A capacidade instalada de armazéns e silos de grãos no País cresceu mais em 2020 do que nos dois últimos anos, mas não deu conta da produção recorde da safra 2019/20, conta Piero Abbondi, diretor presidente da Kepler Weber, companhia líder no segmento. A estrutura para estocagem avançou 5 milhões de toneladas, em torno de 2% em 2020, ante 4 milhões em 2018 e 2019, estimulada por vários fatores. Entre eles, dólar valorizado, alta dos contratos futuros de milho e soja na Bolsa de Chicago, forte demanda externa por carnes e grãos, além de volume maior de recurso e juros mais baixos em linhas de crédito para armazenagem. "Foi um ano muito bom", reforça. "Mas, considerando que na safra 2019/2020 a produção cresceu em torno de 10 milhões de toneladas, a indústria colocou no mercado metade disso em capacidade extra", observa.
Vem mais
A perspectiva de contínua demanda internacional, aumento da produção no ciclo 2020/2021, taxas de juros atrativas e o estágio avançado da comercialização de soja e milho que ainda serão colhidos levam Abbondi a crer que 2021 será um ano ainda melhor. Sem traçar estimativa, ele diz que se a capacidade adicional de estocagem chegasse a 6 milhões de toneladas, representaria incremento de 3%, "significativo", avalia.
Preparativos
O executivo da Kepler Weber conta que o plano de investimentos para 2021 está sendo finalizado, com montante superior ao de 2020. Os números deste ano serão divulgados em fevereiro, mas Abbondi sinaliza avanço ante 2019, quando a empresa investiu R$ 13,2 milhões. A Kepler espera suprir uma maior demanda em 2021 e, por isso, dará prioridade a modernização de plantas, aumentos pontuais de capacidade e novas tecnologias. Ampliações mais robustas da produção, talvez em 2022.
Retomada
A pandemia levou empresas do agronegócio, alimentos e bebidas a investir mais em tecnologias digitais em 2020 e a tendência para 2021 é manter ou aumentar aportes, aponta a pesquisa Agenda 2021, da Deloitte. O levantamento envolveu 53 empresas do agro, de um total de 663 de diversos setores. Entre aquelas, 84% pretendem modernizar ou substituir maquinário; 52% planejam ampliar fábricas ou áreas agrícolas e 30% abrirão mais unidades.
Novos tempos
A maior aproximação do setor com o mundo digital, com vendas online feitas por 40% das entrevistadas pela Delloite em 2020, também levará 88% delas a criar ou aumentar treinamentos para lidar com novos modelos de negócios; 24% manterão funcionários com uma ou outra substituição por profissionais mais qualificados e 42% devem aumentar seu quadro, recompondo postos cortados na crise.
Caminhão na mão
Também na contratação de frete, empresas do agro ampliaram o uso de tecnologia e de serviços online. O Freto, uma das marcas do grupo Edenred Brasil, viu seus negócios crescerem 50% em 2020, sustentados em boa medida pelo setor, já que a soja foi o principal produto movimentado. Os negócios com agro subiram quase 50%, diz Thomas Gautier, head do Mercado Rodoviário da Divisão de Frota e Soluções de Mobilidade da Edenred Brasil.
Ponte
Pela plataforma, empresas informam o produto a ser entregue, o volume e o valor que pretendem pagar pelo serviço. Transportadores cadastrados apenas clicam na oferta para aceitar a carga. Na ativa há 18 meses, a ferramenta online reúne mais de 100 mil caminhoneiros e movimenta 150 mil toneladas por dia. Das cargas do agro, de 60% a 70% são de soja.
Abre alas
O governo de São Paulo se prepara para inaugurar, no primeiro semestre de 2021, seu escritório em Munique, na Alemanha - o terceiro voltado a fomentar negócios, depois do de Xangai, na China, em atividade desde agosto de 2019, e do de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de fevereiro de 2020. Na Alemanha, o foco será o possível acordo entre União Europeia e Mercosul, explica Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado. "Temos de entender as demandas do cliente europeu, que representa 17% das importações globais. Discussões ambientais devem estar na pauta de forma inteligente."
Agro, sobretudo
Os escritórios não são dedicados exclusivamente ao agronegócio, mas os produtos do setor são a espinha dorsal de sua atuação. A proposta é abrir caminho para empresas médias, para as quais não justificaria ter local próprio nesses países. Produtos como carnes, sucos, comidas prontas e etanol poderiam ganhar espaço entre os europeus, a quem o governo paulista pretende destacar os projetos ambientais no Estado. "Queremos mostrar como Brasil e São Paulo de fato fazem sua produção e, com isso, aumentar as exportações", diz Junqueira.
No embalo
A Búfalo Dourado, fabricante de queijos de leite de búfala, vê forte potencial de crescimento de burratas no food service e em supermercados e vai apostar no produto em 2021. A previsão é de que a participação do queijo nas vendas da empresa aumente de 30% em 2020 para mais de 40% no próximo ano. Já a expectativa para a produção é de aumento de 50% na comparação anual, para cerca de 1 milhão de unidades fabricadas em 2021. / CLARICE COUTO e JULLIANA MARTINS