Faz sentido para fundos de venture capital, aqueles que investem em empresas em estágio inicial e, por natureza, já têm grande risco de não darem certo, buscarem ainda mais adversidade e investirem em florestas? É uma atividade extremamente intensiva em capital inicial, com prazos de retorno superiores a dez anos e bastante arriscada, seja em termos de volatilidade de preços dos produtos, bem como legais por questões de regulação ambiental e fundiária. “O venture capital tem uma oportunidade singular de viabilizar esse mercado como um todo”, afirma Julia Coutinho, gestora da consultoria Impacta Finanças Sustentáveis.
Isso porque, diz ela, todos os desafios ligados à floresta, seja em termos de logística, conectividade e acesso, entre muitos outros, estão para serem resolvidos. “Ter uma gestão ativa como fazem as empresas de venture capital, junto a empreendedores muitas vezes distantes da noção de negócios maduros e escaláveis, pode trazer boas práticas e criar cadeias inteiras de valor”, diz ela, que é coautora do estudo “Contribuição do Venture Capital para Floresta e Clima”.
Encomendado pela KPTL, gestora do fundo Floresta e Clima, em parceria com o Fundo Vale e a própria Impacta, o estudo debruçou-se pela primeira vez sobre o venture capital aplicado à agenda climática. Além de oportunidades, mostrou um avanço grande desse tipo de investimento no agronegócio (43% dos negócios investidos) e energia e biocombustíveis (17%), porém bastante limitado em relação à floresta e ao uso do solo (11%).
Recursos parados
O levantamento mostrou ainda haver R$ 245 milhões que se destinam a sustentabilidade parados em fundos de venture capital no País para serem investidos. Além disso, 71% dos investimentos foram destinados a empresas chamadas de “early stage” (nascentes e com alto grau de incerteza), o que indica escassez de startups maiores e mais maduras para receberem aportes.
Para Felipe Vignoli, sócio fundador da Impacta e coordenador do estudo, o valor desse tipo de investimento está distante do terceiro setor e dos negócios artesanais e ribeirinhos. “Não é uma discussão de certo ou errado, mas o venture capital é outro tipo de dinheiro, usado sobretudo na busca de soluções escaláveis para os problemas”, afirma.
Ele cita como exemplo um relatório que indicou que, em 10 anos de reflorestamento e com o plantio de 593 árvores por dia, foi possível reflorestar 850 hectares. “É um dado desolador, considerando que temos 12 milhões de hectares para restaurar”, afirma. “O venture capital vem exatamente para trazer eficiência de mercado e pode para contribuir no sentido de desenvolver pesquisas e inovação que acelerem e deem escala aos negócios da floresta e do clima.”
Isso inclui, por exemplo, usar tecnologias que já estão sendo bastante exploradas no agronegócio como geoprocessamento, mapeamento de DNA, fixação de nitrogênio no solo, entre outras. O agro, ele afirma, está 15 anos à frente em termos de empreendedorismo na floresta. “São tecnologias matriciais e não de setores específicos”, diz ele. “Com a abertura dessa nova frente, ela pode rapidamente cruzar o agro, abrir frentes de novos negócios e puxar novas cadeias.”
Produção de casos de sucesso
A corrida por plantar árvores de maneira mais barata e mais rapidamente, diz ele, é só um exemplo. O estado da arte usado nas florestas de eucalipto que produzem papel poderia ser adotado na mata nativa, com algumas adaptações por conta da biodiversidade maior. “Quanto mais eficiência trago para essa cadeia, mais projetos vão sair do papel, gerar inovação, lucro, emprego e renda e esse é o papel do venture capital”, afirma. A ideia agora é começar a produzir casos de sucesso, atrair outros empreendedores, universidades e setor público, para atrair mais capital e gerar um círculo virtuoso.
O relatório combinou mais de 30 estudos sobre a área com entrevistas com 17 especialistas de 15 instituições. Mapeou dados primários de 49 gestoras de venture capital, além de quase 2 mil rodadas de investimentos e 1,6 mil negócios relacionados à Floresta e Clima. Além do objetivo financeiro, esses investimentos também tinham por finalidade contribuir para a solução de algum problema relacionado à crise climática.
“Para nós, é importante partir de uma fotografia ampla e atualizada do ecossistema, a partir da interpretação de dados”, diz Renato Ramalho, CEO da KPTL. “Ele vai orientar reflexões sobre os caminhos e próximos passos para nossas iniciativas em Floresta e Clima, uma vertical prioritária para a KPTL.”
Das 65 companhias no portfólio da KPTL, 10 exercem atividades conectadas com o bioma da Amazônia. A gestora iniciou essa agenda em 2013, com o fundo FIMA, ao investir em empresas que priorizam a sustentabilidade em seu modelo de negócios, até chegar ao Fundo Floresta e Clima, em 2022. Em junho, lançou o Amazonia Regenerate Accelerator and Investment Fund, ancorado pelo BID Lab, braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e terá US$ 11 milhões para investir. O plano é atrair novos investidores internacionais e alcançar US$ 30 milhões (cerca de R$ 158 milhões) ao longo dos próximos 18 meses.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 25/12/2024, às 11:30.
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