Com safra menor, juros altos e preços instáveis das commodities, a cooperativa goiana Comigo vê 2024 com cautela. As metas ainda estão sendo fechadas, mas a Comigo já viu sua receita diminuir a R$ 13 bilhões em 2023, ante R$ 15,5 bilhões de 2022. No ano que passou, os preços mais baixos dos grãos pressionaram o faturamento, avalia Antonio Chavaglia, presidente do conselho de administração. “Neste ano, teremos uma safra pelo menos 10% inferior à registrada em 2023, de 4,38 milhões de toneladas”, diz. As incertezas levarão a Comigo a colocar o pé no freio nos investimentos. “Não investiremos em lojas e armazéns. O custo do capital é muito alto.” Uma unidade de esmagamento de soja, de R$ 1,2 bilhão, está em estudo.
Incentivos definirão aporte em indústria
A construção da indústria para produção de farelo e óleo de soja em Palmeiras de Goiás vai depender de incentivo fiscal, afirma Chavaglia. “Aguardamos para ver quais serão as condições, já que a reforma tributária modificou os subsídios para a indústria do Centro-Oeste.”
Margem para produtor recua
A retração nos investimentos se estende também aos 11,2 mil cooperados da Comigo. “O milho saiu de R$ 80/saca para R$ 40/saca. A soja caiu de RS 160/saca para R$ 110/saca. Isso derruba a margem e a capacidade de investimento do agricultor”, aponta Chavaglia. Ele espera apenas reposições pontuais de máquinas no campo.
Mais produtos
Estão a todo vapor as tratativas entre os governos do Brasil e do Chile para ampliar o comércio bilateral de produtos agropecuários, diz Ricardo Moyano, adido agrícola da Embaixada do Chile no Brasil. Até o 1.º trimestre, os países devem reconhecer mutuamente a certificação orgânica para carne bovina. “O memorando de entendimento para orgânicos existe desde 2019, o que vamos fazer agora é incluir mais produtos”, conta. Hoje, principalmente frutas orgânicas estão nesta cesta.
Direto do pomar
O interesse do Chile é garantir a inclusão de produtores familiares de frutas orgânicas e convencionais no comércio bilateral, já que o país possui 160 mil agricultores de pequeno porte, “ou mais de 50% da produção local”, diz o adido. Melão “pele de sapo” e avocado são as frutas que lideram as novidades do Chile para o Brasil.
Agrega
O Grupo Mantiqueira estuda crescer por meio de fusões e aquisições, conta Murilo Pinto, diretor comercial. Hoje a empresa amplia três unidades de galinhas livres em Lorena (SP), Formosa (GO) e São João de Itaperiú (SC). Os planos incluem aumentar a presença no Nordeste. Em 2022, a Mantiqueira adquiriu a Fazenda da Toca e, em 2023, a divisão de ovos da cooperativa Lar. O foco, diz o executivo, não mudou: criação de galinhas livres, “tanto pelo bem-estar animal quanto pela sustentabilidade da cadeia”.
Inovação
A Fuplastic, empresa de soluções sustentáveis para construção, finalizou o primeiro ecoaviário do Brasil. A estrutura, de 1.800 m², pertence à Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Iperó (SP), e deve operar neste mês. Foi erguida com 16 toneladas de plástico distribuídas em 32 mil blocos feitos de material reciclável. “A montagem é semelhante a um Lego gigante”, diz Bruno Abramo, CEO da Fuplastic. O ecoaviário custa em torno de R$ 600 mil, ou um terço do valor de um aviário comum.
Estreia
A Geo Biogás & Carbon, empresa de biogás e carbono renovável, pretende implantar sua primeira unidade de combustível renovável de aviação (SAF) neste trimestre. O projeto piloto para geração de SAF a partir de resíduos de cana-de-açúcar será construído em Tamboara (PR) e deve operar em até 12 meses. “Será uma planta pequena, de 100 mil litros/ano, mas é um mercado com demanda crescente e necessidade de descarbonização”, diz Alessandro Gardemann, CEO da Geo.
Carne bovina deve seguir mais acessível em 2024
A cadeia de carne bovina tende a ser mais estável este ano, segundo analistas de mercado. A expectativa é de preços firmes da arroba, oferta de animais ainda grande, porém mais ajustada à demanda, e consumo interno em recuperação. Para o consumidor, a proteína vermelha ficou mais atrativa no fim de 2023 e tende a seguir mais acessível.
Expectativa de recorde nas exportações do agronegócio
As exportações do agro devem alcançar US$ 164 bilhões em 2023, ante US$ 159 bilhões de 2022, prevê a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. O agro foi responsável por quase metade do que foi embarcado pelo País. O recorde deve ser confirmado na sexta-feira, na divulgação da balança comercial do ano./Isadora Duarte, Tânia Rabello, Audryn Karolyne e Vinicius Galera