a JBS, dona da Pilgrim's empresa de capital aberto nos EUA.

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No lugar do IPO, a holding J&F Participações, da família Batista, vai aportar cerca de R$ 3 bilhões para suportar o plano de expansão da carteira digital nos próximos anos.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast + no dia 05/07/2021 às 19h33

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Controle da fintech passou do banco Original para a J&F em março Foto: Rogerio Cassimiro

O respeito à agenda ESG (ligada às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, da sigla em inglês) parece estar deixando o discurso para se tornar prática efetiva no mercado de capitais - ao menos nos Estados Unidos. Esse teria sido um dos principais motivos para que o valor de mercado da carteira digital PicPay fosse dos US$ 25 bilhões, esperado no IPO (oferta inicial de ações, também da sigla em inglês), para menos de US$ 8 bilhões. Com a inapetência dos investidores pelo papel, o lançamento foi postergado para 2022 ou 2023, como adiantou o Broadcast. Motivo: desde março, o controle do PicPay está diretamente sob a J&F, dos irmãos Batista e, por questões de governança, os investidores norte-americanos pedem desconto maior para se associar a esse risco.

Esse teria sido, inclusive, o motivo pelo qual nenhum banco de investimento norte-americano fez parte do IPO, previsto para acontecer na Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia naquele país. Expostos a regras rígidas de combate à corrupção, os bancos com sede nos EUA não podem se ligar à empresa, cujos controladores têm voz ativa na gestão e reconheceram ter praticado atos ilícitos em delações premiadas.

Para se associar a operações de empresas envolvidas em escândalos, os bancos norte-americanos precisam que a gestão e o conselho da empresa sejam trocados, bem como que sejam estabelecidas políticas de compliance (conformidade) muito conservadoras. Só aí a página é virada. Segundo uma fonte, em casos de empresas envolvidas em acordos de delação ligados à Lava Jato, familiares ou executivos que praticaram os atos de corrupção não têm mais com voz ativa. A única exceção são as empresas ligadas à J&F e aos irmãos Batista.

Sem os norte-americanos, participam da oferta os bancos BTG Pactual, Bradesco BBI, Santander e Barclays, de origem britânica.

Inicialmente, foi aventado como motivo para a postergação do IPO o crescimento da aversão a mercados emergentes, com a mudança nas perspectivas de altas nos juros nos EUA, feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em junho, mês em que o volume de IPOs nos EUA foi o mais forte em mais de 20 anos.

Holding fará aporte de R$ 3 bi

Numa reestruturação concluída em março, o controle da fintech passou do banco Original para a J&F, holding controlada pelos irmãos Batista, envolvidos na Operação Lava Jato. "Os bancos conhecem o quão criterioso é o Banco Central no processo de supervisão. Isso não passa no crivo de qualquer banco que é regulado pelo Federal Reserve", diz um executivo, que optou não participar da operação e observa que esta tendência está ganhando força também entre investidores brasileiros.

O argumento da empresa é que a reestruturação aumentou a governança, com simplificação da estrutura societária. O PicPay segue regulado pelo BC e, ao ficar independente do banco, tem mais espaço para buscar parcerias de negócios com outras instituições financeiras. Além disso, diz que os irmãos Batista não controlam o PicPay e não possuem nenhuma pendência jurídica nos EUA, tendo fechado acordo com a Justiça americana. Outro argumento é que o grupo J&F nunca esteve envolvido na Lava Jato e os Batista controlam a JBS, dona da Pilgrim's empresa de capital aberto nos EUA.

No lugar do IPO, a holding J&F Participações, da família Batista, vai aportar cerca de R$ 3 bilhões para suportar o plano de expansão da carteira digital nos próximos anos.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast + no dia 05/07/2021 às 19h33

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Esse teria sido, inclusive, o motivo pelo qual nenhum banco de investimento norte-americano fez parte do IPO, previsto para acontecer na Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia naquele país. Expostos a regras rígidas de combate à corrupção, os bancos com sede nos EUA não podem se ligar à empresa, cujos controladores têm voz ativa na gestão e reconheceram ter praticado atos ilícitos em delações premiadas.

Para se associar a operações de empresas envolvidas em escândalos, os bancos norte-americanos precisam que a gestão e o conselho da empresa sejam trocados, bem como que sejam estabelecidas políticas de compliance (conformidade) muito conservadoras. Só aí a página é virada. Segundo uma fonte, em casos de empresas envolvidas em acordos de delação ligados à Lava Jato, familiares ou executivos que praticaram os atos de corrupção não têm mais com voz ativa. A única exceção são as empresas ligadas à J&F e aos irmãos Batista.

Sem os norte-americanos, participam da oferta os bancos BTG Pactual, Bradesco BBI, Santander e Barclays, de origem britânica.

Inicialmente, foi aventado como motivo para a postergação do IPO o crescimento da aversão a mercados emergentes, com a mudança nas perspectivas de altas nos juros nos EUA, feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em junho, mês em que o volume de IPOs nos EUA foi o mais forte em mais de 20 anos.

Holding fará aporte de R$ 3 bi

Numa reestruturação concluída em março, o controle da fintech passou do banco Original para a J&F, holding controlada pelos irmãos Batista, envolvidos na Operação Lava Jato. "Os bancos conhecem o quão criterioso é o Banco Central no processo de supervisão. Isso não passa no crivo de qualquer banco que é regulado pelo Federal Reserve", diz um executivo, que optou não participar da operação e observa que esta tendência está ganhando força também entre investidores brasileiros.

O argumento da empresa é que a reestruturação aumentou a governança, com simplificação da estrutura societária. O PicPay segue regulado pelo BC e, ao ficar independente do banco, tem mais espaço para buscar parcerias de negócios com outras instituições financeiras. Além disso, diz que os irmãos Batista não controlam o PicPay e não possuem nenhuma pendência jurídica nos EUA, tendo fechado acordo com a Justiça americana. Outro argumento é que o grupo J&F nunca esteve envolvido na Lava Jato e os Batista controlam a JBS, dona da Pilgrim's empresa de capital aberto nos EUA.

No lugar do IPO, a holding J&F Participações, da família Batista, vai aportar cerca de R$ 3 bilhões para suportar o plano de expansão da carteira digital nos próximos anos.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast + no dia 05/07/2021 às 19h33

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