O japonês Softbank, maior investidor internacional em tecnologia, foi o protagonista de um dos maiores negócios de 2023 no mundo das startups e fintechs, a venda da brasileira Pismo para a americana Visa por US$ 1 bilhão. O fundo era acionista, vendeu todas as suas ações e conseguiu uma taxa de retorno do investimento de 55%, um número a ser comemorado em época de baixa de negócios no setor de tecnologia.
E mesmo com o mercado mais turbulento, o Softbank não parou de olhar novas empresas para investir. Nos últimos 12 meses, que coincidiram com um dos períodos mais fracos de investimentos dos fundos de “venture capital”, como são chamadas as carteiras que compram participações em empresas jovens de tecnologia, avaliou 112 companhias para comprar na América Latina, a maioria delas no Brasil. Dessas, investiu em oito, conta o responsável pelas operações no Brasil do Softbank, Alex Szapiro.
“A velocidade do número de empresas que olhamos não mudou”, disse ao Broadcast. Ao mesmo tempo, no mercado privado de transações houve uma correção dos valores das companhias, acompanhando o movimento de baixa visto na bolsa, ressalta o executivo. Nesse ambiente, muitos fundadores optaram por não buscar recursos agora, e 88% das empresas que o Softbank investe têm caixa para aguentar ao menos 12 meses.
Investimento de venture capital está em US$ 1,4 bi na América Latina
“A gente não parou, mas é difícil comparar com os investimentos que vimos em 2020 e 2021. Esses dois anos é que foram pontos fora da curva”, disse Szapiro, antes de participar de debate em evento da Distrito, plataforma que monitora a atuação de fundos em startups, nesta quinta-feira, 31.
Após US$ 17 bilhões em recursos de venture capital investidos na América Latina em 2021, um recorde, o número caiu para US$ 8 bilhões em 2022 e este ano está em apenas US$ 1,4 bilhão, mas com tendência de melhora. “O ano de 2023 começou mais difícil e mais restritivo. Parece que o mercado está tentando se movimentar”, disse o CEO e fundador da Distrito, Gustavo Gierun. Desse total, de 50% a 60% são alocados no Brasil.
Capital para investir na América Latina não falta no Softbank. Além dos dois fundos para a região - que somam US$ 8 bilhões, ainda não totalmente investidos -, o Brasil e outros países da região podem receber recursos diretamente do fundo global, o Vision Fund 1 e 2. O primeiro, de US$ 100 bilhões, já está totalmente investido, e o segundo, de US$ 56 bilhões, ainda está com muito capital disponível. Foi o caso da fintech de crédito Creditas, que recebeu recursos do fundo global e do fundo de América Latina. Com tantos recursos disponíveis, não há planos de captar um novo fundo para a região. “Hoje é um Softbank só, uma visão”, disse Szapiro.
Volta de IPOs está no radar no ano que vem
A volta das aberturas de capital (IPOs, na sigla em inglês), uma das formas de fundos como o Softbank saírem de seus investimentos em empresas, tem ambiente mais incerto em curto prazo, mas pode acontecer ao longo de 2024, avalia o executivo. O movimento depende do ambiente macroeconômico e dos juros, que ainda estão altos no mundo.
“Se a gente olhar o que tem acontecido nos últimos 12, 18 meses, tem tido mais otimismo para a abertura do mercado de capitais”, disse ele, citando uma empresa investida do próprio fundo, a britânica de chips Arm, que pretende fazer um IPO nos Estados Unidos em setembro. “No Brasil, minha leitura é que no segundo semestre de 2024 podemos ver uma agenda”, disse.
Ao invés de um IPO, a saída da Pismo se deu por meio da venda de 100% da empresa para a bandeira de cartões Visa. No evento da Distrito, Szapiro contou que a taxa interna de retorno do investimento (TIR, em inglês) foi de 55%. Outro indicador que mostra o sucesso do negócio é o Múltiplo de Capital Investido (MOIC, em inglês), que foi de 2,4 vezes, comparando o valor total que foi investido na fintech e o valor total no momento do resgate.
Próximos investimentos do Softbank podem ser em qualquer setor
Em outubro de 2021, o Softbank foi um dos líderes na rodada que investiu US$ 108 milhões na Pismo, junto com a Amazon e a Accel. Além da Pismo, o Softbank ainda tem nomes de peso em sua carteira, como Nubank, Banco Inter, Dotz e Gympass. Szapiro fala que os próximos investimentos podem ser feitos em qualquer setor. Não há um específico, e podem ser educação, saúde, comércio eletrônico, fintechs e logística. “Temos bastante capital para investir e vemos bastante oportunidade.”
Sobre inteligência artificial, o executivo afirma ver oportunidades, que na América Latina podem se dar mais em empresas que fazem ferramentas para a IA. Ele observa que empresas que já são investidas do Softbank vêm adotando a IA para aumentar a produtividade. “Tem gente trabalhando há 6, 7 meses nesse tipo de solução”, disse. Com os juros perto de zero por anos no mundo, o dinheiro era fácil e as empresas não tinham dificuldade de atrair investidores. Essa abundância de recursos acabou gerando distorções no mercado, contou Szapiro no evento. “Agora, a barra subiu.” Nesse novo ambiente, a empresa precisa provar que “para de pé” para conseguir atrair bons investidores.
Apesar do cenário mais desafiador, ele observa que a América Latina consegue se destacar entre outras regiões do mundo, em meio a problemas na China e na Rússia. “O investidor mundial tem muito menos opção de alocar o capital do que tinha antes.” Na região, ele observa uma preferência recente por México, influenciada por fatores como o “nearshoring” - a mudança na economia mundial em que potências, como os Estados Unidos, preferem fazer comércio e negócios com vizinhos alinhados politicamente.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 31/08/23, às 16h04.
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